Entrevistas

“Se não eu, quem? Se não agora, quando?”
Por Karen Reis - 26/08/2021

Guerreira, forte, sonhadora, capaz e mulher. É assim que a personalidade Cristina Castro se define enquanto CEO do Instituto Gloria, professora e coordenadora na Universidade de Brasília, embaixadora no WEAmericas, no WEDO Brazil e membro da curadoria da Revista MIT Brasil. Esta líder, que já foi agraciada com o Diploma Mulher-Cidadã Carlota Pereira de Queirós em 2019, recentemente ganhou reconhecimento da embaixada americana como uma das mulheres que fazem a diferença em 2021 e foi autora de diversos capítulos sobre empreendedorismo e inovação, mas eu me perguntei: O que exatamente faz dela uma líder? Como ela chegou até este patamar pessoal e profissional? Esta é a primeira de uma série de entrevistas com personalidades que trabalham com ciência, cultura e inovação. Para conversar com nossa entrevistada, fui guiada pelo seguinte questionamento: Quem é você enquanto parte do todo?

IFB em Pauta: Quem foram os líderes que te inspiraram e ainda te inspiram a ser você?

Cristina: Tenho muitos Karen, eu acho que a primeira grande líder foi a minha mãe, no sentido não só realmente profissional, eu segui a mesma carreira dela, mas por todo o conjunto da obra, pela doçura, fortaleza, por não deixar a peteca cair e por saber acreditar mais. O segundo grande líder, que me inspira até hoje, foi o presidente americano Barack Obama, pela inteligência, pela capacidade, pela estratégia de ser cada vez mais popular e poder estar perto do seu propósito. É claro que se eu olhar pra Gandhi, Jesus Cristo… eu vejo líderes que não só me inspiram como também me fortalecem, né. Chico Xavier, cientistas como Marie Curie que trazia ali dentro do seu laboratório uma força, um olhar e uma confiança incrível pela ciência, como grandes professoras que eu tive, como médicos que me salvaram, como a médica que me salvou no momento em que eu tive uma parada cardíaca… enfim, meu Deus! Acho que eu vejo nas minha meninas jovens embaixadoras, grandes líderes que me impulsionam, eu vejo nas minhas amigas, eu vejo meu marido… Eu acho que liderança é muito além de apenas conseguir chegar longe, são pessoas que sonham e que chegam nos seus sonhos.

IFB em Pauta: Durante a sua jornada, o que você pensava ser quando fosse adulta?

Cristina: Ministra da ciência e da tecnologia… desde pequena. Possivelmente eu devo ter visto num jornal, alguma coisa do tipo e alguém deve ter me chamado atenção, mas desde a sétima série toda a minha carreira eu fiz, não mais tenho esse sonho hoje, mas eu queria chegar ao ministério com muita capacidade e muita competência pra contribuir com meu país com tudo o que ganhei. E por que ciência e tecnologia? Acho que eu já gostava das mudanças, das inovações e das possibilidades de quebrar qualquer barreira, tudo é possível com a inovação.

IFB em Pauta: Quando você descobriu que gostava de trabalhar com o que faz hoje?

Cristina: No Instituto de ciências biológicas eu trabalho desde que voltei pro Brasil em 2012, eu ainda morava na França e fiz um concurso pra ser professora, passei e voltei. Isso foi em 2012, tem pouco tempo. Pro Instituto Glória… eu criei o Instituto em 2019, mas quando me deu o turning point assim de querer fazer o que eu faço hoje foi em 2015 quando eu fui pra um programa do departamento de estado americano chamado WeAmericas. Lá eu aprendi sobre empoderamento feminino no mundo, ali foi o meu grande Openmind. Este evento serviu para que eu entendesse a amplitude e a magnitude do gênero. Confesso que eu já estudava muito sobre inovação, eu entendia muito sobre inovação, era o que eu pesquisava e estudava, mas eu não entendia, até por ser mãe de dois filhos homens, encantada pelos meus filhos homens, e pelo marido mega parceiro, eu não sabia porque fazia diferença inserir mulheres. Então esse programa me ensinou absolutamente tudo: o que é um projeto internacional, a importância da ODS 5, que é a inclusão de gênero, a magnitude de ser mulher e a importância disso inclusive pra família e inclusive para os homens. Ali éramos somatórias, histórias… foi onde ficamos por um mês nos Estados Unidos, dentro da casa branca, passando por vários estados, com outras quatorze outras mulheres incríveis das américas e Caribe, então eu conheci mulheres que faziam coisas assim… sensacionais e que passaram a ser fonte de inspiração e ali passaram a ser também minhas amigas e minhas parceiras... Eu fui muito treinada, muito formada, estudei muito… é muito trabalhoso, mesmo que isso tudo pareça muito bonito e romântico! Mas eu estava das 7h da manhã até as 19h da noite trabalhando sem parar durante um mês e pouquinho.

IFB em Pauta: Como você faz para atingir seus objetivos e metas?

Cristina: Eu fico perto de pessoas incríveis. Eu busco elas constantemente, sou uma pessoa viciada em pessoas legais, busco energias positivas e sorrisos assim como o seu ou como o das meninas(se referindo às jovens embaixadoras do Instituto Glória), assim como os da minha equipe Glória. Tento constantemente porque não é fácil. Trabalhar com violência de gênero e quase que todos os dias ser violentada, sofrendo com todas aquelas mulheres, mas eu acredito tanto que eu posso mudar o mundo, e as pessoas que estão comigo mudam o mundo, que eu me cerco delas para ter força para continuar. Se não eu, quem? se não agora, quando?

IFB em Pauta: O que você faz atualmente como CEO?

Cristina: Tudo, honestamente, ser CEO é fazer absolutamente tudo para ver seu projeto crescer, desde escrever projetos, a conversar com pessoas, a fazer entrevistas, a escrever relatórios, a fazer palestras, a falar em jornais... Então no novo jogo de empreendedorismo por exemplo eu vou lá e eu quero saber, eu dou pitaco, eu mexo, eu aprendo, sou a grande curiosa do Instituto. Eu busco parcerias, eu converso com executivos, eu converso com mulheres líderes, converso com pessoas que estão sofrendo, eu brigo quando eu tenho que brigar, eu puxo orelha quando tenho que puxar, eu até sirvo o cafezinho se precisar. Tudo junto com todos! Eu não sou boa em tudo, Karen, que isso fique muito claro, ninguém é bom em tudo, mas eu conheço pessoas que são boas naquilo que eu preciso e aprendo com elas.”

IFB em Pauta: Qual é sua parte favorita do trabalho?

Cristina: Cada sorriso que eu recebo, cada currículo que eu vejo entrando em novos processos seletivos de mulheres que se reencontram, cada mensagem de superação, todas as vezes que alguém me diz que o Instituto Glória pode mudar a vida dessa pessoa. Eu gosto de ver a mudança de perto, eu costumo dizer que mesmo sendo CEO, mesmo estando a frente do Instituto, sou eu que estou na porta, eu tenho essa chance de estar ali com aquelas mulheres, crianças, meninas, então eu vejo a mudança. Eu ganho esse presente, é muito bom!

IFB em Pauta: Como você se sente sabendo que inspira pessoas ao redor do mundo?

Cristina: Ai, meu coração fica quentinho! Eu sou muito grata, a palavra gratidão… aprendi a dizer ela há um tempo atrás e gratidão é muito mais do que “obrigada” né... gratidão é muito mais do que um simples “Eu fico feliz”, é mais do que tudo porque na verdade, Karen, eu só consigo te dar aquilo que você me dá. Relações humanas são espelhos. Então se você vê na Cristina uma inspiração, é apenas porque a Cristina é um pouco da Karen, e a Cristina é um pouco de tantas, nós somos somatórias de histórias, todos nós! Então eu só sinto meu coração muito feliz, eu acho que isso é continuidade de história, porque as pessoas têm medo da morte por exemplo… medo do fim, elas deveriam começar a escrever histórias, porque aí não existe um fim. Hoje na hora do almoço eu estava fazendo uma salada para o meu marido... então ele colocou uma playlist que ele fez pra mim e nela tocou uma música que… meu pai faleceu quando eu tinha nove anos, e tocou uma música que meu pai cantava pra mim o tempo inteiro, era um samba, do Revelação, e eu disse, será meu bem? Se um dia os meus filhos, quando eu não tiver mais nesse mundo, eles vão ouvir uma música e vão lembrar de mim? Aí ele falou: Com certeza! Então eu perguntei: Você lembraria de mim com qual música? E ele respondeu: Todas! Eu fiz a Playlist inteira pra você. É isso, sabe? É isso que aquece o coração quando a gente pensa em inspiração, quando a gente pensa em amor e carinho, porque isso nada mais é que a nossa amizade.

IFB em Pauta: O que você diria para si mesma aos 18 anos e que conselho você daria aos demais jovens?

Cristina: Uau, eu diria: Cristina, tenha coragem! Não se enfraqueça! Sonhe, voe, bata suas asas, não se prenda e não sofra. O mundo dá voltas. Para os demais eu digo, estudem, estudem, estudem, o dinheiro te tiram, o poder te tiram, o conhecimento nunca. Quando você achar que estudou muito… estude mais! Quando você achar que conhece muito… busque mais! É a única coisa que ninguém te tira.

IFB em Pauta: E Com essas palavras Cristina Castro deixa mais um pedacinho de si com cada leitor, provando que a liderança nela é intrínseca e que a mesma acompanha todos os sonhos que ela semeia. Ela foi, é hoje, e continuará sendo inspiração para milhares de jovens por causa de sua tamanha humanidade, que é uma das, se não a melhor, dentre as suas inúmeras qualidades.