Herr des Hauses
Por Karen Reis, 06/07/2021
Imagem retirada do site <mediu.com>
Olá, estranho.
Com toda certeza, esta não é a primeira, nem a última carta que escrevo para você. Há
semanas tenho pensado na razão de eu não conseguir tirar você dos meus pensamentos.
Mesmo depois de anos, você continua em todo lugar.
Mas o que faz de você tão diferente dos outros? O que você tem que eles não têm? Eu já fui
tão compatível com os outros, mas nem ao menos conheço você e, ainda assim, você sempre
ganha de todos, mesmo sem uma competição direta.
Só um pedacinho de você é mais do que o suficiente, o que sinceramente é ridículo.
Primeiro, porque parte de mim não quer aceitar nada disso, não quer aceitar que isso nunca
seria possível, porque você não me conhece e nem tem interesse em conhecer. Uma prova
disso é que, caso você leia esta carta, esta, provavelmente, não será endereçada a você.
Em segundo lugar, existe uma parte inútil de mim que tem a esperança de que ele leia, de que
ele queira ler.
Como é possível estar tão perdidamente apaixonada por alguém que não conheço? Sim,
estou amando. Parece coisa de adolescente emocionada, mas é verdade e talvez seja a única
certeza na vida. Não é possível estar tão presa em outro ser humano sem essa sensação
envolvida, pois o amor não é um sentimento, não é transitório ou simples. Por isso me sinto
num poço em meus próprios pensamentos, afinal, o que sinto tem mais profundidade do que
eu mesma.
Mas como é possível amar aquilo que não conhecemos? Sentir falta de algo que não foi
vivido?
Quem sabe eu só ame a possibilidade dessa impossibilidade.
Enquanto eu escrevo cartas de amor na madrugada, você sonha em sair do país (como eu
costumava fazer) e, mais do que isso, você sonha em ficar com ela: a garota que te faz sentir
exatamente como eu gostaria de fazer.
A verdade é que eu sou um grande problema, parece clichê e talvez seja, mas é verdade, pois
penso que talvez ele saiba disso e por isso prefira estar longe. Isso prova que ele não merece
estar comigo, porque tenho um verdadeiro oceano dentro de mim e, se ele não quer conhecer
cada parte disso, então porque eu deveria considerá-lo?
Quem é você estranho? Eu adoraria te conhecer só para poder entender o que tem em você
que me aprisiona contigo.
Mas, pelo menos, depois de todo esse tempo, aprendi a dizer o seu nome: estranho.