Crônica Poética

Vou lhe contar sobre Canudos

Dia 5 de outubro de 1897 - Fim da guerra de Canudos

Confesso, foi horripilante! Dessa guerra, resultou aproximadamente 25 mil mortos. Foi terrível! Os rendidos, a sua maioria crianças e mulheres, foram degoladas. Um show de horror ministrado pela república brasileira contra a minoria que queria mudança. Os sertanejos, para se defender, necessitavam de criar sua própria base de proteção, assim o esquadrão da batalha criou a saga sertaneja. Cangaceiro defendeu sua causa de ser livre de um falso governo democrático, onde o pobre permanecia na miséria e o rico “nadava” em suas largas plantações de café. Antônio Conselheiro, líder religioso e devoto à bíblia, foi o responsável por unir todo aquele povo injustiçado pelo governo. No conflito, o conselheiro benzeu seu povo na paz e na guerra contra o oponente, pois sabia que o que dava forças aos seus seguidores era a fé. Aquela batalha foi sinônimo de desigualdade e de força, porque mesmo os sertanejos tendo apenas armamentos fracos conseguiram vencer todos os soldados, ou seja, resume-se a todo um exército contra unhas e dentes. Contudo, muito dos injustiçados acabavam perecendo nas batalhas sendo feridos e deixados agonizando no sol do sertão escaldante. O jagunço sangra a terra no punhal ou navalha, filtrando o solo seco com o sangue dos soldados republicanos. Contra canhões cegos de ódio e raiva os filhos do Conselheiro lutavam arduamente.

Subindo cumieiras formaram o Monte Alto, a comunidade que abrigou e guardou os filhos do governo contra o próprio Estado. Quedando precipícios, conseguiram manter a sua moradia. Dividindo vazantes¹ com carcarás² e umbuzeiros³, ali o comunitarismo ascendia não dependendo da república para viver.

Corta o sertão o esquadrão do país atrás da moita que estava enfurecido e desejando a cabeça de cada jagunço que havia desobedecido às leis “democratas” que reinavam no nosso país. Naquele pequeno local onde o beato profana a fé de todos em terra de ninguém, foi um símbolo de resistência à desigualdade. Porém, esse conflito mostra que a terra não tem dono, desde que, você seja um oligárquico. Aquele povo apenas almejava liberdade, um lar e água, água, água…

• ¹estilo de plantação à beira do rio. Normalmente em locais onde ocorre grandes secas.
• ²espécie de ave.
• ³árvore que dá umbu, fruta típica do Nordeste.

Música de apoio: Canudos de Serelepe:

Escrito por João Victor Dias de Souza, colunista.