A Noite Estrelada foi concluído num período conturbado da vida do pintor.
Em 19 de junho de 1889, da janela do asilo de Saint-Rémy-em-Provence, Van Gogh finalizou a A Noite Estrelada. Foi através da reconstrução do céu para esse mesmo local e data que Boime conseguiu determinar o momento exato da pintura: quatro da manhã da noite do dia 18 para o 19. Na obra, pautando-se na reconstrução do céu daquela noite, foram identificados alguns objetos: a Lua se sobressai ao lado direito do quadro; junto ao horizonte, à direita do cipreste, pode-se visualizar Vênus, que então aparecia como a estrela da manhã. Ainda à direita, mas agora no topo do cipreste, aparece a formação triangular de estrelas da constelação de Carneiro (ou Áries), que aliás era o signo de Van Gogh.
Vênus também aparece com imenso destaque, certamente justificado pelo brilho intenso do planeta quando observado por Van Gogh. À época, Vênus era tido como a estrela da manhã, pois se fazia visível perto do amanhecer. No quadro, Vênus é mais brilhante do que qualquer outro planeta ou estrela, devido ao intenso brilho que ela apresentava no dia.
Até mesmo a espiral que atravessa o céu na tela pode ter sua origem nas descobertas científicas da época. O crítico Meyer Shapiro, autor da biografia do pintor, sugere que Van Gogh tenha representado estas espirais devido à influência científica. Esses objetos celestes (as espirais) foram documentados pela primeira vez em 1880 e, assim, gravuras dessas nebulosas apareciam frequentemente na imprensa e na literatura, como nas revistas Harper’s e Astronomie Populaire, leituras frequentes do pintor.
Outro dado interessante, sobre as representações do céu de Van Gogh, é que o pintor era admirador do astrônomo Camille Flammarion, um grande divulgador da astronomia na época. Flammarion chamava a atenção para as diferentes cores das estrelas e sua publicação Astronomie Populaire trazia diversas gravuras onde as estrelas eram representadas em diferentes cores e diferentes tamanhos, como se essa ampliação chamasse a atenção para a diferença entre elas.
Van Gogh tinha acepções semelhantes e, em setembro de 1888, dizia o artista em carta à sua irmã que “algumas estrelas são amarelo de limão, outras têm um brilho rosáceo, outras um verde ou azul ou brilho de miosótis. É evidente que não basta pintar pequenos pontos brancos num fundo azul escuro”. E é isso que parece acontecer na obra A Noite Estrelada.
Fonte: https://quasecult.com.br/conteudo/arte/van-gogh-da-arte-para-a-astronomia/amp/