Muito se comenta a respeito da índole das vítimas que se encontram ou se submetem a relacionamentos abusivos, mas pouco se fala sobre as condições psicossociais em que estas vítimas se encontram. Um relacionamento abusivo se define por uma relação afetiva que se apresenta como prejudicial de maneira geral, com diversas fases e níveis de agressão física, psicológica, espiritual e social sofridos.
Normalmente relações abusivas acontecem entre parceiros amorosos, mas não unicamente, é possível detectar em meio familiar, entre amizades e em resumo em toda área interpessoal. Os abusos são caracterizados, principalmente, por ciúmes em excesso, controle em relação a dinheiro, roupas, horários, invasões de privacidade, isolamento, chantagens, prejuízo da autoestima, invalidação do sentimento alheio, ameaças, sexo não consensual, agressões físicas, e em casos mais extremos, a morte.
A questão é… se é tão degradante, por que é tão difícil se desvencilhar dessa categoria de relação?
Existem alguns motivos gerais para isso, o primeiro deles é que, geralmente, abusadores são pessoas queridas e os indivíduos que os rodeiam tem afinidade por eles, considerando-os confiáveis e amigáveis, o que dificulta a identificação, por parte da vítima, dentro de um relacionamento abusivo.
A denúncia contra os abusadores se torna mais difícil, considerando o quanto as vítimas podem ser contestadas devido às conexões criadas pelos abusadores. Algumas vítimas tendem a questionar sua própria sanidade por causa desta condição, se perguntando se realmente se encontram numa situação abusiva, já que o parceiro é tão bem-visto fora do relacionamento.
Outra razão seria a própria questão da dependência emocional envolvida, abusadores não são tóxicos na totalidade de seu tempo, dizem “eu te amo” com frequência e são carinhosos na medida em que são atendidos. O que confunde as vítimas que voltam a questionar a si mesmas se realmente estão certas ou apenas problematizando algo?
Outra característica que se observa geralmente que conhecemos é que abusadores são muito bons com manipulação. A grande maioria das vítimas se sentem culpadas pelos comportamentos abusivos desempenhados pelos parceiros, como se elas merecessem aquele tratamento em detrimento de algum ato indevido de acordo com o abusador ou parceiro. Ao levar a culpa consigo, as vítimas se perguntam se o problema, na verdade, são/estão com elas.
De acordo com a ONU mulheres, 3 em cada 5 mulheres sofreram, sofrem ou sofrerão com a violência acometida em relacionamentos afetivos. Não se pode subestimar o poder, o valor e a dor envolvida com o processo de desvencilhamento dessas relações. Sabemos que o caminho é longo, mas para combater a violência é preciso começar a falar sobre ela...
Escrita por Karen Reis