Daniel Dominguez A modernidade portuguesa visto da diáspora: o (re)nascimento de Renata Ferreira na obra de Frank X. Gaspar


Eu quero considerar a (in)visibilidade da modernidade portuguesa no mundo anglófono, sobretudo nos Estados Unidos. Para fazer isto eu vou discutir a obra de 2020 The Poems of Renata Ferreira. A capa diz “Transcribed and Annotated with a Foreword by Frank X. Gaspar” No seu prefácio, Gaspar observa que “Renata Ferreira’s work has been heretofore unknown, and the circumstances of its appearance at this time in the corpus of Portuguese-American literature are as surprising as they are remarkable” (43). Mas, a razão pela qual ela é “heretofore unknown” é que ela é uma invenção do Gaspar, um heterônimo que ele criou para o livro. Escritos supostamente em Lisboa antes, durante, e depois da Revolução dos Cravos, os poemas de “Ferreira” brilham com uma energia sáfica autoproclamado que ela combina com a importância do seu momento histórico. No entanto, o facto de Gaspar – um homem luso-americano de ascendência açoriana – ter precisado de inventar Ferreira para o seu livro fala da escassez de autores influências portuguesas modernas no mundo anglófono e mesmo dentro da diáspora portuguesa. Ao analisar a criação e utilização de Ferreira por Gaspar, pretendo comentar sobre a (in)visibilidade da modernidade portuguesa no mundo anglófono e como esta ausência pode ser melhorada. (Re)nascida na mente de uma escritora luso-americana, Renata é uma importante (embora imaginária) figura queer transatlântica que comenta sobre a (im)possibilidade do reconhecimento internacional da modernidade portuguesa.



Daniel Dominguez é doutorando, sétimo ano, no Departamento de Literatura Comparada da Universidade de Princeton. Seus interesses académicos incluem a literatura experimental, a recepção intelectual e artística dos movimentos de vanguarda e as teorias de alusão, referência e citação na literatura inglesa, espanhola, francesa e portuguesa. O seu projeto de dissertação consiste numa leitura atenta da poesia, prosa e crítica iniciais do poeta americano Nathaniel Mackey, com ênfase na complexidade e densidade da sua obra que desafiam concepções antigas da História e do tempo e propõem concepções e versões mais flexíveis desses conceitos, formulados por ele e pelos seus contemporâneos. Daniel Dominguez é co-editor da revista de tradução Inventory e coorganizor de um grupo de leitura das obras de Nathaniel Mackey, em Princeton.ão na literatura inglesa, espanhola, francesa e portuguesa. Seu projeto de dissertação é uma leitura atenta da poesia, prosa e crítica iniciais do poeta americano Nathaniel Mackey, com particular ênfase no modo como a complexidade e densidade de suas obras desafia simultaneamente concepções antigas de história e de tempo, ao mesmo tempo propõe concepções mais e versões mais flexíveis dos mesmos conceitos formulados por ele e seus contemporâneos. Ele também é coeditor da revista de tradução Inventory e coorganizou um grupo de leitura das obras de Nathaniel Mackey em Princeton.