Observações relevantes
Kozakura é um "país" arquipélago que fica no extremo Leste de Abeir Toril (o mundo/planeta onde a história se desenrola)
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Kozakura, 131 anos atrás. Há confusão no vilarejo de Kagoshima. Uma jovem conhecida por Tanaka Yuriko desapareceu há dias e não se tem notícias dela. Foi vista pela última vez indo na direção do monte Fujima, onde disse que iria em busca de algumas flores raras.
Há muitos boatos sobre o que pode ter acontecido à jovem. Uns dizem que fugiu de casa, outros dizem que foi morta por criaturas da floresta ou do próprio Fujima. Alguns dizem que fugiu com um jovem bushi e outros ainda dizem que viajou na companhia de alguns artistas que haviam passado pela cidade na mesma época, pois teria se apaixonado por um deles.
Pela estrada que vai em direção à montanha pode-se ver um bushi caminhando. Nos braços ele traz o corpo de uma mulher. Ele parece exausto, como se tivesse caminhado uma longa distância carregando o corpo. Alguns jovens correm em seu auxílio, mas ele se nega a ser ajudado. "É meu dever levar esta jovem até sua família!" diz ele. Cansado, porém firme em seu propósito, ele caminha meio cambaleante até uma pequena casa que fica perto do centro do vilarejo. Lá ele encontra Tanaka Koyasan.
"Tanaka-san, encontrei sua filha. Ela está muito abatida, mas ainda vive." - diz o bushi.
O homem corre de encontro ao corpo de sua filha desesperadamente. Toma-a nos braços, olha-a com atenção quase não acreditando no que vê.
"Tokugawa-san, és um guerreiro muito nobre, conhecido em várias partes de Kozakura... porque se deu ao trabalho de procurar minha filha?" - diz Koyasan com os olhos cheios de lágrimas.
Inclinando-se em respeito ao pai da jovem ele diz: "Primeiramente, Tanaka-san, devo confessar-lhe que sempre tive grande admiração por sua filha. Mas por favor, nunca a desrespeitei, nem a olhei com maus olhos. Sabe que sou seguidor ferrenho de nossas tradições e, além de tudo, tenho grande respeito por sua família, que apesar de ser uma família de pescadores e agricultores, nunca teve sua honra manchada. Sempre foram vistos com bons olhos por nosso Shogun."
O homem leva sua filha até o quarto, coloca-a em sua cama e ordena que suas irmãs cuidem dela. Volta para a entrada da casa e olha atentamente para o jovem guerreiro.
"Tokugawa-san, como posso eu, um simples pescador retribuir tão nobre atitude? Trouxeste minha filha de volta, e o que é mais importante, ainda com vida!" - diz Koyasan, ainda muito emocionado.
"Tanaka-san, nunca me atreveria a pronunciar tais palavras não fosse o grande apreço que tenho por Yuriko. Sentiria-me honrado se o senhor permitisse que ela se casasse comigo. Porém, isso só deve ocorrer se ela também o quiser, de outra forma não a aceitarei como minha esposa." - o guerreiro pronuncia essas palavras olhando firme e seriamente nos olhos de Tanaka Koyasan.
O velho pensa um pouco, olha para Hiroko, olha para sua filha ainda inconsciente, dá alguns passos até o lado de fora da casa, respira profundamente e fala: "Se Yuriko concordar com sua proposta, o senhor terá minha permissão."
"Concordo com isso pois foi o senhor que salvou a vida dela, trouxe-a de volta para casa, e porque eu mesmo já havia notado seu interesse pela minha filha. Sei que és um homem honrado, honesto e que segues à risca nossas tradições." - diz o velho agora voltando para dentro de casa.
"Pois que assim seja, Tanaka-san. Por favor, quando Yuriko acordar peça que alguém me chame, assim poderei falar com ela pessoalmente." - Hiroko pronuncia essas palavras, reverencia Koyasan e deixa a casa.
Dois dias se passaram desde que o nobre guerreiro trouxe a filha de Koyasan de volta para casa. Ela se levanta, um pouco fraca ainda, e encontra seu pai na sala, descansando após mais um dia de pescaria.
"Papai!" ela diz com uma voz emocionada.
"Yuriko, minha filha! Como está se sentindo?" - o velho levanta e vai em direção a sua filha.
"Um pouco fraca e tonta mas... como vim parar aqui? Eu estava no monte Fujima e..."
"O nobre bushi Tokugawa Hiroko a trouxe de volta. Não sei o que aconteceu a você. Nem mesmo sei se ele sabe, mas o que importa é que você está em casa a salvo." - o velho olha atentamente para Yuriko, respira profundamente e fala "Bom, você já está de pé. Está na hora de cumprir com minha palavra." Então ele caminha até a rua e chama um dos meninos que ali brincavam.
"Vá! Procure Tokugawa Hiroko e diga a ele que Tanaka Koyasan pede que venha até sua casa. Como recompensa você receberá um peixe quando o guerreiro aqui chegar." o velho fala vagarosamente de modo que o menino não esqueça uma só palavra.
O garoto parte em disparada, tomando a estrada que leva até o castelo de Toronaga Yamato, o Shogun daquela região. Após umas poucas horas de viagem ele chega ao castelo. O grande portão de ferro que protege a entrada está fechado. Dois Samurais estão de guarda, do lado de fora.
"Boa tarde!" diz o garoto enquanto reverencia os dois Samurais.
"O que quer aqui garoto? Está perdido?" diz um dos guardas.
"Não senhor. Vim a pedido de Tanaka Koyasan, do vilarejo de Kagoshima. Ele pede que Hiroko-san vá até sua casa."
Os guardas se olham por um tempo, então um deles faz sinal para dentro e um outro Samurai aparece. Eles murmuram alguma coisa que o garoto não consegue ouvir, então o terceiro Samurai desaparece correndo. Algum tempo depois ele retorna.
"Garoto, Tokugawa-san pede que espere um pouco. Ele já virá para acompanha-lo de volta a teu vilarejo".
"Muito obrigado senhor!" sorridente o garoto senta no chão enquanto espera.
Pouco tempo depois Hiroko surge no portão, montado em seu cavalo negro.
"Abram o portão! Estou indo para Kagoshima e devo retornar apenas amanhã." - ele fala com uma voz poderosa que é obedecida logo em seguida pelos samurais que guardam o portão.
O garoto se espanta com o que vê. Um nobre bushi do senhor Toronaga Yamato, vestindo um kimono fino, todo dourado com detalhes em preto e algumas figuras pintadas em vermelho. Na cintura ele ostenta duas Katanas, uma com a bainha e a empunhadura de um vermelho muito escuro, mais escuro que o sangue; a outra com a bainha e empunhadura negras, mas com alguns detalhes e inscrições em dourado.
"Vamos garoto! Tenho certeza que Tanaka Koyasan não pode esperar pelo resto do dia. Na verdade..." ele sorri "... eu é que não aguento mais esperar." Estende a mão e ajuda o garoto a subir no cavalo.
Os dois cavalgam de volta ao vilarejo. Enquanto isso o garoto resolve matar sua curiosidade: "O senhor é um bushi do Shogun, certo?" ele pergunta um pouco apreensivo.
"Sim, meu jovem. Sou um bushi do senhor Toronaga Yamato."
Vendo que conseguiu um pouco da simpatia de Hiroko o menino prossegue com suas perguntas: "Mas... porque o senhor está vestido assim, ao invés de usar armaduras como os Samurais que estavam tomando conta do portão?"
Hiroko sorri, respira fundo e inicia a explicação: "Você é realmente curioso não? Pois bem, preste atenção. Eu pertenço a uma classe um tanto quanto diferente da dos Samurais."
O menino escuta atentamente enquanto observa as espadas do guerreiro.
O bushi segue explicando "Nós, da minha classe, somos conhecidos como Kensai. Somos considerados os melhores bushi que um Shogun pode ter."
"Mas como vocês podem ser os melhores, se os Samurais são os melhores guerreiros que existem em toda Kozakura?" o garoto pergunta enquanto olha intrigado para Hiroko.
"Sim, os Samurais são bushis excelentes, mas nós Kensais somos considerados melhores. Por que? Bom... nós não dependemos de armaduras para nos proteger. Veja meus trajes. Nós podemos ir para a guerra com esta vestimenta, por exemplo. Nós, Kensais, passamos nossa vida inteira treinando, com a arma que preferimos, de modo a nos tornarmos os melhores possíveis, mestres com nossas armas. Meu clã, por exemplo, usa a Katana desde tempos antigos." ele olha para o garoto e nota que ele está realmente interessado na explicação. "Meu bisavô era um Kensai. Ele treinou meu avô, que treinou meu pai, que me treinou, bem como meus irmãos. E pretendo passar os ensinamentos da família para meus filhos, se eu os tiver um dia."
"Mestres da Katana?" pergunta o garoto com os olhos muito brilhantes.
O guerreiro, agora com as feições mais sérias, olha para o garoto: "Sim, Mestres. Dedicamos nossa vida ao aperfeiçoamento com nossas armas. Nosso objetivo é nos tornarmos um só com a espada. Os Samurais consideram a Katana como sendo sua alma, seu espírito. Nós Kensais treinamos de modo que a Katana e o guerreiro sejam um só, e não duas entidades separadas."
O guerreiro olha à frente e fala "Mas chega dessas perguntas! Já estamos chegando em Kagoshima."
Em muito menos tempo de viagem eles retornam ao vilarejo. Hiroko vai com seu cavalo até a casa de Koyasan. Lá chegando ajuda o garoto a descer, desmonta e diz para o menino ir chamar o velho.
Ele observa o céu agora quase negro. Algumas nuvens ainda podem ser vistas por traz do monte Fujima, avermelhadas pela luz do sol poente, mescladas com o negro da noite que se aproxima. De repente ele sente um perfume que não estava no ar quando chegou. Ele reconhece essa fragrância, sabe que é o perfume de sua amada. Vira-se e a vê vindo em sua direção, acompanhada por seu pai.
"Boa noite, Tanaka-san! Boa noite, Yuriko-san!" Hiroko pronuncia essas palavras enquanto inclina-se.
"Boa noite! Seja bem vindo à minha casa, Tokugawa-san. Estávamos a sua espera." o velho também se inclina e faz um gesto para sua filha, de forma que se adiante e fique mais próxima dos dois. "Yuriko, Tokugawa-san foi quem a trouxe com vida para casa, e ele precisa falar contigo."
"Tanaka-san, não disseste nada a ela?" o Kensai pergunta ao velho, demonstrando surpresa.
"Não. Achei melhor que o senhor falasse com ela pessoalmente. E como confio no senhor, permito que leve-a para caminhar um pouco, assim poderão conversar mais sossegadamente. Além do mais ela precisa de um pouco de exercício. Esteve deitada repousando desde que a trouxeste de volta" - o velho faz sinal para que sua filha acompanhe Hiroko.
"Pois bem, senhor. Creio que não nos demoraremos muito a voltar." Hiroko inclina-se novamente em respeito a Koyasan e convida Yuriko para o acompanhar.
Enquanto caminham pelo vilarejo, Yuriko, não contendo sua curiosidade, fala para Hiroko: "Tokugawa-san...do que meu pai e o senhor estavam falando?"
"Yuriko-san... eu achei que seu pai já havia lhe contado tudo, mas pelo jeito terei todo o trabalho." - ele sorri demonstrando um pouco de timidez. "Como já sabe, fui eu quem a trouxe de volta para casa após aencontrar no monte Fujima. Quando a entreguei para seu pai, pedi a ele se daria permissão para que se casasse comigo, porém o adverti que só aceitaria casar-me se a senhorita também aceitasse. Não acho correto casamentos forçados, por mais que nossa tradição assim o permita."
"Mas senhor...." ela murmura um tanto quanto nervosa.
"Sei que é algo inesperado, mas meu apreço por ti já vem de muito tempo." - ele a olha nos olhos e sorri.
"Mas senhor... não sabe o que me aconteceu no monte Fujima..." ela mal consegue terminar a frase e lágrimas correm em seu rosto.
"Yuriko-san! Eu sei de tudo o que lhe aconteceu lá. Entendo perfeitamente todos os acontecimentos, e não vai ser isso que irá diminuir meu apreço por ti." Pela primeira vez ele a toca no rosto, delicadamente, enxugando as suas lágrimas.
"Tokugawa-san, isto não é correto. O senhor merece alguém melhor do que eu. És um dos mais honrados guerreiros de nosso Shogun... eu nem sonharia em estar a seu lado neste momento." Ela o olha com um olhar de profunda tristeza.
Com um sorriso alegre ele segura uma de suas mãos, afaga-lhe o rosto e diz "Yuriko-san, em nenhuma parte de Kozakura que já visitei encontrei uma mulher tão bela e tão alegre quanto encontrei aqui neste vilarejo. Sei que o que ocorreu no Fujima deve tê-la deixado um tanto quanto chocada, talvez até mesmo triste. Mas acredite, tu foste a escolhida dentre muitas. E como podes ver, não fui apenas eu que se encantou com tua beleza e alegria. Sei de tudo o que pode acontecer daqui por diante, mas estou pronto a seguir honrando o nome de minha família e a tê-la como minha esposa, honrando-a, protegendo-a e tentando fazer-te feliz a meu lado."
Ela agora um pouco mais tranquila o olha nos olhos. Não são apenas olhos castanhos, orientais, mas são os olhos de um homem honesto, honrado, forte no exterior e no âmago do seu ser.
"Se após eu ter-lhe dito tudo isso não quiser casar-te comigo, pois que assim seja. Não a incomodarei mais!" ele agora fala em um tom resoluto, mas sem rispidez.
Sorrindo e tomando-o pelas mãos ela continua olhando-o nos olhos e diz "Tokugawa-san, vejo que és um homem decidido e ciente de tudo. Admiro o senhor por tudo isso e sim... aceito casar-me com o senhor."
Hiroko sorri, quase não se contendo de alegria. "Bom... então devemos voltar a sua casa e comunicar a seu pai."
Os dois, sorridentes, aproveitam o caminho de volta para conversarem um pouco sobre suas vidas, apreciam o resto de luz que o sol deixou e agora admiram as estrelas que surgem pouco a pouco, nesta noite sem lua. Após o comunicado ser feito a Koyasan eles marcam o dia do casamento para a semana seguinte - um casamento extremamente rápido para essa época.
Toronaga Yamato, o Shogun, fez questão que a cerimônia e os festejos se dessem dentro do pátio do castelo. Quase todo o vilarejo fora convidado. Pescadores, agricultores e caçadores dividiam espaço com alguns poucos nobres, vários Samurais do exército e muito poucos Kensais da guarda pessoal do Shogun.
Mais ou menos nove meses depois, nasce o primeiro filho do casal Tokugawa. O nascimento causou espanto a todos que o presenciaram. A criança era realmente diferente. Tinha a pele em um fraco tom de dourado, algo nunca visto no vilarejo ou na região daquele Shogunato. Seus olhos eram de um dourado muito brilhante.
Mas como era filho de Tokugawa Hiroko, Kensai e agora chefe da guarda do Shogun, ninguém se atreveu a tecer comentários sobre o fato, pelo menos não na presença dos pais da criança ou de qualquer pessoa relacionada ao castelo.
O jovem Tokugawa Kenji, bem como seus dois irmãos Yoshitune e Yoritomo, cresceu no castelo de Yamato. Foi treinado por seu pai e alguns outros Kensais, como dita a tradição de sua família e classe. Obviamente quase todos no castelo estranhavam aquela criança, mas por ser filho de Hiroko, nada falavam ou faziam.
De vez em quando as crianças acompanhavam sua mãe até o vilarejo. Nessas poucas oportunidades ela ia visitar a família. Os jovens Tokugawa se encantavam com as histórias que seu avô lhes contava, divertiam-se com as crianças das redondezas, com exceção de Kenji. Todas as crianças, menos seus irmãos, o rejeitavam, pois ele era diferente. Alguns adultos falavam coisas estranhas sobre ele. Diziam que era uma criança amaldiçoada, que trazia má sorte para a vila, que sua família teria um destino horrível. Outros mais benevolentes diziam que ele era diferente, deformado, mas que era um enviado dos deuses, que traria boa fortuna para a vila, que um dia haveria uma enxurrada de peixes, que os campos produziriam como nunca...
Apesar disso tudo o jovem Kensai nunca deixou de acompanhar sua mãe até o vilarejo. Enquanto seus irmãos divertiam-se com as outras crianças, ele passava quase que todo o tempo na companhia de seu avô, ouvindo histórias mirabolantes.
Apenas uma vez ele perguntou a seu avô o porque dele ser diferente das outras pessoas. Koyasan foi conciso na resposta: "Apenas seu pai e sua mãe sabem o porque e não vão dizer a ninguém! Deixe isso para lá! Concentre-se em seu treinamento!"
Kenji era muito apegado aos pais, mas principalmente a sua mãe. Era "a mulher mais linda que ele ou qualquer mortal já havia visto em Kozakura", segundo o que seu pai lhe dizia. O jovem não havia ido além do vilarejo, mas até onde seu conhecimento de mundo lhe permitia, ele concordava com seu pai. Esse sempre deu grande apoio a Kenji. Começou a ensinar-lhe as artes dos Kensais quando ele era muito pequeno, em torno dos 4 anos de idade. O pequeno Tokugawa não demonstrava que seria um homem forte como seu pai, mas era ágil, treinava com afinco e estava sempre querendo aprender mais. Sua sede por sabedoria parecia inesgotável. Seu aspecto físico não mudou com os anos. Continuou tendo a pele e os olhos dourados, os cabelos muito negros, uma compleição esguia mas não frágil.
Ele já havia participado de algumas campanhas sob o comando de seu pai, que liderava as tropas de Toronaga Yamato. Lutaram contra alguns clãs inimigos, mas sempre voltaram vitoriosos para casa. Seus irmãos também eram grandes guerreiros, mas Hiroko sempre disse que Kenji seria o melhor deles. Quando os três perguntavam o porque disso, seu pai apenas dizia "Aquele que vive mais, aprende mais, portanto pode se tornar o melhor." Os jovens não entendiam como Kenji, o irmão mais velho, poderia viver mais que eles.
Um dia, quando já tinha em torno de 25 anos, resolveu ir até o monte Fujima. Disse que queria conhecer o monte, escalá-lo. Queria também aproveitar o momento de solidão para meditar e treinar um pouco mais, por conta própria. Após alguns dias de viagem chegou ao topo do monte. Fazia muito frio, mas era o local perfeito para o que ele tinha em mente. Ficar em paz, meditar e treinar por conta própria, até mesmo desenvolver algumas técnicas novas, que ninguém jamais lhe havia ensinado. No último dia, quando estava se preparando para voltar para o castelo, viu um vulto gigantesco atravessar as nuvens. Parecia uma mescla de pássaro com lagarto. "Grande Raiden! Um dragão!" gritou ele. Pegou seus pertences e iniciou a descida o mais rápido que pode.
Alguns dias depois, ao aproximar-se do vilarejo, só o que encontrou foi fumaça e destroços. O lugar onde seu tão amado avô morava havia sido devastado. Chamas por todo o lugar, homens, mulheres e crianças totalmente queimados. Sinal de grande destruição e sofrimento. Ele se entristece ao ver tudo aquilo, mas segue seu caminho até o castelo de Toronaga.
Lá chegando, qual não é sua surpresa ao avistar fumaça e alguns resquícios de chamas no castelo. O jovem Kenji desespera-se, pensando que sua família também havia sido morta. Ao entrar no castelo - que não tinha sequer um Samurai no portão - ele fica mais aliviado ao ver seus irmãos ajudando a remover os escombros do castelo. Seu pai também está ali. Mas as forças lhe esvaem quando ele vê que era sua mãe que eles tiravam debaixo dos escombros. Sua mãe, que era tão linda, estava agora totalmente deformada. As lágrimas lhe vêm aos olhos, ele mal tem forças para ajudar seu pai e seus irmãos.
Após o funeral de sua mãe, do Shogun e várias outras pessoas, Kenji conversa com seus irmãos para saber quem havia feito aquilo. Eles lhe dizem que foi o grande dragão verde. A criatura atacou a vila e o castelo no mesmo dia, alguns dias atrás. Kenji sabe que foi aquele vulto que avistou no céu o culpado de tudo.
Alguns dias depois o jovem Kensai resolve contar a seu pai sobre seus planos, criados após a morte de sua mãe.
"Pai, peço tua permissão para deixar esta região. Após tudo isso que aconteceu resolvi viajar para conhecer o resto de Kozakura e para encontrar aquele maldito dragão."
"Meu filho, sabes muito bem devemos respeito e obrigações ao nosso Shogun..."
"Sei disso muito bem, mas ele está morto. E até que seu filho mais velho volte de Okama não haverá Shogun para me impedir."
"Hmmmmm... sabes bem que não aprovo muito isso... mas você tem o direito de querer vingar sua mãe. Não faço isso eu mesmo porque sou o chefe da guarda e até que o novo Shogun chegue estarei no comando." O nobre guerreiro, agora já em torno de seus 45 anos, olha para o céu pensativo, coça a cabeça e fala "Vá Kenji! Você tem a minha benção. Teus irmãos ficarão aqui para me ajudar. Mas antes de ir..." Hiroko se levanta, vai até o dojo da família e retorna com a espada de bainha e empunhadura negras e detalhes em dourado.
"Tome Kenji!"
"Mas pai, esta é a espada de nossa família! Apenas o mais velho do clã deve ser o portador dela. O senhor é o mais velho, portanto ela deve continuar com o senhor!" - o jovem olha o pai com espanto.
"Sei muito bem de nossas tradições meu filho. Mas este é um momento diferente, crítico. Tu vais em busca de vingança. Vais em busca daquele que causou a morte de tua mãe, a única mulher que amei durante toda a vida, aquela que sempre cuidou de nós todos, a mais belas das criaturas que já pisou em terras kozakuranas. Portanto eu quebro nosso protocolo e passo a ti, neste momento a espada da nossa família. Tome Fuhennori Kouken, tu agora és o guardião da espada do nosso clã. Guarde-a como a própria vida. Use-a com sabedoria. Como bem sabes ela está conosco desde que o primeiro Tokugawa foi treinado como Kensai. Ele criou esta espada e desde então ela é passada de pai para filho." - Hiroko estende os braços e entrega a espada a seu filho com um olhar firme.
Kenji segura a espada, tira sua própria espada da cintura e a entrega a seu pai. Admira a nova espada por um tempo e a coloca na cintura. "Obrigado meu pai. Seguirei nossas tradições e defenderei a honra de nossa família. Fuhennori Kouken não sairá da bainha em vão, eu lhe asseguro."
"Confio em ti, Kenji." - ele olha seu filho atentamente, sabe que ele será um nobre guardião da espada e da honra de seu clã. "Kenji, meu filho! Tu já és quase um Kensai. Lembre-se que para terminar teu treinamento inicial deves um dia construir tua própria espada. Esta que usava até a pouco lhe foi dada por mim e construída pelo ferreiro do nosso Shogun. Esta que carrego na cintura foi construída por mim, portanto é minha verdadeira espada. Chegará o dia em que tu terás de construir tua própria Katana para que ela seja a companheira de Fuhennori Kouken."
O jovem Kensai olha atentamente para seu pai. Ouve as palavras daquele que é um modelo para si, acena com a cabeça vai para casa, a fim de pegar suas coisas e partir.
Ele partiu, deixou seu pai, seus irmãos e sua casa para traz. Já viajou por toda Kozakura, enfrentou diversos perigos e adversários. Nem todos era humanos. Enfrentou criaturas que só tinha ouvido nas histórias que seu avô lhe contava, ou nos relatos de combate de seu pai e dos guerreiros mais antigos do castelo.
Já se passaram muitos anos, ele já perdeu a conta deles. Um dia, enquanto descansava em baixo de uma grande árvore, abrigando-se do sol logo após o almoço, em um grande campo verdejante, ele ouve novamente o som que ouviu naquele dia, enquanto iniciava sua descida da montanha. Levantando-se rapidamente ele vê uma grande sombra crescendo perto da árvore. Olhando para o alto avista uma criatura gigantesca, que batendo as asas vagarosamente, mas com força, está pousando.
"Como se atreve a vir até mim, vil criatura?" - Kenji grita com fúria enquanto sua mão direita já busca a empunhadura da espada. Aquela grande serpente dourada com asas, quatro patas e uma grande cabeça pousa sem medo e olha profundamente para Kenji.
"Vamos dragão miserável! O que quer de mim? Fale antes que o mate para vingar a morte de minha mãe!"
"Hmmmm..." emitindo um som forte e gutural o dragão abaixa-se um pouco e aproxima-se de Kenji. "Há muitos anos que não falo a língua dos humanos... mas te acalme, não vim aqui para atacá-lo. Sei que está em busca de vingança... sei que quer vingar a morte de tua mãe... e venho lhe dizer que agora também deves vingar a morte de teu pai e de teus irmãos"
Kenji olha estarrecido para a criatura que realmente não demonstra intenção de atacá-lo nem tão pouco está com medo do guerreiro a sua frente. "O que? Vais me dizer que ousaste voltar ao castelo e matar o resto de minha família?"
"hmmmmmmmmmmmmm...grrrrrrr...Não meu filho... eu nunca teria cometido tal barbárie. Não fui eu o dragão que exterminou teu clã."
"Então..." - o desespero toma conta do espírito do jovem guerreiro.
"Meu filho..." - antes que o dragão possa prosseguir, Kenji explode em fúria.
"Pare de me chamar assim! Não sou teu filho! Como bem sabes meus pais morreram! Não podes demonstrar um pouco de respeito?"
A grande criatura respira profundamente, abaixa-se mais, deitando na grama.
"Pelo visto, Hiroko, nem Yuriko contaram a ti sobre tua origem, não?"
O jovem sem entender o que a criatura está dizendo fica mudo, apenas escutando.
"Pois bem, cabe a mim contar-te tudo. Alguma vez soube de quando tua mãe subiu o monte Fujima?"
Kenji apenas balança a cabeça positivamente.
"Hmmmmmm....shhhhh... e suponho que não lhe contaram porque Hiroko teve de trazê-la nos braços, não? Muito bem... foi por minha causa."
O guerreiro novamente leva mão à espada, agora mudando suas feições para uma expressão de raiva.
"Calma, Kenji! Não precisas me atacar. Naquela ocasião eu vi tua mãe pela primeira vez. Era a mulher mais linda que já vi até hoje. Não me pergunte porque, mas alguns de nós dragões, algumas vezes, sentimos atração por algumas humanas, as mais belas. Isso ocorreu comigo." - Kenji, ainda com a mão no cabo da espada escuta atentamente, mas sem abrandar sua raiva. "Ela não havia me visto. Eu estava escondido dentro de uma grande caverna. Então, para poder me aproximar dela me fiz valer de um dos poderes que temos e tomei a forma de um humano, um homem muito belo. Assim pude me aproximar dela. Ela não se assustou e conversou comigo. Acompanhei-a até o topo do monte, onde ela queria procurar umas flores raras. Levamos alguns dias até chegar lá, e nesse meio tempo tentei conquistá-la. Só quando já estávamos voltando, quase no pé do monte é que ela cedeu a meus encantos. Então eu a tive em meus braços, como vocês homens fazem com as mulheres."
"Maldito! Enganaste minha mãe e tens a coragem de vir me dizer isso?" - Kenji saca a espada que reluz ao forte sol.
"Acalma-te!" o dragão fala com uma voz muito forte e muito grave, como se um trovão falasse com Kenji. "Sim, eu a enganei! Mas foi por... uma paixão." - a expressão da criatura agora muda para a de tristeza. "Eu me apaixonei por Yuriko... foi uma fraqueza minha. Cheguei a me arrepender pelo que fiz... até o dia que te vi na montanha, treinando."
"O que tenho a ver com isso?" - o jovem pergunta angustiado.
"Apenas quando te vi soube que de um momento de fraqueza meu... que de uma paixão que eu estava arrependido... nascera um nobre guerreiro..." - ele olha para Kenji com ternura mas ainda com tristeza.
"O que estás me dizendo? Isso não pode ser verdade! Somos seres diferentes, os humanos e os dragões!" - o jovem estarrecido pelo que acabara de ouvir cai ao solo, de joelhos.
"Sim, meu filho, somos de raças diferentes. Mas graças à mágica do amor é que da união de Yuriko e eu... tu nasceste. Se achas que isso é tão impossível, então explica-me porque tua pele é dourada? Quantos da tua família têm a pele assim? Como teus olhos podem também ser dourados? Porque és mais alto que todos de teu clã?"
Kenji não sabe o que dizer. As palavras do dragão, agora, tantos anos depois, começam a lhe fazer sentido. Nunca quiseram lhe dizer porque ele era diferente, e, como sempre o trataram com uma certa normalidade, nunca quis ir mais a fundo em suas perguntas.
"Sim, Tokugawa Kenji! Eu, Kryshravtsuniganaoriwatseuine, sou teu pai! Hiroko sabia de tudo. Ele encontrou tua mãe desacordada aos meus pés, após eu ter mostrado a ela minha verdadeira forma. Eu soube naquele momento que ele também a amava, e portanto resolvi contar a ele tudo o que havia ocorrido. Pedi que ele a protegesse, e ele como nobre e honrado guerreiro que era atendeu meu pedido."
"Mas..." - o jovem agora tinha lágrimas nos olhos.
"Kenji, meu filho. Agora já sabes de toda a história. Só o que não sabes é que o dragão que atacou tua família é um antigo inimigo meu. Ele se chama Shiratonykrudakomany. É um dragão verde, vindo do ocidente, que só tem maldade em seu coração. Não sei como ele descobriu minha ligação com tua família, mas foi por causa disso que ele a atacou. Ele queria me atingir com isso. O maldito, nas duas vezes que atacou o castelo, fez isso enquanto eu não estava no Fujima, pois ele teme minha fúria. Agora ele foi para o ocidente, pois sabe que eu o caçaria aqui em Kozakura... e também sabe que não posso deixar nossa terra. Ele sabe que eu sou o guardião do Fujima e de outras regiões. Ele sempre me invejou e por isso me odeia tanto. Mas agora que conseguiu acabar com sua família... foi embora e espero que nunca mais volte."
"Então devo ir para o ocidente, em busca desse dragão maldito!" - Kenji levanta-se novamente, enxuga as lágrimas de seu rosto dourado e guarda a Katana na bainha.
"Sim, meu filho! Procurei-te por toda parte, após a morte de teu pai. Não será difícil reconhecer teu inimigo. Provavelmente ele é o único dragão oriental naquelas terras. Porém... não será fácil encontrá-lo. As terras do ocidente são muito vastas..." - o dragão não chega a terminar sua fala quando Kenji grita "Não me interessa quanto tempo leve e quanto eu tenha de caminhar ou cavalgar. Vou encontrar esse maldito e vou matá-lo em nome de minha família!"
"Pois bem, Kenji. Não percas mais tempo. Vou te levar até o continente, em Shou Lung. Voando chegarás mais rápido lá."
"Que assim seja!" - o Kensai pega sua mochila, coloca-a nas costas e vira-se para o dragão. "P... pai... estou pronto. Vamos sem demora, pois não tenho muito tempo de vida para encontrar nosso inimigo."
Kryshravtsuniganaoriwatseuine solta uma gargalhada poderosa e demorada. "Tu sabes muito pouco a teu respeito, meu filho. Ainda tens muito que viver. Estás agora com 39 anos, mas ainda tens muito que viver, a não ser que a morte te visite mais cedo" - Com uma espécie de sorriso o dragão coloca Kenji no lombo e decola.
Eles voam por um dia e meio. Nesse tempo Kenji e seu verdadeiro pai aproveitam para conversar um pouco sobre a longevidade que o jovem poderá ter, sobre dragões e Kenji demonstra interesse em aprender a linguagem dos dragões. Seu pai sabe que são necessários muitos anos para que um humano aprenda a sua língua, então decide utilizar uma de suas magias e assim faz com que seu filho aprenda instantaneamente a sua língua.
Eles pousam em uma praia deserta, já nas terras de Shou Lung.
"A partir daqui não posso mais ir contigo, Kenji. Tudo é por tua conta."
"Eu sei. Só voltarei para Kozakura depois de ter limpado a honra de minha família... e a tua também."
Eles se despedem e enquanto Kenji caminha para longe da praia, Kryshravtsuniganaoriwatseuine voa de volta para sua terra.
Passaram-se em torno de 93 anos. Aquele que um dia era um jovem guerreiro agora já é um nobre Kensai. Já andou por muitas parte do oriente de Abeir-Toril e agora já está no ocidente, as terras conhecidas como Faerun, há vários anos. Já teve algumas aventuras nessa terra que ainda considera nova, com muito que aprender sobre ela.
Em um dia frio, enquanto viajava para o oeste, ele encontra o que parece ser uma caravana. Aproxima-se cautelosamente e descobre que na verdade é uma caravana que transporta escravos. Sem perceber ele é emboscado e acaba se tornando parte da carga...
Aqui começa a verdadeira aventura de Tokugawa Kenji...