Rosa Maria Martelo Resistir de que forma? Resistir pela forma


Quando pensamos na resistência da literatura portuguesa ao quadro de valores do Estado Novo, o Neo-realismo surge-nos como a referência mais imediata. No entanto, a resistência ao regime político desses anos está presente em muitas outras linhagens literárias, sobretudo ao longo dos anos 50-70. Em várias das estratégias de escrita dos poetas surrealistas e dos autores da PO.EX, e também de escritores com percursos mais autónomos, são detectáveis múltiplas formas de expressão evasivas ou defensivas no tratamento de determinados temas, bem como técnicas diversas de "blindagem" dos textos à censura. É sobre esses processos de resistência (e de sobrevivência) que me proponho falar.


Rosa Maria Martelo. Professora catedrática aposentada da Fac. de Letras da Universidade do Porto, é investigadora do Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa. Integrou a Direcção do ILCML em vários mandatos, e foi coordenadora do Grupo Intermedialidades. Tem-se dedicado ao estudo da poesia portuguesa e das poéticas modernas e contemporâneas. No âmbito da Literatura Comparada e dos Estudos Interartes, os seus trabalhos privilegiam as relações intermediais e transmediais da poesia com as artes visuais e o cinema. Algumas publicações no âmbito do ensaio: A Forma Informe – Leituras de Poesia (2010), O Cinema da Poesia (2012, 2ª ed. 2017), Os Nomes da Obra, Herberto Helder ou o Poema Contínuo (2016), Devagar, a Poesia (2022) e Matérias Difusas, Poderosas Coisas(2023). Co-organizou a antologia Poemas com Cinema (Assírio & Alvim, 2010) e organizou a Antologia Dialogante de Poesia Portuguesa (Assírio & Alvim, 2021). Co-dirige a revista Elyra (<http://www.elyra.org/>).