Ana Sofia Souto O género do discurso “manifesto” e os movimentos de Vanguarda
Em finais do século XIX assiste-se não só a um aumento de manifestos políticos (inspirados pelo “Manifesto Comunista” de Marx e Engels), mas também à expansão deste género do discurso do campo da política para o campo da arte. Com a publicação de o “Manifesto Fundador do Futurismo” (1909) de Marinetti, o qual reinventou o género do discurso “manifesto” e inspirou os demais manifestos dos movimentos europeus de vanguarda do século XX (cf. Hanna, 2012: 52) dá-se a verdadeira expansão de uso do género do discurso “manifesto”, o qual continua a ser utilizado num contexto político, mas passa igualmente a ser utilizado num contexto artístico-literário. Com efeito, a partir da publicação de “O Manifesto do Futurismo”, vários grupos artísticos e literários apropriam-se do género do discurso “manifesto”, assistindo-se à publicação de centenas de manifestos vinculados a movimentos de vanguarda. Tal como defendem, entre outros, Asholt e Fähnders, 1995, pp. xv, o género do discurso “manifesto” torna-se um dos principais sustentáculos discursivos dos movimentos de vanguarda.
Somigli (2003) argumenta que os artistas de vanguarda utilizaram os manifestos não só para transmitir as suas ideias, mas igualmente para se legitimarem, ou seja, para justificarem o seu papel e a sua importância numa sociedade que lhes atribuía pouco ou nenhum valor. Através dos manifestos, os vanguardistas podiam apresentar ao público as suas opiniões; clarificar a sua estética e a importância da mesma; e demarcar-se de outros grupos e estéticas, aumentando a sua visibilidade enquanto criadores de arte. Daí que os manifestos artísticos necessitem de chocar e de escandalizar os leitores, para poder romper com a ideologia e a estética dominantes.
O manifesto, um género performático por excelência, representa desde logo a própria luta que pretende suster e enaltecer. O mesmo intervém no âmbito coletivo, desejando envolver o público no seu projeto de revolução e transformação.
A presente comunicação foca-se no género do discurso “manifesto”, da sua origem até ao seu uso nas vanguardas artísticas do século XX, destacando as suas principais caraterísticas culturais e linguísticas e enfatizando o seu papel fundamental no âmbito das vanguardas artísticas.
Nesta comunicação, objetiva-se responder às seguintes questões:
1. Que caraterísticas linguísticas enformam a identidade do género do discurso “manifesto”?
2. Como pode este género do discurso ser definido?
3. Qual a relação entre os temas e finalidades envolvidas e as caraterísticas do género do discurso “manifesto”?
4. Por que foi o manifesto o género do discurso de eleição das vanguardas artísticas?
Esta comunicação enquadra-se no âmbito da bolsa de doutoramento 2021.04523.BD, desenvolvida com apoio financeiro da FCT e focada numa caraterização linguística do género do discurso “manifesto” em Portugal.
Ana Sofia Souto. Mestre em Ciências da Linguagem e Licenciada em Estudos Portugueses pela NOVA FCSH, onde foi agraciada com os prémios “Mérito e Excelência Melhores Mestres” e “Mérito e Excelência Melhores Licenciados”. Representou Portugal na XVI Edição do Programa “Jóvenes Líderes Iberoamericanos” em Madrid, Espanha. Bolseira da FCT (ref.: 2021.04523.BD), é atualmente doutoranda em Linguística do Texto e do Discurso na NOVA FCSH. No âmbito do Doutoramento, cofundou o Grupo de Discussão “Entre Textos: Diálogos Transatlânticos em Linguística do Texto e do Discurso”, que decorre desde março de 2021 e reúne regularmente Professores, investigadores e estudantes em torno de questões textuais e discursivas.