Eliane Robert Moraes Trocando as mãos pelos pés: repercussões de Bataille no Brasil


ópica recorrente da revista Documents, editada por Georges Bataille entre 1929 e 1930, a afirmação dos pés como “a parte mais humana do homem” supõe uma inversão radical dos valores humanistas que tendiam a desqualificar os membros inferiores para melhor exaltar a magnitude da cabeça e das mãos. Mais que isso, a evocação batailliana expressa uma forma particular de pensamento, derivada do baixo corporal, em sintonia com o conhecido aforismo de Nietzsche: “deve-se pensar com os pés”. Tomando tal concepção como ponto de partida, propõe-se examinar algumas produções literárias brasileiras que dialogam a fundo com o “baixo materialismo” de Bataille, na tentativa de identificar traços distintivos de um possível “sulrealismo” herético no país.

Eliane Robert Moraes é crítica literária, professora de Literatura Brasileira na USP – Universidade de São Paulo. No Brasil, traduziu a História do Olho de Georges Bataille e publicou diversos ensaios sobre o imaginário erótico na literatura, entre os quais: O Corpo impossível, Lições de Sade e Perversos, Amantes e Outros Trágicos (Iluminuras). Organizou a Antologia da poesia erótica brasileira (Ateliê, 2015 e, em Portugal, Tinta da China, 2017) e duas coletâneas do conto erótico brasileiro -- O corpo descoberto (CEPE, 2018) e O corpo desvelado (CEPE, 2022) --, além da Seleta erótica de Mário de Andrade (Ubu, 2022). Seus livros mais recentes são: A parte maldita brasileira – Literatura. Excesso. Erotismo (Tinta da China, Portugal e Brasil, 2023), e, apenas em Portugal, a Antologia do conto erótico brasileiro, (Tinta da China, 2024).