"Se não faz sentido
Discorde comigo
Não é nada demais
São águas passadas
Escolha outra estrada...."
As análises desta página seguem critérios éticos claros. Saiba mais em: Nossa Perspectiva nas Análises Eleitorais de Rio do Sul/SC (e do Alto Vale).
Bolsonaristas na Havan de Rio do Sul, descontentes com o resultado eleitoral, reagindo contra a desobstrução da BR-470 por parte da PF.
Rio do Sul, Fevereiro de 2023
Me encorajei a escrever de novo sobre a política riosulense. Minhas atividades agora não permitem que disponha mais de tanto tempo para analisar dados eleitorais da cidade.
Em muitas das análises sobre as eleições de 2018 e 2020 apontei que o fenômeno bolsonarista, ou o crescimento de uma nova direita no Brasil, foi responsável por um enfraquecimento de forças políticas "tradicionais" (atente-se às aspas) da política riosulense.
Ao fim desse texto, apresento uma lista, com uma breve descrição de análises acima citadas.
O alvo óbvio inicial é a esquerda, muito fragilizada no país entre 2013-2018 e que segue fragilizada em uma cidade que adotou o bolsonarismo (como se vê na imagem acima) fortemente à nível nacional. Embora, a esquerda só tenha obtido certo relevo na cidade na primeira década do século XXI, o momento atual é de coadjuvante.
Mas e a força política central da cidade no período 2004-2020? Essa foi uma das que mais sentiu. O miltismo e seus representantes sofreram derrotas ou vitórias por margem apertadas em virtude do voto fiel ao bolsonarismo, ou seja, em detrimento do voto tradicional no candidato da região. Mesmo no nível de cargos executivos às vitórias não são mais tão simples de se obter e o discurso anti-corrupção e das pautas morais tem penetrado nas disputas municipais em vez do tradicional recall da gestão anterior (como no pleito de 2016, por exemplo).
É óbvio que os políticos tradicionais não vão admitir, mas suspeito que no fundo, não queriam que um cara em casa mandando mensagem no "Zap" vença eleições ao invés deles que investem em campanhas numa lógica tradicional. Isso não vale só para os esquerdistas e os miltistas, outras forças não exatamente bolsonaristas, mas mais alinhadas a um fenômeno mais amplo da nova direita.
O Partido Novo não consegue crescer tanto na cidade, suspeito, por ter que disputar espaço com outros atores de direita e o bolsonarismo é um desses. O mesmo vale para Jaime Pasqualini, adotando discurso anticorrupção e de gestão inteligente, foi um bom rival no pleito de 2020, mas como deputado estadual não conseguiu decolar.
Quatro anos de governo e uma campanha ferrenha atrelado ao número 22, fez com que vários eleitores privilegiassem o número em detrimento de escolher um candidato local. O número 22 foi um atalho para aqueles que desejassem mostrar o quanto apreciam Bolsonaro em todos os votos. Assim, mesmo não tendo um candidato local, o PL (22) recebeu muitos votos na cidade, votos que podiam ir para candidatos da região.
O voto é soberano e não nos cabe julgar o eleitor.
Se ele prefere que seu voto seja destinado à uma sigla que representa seus ideias, embora distante geograficamente, em vez de uma candidato não tão próximo ideologicamente e da mesma cidade/região isso é perfeitamente legítimo e cabível na nossa legislação em que o distrito eleitoral é o estado todo.
Para verificar uma atualização dos efeitos dos bolsonarismo em políticos ditos tradicionais escolhemos três candidatos ao cargo de deputado estadual oriundos de Rio do Sul para comparar com os votos destinados à sigla PL (22) de Bolsonaro. O PL, que não tinha candidato na cidade, mas recebeu uma expressiva votação
Jaime Pasqualini (União Brasil) já foi deputado estadual, reitor da universidade e foi candidato a prefeito derrotado em duas ocasiões, na mais recente, em 2020, obteve expressiva votação quase obtendo a vitória.
Marcos Zanella (NOVO) é até hoje o vereador com maior votação na história da cidade.
Gerri da Consoli (PSD), empresário apoiado por Milton Hobus, maior expoente político da cidade desde 2004.
Abaixo se vê abaixo uma comparação inicial, com a lista dos mais votados:
Mesmo não tendo nenhum candidato da cidade, O PL (22) ficaria em segundo lugar na cidade. Quase 14% dos votos. São 6.068 votos que poderiam ir para os candidatos da cidade.
Fonte: TRE/SC. Na tabela acima consta os mais votados para deputado estadual na cidade de Rio do Sul em 2022.
Os candidatos do PL individualmente não são tão fortes, ficam próximos de figuras locais de centro e de esquerda como Preis, Stramosk e Comper. Mas juntos são muito fortes.
O foco aqui é compreender como esses mais de 6000 votos são distribuídos.
Uma ideia é compará-los com a distribuição de Gerri, Pasqualini e Zanella. É isso que fazemos a seguir.
Tendo em mãos a distribuição dos votos na cidade por seção eleitoral, é possível vislumbrar se distribuição é semelhante.
Basta rodar um teste de correlação de Pearson:
quanto mais perto de 1 mais parecida é a distribuição, ou seja obtém mais votos exatamente onde o outro é mais bem votado;
quanto mais perto de -1 mais oposta é a distância, ou seja obtém mais votos exatamente onde o outro é menos votado;
e próxima de 0, não se relaciona, ou seja obtém mais votos onde o outro é nem mal e nem bem votado.
Poderemos então verificar se os 3 mais votados da cidade recebem votos nos mesmos locais daqueles que votaram 22.
A maior votação de GERRI é localizada em locais diferentes das maiores de Zanella e Pasqualini. Esses por sua vez recebem mais votos em locais relativamente similares.
E os votos pro 22? Em lugares em que em tanto Zanella, quanto Gerri e Pasqualini obtém desempenho mediano.
veja os gráficos de correlação mais completos, caso queira aqui
Utilizando de técnicas de redução de dados (Análise dos componentes principais) é possível criar um cenário de comparação em dois eixos. Onde ficará ainda mais clara essa relação:
Pedimos ao software que encontra-se a melhor combinação possível para as 4 distribuições e ele sugere dois eixos. O primeiro eixo RC1 é o da política local e separa as seções (pontos pretos) em mais pró Gerri ou pró Pasqualini/Zanella. O segundo eixo RC2 é o eixo NACIONAL, perceba como a maior parte dos pontos pretos está mais próxima da distribuição dos votos no PL.
Em Suma, a localização dos nomes indica duas coisas principais:
Zanella e Pasqualini se "atrapalham". Ocupam quase o mesmo espaço no gráfico, se unissem forças seriam possivelmente mais fortes.
Tanto a "dupla" acima citada como o candidato miltista não conseguem ocupar o espaço do 22. Isso fica claro aqui. Portanto, o voto bolsonarista segue sendo uma pedra no sapato dos políticos tradicionais.
O gráfico acima replica os mesmos achados e encontra:
os votos do PL seguem a mesma lógico dos de Bolsonaro.
Do lado oposto está o minoritário, mas não totalmente irrelevante, voto de esquerda (observe como são parecidas as distribuições de Jean de Liz (PDT, para prefeito) em 2020, Rodrigo Preis em 2022 (candidato a deputado estadual pelo PT, de Rio do Campo) e de Lula (PT) a presidente em 2022.
Gerri da Consoli continua povoando um lado da divisão local, e seus votos replicam a distribuição dos votos do prefeito Thomé em 2020.
Os votos do candidato a prefeito em 2020 e a estadual em 2022 de Pasqualini, são tão parecidos em termos de distribuição, que nem dá pra ler os nomes direito. O mesmo ocorre com o candidato Zanella.
Voto em outros candidatos a presidente se assemelham ao quarto e quinto colocado do pleito municipal de 2020.
Os votos de Pasqualini/Zanella e Gerri estão bem no meio da força bolsonarista.
Em suma, é muito provável que o Bolsonarismo, ou seja o voto ideológico, ao invés do "geográfico", continue a impactar as eleições de Rio do Sul.
Fim da história:
nem Gerri, nem Pasqualini e nem Zanella se elegeram. O PL ganhou a maior bancada da ALESC.
No entanto, repito que :
"Se não faz sentido. Discorde comigo. Não é nada demais"
E reitero que o que se tem aqui são achados preliminares e ainda não conclusivos. APRESENTAMOS AQUI REFLEXÕES INTERESSANTES PARA SE PENSAR SOBRE COMO ELEGER MAIS DEPUTADOS DE NOSSA REGIÃO
OBS:
A citação do início texto é:
Trecho da canção: Não olhe pra trás de Capital Inicial
Compositores: Arnaldo Lima / Fernando Ouro Preto
Ouça a mesma no SPOTIFY
O Bolsonarismo continua uma pedra no sapato?: Parte 2 - Miltismo
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