Diogo Marques e Ana Salgueiro RETRATO[S] DE FAMÍLIA: reler, escreler, retextualizar António Aragão


RETRATO[S] DE FAMÍLIA é um projeto de natureza ciberliterária, desenvolvida por d1g1t0 indivíduo_coletivo, que tem por base a utilização de aplicativos baseados em inteligência artificial, tecnologia de realidade aumentada (AR) e técnicas de literatura combinatória para criar retratos e biografias ficcionais/fictícias de várias gerações de uma família funchalense de inícios do século XX. Inspirado nas obras do poeta experimental António Aragão, o projeto é uma reinterpretação de dez retratos de família presentes na instalação ‘POESIA URRO’ (1980), em conjunto com o romance experimental Um Buraco na Boca (edições CF; 1971).

No contexto das Jornadas de Literatura e Liberdade, será feita uma breve apresentação do percurso do coletivo ciberliterário d1g1t0, explorando os seus projetos mais recentes, como RETRATO[S] DE FAMÍLIA e MOIRA, como forma de ilustrar os cerca de oito anos de prática artística e investigação criativa, nos cruzamentos entre arte, ciência e tecnologia, bem como a aposta no potencial dos meios tecnológicos digitais enquanto questionamento autorreflexivo no que diz respeito aos processos de escrileitura e às materialidades daí derivadas. Com o olhar posto na tradição experimentalista, iniciada com o movimento da Poesia Experimental Portuguesa (PO-EX) no começo da segunda metade do século XX, procuraremos ainda ilustrar a forma como a ciberliteratura tem vindo a explorar a inerente tensão dialéctica entre tradição e inovação, na releitura e recriação dessa mesma herança artístico-literária. Por exemplo, na conjugação entre criatividade computacional e a revitalização do património imaterial, pela utilização disruptiva das tecnologias digitais enquanto meio de criação literária e produção artística.


Diogo Marques é membro integrado do ILCML, Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa, e investigador no CODA − Centre for Digital Culture and Innovation (FLUP). Em 2018 doutorou-se em Materialidades da Literatura, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. A sua tese centrou-se na análise de interfaces hápticas enquanto elementos expressivos em literatura computacional. Foi investigador de pós-doutoramento no IELT – Instituto de Estudos de Literatura e Tradição (NOVAFCSH), no âmbito do projeto VAST: values across space & time (2020-21) e Bolseiro de Investigação na Fundação Fernando Pessoa, Porto (2018-2020). Coorganizou volume de ensaios Investigação-Experimentação-Criação: em Arte-Ciência-Tecnologia (Porto: Edições FFP; 2020). É autor, curador e tradutor de (Ciber)literatura experimental e cofundador do coletico ciberliterário d1g1t0 (wreading-digits.com). É membro do MATLIT LAB, Laboratório de Humanidades da Universidade de Coimbra; da Artech-Int – International Association of Computational Art; da ELO – Electronic Literature Organization; e da APEAA – Associação Portuguesa de Estudos Anglo-Americanos.


Ana Salgueiro é doutoranda em Estudos de Cultura na Universidade Católica Portuguesa, mestre em Literaturas Africanas de Língua Portuguesa e licenciada em LLM-Estudos Portugueses pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Investigadora integrada no CECC-UCP (Lisboa) e colaboradora no CEHA-AV e no UMa-CIERL (Funchal). É coautora e coordenadora da Revista TRANSLOCAL – Culturas Contemporâneas Locais e Urbanas e o seu trabalho tem-se ocupado sobretudo dos sistemas culturais da Macaronésia Lusófona, abordando questões como: o exílio e a mobilidade humana, cultural e textual; as implicações entre cultura e poder; a relação entre fenómenos culturais, imaginários e fenómenos naturais; e o papel dos discursos artístico e académico nas sociedades contemporâneas.