Para Deby Tranças, a autoestima feminina é uma cura de dentro para fora, e de fora para dentro
Para Deby Tranças, a autoestima feminina é uma cura de dentro para fora, e de fora para dentro
A trancista descobriu a chave do empreendedorismo em conversa com uma liderança do movimento negro: “para ser livre, é preciso dominar um conhecimento”
Por Camila Basten, Gabriela Sanches e Maria Pohler
Foi por meio das tranças que a curitibana Débora Nascimento, conhecida atualmente como Deby Tranças, deu início à sua caminhada no empreendedorismo. Com talento nas mãos, ela encontrou não apenas uma fonte de renda, mas uma ponte para realizar o sonho de cursar o ensino superior. Graduada com bolsa 100% no Prouni, ela conta que teve que lutar muito para chegar onde está, pois sua família trabalhava com material reciclável e enfrentava condições precárias.
Antes de abrir o salão, ela trabalhou em um mercado e começou a empreender informalmente, vendendo produtos e promovendo ações em feiras e mercados populares. “Eu era vendedora. Vendia tudo que caía na minha mão. Precisava alcançar meu sonho. Quando entrei na faculdade, descobri que estava grávida. Pensei: ‘E agora?’. Mas decidi seguir em frente, com barriga e tudo”, recorda.
O início de um novo capitulo na história dela veio após uma conversa marcante com uma liderança do movimento negro. O conselho foi claro: para ser livre, é preciso dominar um conhecimento. “Esse foi o incentivo que eu recebi para começar a empreender. Nunca fui uma pessoa que aceitava e se moldava às condições de trabalho CLT”, conta Deby.
Deby conta que o salão não é apenas um espaço de beleza, mas um quilombo. “É um aquilombamento, muito mais do que um salão. Aqui, nós idealizamos, criamos, pensamos e executamos os projetos e as ações que estão dentro do nosso coração”, afirma. Para ela, fazer tranças é mais do que estética. Segundo ela, trabalhar com a autoestima é um processo de cura de dentro para fora e de fora para dentro.
Ela destaca que, mesmo que empreender seja um desafio constante, é muito grata e satisfeita, porque o propósito de vida dela se alinhou com o trabalho. “Antes de realizar o sonho da faculdade, eu vim de uma jornada onde empreender é trazer liberdade. Então, faço isso por mim e por outras mulheres também”, ressalta.
Em sua trajetória no empreendedorismo ela enfrentou golpes, prejuízos financeiros, relacionamentos abusivos e momentos de profunda frustração. “Teve vezes que eu quis desistir. Fui ferida por pessoas em quem confiei. Mas aprendi que não é sobre elas. É sobre o meu propósito. Eu sigo por ele”, revela.
Além do salão, Deby também tem outras ações, como um coletivo de mães pretas que se reúnem para trocar informações e conhecimentos sobre a maternidade. A vivência como mãe solo, espelhada na história de sua própria mãe, foi mais um dos desafios da sua jornada. “Vejo que minha mãe sofreu muito para me educar e não tinha muita perspectiva de que eu pudesse fazer o ensino superior. Os estudos, o empreendedorismo e pessoas que eu conheci nessa caminhada do movimento negro, possibilitaram que eu pudesse me manter, me colocar na academia e me fazer pesquisadora também”, conta.
O conhecimento acadêmico proporcionou que Deby fizesse o “Crespura", um livro informativo sobre cabelos crespos que busca valorizar e trazer conhecimento sobre as diferentes texturas, histórias e raízes do cabelo afro. “Descobrir e achar qual é o seu talento, alinhar com o seu propósito de vida e fazer disso o seu trabalho, para mim é a maior realização que eu posso ter aos 40 anos”, finaliza.