DO CÉU À TERRA.
DO CÉU À TERRA.
GIULIETTO CHIESA. UM ARAUTO DA VERDADE E DA JUSTIÇA
ESCREVI EM 14 DE JULIO 2005:
GIULIETTO CHIESA. UM ARAUTO DA VERDADE E DA JUSTIÇA
(O que se esconde da opinião pública)
“CRONICAS MARXCIANAS” UM ANALISE BRILHANTE E PERFEITAMENTE DOCUMENTADO SOBRE A VERDADE DO ESTADO DO MUNDO.
O IMPÉRIO, OS NEOCONS, O SUPER CLÃ, A GRANDE FABRICA DOS SONHOS SÃO OS APELATIVOS QUE CHIESA INDICA, JUSTAMENTE, COMO A CAUSA DESENCADEIEM DA TRÁGICA, DRAMÁTICA E CATASTRÓFICA SITUAÇÃO QUE HOJE VIVE A SOCIEDADE HUMANA.
LEIAM MUITO ATENTAMENTE A ENTREVISTA QUE NOSSO AMIGO JORNALISTA E PARLAMENTAR CONCEDEU A NOSSA REVISTA ANTIMAFIA.
GIULIETTO CHIESA PARECE UM MARCIANO CAÍDO SOBRE A TERRA, UM ALIENIGENA PRECISAMENTE! COMO NÓS! OU PIOR!
GIORGIO BONGIOVANNI.
ROMA 14 DE JULHO DE 2005.
ÀS 17.00 HORAS.
ANEXO A ENTREVISTA E A
RESENHA DO LIVRO “CRONICAS MARXCIANAS”
Na fabrica dos sonhos
Dialogando com o Giulietto Chiesa. No libero-entrevista de Massimiliano Panarari "Cronache marxziane" a análise brilhante do estado do mundo, as mentiras do Império, o espectro de uma grande guerra cada vez mas iminente.
(De Monica Centofante)
Um jornalista independente, um homem capaz de analisar o "estado do mundo" sem condicionamentos nem ilusões, em poucas palavras: um marciano precipitado sobre a Terra.
Assim se sente Giulietto Chiesa no livro entrevista de Massimiliano Panarari que algo de Marte o mencionou também no tìtulo. Junto com algo de Marx que, explica o próprio Chiesa, "é um pedaço de minha história".
"Cronache marxiane" é um análise lúcido. É uma fotografa de nossa sociedade atual. Uma recopilação de dados e de avaliações assim tão detalhadas que inclusive permitem entrever o futuro. E no futuro não muito longínquo, a existência de duas as Américas.
A que já conhecemos e a que se concerne no horizonte ganhando, cada dia mais, partes inteiras de mercado e tornando-se parte integrante da economia capitalística. A segunda América se chama a China. E como a primeira, tem e terá cada vez mais o desejo de consumir, de crescer, de fazer-se competitiva. Mas, não poderá introduzir-se sem provocar uma autêntica explosão, em um contexto econômico mundial que já está saturado, que vê aos Estados Unidos, "capital simbólica" além de "componente primária, econômica e social do Império", empunhar o bastão global e gastar quase quanto o resto do mundo, deixando que o resto do mundo pague o preço.
Em termos de dinheiro e, assim esperam os neocons(?) do governo dos Estados Unidos, em termos de recursos.
"Nosso destino previsível se detém em 2055, troveja Chiesa. O dizem “mil e quinhentos cientistas responsáveis por todas as partes do mundo, quem tem calculado que quase todos os ecossistemas principais sobre os quais rege a vida sobre a Terra já não conseguem reproduzir-se, e mas ou menos nessa data não serão capazes de continuar com sua obra". Quer dizer que o primeiro que conseguir monopolizar a pouca linfa vital da que o planeta dispõe sobreviverá. Os demais não.
A opinião pública não sabe disso. Ou sabe pouco. Ofuscada pelas fumaças do que o autor define como a "Grande Fábrica dos sonhos e da Mentira". Um sistema midiático informativo que é uma parte fundamental e "propulsora" da "hegemonia (ou, soberania) do neoliberalismo" e do Império.
Não somente "instrumento de domínio", mas sim "expressão por excelência destes novos tempos assim chamados "pós-modernos".
E é justamente a Grande Fábrica dos Sonhos e da Mentira a que nos projeta a América como o melhor possível dos mundos. A que nos faz ver sua economia como a mais dinâmica e eficiente de todas (omitindo dizer que os Estados Unidos é o país mais endividado do mundo com seus 660 bilhões de dólares somente pelas partidas correntes), a qual nos faz ver mediante qualquer “janela midiática” o “mito da capacidade da sociedade americana de adequar-se, melhor que qualquer outra às vertiginosas mutações da era global”. Mas, sobre tudo em transmitir a idéia de si mesma como se fosse o único modelo verdadeiro para exportar e imitar, um exemplo do triunfo do Bem sobre o Mal. Esse mal identificado em um tempo com a ameaça soviética e hoje com o terrorismo internacional.
E por isso parece o mas natural aceitar a barbaridade da “guerra preventiva” e ver todo o povo iraquiano morrer sob uma chuva de bombardeios porque possuam armas de destruição em massas que ninguém nunca encontrou. E se as armas não existem as armas, o petróleo sim.
Somos vitimas de um “sistema de puro roubo” - continua dizendo Chiesa - “mil milhas longe de qualquer idéia de governo do mundo, porque pensar em guiar ao mundo roubando é uma loucura, a menos que se tenha na cabeça a idéia de submissão pura e simples de todos”.
Nenhum dos governos ocidentais parece que o tenha entendido realmente. Menos ainda o entendeu o governo italiano, em particular nossa esquerda a qual o autor não economiza uma dura critica.
Sobre tudo porque carece de “qualquer política de comunicação à altura da situação em que vivemos, que foi bem mas além da emergência democrática” e assim 30 a 40 milhões de pessoas na Itália (mas poderíamos citar exemplos idênticos e mais preocupantes do resto do mundo ocidental) recebem informações somente através da TV e não sabem nada ou quase nada do que realmente está acontecendo em nosso planeta.
Do “tumultuoso suicídio coletivo se não de nossas vidas, de certo de nossas inteligências, certíssimamente de nossa democracia”, para o qual nos dirigimos como “alegres e despreocupados ratos bailarinos com o som de dez flautistas mágicos.
Visão apocalíptica, catastrofismo?
Chiesa responde: “O problema é analisar os dados”. “Quando me dou conta de que milhares de milhões de pessoas, em outros lugares, estão privados de tudo aquilo do que eu posso desfrutar; quando vejo que estamos cada vez mas em guerra contra eles, para impedir que possam remontar a corrente, então não posso evitar de me fazer uma pergunta: É possível viver em paz nestas condições? É justo ignorar o estado do mundo, e ter sem cuidar dos demais? É racional?”
“Se os dados levarem a previsões graves, que se analisem os dados. Estão aí todas as condições da crise, e mais, esta já está visivelmente em curso. Se a gente não quer ver, que permaneça alegre”. Para quem a vê, a mensagem final é de todas as maneiras um convite à esperança. “Eu acredito que este processo possa ser revertido com eficácia. Nem tudo está perdido, e por mais que seja difícil, ainda podemos consegui-lo”.
Giulietto Chiesa, qual é sua opinião sobre os recentes atentados em Londres? Que conseqüências terão na Europa e na Itália, pelo que concerne a diminuição de nossas liberdades?
Temo que esteja em ato uma grande ofensiva - além disso os jornais destes dias o demonstram de maneira indiscutível - para limitar as liberdades democráticas em todos os países do ocidente. E Itália manifesta uma agressividade particular. Entre os jornais da burguesia o único que se distinguiu ontem (10 de julho), com um artigo de Scalfari muito bonito, foi Repubblica. O resto é um coro quase unânime de convites a “leis especiais” e “medidas excepcionais”, o que significa limitar drasticamente a liberdade democrática no País. Por outro lado nem sequer unida à promessa de que se tratará de medidas provisórias, porque ninguém está em condições de prever quanto durará esta luta infinita contra o terrorismo internacional. Pelo demais eu não esqueço as declarações concedidas a princípio desta história, imediatamente após a tragédia de 11 de setembro, tanto o Presidente dos Estados Unidos George Bush, como Donald Rumsfeld, ministro da Defesa. O primeiro disse que esta guerra duraria cinqüenta anos, o segundo uma geração inteira. Agora, aparte de que eu não vi jamais condotieros (?) que comecem uma guerra dizendo quanto durará - e este detalhe planteia interrogativas - fica o fato de que não sabemos que estamos de frente a uma guerra que durará indefinidamente.
Portanto, se o propósito é limitar ou cancelar as liberdades democráticas será feito durante uma fase indefinida. E dado que uma fase indefinida sem liberdade democrática significa o fim do Ocidente, nos estão dizendo que querem terminar com o ocidente democrático.
O atentado foi reivindicado pela Al Qaeda.
Ninguém saberá jamais se é assim de verdade. Porquê inclusive o mais incompetente poderia fazer uma reivindicação através de internet. Entre outras coisas, ninguém acreditaria nisto. Porque inclusive antes de ouvir as reivindicações já todos tinham decidido que se tratava da Al Qaeda e de Osama Bin Laden. Naturalmente eu tenho muitas reservas sobre esta forma de proceder pelo que raciocino com minha cabeça.
Em seu livro fala de Al Qaeda e do terrorismo em geral como de uma comissão de vários interesses, de organizações infiltradas dos serviços secretos ocidentais. O Que é hoje a Al Qaeda?
Se soubéssemos o que é a Al Qaeda já teríamos resolvido o problema. Se a Al Qaeda existisse já teríamos resolvido o problema, porque eu tenho a suspeita, sempre a tive, de que a Al Qaeda seja uma hipótese em que se resumem muitas coisas juntas. Sempre duvidei e sigo duvidando de que se trate de um terrorismo islâmico. Isto é um terrorismo de estado que conta com grandes recursos tecnológicos e também militares que usam uma peonagem (peãozada) islâmica, mas que não são nada fanáticos. É muito frio em suas avaliações, planeja e programa astrago quando faz falta politicamente e portanto estou convencido, absolutamente seguro, de que neste terrorismo estão implicados setores mais ou menos desviados de alguns serviços secretos ocidentais.
Você opina que o próximo objetivo de guerra dos Estados Unidos será o Irã.
Estou convencido. A linha dos Estados Unidos é a de abater os estados assim chamados canalhas, que já foram localizados. Aspiram o mais rapidamente possível a conquistar o mercado inteiro do petróleo mundial e por conseguinte, procedem com a tática de Orazi e Curiazi e de um detrás de outro terminam com todos. O início experimental foi o Kosovo seguido do Afeganistão e Iraque. Agora será o Iran, que já está preparado para ser engolido, e uma vez conquistado todo o Oriente Médio passarão a submeter definitivamente e a repartir a Rússia, para lhe impedir que responda como um país potente e compacto. Se deve isso ao fato de que as demais reserva petrolíferas se encontram na Rússia. E se além disto conseguem acessar a elas (reservas petrolíferas), ficam as do grande norte. Por esta razão o grande norte terá que ser dividido por sua vez em tantos estados pequenos e cada um dos quais estará submetido ao Império. Este é o projeto, embora naturalmente não posso dizer se o conseguirão. Uma vez conseguido, ao mesmo tempo se interessarão pelos outros pequenos estados produtores como a Venezuela e America Latina. Uma vez que terão ao seu dispor praticamente todo o mercado mundial do petróleo, terão que se enfrentar com o grande adversário, com o interlocutor que está sentado na cadeira diante deles: a China, que não tem recursos próprios e portanto terá que se abastecer. Quer dizer que terá que comprá-los. E dado que não haverá para uns e para os outros, chegaremos a uma “radde rationem”. Os americanos querem chegar radde rationem com a China, tendo nas mãos, se não for todos, mas quase todos os recursos energéticos do mundo. Isto é o que está acontecendo.
Você definiu a China uma segunda a América e portanto teremos que esperar um choque muito violento entre estas duas potências mundiais.
A grande questão é: como se chegará a este resultado. Está claro que os recursos são delimitados, e dado que America, se por acaso sozinha consome quase a quarta parte, se a China entrará no cenário do mundo pretendendo consumir também ela um quarto - mais em realidade - então o problema não terá absolutamente solução em termos pacíficos, se não se estabelecerem antes as regras de comportamento. E dado que não há espaço para duas Américas neste planeta, será necessário que uma das duas seja submetida ou eliminada. A questão é muito simples e é isto o que se perfila diante de nós como um grande e tremendo sinal de interrogação. Na realidade seria necessário construir rapidamente uma nova arquitetura mundial para o governo do planeta e da globalização que se apóia sobre o consentimento de forma que todos possam fazer parte, que todos possam resolver juntos o problema dos recursos, não só petrolíferos mas também de qualquer tipo ou inclusive investir na busca de fontes alternativas ou de soluções globais que não destruam o ecossistema do planeta, que não destruam a vida de nossa coletividade. Mas não vejo sinais disso. Nos estamos metendo em uma grande luta contra o terrorismo internacional, que é em realidade bluff(?) clamoroso, porquê não é o terrorismo internacional o que interessa aos grandes poderes mundiais, mas sim precisamente os recursos. Estamos nos metendo em uma longa guerra a qual, como todas as guerras, se fará de propósito para decidir quem é o mas forte e quem o mais fraco. Um pequeno detalhe: no caso concreto ambos os adversários estarão armados com armas nucleares. Por conseguinte estamos diante de uma tremenda comédia ou tragédia, um equívoco no qual a milhares de milhões de pessoas se faz acreditar que as coisas estão de uma forma, enquanto que na realidade estão de uma forma totalmente contrária.
Entre os inimigos do Império poderíamos encontrar um dia também a Rússia? Putin levantará a cabeça depois dos golpes que lhe deu os USA? Suas falas de uma segunda guerra fria que está começando.
A segunda guerra fria já começou, porque as relações entre a Rússia e USA não são boas como antes. Não sei sinceramente se Putin será capaz de resistir levantando a cabeça. É verdade que já recebeu golpes graves, como o de perder sua influência sobre numerosos países da Ex-união Soviética. Inclusive alguns foram para o outro lado e entraram na OTAN. Putin perdeu a Ucrânia muito provavelmente para sempre. O último que resta por jogar é a Bielorússia. Mas a Bielorússia já está submetida a uma fortíssima pressão alheia para se rebelar contra o que Condoleezza Rice definiu como o último ditador sanguinário dentro da Europa. Veremos se Putin será capaz de resistir neste fronte e a impor um stop aos Estados Unidos. Um pequeno sinal já a houve, nestes últimos dias uma declaração unida por parte da Rússia, China e Kazakistàn que pediram aos Estados Unidos que retire suas tropas afegã no Kirgizistàn, Tagikistàn, e Uzbakistàn. Trata-se de uma ação que tem um significado. Não sei até que ponto a Rússia seguirá nesta direção, não sei dizê-lo. Embora minha impressão pessoal é que no Kremlin neste momento há uma liderança que já está submetida à linha americana e que diante de um áspero endurecimento da atitude estadunidense cederia imediatamente.
Seria possível supor uma aliança entre Rússia e China?
A aliança entre a Rússia e a China é possível se as coisas forem mal com a China e vão mal com a Rússia. Neste caso uma e outra poderiam se sentir impulsionadas a refugiar-se uma na outra. Eu não excluiria esta hipótese embora me parece remota. De fato se trataria de uma aliança hipotética entre dois interlocutores que são muito distintos. China é uma nação que está tomando consciência rapidamente de sua própria importância, de seu próprio peso mundial e me parece que tem intenção de pô-lo em prática, embora seja com prudência. Entretanto a Rússia virtualmente se rendeu diante da penetração americana e não tem nenhuma vontade de atuar uma contraposição. Os oligarcas (governo de poucas pessoas) russos têm todos seus capitais nos bancos americanos, nos bancos europeus, na Suíça e acredito que nenhum deles esteja disposto a arriscar suas próprias riquezas. De todas as formas existe a remota possibilidade de que os Estados Unidos, que normalmente são bastante brutais, possam decidir em abandonar o Putin e aos oligarcas russos a seu destino e que eles, por medo, comecem a comportar-se de maneira agressiva. Isto poderia acontecer se os americanos decidirem tratar com os russos com a mesma prosopopéia com a qual estão acostumados a tratar conosco europeus.
Mas você tem muita fé na Europa. Vê nela uma esperança para que se instaure um novo diálogo entre as potências internacionais.
Sim, em uma parte da Europa. A velha Europa poderia exercer uma função de freio da América e acredito que poderia também fazer muito sobre o plano internacional para iniciar um diálogo com outros grandes componentes culturais, científicos e religiosas do planeta. A Europa poderia dialogar muito bem com a China e America Latina. Por isso tem em suas mãos uma enorme possibilidade político/diplomática. E embora esteja desarmada é sempre uma potência financeira, industrial, tecnológica de grande envergadura. Mas como estão as coisas hoje, em nosso País se introduziram sete, oito cavalos da Troya americanos que são os que acabam de chegar ao leste europeu. Falo da Polônia em primeiro lugar, que é o mas determinado nesta direção, depois os três bálticos, Eslovenia e, de alguma forma, Hungria. Todos estes atuam em uma linha muito americanizada e impedirão que a Europa que se torne autônoma e que sustente a tese de uma postura alternativa diferente.
Pelo contrário, a Itália como teria que se posicionar neste cenário? Você, entre outras coisas, atiras-tes duras criticas à esquerda italiana porque já não está em condições de representar estes valores e os valores de seu eleitorado.
Exatamente eu acredito que as oscilações da esquerda tenham sido daninhas neste sentido. Nós perdemos e Berlusconi nos colocou em guerra. A esquerda, em vez de opor-se com toda a energia que devia, negociou. E o tem feito porque também ela se colocou no conflito durante o período do Kosovo. Como poderia dizer que estava contra a guerra? Tinha que estar de alguma forma, como ainda está, com uma perna aqui e outra ali. Nestas condições a esquerda e a oposição se renderam praticamente frente à evidência de sua incapacidade e não efetuaram nenhum contra-ataque, tanto é assim que nestes anos foram os movimentos que cumpriram esta função, freqüentemente contra os mesmos partidos de esquerdas. Agora os movimentos se debilitaram, por muitas razões, e os partidos têm voltado a estar em primeiro plano mais ambíguo como antes. Portanto, substancialmente, não se pode dizer que na esquerda haja uma visão do mundo que seja capaz de contra-atacar a lógica e a perspectiva do Império. Não existe, neste momento não existe.
Mas se a esquerda já não está em condições de nos representar necessitaremos caras novas de todos os modos. É possível que surjam de movimentos pacifistas?
Sim, é possível. Mas é necessário também que os movimentos saiam de seu distanciamento para a política. Eu estou entre os críticos mas severos do processo de corrupção, de verdadeira e própria degeneração genética que atravessou o centro-esquerda e a esquerda. Afastando-se da gente. Há uma separação tremenda entre os dirigentes da esquerda e a gente. Basta pensar que durante o movimento pacifista a maior parte dos italianos estava contra a guerra enquanto os parlamentares de esquerda estavam quase todos a favor. Este é o ponto. Agora os movimentos submeteram e submetem a uma justa crítica à esquerda institucional, o centro-esquerda, em particular os DS, mas não foram capazes de continuar, de raciocinar sobre o que terá que fazer para com as instituições. Porque aqui existe uma contradição evidente. É inútil falar de sociedade civil se não si está preparado para representá-la. Quem representa a esta sociedade civil? Se quando chega o momento de decidir temos que confiar e delegar decisão a pessoas e partidos que não estimamos e que consideramos corruptos e longínquos da gente? Mas alguém tem que resolver esta contradição. Alguém tem que dizer aos milhares e milhares de jovens que estão insatisfeitos e que criticam a política e as instituições democráticas do Parlamento, e que tipo de Parlamento quer. Porque se não o diz, sinto muito, mas se torna por sua vez corresponsável pelo processo de degeneração da malha democrática deste País.
Demos um salto, embora ficando na Itália... Como julga as notícias recentes sobre o seqüestro de Abu Omar? É possível que os serviços secretos italianos não soubessem nada?
Não, não é possível que não soubessem nada. Sabiam tudo muito bem, e colaboraram muito provavelmente na operação. Têm razão os americanos quando dizem: o temos feito com o consentimento tático do governo. Muito provavelmente houve um consentimento tático e houve um consentimento ativo, de conseqüência, dos serviços secretos. E estou convencido, porque dizer que os serviços secretos não estavam à par desta situação é como dizer que são um punhado de mentirosos, que nós pagamos, mas que são incapazes de fazer seu próprio trabalho. E como eu acredito que não seja assim, tenho que deduzir que participaram de várias maneiras.
De todas as formas se trata de uma violação da soberania do Estado Italiano.
Total.
E é algo gravíssimo.
Algo gravíssimo. Mas, ao mesmo tempo, quando li sobre o grande assombro de muitos comentadores políticos caí das nuvens. Porque já no ano 2000 em meu livro “A guerra Infinita” tinha comentado detalhadamente a diretiva do Imperador, quer dizer, do Presidente Bush, que em Outubro de 2001 emitiu um decreto, o que eu chamo decreto Imperial. Com o decreto ele autorizava a si mesmo, o Imperador, a decidir a detenção de cidadãos estrangeiros em território estrangeiro, que poderiam ser processados por um tribunal militar especial, e inclusive condenar a pena de morte absolutamente secreto. E isto depois de processos que poderiam ser instituídos a bordo de naves militares americanas, quer dizer fora do território dos Estados Unidos e de suas águas territoriais. Agora, eu não sei o quanto deste decreto se pôs em pratica e quantas vezes, mas tenho a sensação de que tenham sido muitas. Não sei se fizeram os processos, se houve condenações de morte, mas recordo muita bem que esse decreto foi publicado. E que nunca foi aprovado por nenhum órgão jurisdicional americano. Portanto se trata de um decreto imperial, ilegal, segundo a própria lei americana, que foi aplicado certamente pelo menos com relação à detenção e prisão, sem autorização por parte dos estados interessados, de dezenas de pessoas. Nós chegamos a sabê-lo porque a magistratura italiana ainda funciona e fez com que o descubramos. A pergunta é: quantas magistraturas fizeram o mesmo? Quantas foram as detenções, onde tiveram lugar, onde foram levados os detidos, quantos deles morreram sob tortura, quantos deles foram mortos simplesmente? Tudo isto nos diz que agora já estamos em uma situação de uma total ilegalidade internacional ou melhor dizendo de substituição da legalidade internacional com leis ad hoc, e mais, criadas mediante decreto imperial.
Não poderemos responder jamais se o sistema de informação, como disse você, está completamente controlado pelo poder.
Tudo o que disse desde que começamos a falar o desconhece virtualmente milhares de italianos. Você sabe muito bem que as coisas que digo não as dizem quase ninguem. E não dizem nem sequer os movimentos contrários à guerra porque a análise sobre o funcionamento do sistema midiático (ref. à mídia) tem muitas carências nos movimentos democráticos que se levou adiante. Muitos deles estão ainda aí perdendo tempo com a idéia da contra-informação, que é uma pequeníssima parte do problema. O resto do problema o representa o fato de que a televisão se converteu agora já na dona de nossas mentes. Não de nossa informação, porque a informação é menos de 10% do que se vê na televisão, o resto não é informação. É publicidade e entretenimento. A contra-informação não faz publicidade alternativa, não combate a publicidade e não faz entretenimento alternativo, o que quer dizer que os possuidores da televisão são patrões absolutos de 90% ou mais, de tudo o que 30 ou 40 milhões de italianos vêem todos os dias. Até quando não se entende isso não se entenderá o que significa a Grande Fabrica dos Sonhos e da Mentira, que é o mundo no qual vivemos. E mas, é o mundo do qual nós somos produtos, porque nós somos os produtos da Grande Fabrica dos Sonhos e da Mentira e por conseguinte não estamos em condições de saber quase nada. Tudo o que lhe contei se explica porque milhões, melhor milhares de milhões de pessoas não sabem praticamente nada do que acontece ao redor deles. E não estão em condições nem de decidir nem de votar conscientes do que fazem. Este é o quadro no qual vivemos. Minha conclusão é que a esquerda teria que entender e executar a ação de que a batalha principal que terá que fazer é a de conquistar a democracia na comunicação. Se não se fizer isto todos os demais já estarão perdido e nós estaremos todos sacudidos, como ramos em cada onda de terrorismo que nos será arremesso na cara aterrorizando e aterrando milhões de pessoas que não são capazes nem de analisar as causas do terrorismo nem de entender como se pode defender. Neste momento estamos sob uma grave ameaça de transformação das democracias ocidentais em estados autoritários fortemente repressivos.
Monica Centofante.___