Franco Baptista Sandanello O legado do impressionismo literário: reorientação cognitiva e herança formal nas vanguardas da virada do século XIX ao XX


O conceito de “impressionismo literário”, desde o inaugural “L’impressionnisme dans le roman” (1879), de Ferdinand Brunetière, tem se mostrado um desafio às periodizações literárias, oscilando do meio termo de “une transposition systématique des moyens d’expression d’un art, qui est l’art de peindre, dans le domaine d’un autre, qui est l’art d’écrire” (F. Brunetière), à defesa apaixonada de um mecanismo de recriação da experiência fenomenal da consciência, que ocorre “when an author depicts an effect but markedly delays the presentation of the cause of that effect” (Conrad in the nineteenth century (1979), de Ian Watt). Com base nos textos de Brunetière e Watt, apartados um do outro por precisamente um século, a presente discussão busca revisar o conceito de impressionismo literário e avaliar os limites textuais da mencionada “transposição” do impressionismo pictórico ao literário, de forma a averiguar seus efeitos duradouros nas vanguardas modernistas da virada do século XIX para o XX. Mais especificamente, como solução própria à literatura para a necessidade de traduzir a velocidade das relações humanas e a inevitável transitoriedade das experiências, será enfatizada a experimentação com as focalizações narrativas como forma privilegiada (e inovadora em seu caráter sistêmico) de “transpor” lacunas e limites cognitivos para a própria estrutura do texto ficcional.


Franco Baptista Sandanello. Possui graduação em Letras pela Universidade Federal de São Carlos (2009), doutorado e pós-doutorado em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2014 e 2016, respectivamente), com estágio pós-doutoral na Université Sorbonne Nouvelle - Paris III (2015-2016) e na Université Lumière Lyon II (2016). É atualmente professor adjunto da Academia da Força Aérea (2018), professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Literatura da Universidade Federal de São Carlos (2018) e professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Federal do Maranhão, Campus III (2019). É membro do Centro de Literaturas e Culturas Lusófonas e Europeias (CLEPUL - GI6) da Universidade de Lisboa. Alguns de seus trabalhos foram publicados em Portugal, França, Dinamarca, República Tcheca, Estados Unidos e Argentina. Suas obras mais recentes são uma coletânea de textos sobre Impressionismo e Literatura II (EDUFMA, 2022); uma reedição d’ O Cromo, de Horácio de Carvalho (Univ. Lisboa - Ed. UNESP, 2021), e um volume de crônicas inéditas de Domício da Gama, De Paris (Alameda, 2020).