Será que consigo? Será que ainda posso? Quanto tempo me espero agir? O dia que vou acordar e me olhar no espelho e perceber o quanto posso fazer, o quanto aprendi, o quanto me decepcionei, o quanto as palavras me custam numa escrita livre. Sem script para ditar a próxima linha, mas vindo dessa fonte não esperava nada diferente. Venha e se ponha de novo e de novo fora de lugar na espera do melhor momento chegar, aquele que deixara de lado sua pretensão arrogante e se permitir errar um pouco. Viver como um num todo misterioso e se encantar por isso sem deixar a imensidão que o cerca intimidar ou fazer sentir miserável ao comparar-se a ela. Tudo bem, haverá pausas. Muitas. Para mudar seu rumo basta voltar acreditar. Mil páginas escritas e se em nenhuma delas estiver a solução? Escreva mais mil. Mas não esqueça do que deixou de fazer por compensar na escrita e o como passou a agir depois de descobri-la. Reconheça esses sintomas. Onde estava a última vez que se viu? Aqui?
Em meio a esses fragmentos de frases mal percebidas no seu dia a dia estão algumas pistas. Preste atenção nas perguntas. Essa saudade toda não é de alguém ou de algum tempo vivido, mas sim de estar presente. Mesmo incompleto ousar completar as sentenças sentindo a tensão de estar fazendo algo e não lamentando pelo que não fez. Narrando a si e seu comportamento doentio, uma auto-observação não muito agradável, mas necessária para sarar. Aí! Entender que cada decisão tomada influência a próxima, como relatar o óbvio agora é lembrar daquilo que nos é essencial, o que nos compõe, o que nos faz estar aqui. Quem dera ser algum tipo de providencia divina escrita pelas estrelas ou um mito contemporâneo, se fosse assim não desperdiçaria essas linhas com minhas frustrações e desencaixes, como também não estaria desbravando o maior e enlouquecedor desafio da nossa época: manter-se são.
Fazemos loucuras para mantermos nossa sanidade mental, ao ponto que perdemos o parâmetro daquilo que é ou não. Isso abre possibilidades para uma renovação constante e importuna. Constante, pois ao desmistificar as antigas certezas, estipuladas como base para manter o mínimo de estabilidade emocional, percebe-se que essas são temporárias e necessitam ser renovadas quando chocam-se com uma nova perspectiva. Isso nos importuna, pois não permite a acomodação.
Não conhecemos mais o gosto do tédio, aquele tédio sincero e saudável para uma mente que não consegue parar de pensar. Vivemos na geração das distrações, nunca foi tão fácil retirar do bolso uma fuga multifuncional.
Timidez é foda. Suas ações apenas passarem na sua cabeça como um filme, mas o corpo não corresponde à expectativa. Como se lhe faltasse algo ou tivesse uma barreira entre o que se pode fazer e o que é feito. Muitos falam em superá-la, mas como isso funciona? Tem manual? Talvez, mas não é assim que pretendo tratar o assunto.
Sou tímido e já me impedi de fazer muita coisa por isso. Chegou um momento que eu cansei, tantas noites revendo o que não foi feito me deu tempo para pensar. Ainda sou tímido, não gosto de chamar tanta atenção. Mas, o que pretendo fazer em vida às vezes exige de mim esse posicionamento, ainda mais na sociedade de hoje. Do espetáculo, dos protagonistas, do entretenimento, do abuso dos sentidos pela quantidade massiva de informações.
Vemos na tv, no celular, no rádio, na vida, pessoas que assumem a posição de porta voz da situação e há elementos incorporados em suas falas que empoderam o que é dito. Esse modo de falar está presente em nosso dia-a-dia e quando alguém está a exercer esse posicionamento espera-se dela o empoderamento em sua fala. Por que prestar atenção? Tenho o mundo na mão, se bate um tédio tiro-o do bolso e começo a fuçar.
É, não tá fácil para os tímidos, já é difícil de assumir esse protagonismo ainda mais manter a postura para não desmontar ao abrir a boca. Não sei se é possível deixar de ser tímido, mas sei que é necessário às vezes esquecer da timidez para fazer o que se gosta ou admitir o que não se quer fazer.
A sociedade não se interessa pela sua timidez, a massiva quantidade de informação exige uma troca de pensamentos espontânea, da forma que surgem são expressados. Ignorando a delicadeza de cada palavra pensada com muito tempo por quem é tímido e na dúvida do que dizer, pode elaborar ideias mais complexas e menos imediatistas.
Uma pena que passam despercebidos até por si mesmos, às vezes não valorizam o que pensam por deixar quem fala na lata continuar falando por parecer tão confiante no que diz que não abre espaço para discussões.
Em nosso primeiro ato vivo, a primeira reação nessa nova vida, contra todas as expectativas, é o choro; contrastando com a alegria imensa daqueles que já estão adaptados a atmosfera hostil que é viver fora da placenta, mas um enorme sofrimento para o mais novo membro do clube dos desamparados. Diferente de outros animais nós não nascemos com uma carga genética com procedimentos básicos de como reagir ao mundo, não temos instintos primordiais para isso. Nossa grande herança como espécie é justamente essa, a não definição prévia de comportamentos e aprendizados para se posicionar no meio que vive, somos um animal frágil que inicialmente não possui especialidade alguma, um projeto que está em constante processo, nunca finalizado.
Não temos um rumo determinado, por não haver esse direcionamento natural de sobrevivência, não nos contentamos apenas a sobreviver, é necessário também dar sentido a essa continuidade. Essa necessidade é intensificada pela contrariedade que somos, uma constante transformação, não basta apena estipular os sentidos, pois eles também estão em transição como nós. Ou seja, eventualmente compartilhamos de uma sensação de falta quando carecemos de sentidos para manter nossa motivação para continuarmos vivos.
Nossa especialidade é não ter especialidade alguma, logo, desenvolvemos as nossas próprias de acordo com o processo que estamos. Temos o incrível poder de transformar até sofrer de viver, em algo assim, incrível e acolhedor, útil e renovador, fazemos das coisas diferentes meios para expressar nosso desamparo e ao converter esse sofrimento inicial em um sentido nos causa uma alegria imensa. Ao entrarmos em contato com o registro dessa transformação reconhecemos ali que outro alguém que também compartilha desse desamparo sobrevive a ele e consegue fazer do desamparo algum sentido sequer.
A falta de sentido gera sofrimento. A transformação desse sofrimento em sentido gera alegria. A arte cria sentidos.
Chegamos ao topo da cadeia alimentar, dominamos o planeta, não há mais mares a serem explorados nem terra a vista a ser descoberta, chegamos ao ponto que finalmente alcançamos os limites de nosso crescimento e estamos sofrendo as consequências disso sendo forçados a pararmos para reparar o que fizemos até então.
Infelizmente a vista não é das melhores, o ar já não é tão limpo e a convivência tornou-se inevitável. Evoluímos tecnologicamente mais rápido do que o tempo para fundamentar bases sociais necessárias para aprendermos a lidar um com os outros e com a própria tecnologia que desenvolvemos.
Nesse cenário temos carros que se movem de forma autônoma e a interação global com conectividade simultânea via wifi, ao mesmo tempo que diariamente vemos como a promessa do futuro ser a solução para nossos antigos problemas não foi cumprida. Apesar da facilidades diárias, o preço que estamos pagando por se distanciar do que tornou tudo isso possível é os índices de depressão e suicídio dispararem proporcionalmente à vendas contabilizadas junto às pessoas nas tabelas.
Esperar o melhor momento é deixar de fazer agora
Quantas horas se passam tentando organizar
A lista de afazeres
Os emails não lidos
As chamadas perdidas
Dificil conciliar a espontaneadade em meio a rotina
Mas somos seres de rotina
Esperar o melhor momento é deixar de fazer agora
Se nos assustamos quanto ao crescimento exponencial e avassalador do codvid19, observe o crescimento populacional que a humanidade teve ao decorrer da historia, o gráfico também é avassalador, também crescemos exponencialmente como um vírus na terra. Veja as consequências da falta de planejamento urbano, é a síntese da relação do nosso crescimento com os problemas que enfrentamos diariamente.
Não há mais tantos mares a serem descobertos ou terra a vista, não tem mais para onde expandir, não tem mais para onde fugir, só temos essa Terra!
Para compreendermos o impacto que temos coletivamente é necessário ter consciência do poder que temos em mãos e esse momento, apesar de trágico, é a oportunidade de estudarmos a nós mesmos e entendermos o porque agimos como agimos. São questões que assombram a humanidade desde que aprendemos a falar, nos acompanham a vida toda, apenas aprendemos a ignorá-las, mas agora nesse estado de calamidade global e isolamento individual passam a pesar novamente sobre nossos ombros as questões mais primordiais para não apenas sobrevivermos, mas vivermos: "Quem sou eu? Para de onde vim? Para onde vou e o que será de nós?"
O que será de nós eu não sei, mas temo continuarmos como estávamos, desconhecendo profundamente o que nos compõe e como compomos o mundo a nossa volta. Evoluímos tecnologicamente anos-luz a frente da nossa evolução pessoal, sabemos o peso do sol e como fazer toneladas de aço voarem, mas somos péssimos em como lidar com nossas sensações e sentimentos. Ironicamente são essas que motivam nosso desejo de descoberta necessária para novas invenções, desconhecemos a proporção do que já inventamos, por isso mas não creio que precisemos agora de novas invenções, precisamos urgentemente nos reinventarmos.
Nosso sistema educacional vigente não estimula minimamente a expressividade dos envolvidos nesse processo. Ao decorrer dos anos, é tão pouco requisitada e valorizada que chega a atrofiar de vez. A expressividade atrofiada em alguém influencia seu modo de vida, como ela se comporta no dia-a-dia e como ela se posiciona perante problemas. Desde a sua própria residência até o mundo globalizado que vive.
Expressão é algo iminente a nossa espécie e como ela se comunica e como mantém sua saúde mental. Desde que morávamos em tribos e nos comunicávamos por expressões faciais e poucos grunidos, até hoje que há uma infinidade de meios disponíveis. Em contrapartida, essa variedade é cada vez menos aproveitada por aqueles que estão cercados de meios possíveis para se expressarem.
Num momento em que absorvemos uma carga enorme de informações por dia não é apenas saudável, mas também, necessário um meio para transmitir o excesso desses estímulos. Pois, o estímulo vai existir e seremos afetados, o que podemos fazer é repensar como reagir a eles. Socar tudo debaixo do travesseiro não vai resolver, se esconder dentro de casa também não, entorpecer-se com programas de entretenimento banal muito menos.
A universidade pública em seu cerne tem como proposta oferecer conhecimentos universais a todos os públicos. Se busca isso através da sua tríade de ensino, pesquisa e extensão, o último está pouco presente e sofre de uma carência mais que perceptível para quem tem contato e para quem tenta ter contato com a universidade. Como extensão deveria ser uma ponte entre os conhecimentos universais e locais como entre seu espaço físico e a comunidade. Os muros na faculdade atualmente não são apenas para segurança interna, representam também a barreira distanciando aqueles que ainda não assimilaram que não são apenas bem-vindos, mas sua presença é essencial para a faculdade exercer sua função para a cidade que pertence.
Até mesmo quem frequenta diariamente o campus se indigna com a atitude da faculdade quanto à sua receptividade. Desde colocar correntes na cesta de basquete até a tentativa do fechamento da conexão aos bairros ao redor. Nem os estudantes se sentem à vontade para utilizar os espaços dos campus com o potencial que possuem, que momento estão negligenciados culturalmente, imaginem quem não possui nenhum vínculo com a instituição. Os campus são espaços não só para lazer e encontros, mas para circulação e expressão daqueles que vivem na cidade ou estão de passagem. Sendo um bem público de âmbito federal é e deve ser aberta e receptiva a todos os públicos e suas necessidades coletivas.
O debate sobre o que é arte ultrapassa eras e esferas, desde a Grécia que não havia diferenciação entre arte e ofício até hoje em que a arte é tão dinâmica que é difícil limitar a um resumo claro. Esgotar essa discussão não é a proposta, mas sim mostrar que a arte não se resume ao que está nos museus ou exposições de artistas específicos e já reconhecidos.
O contato com a arte dessa forma é restrito tanto ao público quanto aos artistas.
Ao público, pois nem todos se sentem à vontade nas instituições que oferecem as exposições ou até por não terem condições de pagar quando há entrada sendo cobrada.
Aos artistas, pois nem todos têm a oportunidade de expor seus trabalhos nesses locais.
Há artistas, há arte, há público, mas há espaço para reunir todos esses elementos?
A resposta é: Sim. Sim! Há muito espaço disponível, os espaços públicos atualmente estão pouco aproveitados e gradativamente perdendo sua função de pôr em contato aqueles que compartilham da mesma cidade. Infelizmente as ruas estão sendo usadas apenas pelos carros e nas praças não se vê mais pessoas.
Romper os muros entre o museu e a cidade, e as barreiras entre a arte e aquele que a recebe; como acontece com o grafite. As pessoas ao terem o contato com a arte em seu dia agrega para ela perceber que a arte é algo dinâmico e com trocas de influências diretas com o contexto e a sociedade, não apenas um registro de um certo tempo já passado e pensado em exposição por certos dias e horários.
Ao mesmo tempo estimula a valorização e utilização dos espaços públicos, reunindo pessoas e ideias. Para aqueles que estão apenas de passagem ou aos mais curiosos e ousados que se aproximam e podem participar ativamente. Colaborando para o enriquecimento cultural da cidade e daqueles que habitam.
Imensa felicidade de presenciar o prestígio de diversos artistas tanto da cidade quanto de fora. A arte em diversos ângulos, traços, toques e perspectivas. Gratidão por participar e por quem expõe, quem toca, quem molda, quem ajuda, quem cola, quem contempla e quem passa e dá uma olhada. Lindo de sentir o movimento acontecer, que aconteça cada vez mais!
Parece que acordou de um sonho, as linhas todas estavam tremulas, as páginas voltando a sua branquidão, o baque fora tremendo que as silabas pularam pela janela. Assim, o sentido desorientado tenta e esquivar de amarras, porém ele é a própria. Amarra ou na marra.
-Uma pena esses escritos estarem jogados no chão do ônibus não?
-Hmmm.. Não sei não, achei muito esquisito.
-Toma, pegue-o.
-Nããão, tira essa coisa suja de perto de mim.
-Relaxe, você já está coberto todo de pele morta, uma poerinha não vai lhe fazer mal.
*coloca o papel no bolso*
-Tábem! Com sorte não perco na maquina de lavar. Inclusive, sabe de alguém que concer...
*BOOOM, baque no ônibus*
Os passageiros são jogados para a frente do veículo, percebe-se que não havia motorista. O que torna óbvio a batida. O que é surpreendente é como não havia batido antes. Ou havia e ninguém percebeu o estrago, porém agora é inegável, está na cara, não há motorista. Os passageiros que restam são responsáveis por essa condução. Ou será que não?
-Que porra é essa?!
-Meu Deus!!! Como isso pode acontecer?
-Acalmem-se! Acalmem-se! Acalmeeeeeem-se!
-Quem vai ser o primeiro a dizer o porque entrou num ônibus sem motorista?
-Porque não diz você já que pergunta?
-Eu não me lembro, bati com a cabeça no volante.
-Pois fique sabendo que eu me lembro muito bem, estava parado na estação, havia várias pessoas na fila, certamente era algo importante, nunca vi tantas pessoas num ponto só para pegar um ônibus. É claro que eu fiquei para ver o que era. Logo no final da fila havia um velinho que ganhou a preferência e foi até o primeiro lugar no ponto, ele estava tão feliz nesse trajeto, apenas reforçou minha expectativa quanto a que lugar esse ônibus levava. Então entrei na fila imediatamente.
-É verdade! Eu estava na fila, você lembra de mim?
-Hmmm... Vagamente, talvez sim, talvez não, como disse eram muitas pessoas, o engraçado que não vejo boa parte delas presente aqui agora. Bom, devem ter descido em outro ponto. A questão é, minha espera foi enorme. Desesperadora, ansiedade quase corroía meus dedos. Foi então que passou um ônibus. Não, não era esse, mas como saber, da pra confundir, afinal são todos tão parecidos. Mas não parou no ponto. As pessoas esperavam ali como eu, algumas a muito mais tempo do que podiam me contar porque as histórias contadas naquela fila foram tantas quanto o seu tamanho. Passou-se tanto tempo que eu mesmo perdi a noção de quem era eu ali em meio a essa imensidão de vidas e vivências. Sobreviventes. Como eu em meio a milhares. Mas não deixei me abater, mantive a postura e fiquei de prontidão a espera desse misterioso ônibus. As necessidades básicas eram angustiantes, tive que segurar diversas idas ao banheiro e noutras vezes não tive o que comer ou cobertor a noite. A situação era péssima, a sorte que tínhamos era termos uns aos outros. Como, as vezes, nem tanto, porque enchia o saco, principalmente a mente devanear ao pressupor que se não houvesse pessoas não haveria fila nenhuma, logo não haveria essa espera absurda e suas situações extravagantes
Uma das formas mais efetivas de conter poder é a indiferença.
Imagine uma sociedade de abelhas estreitamente organizada. Cada abelha com sua devida função para e com a colmeia. As que precisam crescer, estão crescendo, as que já coletam, estão coletando, as que defendem, estão defendendo, as que estão morrendo, morrem, e rainha, alimentada para gerar mais descendentes e assim reiniciar esse ciclo, está sendo alimentada.
Poderíamos dizer que numa sociedade de abelhas, tudo gira em torno do mel. Como sua comida, como sua casa, como sua fonte de recurso mais primordial. Mas o mel, apesar de ser o elemento mais primordial dessa sociedade, não é o único pilar de sustentação desse processo de sobrevivência e procriação. Não basta sobreviver, é preciso procriar para que a espécie continue, diz os instintos. Logo, outro pilar de sustentação dessa organização interna é a sua própria organização interna para sobreviver e procriar, confuso não?
Mas é como na sociologia se diz que a sociedade é a origem da sociedade, como a norma é a origem da norma. São formulações de estruturas que se originam, por sua própria capacidade e/ou necessidade de se estruturarem.
Após essa estruturação, há a possibilidade de se auto intitular ou conceituar-se com um ou outro nome. Independentemente do nome escolhido, o nome surge apenas depois desse processo de estruturação interna já estar instaurado e ativo. Isso ocorre pois muitas vezes o processo de organização interna é o que proporcionou a possibilidade de comunicação entre aqueles que pertencem a essa organização, assim podem aprimorar lentamente ou explosivamente as formas para isso. Ao ponto dessa comunicação gerada internamente, ser capaz de discursar sobre sua própria formulação e até cogitar a possibilidade de haver algo além daquela estrutura conhecida e comunicável até então.
O que aconteceria com a colmeia se algumas terem, antes que outras, a concepção de conseguir referir-se a própria estrutura interna que participa?
É de se esperar que a colmeia toda aprimore sua comunicação para perceber as nuances e a abrangência da estrutura que participam, porém, essa mudança é irregular, nada homogênea.
Pode se dizer que acontece como a cada nova atualização de um aplicativo, não são todos os aparelhos e usuários que se atualizam ao mesmo tempo. Alguns deixam no automático e nem veem as mudanças feitas, outros deixam no manual e esquecem de atualizar, outros optam por nem utilizarem, e assim vai.
Antes de chegar a conclusões precipitadas, é de extrema importância lembrarmos novamente que a evolução pouco se relaciona diretamente a melhorias ou soberanias, como leigamente associamos. A evolução, pelo que observamos nesse fragmento de história que conhecemos, no momento se dá, não pela melhor, mais forte, mas rápida ou mais incrível espécie, não é uma competição de sobrevivência, se trata mais do ambiente vivido e a capacidade de adaptação de que o habita. Circunstancialmente o mais forte pode ser o mais adaptado, circunstancialmente ser o mais forte pode ser o mais inflexível e isso pode acarretar na destruição de um, de outro ou de ambos. Mas o caso é que evoluir é se adaptar e quando se trata de sobrevivência, adaptação é fundamental, certo?
Aí que tá, certo/errado, percepções dualistas que tiveram seu momento de serem a nova concepção do momento, o modo mais evoluído e adaptável de se pensar e fazer as coisas. Mas o tempo agora é outro, o ambiente também, logo o que é mais evoluído ou adaptável também muda.
Até a percepção de como a evolução acontece altera-se com o tempo. Ao dizer que o ambiente seleciona as espécies e as espécies mais adaptáveis ao ambiente são as que evoluem, é possível ser indiferente ao fato de que há espécies que são adaptadas ao ambiente, há, também, espécies que são capazes de adaptarem o ambiente. Adaptação não se trata apenas de uma atividade passiva, mas também de uma prática de modificação do que há para transformar o que é numa outra coisa mais adequada a aquele que está adaptando para modificar. Não é mais possível ignorar que não mais se trata apenas de ser selecionado por ser adapto as circunstâncias, há espécies que modificam as circunstâncias para adapta-las ao seu modo atual de sobrevivência e reprodução.
Adaptação não é uma via de mão única, são vias de probabilidades múltiplas.
Se as abelhas sustentam sua estruturação interna para conseguir se adaptar a circunstância de sobreviver e procriar baseado na premissa que precisam de mel para isso, o que aconteceria se uma abelha pudesse não só coletar, ou defender ou reinar sob o mel?
O que aconteceria se uma abelha pudesse manipular o mel? O que aconteceria se uma abelha pudesse ser sua própria fonte de mel? O que aconteceria se uma abelha fosse da mesma composição do mel? O que aconteceria se uma abelha pudesse viver sem mel?
Variáveis outras relações entre a abelha e o mel poderiam ser feitas.
O padrão que se repetiria, independentemente de quantas variáveis sejam essas relações, seria que uma abelha poder ou não se relacionar de uma maneira diferente com o mel pode ser indiferente para aquelas que já se relacionar com o mel de acordo com a estrutura interna já instaurada e adaptada; para viver coletando, defendendo, alimentando a rainha, vivendo e morrendo pelo mel.
Se a estruturação interna foi o elemento que possibilitou a comunicação dessa própria estrutura, há inconscientemente um apego muito grande quanto ao que acontece se o desenvolvimento dessa comunicação ultrapassar demais os limites de controle da estrutura interna instaurada.
Uma abelha que coleta, está permitida falar sobre o que colhe. Uma abelha que defende, está permitida falar do que defende. Uma abelha que reina, está permitido falar do que reina (em piores casos se permite falar e calar como e quem quiser).
Se uma abelha que coleta fala com a que defende, o pouco que diferem já as fazem se estranhar. Uma abelha que coleta ou defende, falar com a rainha, mais ainda. Mas uma abelha falar sobre a colmeia como um todo se não é ignorada, é ridicularizada, se não é morta, é feita de palhaça. Imaginem se uma abelha começa a falar que não há somente essa colmeia que vivem, mas também outras colmeias e/ou colmeia nenhuma?
A reação mais instintiva da estrutura interna, o que ironicamente possibilitou a concepção dessas questões, é de insegurança. Visto que empiricamente foi difícil conseguir sobreviver e procriar até então, mais ainda estruturar uma organização interna que funcione para isso. A hipótese de toda essa história ser apenas mais uma dentre tantas outras é assustador quando, em boa parte do processo, a glória e o desespero era de apenas conseguir sobreviver e procriar como se fossem as únicas coisas a serem feitas até então e o mais curioso, como se fossem únicos por fazerem isso. Se a estrutura interna pouco conseguia fazer apenas isso, o que é de se esperar ao ouvir que há muito mais.
Se gerações e gerações de abelhas nascem e morrem para coletar e defender mel, o que seria disso se o mel for só mel e a colmeia só uma colmeia? Como justificar para essa estrutura interna que rege vidas inteiras, que o desenvolvimento de sua existência fez com que percebessem que não são os únicos que vivem. Retirando completamente o caráter de autonomia e controle que experimentava ao conceber apenas as circunstâncias que conseguiam sobreviver. Essa consciência traz responsabilidade aos atos cometidos pela colmeia para atingir as únicas coisas que conhecia até então, pois, tendo em vista que não são as únicas coisas que existem: quais demais coisas que existem e como elas se relacionaram com o que foi feito para que essa consciência atual exista apenas agora?
Título: Isso não tem graça nenhuma
Subtítulo: É serio
Resumo: Uma sátira do academicismo num diálogo entre dois personagens representando respectivamente o conhecimento libertador e o conhecimento autoritário. Duas das formas possíveis que o conhecimento pode agir e ser transmitido para os demais. A sátira busca testar os limites do humor na ética, abusando de estereótipos e contradições enraizadas no modus operandi do meio acadêmico. Na tentativa de relatar como sua estrutura foi inicialmente produtiva e inovadora para a construção de bases consistentes dum conhecimento sistemático passível de ser transmitido de geração para geração e assim haver um aprimoramento exponencial ao decorrer do tempo; garantindo que não será necessário partir do zero absoluto para reinventar a roda. Porém, a lógica que esse método tanto consagra e valoriza foi corrompida e inverteram-se, assim, as condições básicas para todo raciocínio: a causa e o efeito. Ao invés de investigar as causas para assim compreender os efeitos, o método passou a basear-se em alguns modelos de efeitos já compreendidos para justificar as causas do método, não mais sustentadas por nossa inclinação natural ao querer conhecer, mas sim, pela imposição dum conhecimento que quer inclinar os demais para uma método que se mostra cristalizado no tempo e separado do espaço ao ensinar sem transmitir a origem e os motivos desse ensinamento ser relevante para o interlocutor. A sátira busca, através do humor, relatar e contrapor perspectivas vividas e sofridas por aqueles que convivem diariamente com tal procedimento, contra todas as expectativas duma educação que atrofia a expressividade, a expressão é o ponto primordial do texto, que rompe com os modelos criticados ao mesmo tempo que os transmite de forma lúdica como o método é ensinado atualmente e convida ao interlocutor a repensar se o método está realmente comprometido ou necessita apenas de uma atualização histórica.
Palavras-chaves: conhecimento; método; tema; tese; hipótese; resumo; introdução; desenvolvimento; argumento; conclusão
Leia o artigo completo clicando aqui
“O corpo hidrópico”
- “... desde a primeira pegada do homem na lua a humanidade deseja cada vez mais conhecer os limites de sua capacidade, até onde seu intelecto pode chegar? Já mestres na manipulação da matéria, muitos poderiam considerar a regeneração de tecidos e órgãos através da nanotecnologia um marco sem igual, porém hoje os mesmos podem mudar suas mentes, pois o que vou apresentar para vocês agora faz com que tudo mude. ” O que acha? Começo assim mesmo?
- Tem mesmo que falar do primeiro passo na lua? Sabe como é, a Terra Firma comprou os direitos autorais da “primeira” pegada. Além do mais depois da crise de 2022 ela perdeu muita credibilidade, os credencialistas não vão gostar.
- Dane-se os credencialistas George! Depois da fraude dos regulamentaristas os politivistas estão de olho neles. Além do mais isso está além de quaisquer “-ista”. Esse é nosso presente para humanidade, cada de nós, não importa que “-ismo” siga.
- Tudo bem, tudo bem, também não vai ser agora, um dia antes da exibição que voltaremos atrás.
***
No dia seguinte…
- As famílias do mundo todo reunidas em frente a tela para presenciar, de alguma maneira, esse momento tão vangloriado, mas também, questionado por parte da população. O primeiro teleporte acontecerá às 17h de hoje no Centro de Demonstrações Cientificas Credenciadas, patrocinado pelos credencialistas. Mesmo com os diversos processos judiciais para que os experimentos não procedessem com corpos hidrópicos clonados, o cientista Yuan Hikiro com a ajuda do empresário e articulador político George Calásse, conseguiram a benção do estado após Calásse fechar um acordão com os credencialistas para que inclinassem seus votos da câmara ao seu favor. A oposição acusa dessa negociação ter proporções maiores do que as declaradas ao estado. Nesse momento há protestos acontecendo em frente ao CDCC, estamos aqui com um dos militantes:
- Por que estão reunidos aqui hoje?
- Os credencialistas não podem tomar uma decisão tão impactante em nossos estilos de vida sem que haja um consenso entre todos os envolvidos, ou seja todos nós. Não sabemos ao certo do que somos feitos, como saber o que será teleportado para o outro lado?
- Logo ao lado há outro grupo de manifestantes, vamos até eles.
- Por que estão reunidos aqui hoje?
- Para que tanto alarde e investimento para uma tecnologia que será acessível apenas a 13% da população quando há obras de uso público e diário que estão inacabadas e vidas são perdidas no pronto socorro por falta de equipamentos básicos? Não há necessidade de termos pressa para esse teleporte.
- Ando em meio esses vários grupos e nem todos estão aqui para protestar, alguns vieram acompanhar mais de perto esse momento que consideram marcante em suas vidas.
- Por que estão reunidos aqui hoje?
- A, meu pai sempre foi fã de Star Treck e eu cresci vendo Spoke e os integrantes da Interprise serem teleportados de sua nave para a superfície de outro planeta e tudo aquilo era muito absurdo na época. Falavam que eram coisa de ficção-científica, mas sempre fiquei maravilhado com aquilo, não achei que fosse viver para ver tal coisa. Estou muito feliz de estar aqui hoje.
- É parece que cada um tem seu motivo para estar aqui hoje, não é mesmo, Willian? – Termina dizendo o nome do âncora para sinalizar a passagem de sua de sua fala para o mesmo. A imagem corta para Willian e, acompanhando os olhos que não vê, diz:
Leia o texto completo clicando aqui
As palavras quem se encontram nas linhas formam sentidos, sentidos inscritos num diálogo que começou desde que aprendemos nos comunicar. Há escritos sobre o que já foi descoberto, mas há quem escreva para descobrir algo. Esses ousam perturbar seus possíveis leitores com a sensação de serem cobaias de um experimento literário insano, mas que visa tratar aqueles que entram em contato com esse procedimento terapêutico. Dizem que o papel aceita tudo, mas qual o papel daquele que escreve? Aceitar tudo que lhe vem em mente? Se deixar levar por uma escrita automática? Seja qual for a motivação, se parte de si, o ato de escrever ao ato de escolher. A folha em branco não é uma possibilidade, são todas em potencial, dessas infinitas possibilidades cabe o escritor responder a pergunta: qual delas vale o risco? Qual trajetória traçar? O que revelar sobre essas imagens dentro de nossa cabeça? As escolhas das palavras para se expressar diz mais da pessoa que se expressa do que das palavras escolhidas.
Aquele que escreve conversa consigo e com o mundo, faz a ponte entre o que é e o que pode existir. Mas a escolha, ao mesmo tempo que nos proporciona liberdade, também nos impõe uma responsabilidade sobre cada decisão a ser tomada. Você pode criar e destruir mundos inteiros, pode recitar como foi a origem dos tempos ou projetar o discurso final antes do apocalipse, desde que sustente suficientemente essa ideia, que consiga através desse conjuntos de relações transmitir imagens. Para isso é necessário se projetar nas cenas e registrar as vivências daqueles que existem apenas a partir disso.
Qual melhor forma de um escritor que se forjou a partir da escrita relatar sua historia de vida e sua relação com as palavras se não por essas mesmas? Sartre em seu livro "As palavras" relata sua trajetória desde a infância, conta sua relação com o sigo, com o mundo, as pessoas e a linguagem. Formou-se pela linguagem e chega até a tomar o mundo por ela, vivendo por trás de papeis armado pela sua pena sempre inquieta entrega em cada linha o melhor e o pior de si.
Leia o texto completo clicando aqui