https://drive.google.com/file/d/1cZmTqrcYk9uOSuLG4ICgB1PB-pCficCD/view?usp=drive_link
Profa. Larissa Karen Gomes
Profa. Regina Vitória Cavalcante
Resumo: A psicanálise, ao articular a estrutura psíquica com as manifestações físicas do sujeito, aponta a existência de um supereu como a instância que age nos campos da tensão entre desejo e interdito, operando no conflito que pode reverberar nos (des)afetos como culpa, angústia e tormento. Nesse ínterim, a literatura de Dostoiévski (1821-1881), destaca-se por representar, em seus romances psicológicos, personagens marcados por batalhas internas inerentes ao ser humano, que evidenciam como as faces do supereu podem estar arraigadas tanto no impulso transgressor quanto, paradoxalmente, conduzir o sujeito ao mal que deseja evitar. Desse modo, evoca se no ano de 1866, Crime e castigo, sua obra sepulcral, que se insere estruturalmente nos romances psicológicos do levante niilista, corrente filosófica que arrastava adeptos na Europa do século XIX. A narrativa acompanha a subvida de Rodion Raskólnikov, um ex-estudante que, imerso em extrema pobreza e tomado por teorias revolucionárias, decide assassinar uma usurária para provar sua superioridade moral e intelectual. Após o crime, no entanto, o personagem é arrastado a um turbilhão psíquico de culpa e delírio, evidenciando os efeitos de um supereu feroz que não cessa de castigá-lo. O significante atrelado à figura do anti-herói Raskólnikov provém da palavra raskolnik, que, em russo, significa cisão ou cisma, denotando o futuro do personagem ipsis litteriscomo cindido e atormentado; nesse caso, o é, por seus espectros de grandeza limítrofe da (des)razão. Portanto, é no mar de culpas e tormentas da sociedade petersburguesamenos abastada que navegaremos em nosso minicurso para tratar de algumas, dentre as múltiplas faces do mal na trama: culpa, redenção e livre-arbítrio, conduzindo nossos diálogos sob o prisma psicanalítico e seus tratados abalizadores a respeito do mal e seus corolários pertencentes ao contexto dostoevskiano, que trabalha a redenção não como um oposto da culpa, mas como um de seus desdobramentos. O percurso do nosso anti-herói atormentado nos sugere a noção do próprio castigo como via para a purgação, tornando a culpa o elemento estruturante do caminho para o encontro do atormentado com a paz – ainda que essa redenção não seja plena, ela se dá pela dor e pela tensão psíquica da jornada. Diante disso, esse minicurso investigará as diversas faces do mal na obra supracitada e como podemos reconhecê-las seja de modo estético e/ou narrativo, em outras obras dostoievskianas. Para tal, utilizaremos dos estudos críticos literários e dos psicanalíticos (pós) freudianos.
Palavras-chave: Culpa; Dostoiévski; Psicanálise; Tormento.
Profa. Dra. Carolina de Aquino Gomes
Profa. Milena Pinheiro França Machado Sousa
Resumo: Este minicurso tem por objetivo apresentar, ler e discutir narrativas de escritoras latino-americanas do século XXI que têm se destacado na produção de uma literatura de horror que utiliza o assombro para evidenciar as violências e mazelas da experiência feminina em um contexto necropolítico contemporâneo. Mariana Enriquez e Samanta Schweblin são precursoras desse movimento, influenciando outras autoras, como Agustina Bazterrica, Maria Fernanda Ampuero, Verena Cavalcante, Jarid Arraes e Monica Ojeda. O sucesso internacional dessas escritoras, com traduções e premiações, impulsiona o interesse pelo horror feminino, tanto no público leitor quanto na pesquisa acadêmica. Uma das características marcantes dessa literatura é o uso do body horror, subgênero que se vale da transformação e mutilação do corpo para provocar horror e desconforto. No cinema, cineastas francesas como Coralie Fargeat (A Substância, 2024; Vingança, 2017) e Julia Ducournau (Titane, 2021; Raw, 2016) exploram imagens de corpos femininos submetidos a metamorfoses e violências extremas. Tanto na literatura quanto no cinema, o body horror surge como um mecanismo de denúncia e subversão, retirando o corpo feminino da dominação patriarcal. Assim, o feminino-monstruoso não é apenas uma representação do medo, mas também uma estratégia para reverter a culpa e a vergonha historicamente impostas às mulheres, expondo as instituições responsáveis pela opressão e violência sistemática.
Inscrições: https://sigeventos.ufpb.br/eventos/interno/menu.xhtml