Após intensos, mas também insonsos debates, o texto que emergiu da 26ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre o Clima (COP26), teve alguns avanços e outras tantas decepções. A contradição reside no fato de que os países avançaram no entendimento que é necessário reduzir/acabar com o uso dos combustíveis fósseis, mas não atendeu às reivindicações dos países pobres por justiça climática e não garantiu o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5°C, pela recusa dos países mais ricos de criarem um fundo para ajudá-los a enfrentarem e se recuperarem dos desastres causados pelo clima, apesar de os países ricos terem prometido no Acordo de Paris, em 2015, um fundo de US$ 100 bilhões anuais a partir de 2020 para apoiá-los no enfrentamento das mudanças climáticas. Ficou na promessa.
Indignadas pelo descumprimento das promessas de financiamento climático anual, as nações em desenvolvimento reivindicaram a criação de um mecanismo próprio para reparar os danos já causados pelos efeitos devastadores do aumento de tormentas, secas e ondas de calor em suas regiões. O apelo foi chamado de "perdas e danos", mas os países mais ricos só aprovaram a reparação, os “danos que se cuidem”.
O Brasil fez coro pela aprovação do fundo, mas as nações mais ricas, como esperado, viram tal empenho muito desconfiadas pelas lorotas e mentiras apresentadas pelo ministro pecuarista que representou o estado brasileiro. Resultado: Deu de ombros.
Mas, nem tudo foi perdido. Os ambientalistas, ao final, consideraram de positivos as duas declarações para a mitigação dos gases de efeito estufa como carbono e metano. Uma em que os países se comprometem a zerar e reverter o desmatamento no mundo até 2030 (Acordo de Florestas); outra que estipula o corte de emissões globais de metano de 30% em 2030 em relação aos níveis de 2020 (Acordo de Metano). O Brasil assinou ambas.
Também relevante foi o acordo firmado acerca de Energia limpa, no qual poderosas organizações financeiras concordaram em apoiar a tecnologia "limpa", como energia renovável, e, para isso, direcionar o financiamento das indústrias de queima de combustíveis fósseis. Outro ponto destacado se refere ao Acordo de Carvão, onde quatro dezenas de países - incluindo grandes usuários de carvão, como Polônia, Vietnã e Chile - concordaram em abandonar o carvão.
Mas o grande “campeão” da COP26 foi o Brasil. No prêmio “Fóssil do dia”, ganhou disparado o ‘prêmio’ “tratamento horrível e inaceitável' aos povos indígenas. A escolha foi feita depois que a ativista indígena brasileira Txai Suruí foi elogiada por seu discurso sobre o impacto que as mudanças climáticas já estão tendo em seu povo. É a sexta vez que o Brasil leva o 'prêmio' nos últimos anos, dado por ativistas ambientais a países que fazem o 'melhor' para bloquear o progresso nas negociações das conferências climáticas da ONU.
São prêmios que não gostaríamos de ganhar. Convenhamos, ser protagonista num campeonato onde se disputa quem envergonha mais, quem mais destrói florestas, quem mais dizima povos originários, quem mais defende mudanças no marco temporal que delimita as terras indígenas e quem mais promove o garimpo ilegal naquelas terras não é algo que deva ser comemorado.
Como diria o ex-ministro Marco Aurélio, “vivemos tempos estranhos”. O Brasil do desgoverno “ecocida” é hexaaaaaaaaa! São tempos tão estranhos que a Globo não transmitiu e o Galvão Bueno não se emocionou. Indignar e rebelar é o que nos cabe!
Fabio Tavares Marinho, Bacharel em Direito e estudante do curso de gestão ambiental pelo IFB/campus Samambaia/DF.