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Resumos
Segunda, 02/12/2024 | 10h | Mesa de Abertura | Laboratório de Filosofia
Metamorfoses nômades (Christohe Honoré e Ovídio)
Marco Formisano, Ghent University
Resumo: A metamorfose, de acordo com o filósofo Emanuele Coccia, é a própria essência de nossa existência e de nosso ser no mundo. Para nós, classicistas, pensar em transformação significa pensar em Ovídio, o mestre do gênero metamórfico. Nesta palestra, abordo o filme de Christophe Honoré, Métamorphoses, baseado no famoso poema latino, em busca de traços de um pensamento nômade e de uma estética que se expressa em movimento não condicionado por direção ou propósito e em constante atenção às margens, bordas e limites.
“EU NÃO SOU DAQUI, E NEM SOU DE LÁ”: Eros e o caminho da tradução em Anne Carson
Otávio Tavares, Universidade Federal do Pará
Resumo: Se olharmos o cenário da poesia brasileira e estadunidense contemporânea, veremos que algumas poetas de grande repercussão tem lançado mão da literatura grega antiga de forma central para suas obras. O que talvez chame a atenção é que este retomar não se dá de maneira laudatória ou conservadora, mas agencia mitos e obras – como a Ilíada ou os poemas de Safo – para repensar o presente de uma forma dialogal e propositalmente anacrônica. Nesta fala, pretendo primeiro abordar a atualidade dos antigos partindo de duas obras contemporânea da poesia brasileira: Também guardamos pedras aqui, de Luiza Romão, e De uma a outra ilha de Ana Martins Marques, para depois desenvolver a possibilidade desse contato a partir e através da obra de Anne Carson, tendo em vista que suas teorizações que brotam de uma práxis tradutória, i.e., seu modo de ser e compreender seria atravessado pelo contato entre nós e os antigos, e este contato se dá a partir do constante viver no entremundo da materialidade literária.
Mediação: Maria Cecília de Miranda Nogueira Coelho, Universidade Federal de Minas Gerais
Segunda, 02/12/2024 | 14h | Minicurso | Laboratório de Filosofia
Helena, de Troia ao cinema e à literatura no Brasil
Maria Cecília de Miranda Nogueira Coelho, Universidade Federal de Minas Gerais
Proposta: Neste curso, serão apresentados alguns aspectos da recepção do mito de Helena de Troia, a partir de suas representações em Homero (Ilíada e Odisseia), Safo (Frag. 16), Ésquilo (Agamêmnon), Eurípides (Troianas, Helena), Aristófanes (Tesmoforiantes), Górgias (Elogio a Helena) e Isócrates (Elogio a Helena). Nenhuma das obras antigas será analisada em detalhes, mas na medida em que referências implícitas ou explícitas a elas serão feitas ou detectadas nas seguintes obras audiovisuais: Carnaval Atlântida (1952) de Carlos Burle, Ao sul do meu corpo (1981), de Paulo César Saraceni, Duas Vezes com Helena (2001), de Mauro Farias - baseados em Duas vezes com Helena, de P. Emílio Salles Gomes, Memória de Helena (1969), de David Neves, Vida de Menina (2004), de Helena Solberg — ambos baseados no livro de memórias Minha Vida de Menina (1962), de Helena Morley —, Elena (2012), de Petra Costa, Helena e seu ventríloquo (2019), de Doriana Mendes e Daniel Quaranta, e Helena de Guaratiba (2024), de Karen Black.
Programa:
Primeiro dia: Helena na literatura antiga grega e brasileira (além dos textos acima, a Helena e Lição de Botânica, de Machado de Assis, e A Nova Helena, de Pereira da Silva)
Além da bibliografia e cinematografia referenciadas acima (quanto aos textos clássicos, qualquer edição dos autores citados pode ser consultada), seguem os textos de minha autoria (quase todos estão disponíveis on-line https://ufmg.academia.edu/MariaCec%C3%ADliadeMirandaNogueiraCoelho), que podem complementar vários dos temas abordados, quanto ao conteúdo e metodologia, neste curso que pretende ser uma visão panorâmica sobre questões de recepção e abordagem de alguns estudos de caso.
Artigos
Por uma túnica vazia de Helena - eros e eris, de Troia à província mineira. FORMA BREVE, v. 19, p. 287-310, 2023.
Elena et Les Hommes or Paris Does Strange Things ? Eros and Eris in Jean Renoir Reception of Helen of Troy. NUNTIUS ANTIQUUS, v. 17, p. 259-288, 2021.
Hélène, un personnage mythique: au tour du filme L´Atalante et de la nouvelle Duas vezes com Helena. Archives - Institute Jean Vigo., perpignan, p. 109 - 111, 01 dez. 2020.
Helena troiana: A fama de um nome e o desejo de vingança no cinema. Artefilosofia (UFOP), v. 20, p. 15-32-32, 2016.
A vida privada de Helena de Tróia nos loucos anos 20 em Hollywood. Classica (Sao Paulo), v. 26, p. 191-223, 2014.
Helena de Tróia no cinema nacional?! ? O Senhor se admira!? ? Não, não, absolutamente.... Letras Clássicas (USP), v. 12, p. 251-258, 2012.
A Helena de Manfred Noa. Revista Archai: Revista de Estudos sobre as Origens do Pensamento Ocidental, v. 7, p. 115-121, 2011.
Entre o mito e a história: as adaptações de Duas vezes com Helena, de Paulo Emílio. Nuevo Mundo-Mundos Nuevos, v. 1, p. 1-23, 2010.
O fausto de Helena no Convento de Manoel de Oliveira. Revista do Centro de Estudos Portugueses (UFMG), v. 30, p. 25-52, 2010.
Diderot em preto e branco: As paixões de Mlle d'Aisnon e Mme de La Pommeraye segundo Bresson. Rapsódia (USP), v. 4, p. 65-96, 2008
Helena: de Tróia ao cinema latino-americano: Cinzas do paraíso, de Marcelo Pineyro. Argos (Buenos Aires), v. 30, p. 65-83, 2006.
Helena, Eurípides e Machado de Assis. Espelho (Porto Alegre), Purdue, USA, v. 8-9, p. 37-61, 2002.
Imagens de Helena. Clássica (São Paulo), São Paulo, v. 13/14, p. 159-172, 2000.
Helena Pandêmica. In: M.A.O SILVA, K TEÔNIA and E. F.SANTOS. (Org.). O Feminino na Literatura Grega e Latina. 1ed.Teresina: Ed. UFPI, 2023, v. 1, p. 43-66.
Capítulos de Livros
Górgias, Godard e a eloquência dos corpos. In: Maria Cecilia M N Coelho; Helcira Maria Rodrigues Lima. (Org.). Percursos retóricos: entre antigos e contemporâneos. 1ed.Campinas: Pontes Editores, 2023, v. 1, p. 215-251.
Heroínas interioranas sitiadas: Lucrécia, de Clarice. In: Maria Cecilia de M N Coelho; Lorena Lopes; Igor Cardodo. (Org.). https://www.finotracoeditora.com.br/kleos-entre-deuses-homens-e-herois. 1ed.Belo Horizonte: Fino Traço, 2022, v. 1, p. 297-328.
As mulheres na Épica. In: SILVA, S. C.; BRUNHARA, R. & VIEIRA NETO, I.. (Org.). Compêndio Histórico de Mulheres da Antiguidade: a presença das mulheres na Literatura e na História. 1ed.Goiania: Tempestiva, 2021, v. 1, p. 547-558.
"We been haunted a long time": Raped Women in Westerns. In: Sue Matheson. (Org.). Women in the Western. 1ed.Edimburgh: Edimburgh UP, 2020, v. 1, p. 187-200.
Horses for ladies, high-ridin? women and whores. In: Sue Matheson. (Org.). A Fistful of Icons: Essays on Frontier Fixtures of the American Western. 1ed.Jefferson: MacFarland, 2017, v. 1, p. 78-88.
Ilusão e representação na Helena de Eurípides. In: CARDOSO, Z.A.V.; DUARTE, A.S.. (Org.). Estudos sobre o teatro antigo. SAO PAULO: ALAMEDA, 2010, v. 1, p. 51-78.
A odisseia do olhar de Angelopoulos. In: CORSEUIL, A.; LISBOA, F.; OLIVEIRA, H.L.; COELHO, M.C.M.N.. (Org.). Cinema - lanterna mágica da história e da mitologia. Florianópolis: Editora da Universidade Federal de Santa Catarina, 2009, v. 1, p. 141-172.
Segunda, 02/12/2024 | 16h30 | Mesa Redonda 1 | Laboratório de Filosofia
Coragem, força e destino na Ifigênia em Áulis
Maria do Socorro Jatobá, Universidade Federal do Amazonas
Resumo: Aristóteles, na Poética, exemplifica o caráter inconstante de uma personagem, na Tragédia, com a Ifigênia da Ifigênia em Áulis de Eurípides. Isto porque, após lamentar e mesmo suplicar ao pai por sua vida, subitamente, em um longo discurso dirigido à mãe, Clitemnestra, Ifigênia afirma que decidiu morrer. Os versos que compõem esse discurso desafiam os intérpretes e a crítica aristotélica à inconstância do caráter de Ifigênia fez escola. Muitos estudiosos acreditam que de fato, isto é uma falha da Tragédia. Nossa leitura caminha na direção oposta e pretende, a partir de uma análise filosófica dos conceitos de coragem e destino analisar a decisão de Ifigênia a fim de destacar a força da personagem no desenrolar do drama do sacrifício humano e na subversão que esta faz da prática sacrificial.
Traços da filosofia grega na literatura de João Guimarães Rosa
Juliana Santana, UFT
Resumo: A apresentação que farei pauta-se em alguns dos resultados obtidos a partir dos trabalhos desenvolvidos com o Nonada: grupo de estudos e pesquisa sobre a obra de João Guimarães Rosa, da UFT. Os estudos e escritos ali desenvolvidos permitiram encontrar pontos comuns entre os contos de Sagarana, a literatura e, de modo especial, a filosofia grega. Esta proposta contempla o tema do evento, a atualidade dos antigos, pois o fato de os antigos terem inspirado Rosa e de este mover nossos estudos comprova tal atualidade. Sendo assim, mostrarei um pouco do trabalho já realizado, sinalizando o contato de Rosa com Homero e Platão, mas buscarei dar enfoque especial a aspectos da literatura contemporânea rosiana que a aproximem de teorias elaboradas por Aristóteles acerca das emoções. Defenderei que há algo presente nos pensamentos de Aristóteles e nos escritos de Rosa que os inquieta e alimenta: o tema das emoções. Aristóteles dedica boas páginas de sua filosofia, com intenções variadas, ao assunto. Rosa, por seu turno, impregna sua obra com as pinturas mais vivas e verossímeis de emoções e das formas como elas afetam o homem. Nesse sentido, sinalizarei que tanto a cultura grega imortalizada por Homero, quanto a filosofia de Platão, e mesmo a de Aristóteles, estão presentes na obra de Guimarães Rosa. Alguns dos temas que trabalha de forma poética, reflexiva, mítica e até filosófica são influenciados por teorias gregas. Portanto, sua escrita dialoga com tradições de outros espaços e tempos, fazendo convergir a literatura brasileira e a filosofia grega.
Mediação: Jovelina Ramos, Universidade Federal do Pará
Terça | 03/12/2024 | 8h30 | Sessão de Comunicação 1 | Laboratório de Filosofia
Filosofia e ciúme no Banquete de Platão
Sandy Iketani, Mestra, PPGFIL/UFPA
Resumo: No Banquete de Platão, em 210d, Diotima ressalta a necessidade de o amante não amar como um escravo, para que ele possa contemplar o oceano do belo e gerar belos discursos em “inesgotável amor à sabedoria” (philosophiai aphthonoi). Neste trabalho, mostro como o termo philosophiai aphthonoi pode ser interpretado como uma crítica do ciúme nos relacionamentos eróticos e defendo que essas críticas apresentam um eros livre de ciúme como uma necessidade para o amante filósofo contemplar a Forma do Belo.
A participação feminina na cidade ideada
Larissa Noleto, Mestranda PPGFIL/UFPA
Resumo: Na Antiguidade Clássica, baseados numa historiografia tradicional, assentimos que as mulheres eram excluídas dos ambientes públicos, bem como os escravos e os estrangeiros, e por não serem consideradas cidadãs plenas, não era permitido a elas fazer valer sua presença nos espaços públicos, onde as discussões políticas eram travadas, discussões essas que decidiam o destino da pólis, e essa exclusão as fez compor supostamente o grupo dos “sem história”, dos “sem voz”. No entanto, paralelamente a essa situação social de submissão feminina, na República, uma das obras políticas mais importantes da filosofia, Platão, ao discutir a natureza feminina, faz um esforço teórico que propõe uma participação feminina na cidade ideada diferente da que até então era praticada na pólis grega. Por esse motivo, nesta apresentação conversaremos a respeito do Livro V da República, onde Platão defendeu que homens e mulheres tinham a mesma natureza e, portanto, poderiam executar as mesmas tarefas na cidade ideada, inclusive admitindo que as mulheres poderiam compor a classe dos guardiões.
Metáforas da maternidade em Hécuba
Delliene Lobato, Graduanda FAFIL/UFPA
Resumo: A apresentação é o resultado de pesquisa do plano de trabalho “Metáforas da maternidade em Hécuba”, marcado pela intenção de contextualizar dois modelos de representações femininas, o da tragédia euripidiana e o da filosofia platônica, situadas sobre o contraponto justiça-injustiça. Na primeira etapa de nossa pesquisa mostrei a figura materna sujeita a violência e desprovida de direitos, para si e para seus filhos, no contexto das tragédias Hécuba e Troianas. Na segunda etapa de nossa pesquisa, apontei como o sofrimento das mulheres das tragédias euripidianas, parece motivar Platão a inserir as mulheres no papel de guardiãs e guerreiras, na estrutura da cidade ideada, transferindo à governança da cidade, a obrigatoriedade pela educação das crianças, para que suas mães assumam funções delegadas aos homens.
Mediação: Socorro Jatobá, UniFAM
Terça, 03/12/2024 | 10h30 | Sessão de Comunicação 2 | Laboratório de Filosofia
Cálicles e o Anti-intelectualismo no Górgias de Platão
Matheus Pamplona, Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará
Resumo: Neste trabalho, contra o lugar-comum segundo o qual, no Górgias, haveria duas teorias motivacionais incompatíveis, uma calcada na tese de que todos os desejos humanos são desejos racionais e na veracidade intransigente do paradoxo socrático, e outra fundada no reconhecimento da existência de partes irracionais da alma que atentam contra o governo da razão, defenderei que aquilo que chamam de o anti-intelectualismo de Cálicles, longe de consistir numa antecipação da psicologia moral dos diálogos médios de Platão, deve ser lido, na verdade, a partir da distinção fundamental operada por Polo entre “fazer o que se quer” e “fazer o que parece melhor” (466a-468e). Neste sentido, minha hipótese é de que não há necessidade alguma de se postular uma bipartição da alma a fim de explicar a teoria psicológica que subjaz à defesa de Cálicles da vida intemperante. Por fim, sustentarei que a recalcitrância de certos comentadores em unificar a psicologia do Górgias reside em sua incapacidade de compreender que há, também nos diálogos socráticos, a construção de um ideal normativo de racionalidade, ideal cujo escopo é a elevação da razão humana ao centro de gravidade de tudo àquilo que diz respeito à práxis.
A aporia socrática como base para a formação humana
Camila Silva, Doutoranda PPGED/UFPA
Resumo: Vemos duas principais perspectivas em relação aos diálogos aporéticos de Platão, a primeira é a de que esses diálogos seriam de um todo ceticismo, já que a aporia nos indicaria a impossibilidade de se alcançar qualquer certeza acerca das discussões expostas, e, ainda, que este método nos induziria à resultados negativos. A outra, que aqui abordaremos, é a de que a aporia está ligada à sua própria maneira investigativa, onde o exame contínuo dos mais variados assuntos é o que caracteriza a atividade filosófica. Com efeito, nossa intenção é levantar alguns pontos sobre a aporia como princípio da formação humana (paideia). Para tal, partiremos do diálogo Protágoras, onde é perceptível três pontos fundamentais para nossa reflexão, 1) o modo de escrita platônico, 2) o logos socrático e 3) a aporia como instrumento necessário para o filosofar.
Fazer o que se quer e dizer no que se acredita: refletindo sobre o elenchos socrático e a busca pela felicidade no Górgias de Platão
Rafael Costa, Escola de Aplicação/UFPA
Resumo: Ao discutir com Polo o que vem a ser a retórica e qual o seu poder (461b-479e), Sócrates, para demonstrar que o poder do rétor e tão ínfimo quanto o do tirano na cidade, lança mão de uma espécie de diferença prática entre fazer o que se quer (o bem) e fazer o que se lhe parece melhor (a ação), afirmando que esses elementos nem sempre coincidem a não ser que a ação seja realizada como inteligência (noun). Questionando os possíveis motivos para que haja essa dissonância prática no interior da agência humana, procuro refletir de que forma o elenchos socrático, sobretudo como apresentado no próprio Górgias, pode ser decisivo para a consonância do nosso agir com o que queremos e, por conseguinte, para a busca da felicidade.
Mediação: Cristina Agostini, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul
Terça, 03/12/2024 | 14h | Minicurso | Laboratório de Filosofia
Helena, de Troia ao cinema e à literatura no Brasil
Maria Cecília de Miranda Nogueira Coelho, Universidade Federal de Minas Gerais
Programa
Segundo dia: Helena no audiovisual
Terça, 03/12/2024 | 16h30 | Mesa Redonda 2 | Laboratório de Filosofia
Filo de Alexandria e a recepção da filosofia grega
Gisele Amaral, Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Resumo: Com o intuito de melhor compreender a interseção entre a filosofia grega, a teologia judaica e o cristianismo nos primeiros séculos da nossa era, nesta comunicação apresento a filosofia judaico-helenística de Filo de Alexandria considerando a sua influência nos primórdios da era cristã, com especial atenção para a análise do entendimento filoniano do logos.
Entre os Tópicos de Aristóteles e os Tópicos Medievais: considerações sobre a lógica na antiguidade tardia
Luana Talita da Cruz, UFPA
Resumo: A lógica medieval latina deu-se nos moldes em que seu deu, em grande parte, devido a Boécio. O projeto de tradução das obras de Aristóteles e Platão que encontramos em Boécio foi fruto do período em que viveu e a abordagem escolhida por Boécio, iniciando pela lógica e visando o esclarecimento de que as ideais de Aristóteles e Platão eram, na verdade, harmônicas, aponta para a influência neoplatônica também comum ao período. Em se tratando da Teoria dos Tópicos, o que encontramos no medievo diverge, em partes, da teoria aristotélica e, como muitos aspectos da lógica medieval, o ponto de origem dessa divergência para estar na leitura de Boécio. Pretendemos, aqui, apontar como a leitura da Teoria dos Tópicos de Boécio encontra-se apoiada na fusão (ou, como alguns historiadores da filosofia apontam, na confusão) de diversos aspectos da lógica antiga e na influência, tanto de modo direto quanto indireto, de pontos específicos como, por exemplo, os Indemonstráveis estoicos e compreensão de gênero último de Porfírio.
Mediação: Juliana Santana, UFT
Quarta, 04/12/2024 | 10h | Mesa Virtual 1 | Canal do YouTube do LEFANN
O mito, uma ‘linguagem’ universal
Maria de Fátima Silva, Centro de Estudos Clássicos e Humanisticos/Universidade de Coimbra
Resumo: Em tempos de crise, o mito funciona como veículo de uma mensagem global. Basta considerar, a título de exemplo, três temas críticos na história da Humanidade e não menos nos nossos tempos: ditadura, xenofobia, guerra. Para cada um deles, os mitos de Antígona, Medeia, bem como a Ilíada e a Lisístrata, continuam a ser uma referência um pouco por todo o mundo. Algumas reescritas ou reformulações bem conhecidas, reproduzidas em diferentes momentos e enquadramentos históricos, são a prova da sua validade universal.
Murmullos de una voz inmemorial. Mito e identidad
Maria Cecília Colombani, Universidad de Morón/ Universidad Nacional de Mar del Plata
Resumo: Nos proponemos pensar algunas cuestiones de carácter antropológico en torno al mito como construcción cultural. Para ello recorreremos, en una primera instancia, ciertas consideraciones en torno a la noción de cultura para luego, en un segundo momento, ubicar al mito en el interior de la trama que la cultura borda en su hacer poiético. La instalación significativa implica una eto-mito-poiética. El mito aparece entonces como un operador de sentido, como generador de sentido. Una instalación significativa supone siempre un núcleo significativo: valores, símbolos, imágenes primigenias, ideas, creencias, bases constituyentes de la identidad. En este horizonte, el mito es un logos explicativo, una historia sagrada, significativa, verdadera y ejemplar, que se inscribe en el plano de los relatos cargados de sentido, alejados de las palabras vanas, sin poder simbólico. Es una historia arquetípica, determinando los principales códigos que rigen el comportamiento colectivo. El mito no sólo protege al hombre de su desnudez antropológica, sino también a la historia como espacio de instalación colectiva; construye una memoria de inscripción comunitaria, lo cual se suma a la noción de cobijo, ya que la memoria es un topos de contención humana que territorializa al hombre en un espacio de pertenencia simbólica e histórica.
Mediação: Ivanete Pereira, Universidade Federal do Amazonas
Quarta, 04/12/2024 | 14h | Mesa Virtual 2 | Canal do YouTube do LEFANN
A noção de philía em Aristóteles (EN)
João Lima, Universidade Federal do Acre
Resumo: Na cultura ocidental, a palavra philía geralmente foi traduzida por “amizade”. Nos textos filosóficos, mesmo na Grécia clássica e do próprio Platão, ainda não existe uma distinção clara entre as palavras “amor” (eros) e “amizade” (philía). Em Aristóteles, porém, já se encontra uma tentativa de definir a amizade (philía), designando-a como uma convivência íntima, agradável e, sobretudo, benéfica, capaz de fazer da vida humana uma vida “bela e boa”, digna, portanto, de ser vivida. Por duas razões principais, Aristóteles deu um destaque especial à philía em suas Éticas. Em primeiro lugar, porque a verdadeira amizade era para ele uma autêntica virtude, entendida no sentido da arete grega; e em segundo lugar, porque a amizade tinha, para os gregos, uma função importante na vida da cidade (pólis), pois tinha o valor e a dignidade de uma “virtude política” (arete politike). Portanto, o eixo em torno do qual gira tudo o que Aristóteles ensina sobre a philía é a noção de virtude (arete), bem como o seu papel fundamental tanto na vida dos indivíduos quanto na vida da cidade (pólis), na perspectiva da felicidade (eudaimonía). É, portanto, neste contexto, que nos propomos a refletir sobre a amizade em Aristóteles, tendo como principal referência sua obra Ética a Nicômaco.
A dinâmica performativa dos Diálogos de Platão
Cesar Alencar, UNIFAP
Resumo: A partir do horizonte de uma pesquisa mais ampla acerca do que há de próprio ao discurso filosófico, pretende-se demonstrar, neste trabalho, sua necessária condição performática. Toma-se aqui o conceito de ‘performance’ para estabelecer uma aproximação entre a poética dos aedos gregos, estudada na primeira parte, e a matriz da investigação filosófica, iniciada por J. L. Austin, sobre os enunciados performáticos, entendidos como decisivos para a compreensão das situações de fala, e sobretudo dos enunciados declarativos que neles se comunicam. Desde o enfoque dessa aproximação, o texto dos Diálogos de Platão assumirá aqui, enquanto dramatização da fala de Sócrates, ao mesmo tempo a indicação da necessária preocupação filosófica com os atos de fala (apropriada a toda verdadeira reflexão sobre o que os enunciados querem efetivamente dizer) e a condição de que a reflexão filosófica, ela mesma, seja a. poética do ato de dizer a verdade entendida como o efeito purgativo desse exame de si que a reflexão exige. Em outras palavras, o discurso filosófico precisa ser concebido, desde o paradigma do Diálogo platônico, enquanto capaz de realizar a performance do exame de si como um trabalho de reflexão sobre atos e contextos de fala, cujo interesse ético-político e educativo se mostra inafiançável.
Orfismo, uma definição em construção
Rafael Pitt, Universidade Federal do Amapá
Resumo: Os classicistas vêm construindo uma definição de orfismo a pelo menos 150 anos. Desde o século XIX surgiram várias hipóteses e modelos interpretativos do fenômeno, nem sempre alcançando a aceitação da comunidade científica e, em alguns momentos, atuando em aberta discordância de princípios. Nos dias atuais, os classicistas estão acordes sobre algumas características do orfismo e os aceitam como uma espécie de base comum para uma variedade de pesquisas e interpretações, embora persistam lacunas teóricas devido à precariedade das fontes ou pela própria maleabilidade conceitual do objeto. A presente comunicação pretende trazer uma abordagem histórica sobre as diversas definições do orfismo pela moderna academia, e discutir a viabilidade de uma definição ampla que resolva – ao menos parcialmente – alguns dos principais desafios do tema.
Mediação: Cícero Bezerra, Universidade Federal do Sergipe
Quarta, 04/12/2024 | 16h | Mesa de Encerramento | Laboratório de Filosofia
Aristófanes e Platão: o acordo sobre o problema da liberdade democrática
Cristina Agostini, UFMS
Resumo: Por meio de uma comparação entre a sátira aos expedientes democráticos em Acarnenses e a crítica à democracia do livro VIII, de República, pretendo argumentar que tanto a comédia quanto a filosofia chegam, por caminhos diferentes, à conclusão similar acerca do regime do demos, a saber, a de que seus próprios expedientes conferem os elementos necessários para a disrupção.
“Todo homem precisa de uma mãe”
Jovelina Ramos, Universidade Federal do Pará
Resumo: Retomo a concepção de parto no corpo e parto na alma, presente na manifestação de fala do personagem Sócrates, que trás para o cenário do Banquete, na ordem do discurso, a figura de Diotima. Me interessa mostrar, como por meio do jogo retórico da presença-ausência da mulher de Mantineia, Platão insere no ambiente masculino do simpósio, a voz de uma mulher que evoca questões femininas, contudo o teor de seu discurso é masculino, ela trata de teses platônicas, como a do desejo do mortal em atingir a imortalidade, por meio do processo de geração, seja por meio do parto biológico ou intelectual.
Mediação: Gisele Amaral, Universidade Federal do Rio Grande do Norte