Apontamentos e ponderações após três anos de fechamento do maior lixão da América Latina
No dia 20 de janeiro do ano de 2018, o conhecido Lixão da Estrutural, considerado o maior depósito de lixo da América Latina e o 2º maior do mundo, encerrou suas atividades devido às sanções implementadas há anos pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 1981 e a Lei de Crimes Ambientais, de 1998. Ambas colaboram na extinção dos lixões brasileiros, seguindo o exemplo de países "lixo zero" como a Suécia e a Noruega.
O fim de um dos lixões mais antigos do Brasil é um marco para a história, provisionando a viabilidade do mesmo processo de finalização em outros depósitos de resíduos descartados irregularmente. Montanhas imponentes e rios soturnos caracterizavam o cenário do local que chegou a acumular mais de 40 milhões de toneladas de lixo não reciclado.
Na paisagem que contrastava com seu vizinho conservado e verdejante, o Parque Nacional de Brasília, o Lixão da Estrutural era fonte de renda de cerca de 2000 coletores de material recicláveis, grandes cooperantes do meio ambiente. A faixa de lucro com a venda de recicláveis era de R$ 900 à 1500 mensal e para os mais habilidosos e ligeiros, o lixo descartado de nossas residências poderia gerar até R$ 2000 por mês.
Desta forma, inferimos que nunca se trata apenas de "um lixão", porém, de uma estrutura econômica, tanto de subsistência quanto de lucro para aqueles que intermeiam os resíduos coletados para as estações de reciclagem. Estrutura essa que, após o findar de toda essa 'lixaiada', sofreu alguns prejuízos significativos no balanço mensal.
Após a anunciada inativação do lugar, os coletores que estavam ali há décadas não se agradaram da ideia e muitos relutaram em abandonar seus serviços. Mesmo com a promessa de amparo estadual e a transferência dos coletores para os galpões do GDF, não se deram por satisfeitos, e isto, com razão. Pois, apesar da formalização do trabalho, a renda dos coletores não foi devidamente compensada, com reduções para menos de R$ 600,00 por mês.
Na opinião dos ambientalistas, já era hora de dar um basta no que era chamado pelo segmento dos estudiosos de 'chaga ambiental'. Isso se deve aos impactos danosos que a ausência de um tratamento correto dos resíduos ocasionava. Os principais citados são: as agressões à fauna e flora das redondezas, o risco de alteração na qualidade da água, a contaminação do ar e o ajuntamento de urubus e cães raivosos.
Ainda assim, os cientistas apontam como a solução mais produtiva, a redução do lixo descartado da população e dos grandes geradores, responsáveis por toneladas de lixo anuais. O fim do Lixão da Estrutural não anula os efeitos sobre o meio ambiente, pois os resíduos ainda existentes no local, bem como o chorume produzido, tornam-se fontes poluidoras, principalmente, pelo gás carbônico (CO₂) e metano (CH₄) que são emitidos em altas taxas na localidade.
Outro ponto a ser considerado é que o gás metano possui um potencial riquíssimo em geração de energia, sendo usado em países europeus em grande parte da matriz energética. Assim, surgiu um projeto voltado para a geração de energia a partir dos resíduos existentes na área do lixão, é o RAEESA, conduzidos pelo Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Tecnologia da UNB em associação com a Central de Energia de Brasília, a CEB.
A equipe do projeto trabalha em uma pesquisa para remediação ambiental, energética e sustentável utilizando o máximo de resíduos restantes do Lixão da Estrutural e gerar energia. Conheça mais sobre o projeto, clique aqui.
Vale ressaltar que o lixo não foi engolido por um buraco negro, na verdade, foi transferido para um aterro sanitário, recentemente acabado, em Samambaia. Não é preciso ir muito longe para saber que, comparado aos lixões, um aterro sanitário é o paraíso. Os aterros são pensados e construídos justamente para receber os resíduos e tratá-los de maneira efetiva e correta.
Escrita por Otaviano Sousa