Diariamente você se olha no espelho. A imagem com a qual se depara corresponde exatamente ao seu rosto tal qual ele é na realidade. Agora imagina que esse mesmo espelho no qual você se olha todos os dias cai no chão e se fragmenta por inteiro. Ao se defrontar com o espelho quebrado, certamente, a sua imagem refletida não será a mesma de antes. Em linhas gerais, o cubismo representou a desconstrução radical das formas e das cores, como um espelho estilhaçado. As formas cubistas eram traduzidas em suas estruturas mais básicas até que o objeto representado fosse totalmente fragmentado e desfigurado.
Seguindo esse princípio do espelho estilhaçado, alunos e alunas dos cursos de Controle Ambiental e Design de Móveis do 3º EMI realizaram extraordinários trabalhos artísticos cubistas, como você pode conferir neste artigo. Por meio de colagens, desenhos e pinturas, foram elaboradas distintas formas fragmentadas, coloridas ou monocromáticas, cujos preceitos basearam-se nos ensinamentos cubistas. Primeiramente, os alunos e alunas se olharam no espelho quebrado e, após se confrontarem com as suas próprias imagens fragmentadas, foram convidados a mergulhar em um mundo de imagens cubistas, cujo ponto de partida foi a obra O Acordeonista, de 1911, pintada pelo artista espanhol Pablo Picasso.
Picasso, um dos maiores expoentes do cubismo, pintou a obra O Acordeonista como um espelho estilhaçado de modo que nós, espectadores e espectadoras, temos dificuldade em reconhecer a figura do acordeonista da forma como a identificamos na realidade. O artista utilizou cores neutras e tons escuros, atributo que nas artes visuais chamamos de monocromático, ou seja, quando uma imagem é definida por apenas uma cor ou uma tonalidade. No caso da pintura de Picasso, seu acordeonista possui tons cinzas, pretos e brancos escurecidos. Na história da arte, o cubismo se destacou por recusar toda e qualquer ideia de arte como imitação da natureza, ao propor a construção de imagens como se elas fossem feitas em cubos. No plano bidimensional da pintura, cada estrutura pintada era cuidadosamente investigada, gerando um efeito de visão simultânea, um tipo de recurso ao qual Picasso recorreu para criar a fusão de várias vistas em uma única figura.
Vale lembrar que a descoberta da fotografia, por volta de 1839, gerou um grande impacto visual nas obras de arte que gradualmente passaram a renunciar aos modelos figurativos e realistas. Desse modo, a fotografia liberou os artistas da obrigação de representarem fielmente a realidade em suas pinturas e esculturas. Outro dado fundamental para entender a arte moderna e o cubismo de Pablo Picasso foi a repercussão das culturas africanas na arte europeia. As máscaras advindas de diversas localidades do continente africano, de formas estilizadas e linhas simplificadas próximas à abstração, foram essenciais para o desenvolvimento de uma sensibilidade moderna que possibilitou o advento da linguagem abstrata. Esse contato com a cultura do outro, que chamamos de alteridade cultural, gerou uma ruptura radical com os princípios estéticos e técnicos precedentes.
Estamos falando do final do século XIX e começo do XX, período de expansão colonial do imperialismo moderno, conhecido também como neocolonialismo. Os povos do mundo inteiro abriram as suas fronteiras, por bem ou por mal, à penetração das mercadorias, dos capitais e das riquezas nativas da África, da Oceania e da Ásia, que eram permanentemente saqueadas por colonizadores. Como disse certa vez o crítico de arte Mário Pedrosa: “sem a arte negra a arte moderna não teria o impulso que teve nessa época”.
Esses objetos eram vendidos em lojas e antiquários nas grandes capitais europeias e os artistas, diante daquela nova riqueza visual, passaram a colecionar as máscaras e outros artefatos de culturas não ocidentais. Os artistas ficaram deslumbrados pela qualidade estética das esculturas africanas e pelos seus efeitos de formas, desenhos acentuados e pela variedade de maneiras de representar a figura humana. Portanto, ao se deparar com uma pintura cubista, como O acordeonista, de Pablo Picasso, leve em consideração a importância das tradições não ocidentais para o desenvolvimento da arte moderna.