Jadson Porto
Poeta
Este site visa expor a produção poética de Jadson Porto, integrante da Academia Amapaense de Letras (Macapá, AP) e da Academia de Letras José de Alencar (Curitiba, PR).
Foto superior: Adriana Martins Vitor de Oliveira (2019)
Foto esquerda: Raysa Oliveira (2023).
O POETA QUE APRENDEU A VOAR
Neste seu livro de estreia como poeta, o professor Jadson Porto, conhecido cientista social e geógrafo, caminha em busca de outro plano, sabendo exatamente onde vai, onde se integra e, principalmente o que busca.
Não é para menos que dois dos seus poemas, “A Maldição do Poeta” e “A Bênção do Poeta”, estão entranhados nele, tanto que as suas construções poéticas lhe fazem emergir com toda a energia de sentimentos apreendidos no fundo das águas abismais, antes aparentemente insondáveis, para um mundo manifesto e eloquente.
Ainda que alguns tijolos dessa construção sejam paradoxais, como no segundo poema aqui citado, o poeta é, para Jadson, um fazedor de sonhos, alegre em seu reino; um viajante que faz sua viagem acompanhado pelo despertar perpétuo de sentidos atentos, que por sua vez são instrumentos do seu ofício. Aqui o poeta se abençoa, e pela sua experiência de mundo executa sua própria ablução.
O também praticante da real arte da arqueria, consegue extrair dela, e de outros diálogos oportunos do cotidiano, por meio de trocadilhos, analogias, metáforas e silogismos, lições filosóficas que ficam explícitas justamente pelo exercício constante que o permite ser capaz e hábil em sua prática observadora. Talvez aqui se tenham coadunado as experiências do observador-cientista e do poeta perceptivo.
Este “Entre Palavras e Caminhos” também traz temáticas comuns que são saborosamente transformadas em fortes enredos, pelo poder que seus versos têm de deslizar no branco do papel e se materializar de pronto, gravados no granito, de onde não sairão mais.
Um dos temas é o do trabalho do professor, caracterizado pelo autor como uma profissão solitária, um ofício cujas ações são planejadas na solidão, mas que adiante se integram em um conjunto coletivo inseparável de si mesmo. Nesse poema, Jadson Porto revela de forma lírica, mas ao mesmo tempo realista, os bastidores particulares de uma profissão tão importante para a sociedade.
Contente em ser um dos primeiros leitores desta obra, posso dizer ainda que ela é fruto do desprendimento corporal do autor, que concebe e demonstra pelo voo imaginativo, uma espécie de arcabouço de letras e de talento, cheio de literariedade em sua viagem tangencial para outros pontos além do Amazonas e do meio do mundo.
O poeta Jadson Porto voa.
Macapá, 15 de abril de 2020.
Fernando Canto
Membro efetivo e perpétuo da Academia Amapaense de Letras.
No ano em que completei 55 anos, fui agraciado por ter sido aceito como membro efetivo em duas Academias de Letras, uma no Paraná e outra no Amapá. Sinto-me deveras honrado por estas aprovações.
Algumas vezes me expressei em discursos em eventos. Ora representando a instituição onde trabalho, ora por algum enunciado em homenagens concedidas, mas que não foram escritas. Às vezes letras são desenhadas em um papel em branco, vão se encorpando, transformando-se em palavras, orações e lidas. Outras, são expressas oralmente em completa desconsideração ao que escrevi. Como também, acontece de discorrer em pensamentos livres.
Este opúsculo tem por objetivo expor os discursos elaborados para os oito principais eventos conquistados em minha vida acadêmica.
O primeiro foi apresentado após a aprovação de meu projeto no edital nacional do primeiro Prêmio Santander (2005); o segundo, expus em minha posse como sócio-correspondente da Academia de Letras José de Alencar, Curitiba (PR) (2017). O terceiro, foi elaborado ao evento da minha defesa para Professor Titular na Universidade Federal do Amapá (2019). O quarto, foi apresentado no evento comemorativo aos 15 anos do Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade Federal do Amapá (2021); o quinto foi preparado para quando recebi o Prêmio Robério Nobre, como Pesquisador Destaque - Ciências Humanas (2021); o sexto, atende à comemoração dos 20 anos de meu Grupo de Pesquisa; o sétimo, foi concebido para a minha posse como sócio-efetivo da Academia de Letras José de Alencar, Curitiba (PR) (2022) e; o oitavo, destinou-se para a minha posse na Academia Amapaense de Letras, Macapá (AP).
Outros discursos foram elaborados em outros momentos, a exemplo de quando fui homenageado como paraninfo de turmas nos cursos de Geografia e de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Amapá (Unifap), bem como por serviços prestados e contribuições à ciência e tecnologia da Unifap e do Estado do Amapá. Mas foram perdidos em algum equipamento de informática substituído por conta das obsolescências de seus programas.
De todos os discursos elaborados, gosto do próximo a ser expresso.
E entre inícios em alfa e continuidades sem ômega, folhas em branco a serem preenchidas, rasuras a serem aprimoradas e elucubrações a serem provocadas, rotas e caminhos são percorridos.
Que as leituras aqui expostas possam ser agradáveis e fluidas.
Macapá, 01 de dezembro de 2022.
Jadson Porto.
“Ao observar as estrelas
Vejo brilhos de outrora
Às vezes, oriento-me
Outras, encanto-me por horas”.
Poema Estrelas,
por Jadson Porto.
A escrita delicada e contundente de Jadson Porto apresenta-se, neste livro, em toda sua beleza. São poemas curtos, descomplicados e sutis, como somente um poeta consumado, tal como Jadson Porto, poderia trazer a lume. Uma feliz oportunidade para quem começa a ler poesia e um encanto para quem gosta e o faz há anos. A estrofe acima bem expressa o poder de síntese do autor, ao opor a orientação, quer geográfica, quer de vida, que nos vem da experiência - algo muito racional, fruto de reflexão e amadurecimento – à contemplação do céu estrelado, onde o olhar se perde e se encontra nas boas lembranças da infância. O etéreo e o concreto convivem.
O melhor da metafísica peculiar de Jadson Porto encontra-se, todavia (ao menos, em minha opinião; o leitor terá ampla escolha), no poema Metade, em cujo texto confluem as ambiguidades que representam as diversas construções do espírito humano. Delicadamente, descomplicadas, como é de praxe em Jadson.
Já outros poemas desta coletânea são mais concretos, como o descritivo Lamento Apagado que decorre, obviamente, dos tempos difíceis pelos quais passou Macapá durante a recente crise de energia elétrica, que mergulhou parte do Estado e, inclusive, sua capital, no caos da falta de luz, do desligamento de celulares, geladeiras, freezers, ventiladores, enfim, no colapso de tudo o que entendemos por modernidade e qualidade de vida. No poema é possível sentir o desconforto, a dor e até mesmo o risco para a saúde física e mental pelo qual passaram todos os moradores de Macapá, submetidos a aquele longo período de privação da fonte energética que movimenta nossa vida quotidiana e nossos projetos. Difícil e dolorosa temporada, especialmente as crianças, de quem se compadece particularmente o poeta.
Poeta que se debruça, também, sobre a pandemia, a qual o inspirou diretamente no poema Máscaras. Nesse texto, em uma construção simples, porém sutil, surge um bem-vindo neologismo criado por Jadson, que é a palavra boáscaras. São as máscaras do bem, aquelas que não são más, mas boas. Elementos de proteção e de respeito pelo próximo, as boáscaras resultam diametralmente opostas ao significado anterior que se estendia à palavra “máscara”, ou seja, os adereços que disfarçam, que dissimulam a verdadeira face, as fantasias que iludem e enganam. As boáscaras, ao contrário, revelam o desvelo e o respeito à vida. O neologismo, em tão boa hora inventado, flutua no poema e se encaixa serenamente na compreensão do leitor. De fato, são poderosos os reflexos da vida quotidiana no fazer poético de Jadson.
Não posso encerrar esta apreciação sem apontar que Jadson é, igualmente, um cultor refinado da ironia. O bom humor surge no poema Click, que não se pode comentar, sob pena de revelar o final inusitado, mas que se deve recomendar ao leitor que não se prive da leitura de tão saboroso texto. Trata-se de um outro reflexo do quotidiano, desta feita, sob a peculiar mirada da leveza e do sorriso.
Leia tudo, amigo leitor! Não se prive de nada! Você merece!
Rivera, Uruguai, março de 2021.
Ana Lélia Benincá Beltrame
Diplomata de carreira.
Desempenhou as funções de Consul-Geral em Caiena, Guiana Francesa e em Rivera, Uruguai.
Limites, alcances e vivências (2021)
O poeta é aquele que vê vida até em árvore seca.
Em Limites, Alcances e Vivências, Jadson Porto nos brinda com palavras que desfilam em linhas sem a elas se limitar, expressando trajetórias e, do passado ao futuro, abordando as escolhas feitas, as experiências colhidas, o aprendizado das coisas do mundo e, dos caminhos, as curvas, os atalhos, os longos percursos, os abismos e os cumes.
Próspero poeta, Jadson Porto nos conduz por frases capazes de levar a mente a flutuar em meio às nuvens, que ao sabor do vento deslizam, enquanto desenham formas nos céus e ultrapassam os nossos próprios limites, alcances e vivências.
Onde muitos se limitam diante de um ponto final, o poeta vê reticências; onde muitos enxergam em preto e branco, o poeta pinta cores; onde alguns se deparam com janelas fechadas, o poeta faz com as palavras o que o pintor Henri Matisse fez com as tintas: nos proporciona janela para a alma, sem limites, ante a imensidão do céu e do mar.
Jadson Porto inegavelmente é daqueles que produzem poesia até no singelo gesto de deixar o lápis cair sobre a folha de papel. Nada passa por seu filtro, nada dispensa e nada o limita.
Suas virtudes de poeta surpreendem as cartesianas mentes e os duros corações, pois leva a luz do sol a iluminar a mais profunda caverna das nossas almas, adivinhando o que gostaríamos de dizer ante várias situações das nossas vidas.
Esse dom de poeta não se constrói só a partir de conexões racionais, mas sim por poros que transpiram vida; transmutando secos troncos em frondosas árvores, capazes de proporcionar ar puro aos nossos pulmões, alimento sadio aos nossos corpos famintos e paz às nossas almas e corações.
Coloquem-se no lugar do autor, captem as mensagens sopradas ao vento, deixem-se levar pelas correntes do seu pensamento e regozijem-se com a leitura, sem pressa...
Rio de Janeiro, 01 de novembro de 2020.
Rogério Reis Devisate
Advogado, Defensor Público/RJ junto ao STF, STJ e TJ/RJ,
Escritor, membro da União Brasileira de Escritores, da Academia Fluminense de Letras (RJ)
e da Academia Brasileira de Letras Agrárias
Em Vozes, Jadson Porto, lançando-se à rigidez do cotidiano, único lugar em que a poesia é possível, tece palavras ao seu/nosso universo em construção/mutação. No diálogo com o SER e o NADA, numa espécie de milagre, Porto penetra as profundezas e os subterrâneos do ser, esmiuçando parte daquilo que não é visto, muito embora desnude o humano e a natureza em suas constituições mais límpidas. Aquilo que não é captado sem um olhar observador e sensível do poeta, que, por seu turno, está fincado ao chão, à mata, ao rio. Para tanto, contrariando a velocidade assustadora das nossas relações com o mundo, Porto mergulha nas funduras de um tempo vagaroso, sem a pressa que dilacera nossos dias. Dessas funduras, ao captar camadas, não vistas por um olhar instrumental, preso tão somente à razão, arranca belezas, palavras, sonhos, esperanças e vozes, forjando, em sua criação poética, outras realidades.
Vozes capazes de romper os intervalos dos ditos, das convicções, dos costumes e dos hábitos: “Entre vazares e vazantes, / fruem, às vezes, vozes”. De onde surgem tais vozes? Do nada! Afinal, não é do nada que tudo brota? Não é do nada que as coisas são arrancadas e colhidas? O nada, grávido de beleza, de histórias, de aromas, de poesias, de pinturas, de esculturas, de sensações, de desejos, de palavras, de vozes “vezadas”, “vozeadas”, “vorazes”, “vazantes”, “sussurradas”, “ciciadas”, está perpetuamente pronto a tomar forma/poesia/pintura/escultura/música...
A poesia, em constante diálogo com o caos/nada, é início, fundação e instauração de novos mundos. Seria essa a qualidade essencial da poesia, como disse D.H. Lawrence, em Caos em poesia, fazer um esforço de atenção e descobrir “um novo mundo dentro do mundo conhecido?” Ou, em outras palavras, como assinalou Porto: “Se rio abaixo for o destino / é um outro viajar. Talvez seja por lá o destino / chegando na foz, um outro iniciar”. A foz não é o fim, mas desvela continuamente novos começos, lugar dos encontros entre rios, rios/lagos, rios/mares, rios/oceanos, humanos/divindades, humanos/natureza. Uma mistura harmônica e caótica de onde tudo finda, tudo nasce, tudo cresce, tudo flui, tudo vive.
Com as suas penas, Porto faz jorrar no papel espaços que habitam e que, de igual modo, são habitados pelo seu corpo: “Carrego lembranças em cada passada”. Seu corpo é morada dos bichos, das cidades, dos rios, dos apetrechos e da floresta. São os retalhos, presos em sua carne, que são atirados sobre o papel. Além de desfiar as memórias, há um aceno em direção ao futuro: “Siga em frente / surpresas logo à frente”. Entre passados e futuros, Porto continua rastreando novas vozes/histórias para contar. Ou, como disse Mia Couto, em O mapeador de ausências: “Ando em busca dessas narrativas como um cego que procura o desenho do seu próprio corpo”.
Num combate perpetuo em busca da foz – fim e começo/Começo e fim -, Porto, cheio de mundos, habitados e não habitados, defronta-se com letras dançantes, serenas e provocativas que, nas suas variadas transas, transformam-se em poesia/metáfora/alegoria/símbolo. Assim como Alberto Caeiro, no seu Guardador de rebanhos, aprende a pensar com os olhos, com os ouvidos, com as mãos, com os pés, com o nariz e com a boca, deitando-se sobre as coisas: “Mergulhei no rio... / Deixei-me levar por sua correnteza / Num breve momento, imerso / Integrei-me à natureza”. Na integração com as coisas, as frases que nunca foram ditas, tomam forma, são reveladas, porquanto na natureza/água mora o seu habitar: “Nas águas encontro meu ambiente / Nas águas está o meu habitar”.
Porto é, não apenas ocupante de um mundo pronto, porém de um mundo a se construir; habitante dos sonhos, das possibilidades, das novas formas de existir sobre esta terra: “E ao sonhar”, como canta, “lá somos moradores”. ii Nestes tempos corridos, tão falados por Marcel Proust, na sua obra Em busca do tempo perdido, Porto dá uma atenção especial à efemeridade da vida cotidiana, permeada por contingências, absolutamente marcada pela transitoriedade. Abre, dessa forma, fendas/fissuras/rachaduras, portas que se abrem e acenam para lampejos de luzes.
Vozes, portanto, torna-se um convite singular e instigante para aqueles que querem adentrar no mundo fascinante e misterioso da linguagem poética. Então, “Venha... / Chegue... / Não se acanhe... / Se aconchegue! / O Porto se expandiu! ”
Macapá, 05 de outubro de 2021.
Antônio Almeida Rodrigues da Silva
Pós-doutor em Literatura pela Universidade Estadual da Paraíba.
Doutor em Literatura e Interculturalidade.
Professor de Filosofia da Universidade Federal do Amapá.
Jadson Porto, geógrafo, professor e pesquisador, reconhecido no meio acadêmico por sua produção científica, nos oferece, em Pintura, a oportunidade de conhecer seu talento e sensibilidade também na literatura.
Seu perfil estimula a reflexão na busca de aproximar o fazer científico e o fazer literário. Ambos demandam a habilidade de observar o mundo ao redor e enxergar aquilo que não é óbvio, que não está explícito, que não está mascarado pelo senso comum.
Ciência e literatura também demandam método, regras e procedimentos para chegar em seus resultados. A ciência precisa alcançar evidências ao final de seu percurso; poesia precisa trabalhar a forma para, então, emocionar o leitor. Jadson consegue trilhar os dois caminhos com maestria.
Como todo artista que inicia uma obra, Jadson defronta-se com as possibilidades infinitas e ainda não concretizadas em Quadro Branco, que não por acaso abre o livro.
Percorre entre Pensamentos, Cores, Pinturas, transita na Arte Pura. Segue seus Passos, Pé Ante Pé. Seus poemas ganham forma.
Ao fechar o livro com Letras e Palavras, finalmente o leitor descobre o que aconteceu...
Jadson pintou este livro com as palavras!
Taubaté, 08 de agosto de 2021.
Dra. Monica Franchi Carniello
Professora da Universidade de Taubaté e Fatec Pindamonhangaba.
Como quem olha o mundo pelas suas generosas frestas, o poeta se derrama em poesia. Esquadrinha o universo em suas tantas dimensões, debruçando olhares às janelas, percorrendo traços guardados em silenciosas lembranças. Caminha com o nascer do sol pelas entrelinhas da face da poesia e se entrelaça no emaranhado trancelim do seu tempo.
A caneta do poeta subtrai das tempestades o medo e busca ser lanterna em tempos sombrios, onde a dor flagela sem discriminação e a solidão tornou-se sinônimo de abrigo. Tempos onde privados fomos dos encontros, das despedidas, dos abraços e até mesmo da nossa capacidade de sonhar.
É nesse tempo de agonia, onde a dor quase nos silencia, que o poeta desembainha a caneta para encantar o seu canto. Em cada verso segue a nuvem passageira e vai subindo a ribanceira para avistar o mar. Cada verso abre janelas que descortinam olhares novos sobre cada ser que respira e espera o amanhã eterno dos que acreditam na vida.
Em tempos tão nuviosos, onde o sentido de tudo parece perdido, percebo feliz que a poesia de Jadson jaz viva, celebrando a vida e se propondo como alvissareira notícia, como um acalanto para os nossos tão sofridos corações.
Saúdo, assim, a poesia de Jadson Porto, ancorado na delicada leveza que emana, mas também na sua força que não deixa a palavra sem ser dita.
Vida longa à sua verve, meu caro poeta!
Macapá, 30 de março de 2022.
José Miguel de Souza Cyrillo (Zé Miguel),
Cantor e compositor, atuando a 40 anos no Amapá.
Lançou 8 álbuns musicais e 1 DVD.
Ex-Secretário de Estado de Cultura no Amapá;
Mestrando em Educação pela UNIFAP
Entre rotas, roteiros e caminhos (2022)
A POESIA E SEUS CAMINHOS
O poeta Jadson Porto, em seu livro de poemas Entre rotas, roteiros e caminhos , propõe-se a caminhar por enigmas. Seja pelos intervalos entre, seja misturando-se com suas caminhadas - o que faz emergir o enigma do destino. Lembremos de Édipo Rei, clássica tragédia cênica de Sófocles, dramaturgo grego. É caminhando que ele decide encontrar seu destino. Ou embaralhando-se com os caminhos que escolheu.
O primeiro verso do poema inicial já é um apelo à poesia: Leve-me ao meu destino. No título, esse poema já confessa sua intenção: Caminho meu caminho. Pede que seja levado ao acaso, sem programa, Caminhando sozinho ou em par. Afirma caminhar o seu caminho, embora reconheça que não vai só. Confessa caminhar tantas vezes em solidão. E disposto a enfrentar surpresas e tropeços. Mas, no caminho escolheu,
Ora cantando,
Ora compondo verso,
0ra em pensamento...
Imerso.
Com essa proposta, naturalmente, o tempo fará parte de sua poetização. Aliás, o tempo, queiramos ou não, sempre nos acompanha pelas caminhadas seguidas na vida. É sempre nosso companheiro de viagem. É por isso que Jadson, à semelhança apenas do caminhar de Édipo, perlustrando as sendas da vida, caminha em direção de seu destino, que ele reconhece ser a poesia. Essa é uma forma de predestinação a que o poeta se propõe a chegar, ainda que entre atropelos e desvios. Mas tem a certeza de chegar.
Como esse tema caminha ao lado do poeta, não significa ser sem variantes temáticas que o caminhante encontra nessa jornada. Cenas da natureza, rumos transversais, novas descobertas de como ver, paisagens sucessivas nos mapas geográficos do imaginário. Porém, seu porto seguro, seu destino recorrente é o amor.
O poeta sente-se projetado no mundo. Significa que, explorar esse mundo, é voltar ao encontro de si mesmo,
Meu reflexo está em toda parte
......................................................
Meu reflexo, embevecido sentencia:
Ei, levanta a cabeça!
E Jadson mergulha em vários eu dentro de si mesmo. Não no sentido romântico cultivado na Escola Romântica, mas de um romantismo atual, necessário ao poema, conforme o tema escolhido. O estilo da linguagem poética não é qualidade fechada no período histórico em que pontificou. Nesse período foi qualidade dominante. Todavia, há o extravasamento dessa qualidade dominante de cada escola literária para as outras, embora como subdominante, dimensão complementar. Não se deve ter receio de temas ou pluralidades estilísticas no poema, desde que se esteja municiado para isso. A forma da linguagem e do verso acolhe o estilo que faça o poético revelar-se no poema. Explodir seu próprio brilho. Como, por exemplo, no poema O despertar da orquídea:
O despertar da orquídea é lento.
É cuidadoso e paciente.
Chega ao seu próprio tempo.
Cresce um labelo paciente.
Ao despertar, encanta!
Cores, maciez, extrema beleza.
Pétalas, sépalas, eis sua manta
Vestimenta de sua beleza.
Não foge ao culto da palavra. O recorrente e necessário culto da palavra. Afinal, a palavra é o fiat lux do poema. A pedra mágica da alquimia da linguagem poética.
Porque vejo letras e palavras dançando soltas,
Porque vejo letras e palavras em vários ritmos.
Porque vejo letras e palavras formando imagens.
Porque vejo letras e palavras querendo dialogar entre si e comigo.
Porque entre letras e palavras, vejo, leio, ouço e crio.
Penso que toda poesia é também semente de pensamento, o poeta não se omite em poetizar documentando no poema sua concepção do fazer poético. Assim também, como não se omite em temas que emergem do contexto atual, como referências a pandemia covídica, vacinas contra a morte e parceiras da vida. Busca ancorar historicamente o livro.
A contemplação da natureza está presente em muitos momentos do livro. Fazem parte do cenário paisagístico dessa caminhada. Paisagens tratadas com afetividade e das quais o poeta extrai significações.
Fatos, focos, feitos
Há diversa interpretações
Observar com atenção e respeito
Ou haverá rompantes de ilações.
O último poema é sobre o esquecimento, seja no ângulo que for, o esquecimento é uma perda de caminhos. E o poeta teme, pois, a poesia é exatamente o avesso do esquecimento. A eterna lembrança. Jadson se volta contra o esquecimento do humano, do mundo, dos sonhos, da utopia, do amor, da felicidade, da luta por uma vida gloriosa. O poeta não quer esquecer. Não quer que os outras esqueçam.
A poesia é a arma dos poetas contra o esquecimento.
Belém, 05 de julho de 2021.
João de Jesus Paes Loureiro
Poeta e Professor de Filosofia da Arte na Universidade Federal do Pará.
Esta obra foi inserida nas atividades do septuagenário aniversário da Academia Amapaense de Letras.
Em dezembro de 2022, assumi a cadeira efetiva 17 da Academia Amapaense de Letras (Macapá, AP), cujo Patrono é Joaquim Caetano da Silva; como também, a cadeira 3 da Academia de Letras José de Alencar (Curitiba, PR), tendo como Patrono Alberto Oliveira.
As poesias aqui expostas refletem algumas das percepções e reflexões efetuadas ao longo do primeiro semestre de 2023, em (re)encontros de caminhos; despedidas e (re)encontros pessoais; trajetórias percorridas e por percorrer; percepções e distrações...
E foi assim...
Poderia ser de outra maneira? Talvez! Seria diferente? Talvez! E entre um “era uma vez” e um “certa vez”, “batalhas de saudades”, em “sutís movimentos”, sigo ao “infinito” entre paralelas imperfeitas.
E foi assim...
Assim se passaram...
“E se eu fosse”...
Talvez!
Ainda não cheguei ao meu objetivo.
Macapá, junho de 2023.
Jadson Porto.
Esta obra poética foi inserida nas atividades do septuagenário aniversário da Academia Amapaense de Letras.
O Amor à primeira letra é um resgate àqueles(as) que ensinam a criança em seus primeiros desenhos, rabiscos, rascunhos; que estimulam a criação de novos desenhos e expressões; que ensinam a registrar o aprendizado e o conhecimento pelas letras; é a valorização do início e o seu continuar. Pois, com o início do primeiro expressar, mesmo que seja um singelo rabiscar, novas atenções e expressões são provocadas.
Da primeira, outras surgem! Então, o infinito é logo ali. Enquanto o ponto final não chega, amor à primeira letra cresce à medida em que a primeira palavra, a primeira frase, a primeira oração, a primeira obra surge. Sempre começa com a primeira letra. E sempre como Aprendiz que vai descobrindo seu mundo, Deslizando sobre as águas, singrando, por vezes olhando pela janela.
Sem se preocupar sobre qual será a última letra, permita que as outras se manifestem, poetizem, cantem, gritem (se necessário for). Mas não se esqueçam da primeira letra. Onde tudo se originou.
Que esta obra o(a)s estimulem na leitura, com apreciações desde à primeira letra, enquanto o ponto final não chega. E em algum momento perceber que de repente, Assim se foi.
E lá vou eu socializar alguns sonhos.
Macapá, julho de 2023.
Jadson Porto.
No ano em que completo 30 anos de residência no Amapá, inicio com esta nova obra poética. Não é uma obra sobre as minhas três décadas neste magnífico Estado brasileiro. Mas refletem brevemente este período.
Carrego comigo “um cadinho” das linhas traçadas em versos. Levo comigo uma estrofe não escrita, ainda; carrego algumas, que outrora foram divulgadas em obras anteriores; trago, também os reflexos tidos em diversos espelhos, notadamente, ao mirar a superfície lisa e tranquila de um rio ou igarapé.
Quando há alguma turbulência na superfície, causada por algum fenômeno, não somente o reflexo é afetado, mas a rotina do leito aquático que me transporta através do espelho, distorce e desconfigura a imagem ali refletida, mas não o seu conteúdo, o fluxo do rio segue, independente da imagem refletida.
Nas diversas trajetórias percorridas, percebo passaredos, o caminho do Sol, e entre travessias atravessadas, transitadas, reflexos e reflexões ocorrem. Mas são reflexos de si ou de mim?
Que esta leitura possa ser tão agradável quanto o reflexo de seu leitor.
Macapá, 01 de janeiro de 2024.
Jadson Porto
As poesias expostas no livro foram inspiradas nas viagens enfrentadas pelo autor pelo interior da Amazônia. Suas percepções não possuem um olhar regional. Mas as inspirações poeticamente expostas, apresentam-se na intimidade explanadas em seus versos, decorrentes de suas viagens. Entre vales e versos expressa que, constantemente, seu autor-viajante atravessa vales (por conta da trajetória de um roteiro ou por não estar bem pessoalmente), mas transforma suas passagens em versos. Pois, toda viagem é uma descoberta, uma imersão, vários embarques e inúmeros aprendizados. Por entre vales, pelos vales, nos vales... Seja por onde for e passar, verstos sempre aparecem na rotina deste autor, cuja obra é a sua décima primeira de poesias.
Macapá, 09 de junho de 2024.
Jadson Porto