Sr. Miguel Munhoz Filho
Patrono da Escola
Sr. Miguel Munhoz Filho
Patrono da Escola
História
História da nossa escola
por Alda Andrade RanalProfessora de HistóriaProjeto EducaRedeNovembro 2005
A E.E. Miguel Munhoz Filho tem esse nome em homenagem a um antigo morador do Jd. Campo de Fora, que muito lutou pela legalização dos terrenos desta região.
A partir de meados da década de 50, a região do Jd. Campo de Fora passou a receber um maior fluxo de pessoas. Esta região era composta basicamente de chácaras, com pastagens para animais, hortas e culturas de feijão e milho. No vale próximo à escola, havia uma grande área de mata, com muitos eucaliptos, lagoas e um riacho e muitos pássaros. Com a expansão demográfica e o crescimento acelerado das construções, nem sempre regularizadas, boa parte desta paisagem rural foi se perdendo e conflitos quanto à posse das terras também ocorreram.
O próprio terreno onde hoje se situa a nossa escola passou por estes conflitos: inicialmente abrigando uma pequena capela construída pelos moradores, passou por uma disputa judicial quanto à posse do mesmo. A capela foi demolida, ficando a área como campo de futebol e, só após anos veio a construção da nossa escola, atendendo a grande necessidade e desejo dos moradores do Jd. Campo de Fora.
Inicialmente a escola contava com apenas 7 salas de aula, contemplando apenas o ensino de 1a. à 4a. séries. Com a construção de um anexo, passou a 16 salas de aula, atendendo à aproximadamente 2000 alunos em seus três períodos letivos; abrangendo desde o ensino de 5a. a 8a. séries do Ensino Fundamental até as três séries do Ensino Médio, tanto regular como supletivo*.
A E.E. Miguel Munhoz Filho já está recebendo a 3a. geração de moradores do Jardim Campo de Fora e da região do Capão Redondo, usuários de nossos serviços de ensino; sendo muito gratificante para todo a equipe o carinho com que ex-alunos, hoje com seus filhos matriculados na escola, retornam a esta unidade escolar para uma visita e relembrar bons momentos vividos com professores e funcionários, apesar de todas as dificuldades que enfrentamos.
A aluna Bruna Carolina, matriculada na 7ª série é a bisneta do patrono da escola. Convidamos sua avó para falar sobre as mudanças que ela presenciou no bairro e na escola no decorrer do tempo.
* O supletivo do Ensino Médio foi desativado no ano de 2009.
Entrevista com Dona Rosa Maria Munhoz Teixeira, 65 anos, filha de Miguel Munhoz Filho, patrono da nossa escola.
- Dona Rosa, quem era Miguel Munhoz Filho ?
- Foi um dos fundadores da Associação de Moradores do Jd. Campo de Fora na década de 1970. Era um lavrador, semi-analfabeto, humilde, alegre, filho de imigrantes espanhóis, nascido em Eldorado - interior de São Paulo. Veio para cá ainda muito jovem. Com muito sacrifício, realizou seu grande sonho comprando um terreno no Jardim Campo de Fora para construir sua casa própria, assim como muitas outras pessoas que se encantaram com o lugar: bem localizado, alto, com muitas árvores, córregos e muitos pássaros; a Estrada de Itapecerica tinha apenas uma única via; o local onde hoje se encontra o Terminal Capelinha e o condomínio Buena Vista era cheio de árvores, onde se vendiam melancias e servia de ponto de referência. Foi a partir dessa compra do terreno que sua luta começou.
- Que luta foi esta dona Rosa?
- A luta dos moradores do bairro pelo direito a posse dos terrenos comprados legalmente com escrituras, recibos de pagamento e tudo que pudesse comprovar. Tudo com muito sacrifício. Porém, apareceu um outro proprietário reclamando a posse do loteamento considerado terras devolutas. Apresentou os documentos provando ser ele o verdadeiro proprietário. Quem vendeu usou documentos falsos e aplicou o golpe. Então o meu pai, junto com a comunidade, fundou a Associação de Moradores do Jardim Campo de Fora para exigir das autoridades, uma solução para o caso.
Organizaram um movimento, com vários ônibus lotados, para uma “visita” ao Palácio do Governo, a fim de conseguir uma audiência com o então governador do estado, Laudo Natel. Chegando lá, fazendo muito barulho, como o governador estava viajando, o vice-governador concordou em receber uma comissão e ouviu as queixas dos moradores, prometendo tomar providências. Contudo, os advogados do proprietário conseguiram ação de despejo.
- O que fizeram os moradores?
- Com a ameaça de despejo, todos cercaram seus terrenos para proteger seus barracos ou casas ainda em construção mas, vieram os policiais e destruíram tudo após derrubarem todas as cercas. Revoltados, os moradores juntaram todas as madeiras das cercas, atearam fogo próximo a Estrada da Itapecerica e fizeram grande estardalhaço até o anoitecer.
Estávamos todos jantando quando tocou a campainha e meu pai levantou-se para atender. Ele não voltou e ninguém sabia do seu paradeiro. Estávamos em pleno regime de ditadura militar e todos sabiam o perigo que isso representava. Sem sucesso, procuramos por toda parte, delegacias, hospitais, necrotérios. A imprensa presente, fazia alarde chamando a comunidade de “povo subversivo”.
Recorremos a políticos influentes que logo perceberam se tratava de ação do DOPS e com sua ajuda descobrimos que meu pai estava preso há 4 dias, tinha apanhado muito e estava bastante machucado para confessar ser ele subversivo. Como ele não sabia o que era isto (subversivo) pedia aos investigadores que lhe explicassem para saber se era ou não. Graças a intervenção dos políticos ele foi solto mas nossa família ficou traumatizada e com muito medo das ameaças e perseguições, aos poucos foram se afastando do movimento. Apesar das despesas com advogados, a questão do terreno até hoje ainda não foi resolvida e o processo continua na justiça.
- Por que a escola recebeu o nome do seu pai, Miguel Munhoz Filho?
- Todo mundo pensa que foi porque ele doou o terreno, mas não é esta a razão. Aqui no terreno já havia uma capela – de Nossa Senhora Aparecida – onde o padre da paróquia Nossa Senhora do Carmo pretendia construir um seminário com recursos da congregação da Itália. Mas diante das dificuldades da legalização, resolveu doá-lo para construção de uma escola para a população e na hora da escolha do nome a comunidade indicou o seu nome para homenageá-lo em reconhecimento por tudo o que ele fez pelo bairro.
- O Sr. Miguel Munhoz chegou a ver a escola construída?
- Não, ele faleceu em 1983 com 73 anos e a escola estava em construção.
- Os filhos dele chegaram a estudar na escola?
- Não porque todos já tinham passado da idade escolar, já eram adultos com mais de 20 anos. Somente a bisneta, Bruna Carolina é que estuda hoje na escola. Está na 7ª série, gosta muito e tem orgulho de ter seu bisavô como patrono.
Lei Ordinária 4281 de 1984 , que nomeia nossa escola como: Miguel Munhoz Filho