Sei que aquele operário amou daquela vez como se fosse a última, pois infelizmente aquela foi a decisiva vez para amar. Tenho a plena certeza que ele beijou sua mulher como se fosse a última, porque sempre ouvi ele falar de forma idealizada e apaixonada sobre sua mulher, e cada filho seu como se fosse o único ele tratava de forma honrosa.
Seu Januário toda madrugada acordava cedo para ir trabalhar. Homem de muita força, mas ao mesmo tempo muito calmo. Naquele dia saiu de casa no horário certo e atravessou a rua com seu passo tímido. Pegou seu ônibus já lotado em plena 05 horas da manhã.
Subiu a construção como se fosse máquina, de forma rápida e perfeita. Ergueu no patamar quatro paredes sólidas, fixas ao solo e presas às colunas. Tijolo com tijolo num desenho mágico, mostrando a sua magnificência nos saberes arquitetónicos e da engenharia amadora. Porém, apesar de todo o seu bom trabalho, o operário Januário era muito explorado, com grande insalubridade no trabalho e com baixo salário; isso explica seus olhos embotados de cimento e lágrima.
Quando chegou a hora do almoço ele sentou pra descansar como se fosse sábado. Pegou a marmita que sua mulher fizera com todo o amor. Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe, pois o que lhe trazia maior alegria era os temperos da sua amada. Sua mulher colocou o seu suco predileto. Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago.
Naquele dias os operários estavam alegres pelo fato que no dia seguinte era finalmente sábado. Junto com os amigos, ele dançou e gargalhou como se ouvisse música.
Porém, o operário Lucas meteu o pé na madeira que havia se soltado e tropeçou no céu como se fosse um bêbado. Aquele madeiro despencou-se atrás dele que nem viu. Foi esplendidamente terrível aquele tropeço. E flutuou no ar como se fosse um pássaro cambaleando e rodopiando até parar no meio da rua com um monte de pedestres e carros e se acabou no chão feito um pacote flácido mostrando-nos que ali não havia mais Lucas; estava irreconhecível, todo quebrado e ralado, porém deu sinal de vida: Agonizou no meio do passeio público, na frente de crianças e pais, deixando todos boquiabertos e sem atitudes para resolver o caso. Porém, aquele operário morreu na contramão, atrapalhando o tráfego.
Por esse pão pra comer, por esse chão pra dormir o Lucas sempre trabalhou para ter. A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir aqueles operários soam todos os dias para merecer. Por me deixar respirar, por me deixar existir nós trabalhamos arduamente para viver.
Aos senhores donos do capital, apenas devo lhes agradecer por algo: Deus lhe pague, por usar da vida de Januário e de muitos outros operários para enchermos os vossos bolsos.
Autoria: João Victor Dias de Souza