Microcontos

Até 300 caracteres, inclusive título e espaços.

Coração

Cardíaco, Fernando Pessoa era paciente do Dr. Dolor.

“Quem tem dois corações

Me faça presente de um

Eu já fui dono de dois

E já não tenho nenhum.”

O poeta não conseguiu transplante em Três Corações. Dolor receitou maçã do amor e correio elegante da festa em frente à Santa Casa.


Arpendi

Eu imitava a chiqueza da Santuca, que usava biquíni com babados de causar inveja. Comprei um carrão vermelho igual ao dela.

Para superar a chiquíssima, construí um arpendi mais chicoso que varanda, terraço e sacada. Santuca esnobou esse primeiro Taj Mahal de Guaxupé, assinado pelo Gardí.



Cavalos


Guaxupé tem vários haras com mangalarga marchador.

No tempo do Bié Baíse, cavalos alados voavam mais rápido do que teco-teco.

Um cavalo marinho veio parir no Rio Guaxupé. São os marinhos machos quem engravidam. Esse cavalinho foi único balizo dos desfiles da Avenida.



Preta guarani


Mais parecia indígena do que preta. Lembrava uma guarani nômade, que vive mudando de casa para deixar a terra descansar.

Tinha casa, mas vivia na rua. Andava por toda Guaxupé para descansar pensamentos e sentimentos. Inquieta, ela não sabia o que fazer com tanto coração.



Nota Azul

Fran de Simone levou uma lata de cola para colar na prova do Ginásio. Não sabia usar, pediu ajuda:

- Onde eu colo a prova, tia?

A professora exigiu que ele escrevesse tudo o que sabia. Fran era bom em prova de X. Marcou X na folha toda e entregou:

- Tirei nota azul?


Mata-burro

Tião Ponteio tem carro novo em pelo, mas empaca na cidade. Se não tiver um corgo, rego ou rebojo de referência, ele anda de fasto.

Ele só dirige na vinida Conde se for sempre reto, de estilingue.

Tião Ponteio garante que ultrapassar mata-burro deixa as pessoas mais inteligentes.



Zzzz

Na Vila Rica, marimbondos fizeram uma morada de 2 metros de altura na casa da família Zzzzz. Virou atrativo turístico por 50 anos.

A intenção deles era substituir a abelha e se tornarem símbolo municipal. Investiram em uma plantação de tâmara, a fruta mais doce do que mel.



Cristina e Tijolo

- Cristina, vim dizer que te amo.

- Diga logo e se manda.

- Dá pra pedir perdão por tudo que você me fez?

- Nunca!

- Não me ama mais?

- Amo, mas você não tem nada com isso.

- Se é assim, adeus.

- Meu Tijolo... se até amanhã eu não achar outro melhor, volto a te amar como sempre.




Ícara


Toda vez que eu me vestia de anja na coroação de Nossa Senhora, eu queria voar, como o meu primo Ícaro, do tio Dédalo.

Para o sol não derreter a cola da minha asa, minha mãe fazia goma-arábica no tacho. Todo domingo do mês de maio eu voava na escada da Catedral.




Te Garfo


Guaxupé recebe bem os visitantes que vêm à cidade para garfar bem.

Já que tanta gente gosta de ser garfado, foi criado um slogan al dente para seduzir turistas: “Eu te garfo, tu me garfas, nós te garfamos”.

Aqui na cidade, comida al dente já deixa os dentes escovados.





Eurrica

As muitas empreendedoras de Guaxupé inspiraram Eurrica a montar empresa de alarme em tramela de janela e porta.

Ela criou o sistema de cobrança Pague a Língua. Todo mês, a língua de quem devia era carimbada.

Vendeu muita vara de marmelo pra mulher corrigir homem. Enricou com trabalho.




Chuva

Numa das chuvas que alagou Guaxupé, uma peixinha seguiu a correnteza de vários rios até chegar ao mar.

Foi quando aconteceu o primeiro amor entre uma peixinha de água doce e um peixe salgado.

Os dois se casaram na Igreja do Rosário e moram lá, na cachoeira da fazenda Santa Maria.






Cuidado comigo

Depois dos parabéns, a aniversariante desejou uma música linda.

Três guaxupeanos contratados cantaram um samba: “É preciso muito amor para suportar essa mulher.”

Os convidados deram parabéns e dançaram. Nem viram duas lágrimas quentinhas no rosto dela. Teve vingança.





Mar sulmineiro


Na música Ponta de Areia, Milton Nascimento canta o pedaço de mar que a Bahia vendeu pra Minas, mas o negócio foi desfeito.

No mar de Furnas tem tudo, só falta pororoca.

Guaxupé tem porto seco para transportar café.








Olho xadrez


Exames confirmaram que Elias José e Moacyr Ferreira Costa tinham olhos xadrezes.

Cada quadradinho do xadrez oferecia uma forma diferente de ver e pensar.

Com tanta visão, cada um deles publicou mais de 100 livros.

Usar óculos xadrezes e ir no Zoião nunca garantiram boa escrita.







Príncipe-rei


Nos antigos testes de gravidez de Guaxupé, a urina de mulher era inserida num sapo.

Estaria grávida se tivessem espermatozoides na urina do anfíbio.

Um dos sapos virou príncipe e reinou. Namorou princesas da Festa das Orquídeas e N.S. das Dores, do carnaval no Clube, Expoagro e do TG.









Gato

Um gato vegano da Fazenda Tulha aprendeu a fazer gato na rede elétrica e levou esse negócio ao mar.


Ensinou peixes elétricos a puxarem energia de plataforma petroleira e navios.

O felino comprovou parentesco com leões-marinhos e se apaixonou pela gatíssima estrela do mar. E voltou pra fazenda.








Recasou


André Zerbini de Paulo tem coragem de amar.

Foi o primeiro e o segundo morador do Lar São Vicente que se casou na instituição. Poucos meses depois da união com Júlia, ela faleceu no asilo.

Com a viúva Margarida, 68, André se casou aos 78 anos.

Ah, que inveja boa dessa turma que ama!










Aparecido


O famoso papagaio da Rua Aparecida falava a língua dos animais.

Aparecido entrevistou a Cobra do hotel, a Sucuri da pensão, os macacos do Clube, os moradores do Colmeia, as águias do Palácio e os elefantes da casa ao lado.

O Galo de Ouro só dava entrevistas para repórter humano.









Valdê


Eu ia na igreja para ouvir a Valdê tocar órgão e vê-la passar a mão na saia, antes de se sentar.

Não amarrotava nenhum fio. Ela tinha mão de artista. A passada de mão era perfeita.

Estudei piano com a Valdê para aprender música e a arte de me sentar em alto estilo.