Rui Maia Rego Édipo: o irreparável, a liberdade e a responsabilidade


Na mitologia, Édipo é determinado pelo Destino/Sorte a realizar um conjunto de ações, ponderadas como falhas morais irreparáveis (assassinato e incesto). Se ele não foi responsável pelo seu Destino ou Sorte, será responsável pelos seus crimes? Por sua vez, podem os nossos juízos morais ser independentes da interferência da Sorte na ação?

Na reflexão acerca do agir, a liberdade e o princípio de controlo são, não raras vezes, postulados como condição para a responsabilização do agente moral. Isto é, habitualmente pressupomos que o agente controla a sua ação e é neste sentido que o consideramos responsável por ela. Pretendemos disputar e esbater o estabelecimento desta ligação imediata entre liberdade e responsabilidade que perfaz uma aparente dicotomia: ou negamos o princípio do controlo (que associa a responsabilidade a um ato livre) admitindo o contágio pela Sorte de todo o objeto de juízo moral (quer agentes, quer ações); ou negamos a Sorte, crendo na imunidade que a moral, assente no agente livre, postularia (acompanhando Kant). Analisando as implicações desta dicotomia, terminaremos interrogando: seremos apenas responsáveis pelos atos que levamos a efeito livremente, ou seremos também responsáveis por atos que protagonizamos, sem que sejam um ato imediato da nossa liberdade?


Rui Maia Rego. Doutorado em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (2023), foi bolseiro de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) no desenvolvimento da sua tese: «Altruísmo e Racionalidade Prática na Filosofia de Thomas Nagel». Presentemente é investigador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa e do Centro de Estudos Globais da Universidade Aberta. Enquanto bolseiro desta instituição, integra a linha de investigação Política, Direitos Humanos e Globalização. Tem publicado sobre problemas atinentes à ética e racionalidade prática (altruísmo, prudência, perdão, memória e sorte moral).