O grupo de pesquisa CRITICAL nasceu da necessidade de se construir um núcleo de pesquisa e formação docente em ensino crítico de línguas. Temos como base a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), mas contamos com a colaboração de pesquisadores de outras várias instituições (UFOPA, UFSC, IFSC e IFC). O grupo reúne também pesquisadores em formação inicial, os quais desenvolvem projetos e pesquisas de conclusão de curso.
O fio condutor da nossa atuação como pesquisadores tem relação com o paradigma crítico de ensino de línguas, o que inevitavelmente nos posiciona em um lugar de elaboração de uma práxis cujo objetivo mais fundamental é projetar uma educação libertadora e democrática.
O ponto de partida para situarmos a nossa discussão acerca do ensino crítico de línguas é justamente aquilo que nos parece o princípio conceitual mais fundamental da nossa práxis: a concepção de língua como prática social, a qual nos referimos como discurso. É, portanto, essa chave que nos orienta para uma investigação sobre língua, cultura, identidades e práticas de ensino e aprendizagem de línguas.
Construímos nossa base conceitual sobre discurso como prática política e ideológica. Trata-se de uma prática política já que configura, mantém e transforma as relações de poder e as entidades coletivas, como classes, blocos, comunidades e grupos, por exemplo. Trata-se também de uma prática ideológica pois "constitui, naturaliza, mantém e transforma os significados do mundo de posições diversas nas relações de poder" (FAIRCLOUGH, 2008, p. 94).
Já que somos seres discursivos, podemos, então, concluir que somos igualmente políticos e ideologicamente situados. Esse olhar crítico para a nossa realidade como uma construção discursiva nos permite desconfiar daquilo que é posto como "natural", "convencional" ou "normal" e elaborar novas ordens sociais.
Outro ponto de discussão importante para a justificativa desse grupo de pesquisa diz respeito ao próprio sentido do termo “crítico”, o que inclusive dá origem ao nosso nome. O nosso sentido de "crítico" fundamenta-se no legado de Paulo Freire, cujo projeto de educação pressupunha um enfoque crítico como condição elementar para a conquista da liberdade. A partir da obra de Freire, entendemos que a conscientização é o primeiro passo requerido da práxis, ou seja, é através da relação dialética entre teoria e prática, mediada pela reflexão crítica, que podemos alcançar a transformação social.
Em linhas gerais, o "crítico" se refere à possibilidade de nos envolvermos em práticas discursivas que desafiem aquelas de ordem dominantes e convencionalizadas. Para fazer isso, de acordo com Luke (2005), é necessário um esforço de reposicionamento. Precisamos sair de nossos próprios centros para experimentarmos a posição do outro, e esse processo de construção de alteridade acontece através do distanciamento ou estranhamento de discursos dominantes. Luke (2005) aponta que há duas maneiras de se olhar para o crítico – como uma atividade analítica cognitiva, textual, desconstrutiva e intelectual, bem como uma atitude política incorporada ou alteridade. Em ambos os casos, é necessário estranharmos o mundo ao nosso redor, estranhamento este que acontece a partir do momento em que experimentamos nos posicionar num outro espaço político, epistemológico e discursivo. A partir dessa compreensão, nos tornamos seres críticos ou vislumbramos uma conscientização crítica a partir do momento em que temos acesso a uma multiplicidade de discursos e os exploramos sistematicamente como construções textuais diversas, compreendendo-os a partir de práticas de desleituras. É, portanto, a partir dessas considerações que traçamos aquilo que compreendemos por termos como "criticidade", "ser crítico" ou "ter consciência crítica".
Ante o exposto, o grupo de pesquisa CRITICAL tem como objetivo (1) ocupar-se pela educação crítica de professores de língua em formação; e (2) desenvolver pesquisas qualitativas que colaborem com o cenário de ensino crítico de línguas no Brasil.