Cada dia mais estamos sendo influenciados a discutir sobre inúmeras falas e discursos que não cabem mais dentro da ¨caixinha¨ formada pela sociedade moderna que se considera supostamente desconstruída em determinada parte; portanto, não são poucas as pautas de discussão que se encontram em voga, e neste momento devemos parar para pensar sobre uma delas, a literatura e sua influência social que tem causado tanta discórdia.
O BBB 21, por exemplo, trouxe a seguinte opinião da participante Karol Conká durante uma conversa no quarto do líder com o participante Fiuk: “Aqueles livros como Acotar, Percy Jackson, Harry Potter… enfim, esses livros para adolescentes que não adicionam em nada ao nosso conhecimento, deveriam ser extintos. Eles estão estragando completamente a literatura.”
Esta fala é merecedora de muitos discursos de protesto por parte dos leitores do gênero fantasia e ficção, e não por acaso. A razão desse descontentamento é que histórias são feitas a partir de intenções e obstáculos, resumidamente, são sobre personagens que realizam ações com determinado objetivo cuja consequência é a evolução, e isso não é uma característica unicamente encontrada em livros, mas em todo e qualquer material que traga uma trajetória, seja um livro, um filme, uma série, um desenho ou qualquer outra narração.
Este, entretanto, é somente um dos fatores que tornam livros de fantasia idênticos aos clássicos, no sentido de que a maioria deles em seu particular método apresentam esta mesma estrutura de apresentação das histórias.
Para manter concreto este argumento podemos citar a Teoria dos Temas e ou Verdades Universais que são ensinados com o decorrer da história que é contada. Segundo esta teoria, todo enredo é construído de forma que suas consequências tragam reflexões sobre verdades universalmente aceitas, cujo objetivo é sanar todas as necessidades humanas, involuntariamente.
A discussão sobre essas verdades e necessidades é antiga e já é trazida com os clássicos românticos, simbolistas e realistas, por exemplo, que trazem verdades universais vanguardistas como Machado de Assis bem representa, com críticas aos inúmeros aspectos da vida humana de maneira aguda e bem elaborada. Sobre a vanguarda, como o próprio nome diz, é algo que transcende ao seu próprio tempo, contudo, esta forma de arte não inibe outras criações que reafirmam as mesmas necessidades trazidas pelos clássicos.
E o que mais poderia ser capaz de definir a nova onda da literatura contemporânea como essa reafirmação de verdades? As utopias trazidas por Acotar, Percy Jackson e Harry Potter são muito bem saudáveis neste sentido como no exemplo trazido com a fantasia de Victoria Aveyard ¨A rainha vermelha¨ que em seu cerne traz questionamentos muito duros e profundos, sobre as verdadeiras facetas de uma sociedade segredista e muito metafórica que tem muito a dizer sobre a própria vida cotidiana e as desigualdades, assim como o realista Lima Barreto que trouxe em suas obras um retrato das desigualdades sociais brasileiras há quase cem anos, de forma atemporal.
Logo, se estas obras são tão ricas, qual a razão para dizer que elas são vazias a ponto de não agregar conhecimento? A resposta é simples: Não compreendê-las.A literatura se constitui como o uso estético da linguagem escrita pertencente a um país, uma época, a um gênero e etc, tudo isso está incluso nas fantasias utópicas adolescentes de JK. Rowling, Rick Riordan e Sara J. Mas também nos clássicos de Machado de Assis, Gabriel Garcia Marques, José de Alencar ou Maria Firmina dos Reis. Nenhum tipo de literatura deve ser extinta em detrimento à falta de cultura e conhecimento de alguns, e nem tão pouco subestimada.