A obra “Na Minha Pele” de Lázaro Ramos publicada em 2017, traz assuntos muito importantes para o público de maneira simples, clara e fluida. Apresenta temáticas como: racismo, machismo, desigualdade racial e étnica, a sexualização do corpo preto e a estereotipação dos pretos na cinematografia. Tendo em vista, a ideia de orientar os leitores sobre tais assuntos e apresentar como forma de luta e debate o uso do diálogo. Em sua dinâmica, o livro, mesmo tendo como proposito não ser uma autobiografia, apresenta diversas situações e pontos de vistas do autor. Como a decisão de escreve-lo, a escolha de sua carreira, mudanças ao longo de sua vida e a sua descoberta como negro, bem como suas dificuldades ao longo de sua trajetória.

Em primeira análise, um dos pontos muitas vezes representado pelo autor é de relação a sua negritude e a cinematografia mostrando que em muitas vezes, Lázaro preferia não representar personagens que levassem o estereótipo de bandido ou traficante, evitando obras onde ele devesse segurar armas. Outrossim, comenta como era complicado para ele sempre ser colocado em papeis tão parecidos e ter um limite para suas representações. Uma situação onde isso é presente é na sua atuação em Insensato Coração, onde Ramos protagonizava André, o galã da novela, o qual, foi rejeitado em massa pelo publico com a justificativa de que ele não se encaixava no papel. Tal ocasião, diverge da hipersexualização do corpo preto, muitas vezes representado como exótico, com traços avantajados e fortes para chamar atenção. Podendo-se citar o caso do “Globeleza” onde o corpo da dançaria em exposto e pintado de maneira chamativa para acentuar as suas curvas.

Ademais, Lázaro também comenta sobre a excessiva cobrança de posicionamentos em relação ao racismo, o que era muitas vezes envolvido em situação onde não existia necessidade de ser comentado, perguntas tais como “Como é ser o primeiro ator negro a protagonizar um galã?”, “Qual sua opinião sobre essa tal situação vivida como um homem negro?”. Trazendo para ele a interpretação de que se seu único conhecimento fosse sobre racismo, quando o problema é muito mais em baixo. Além disso, em diversas ocasiões o autor se demonstrou insatisfeito em relação a maneira como a mídia e o marketing utilizam os pretos e suas pautas de maneira capitalista e ignorante nas quais forçam a barra para apresentar essas militâncias. Essas ocasiões levam á perguntas: A Mídia realmente se importa com a população preta? Eles se importam com a representatividade? As grandes empresas realmente querem fornecer produtos diversificados para atender o público e as suas necessidades ou apenas para vender? O que realmente importa eles?

Em síntese, a obra “Na minha pele” de Lázaro Ramos quer nos apresentar uma analise pessoal, como ele falou em entrevista para o Nexo Jornal, Lázaro se vê como uma exceção em relação a regra e deixa claro que não tem as respostas e caminhos certos para chegar onde ele chegou e que espera que mais pessoas pretas cheguem perto ou além do que ele mesmo conquistou. Na minha pele, é uma obra que representa de maneira leve e fácil, porém objetiva, assuntos tão complicados e difíceis o que nos leva a envolver-se com a leitura e leva-la de maneira rápida sem o sentimento de cansaço, ou seja, uma boa pedida para se ler durante uma tarde de descanso.

[Reproduzido de: Isabelly de Santana Rabelo]