Carlotta Defenu Quando (não) se pode falar de modernismo? As experiências modernistas de Ronald de Carvalho e Armando Côrtes Rodrigues


O contributo visa apresentar uma reflexão comparativa sobre as diferentes declinações com que se articula a vertente modernista na obra de dois autores que, não sendo oriundos de Portugal continental, estiveram intimamente ligados ao modernismo português: Ronald de Carvalho e Armando Côrtes-Rodrigues. 

A possibilidade de uma abordagem comparativa na análise da obra destes dois autores é proporcionada pelo facto de os dois poetas partilharem uma experiência biográfico-artística comum. Com efeito, depois de terem participado ativamente no panorama artístico do modernismo português, nomeadamente no quadro da revista Orpheu, ganha relevo o facto de se terem afastado progressivamente desse movimento para se dedicarem a uma atividade literária mais profundamente enraizada nos locais de origem: o Brasil e os Açores. 

Uma análise da produção literária destes dois autores permite perceber que a crítica tem comumente evidenciado uma certa correspondência entre o afastamento de Portugal e a distância progressiva relativamente a uma expressão literária mais especificadamente modernista. Assim, tendo em consideração os limites desta proposta de leitura crítica, esta comunicação tem em consideração a profunda ligação, em diferentes geografias, entre o projeto modernista e a construção da identidade nacional. Com efeito, atendendo a que a rutura com o passado, especialmente em contextos mais periféricos, significa frequentemente a rutura com modelos sociais, políticos e culturais importados estrangeiros e dificilmente adequáveis à realidade nacional, o contributo pretende responder a duas perguntas: 

1) Quais são os elementos constitutivos da articulação entre a primeira experiência modernista de cariz português e as sucessivas experiências literárias dos dois autores, mais ligadas ao contexto local em que eles viviam e escreviam?

2) Qual é a conditio sine qua non é impossível falar de “estética modernista”? Isto é, existem características literárias e expressivas essenciais para que uma obra possa ser enquadrável na estética modernista?

Carlotta Defenu. Bolseira de Pós-Doutoramento no âmbito do projeto de investigação Modernismo.pt do Instituto de Estudos de Literatura e Tradição da Universidade NOVA de Lisboa. Doutorou-se em Crítica Textual na Universidade de Lisboa com uma tese sobre a génese e a reescrita da poesia ortónima de Fernando Pessoa. Publicou vários artigos e capítulos de livros dedicados a questões de crítica textual, crítica genética e estudos genéticos de tradução, com especial foco na obra de Fernando Pessoa. Recentemente, coorganizou, com João Dionísio e Carlota Pimenta, a exposição “Descubra as Diferenças. Variação na literatura portuguesa desde a Idade Média até anteontem”, na Biblioteca Nacional de Portugal.