Hoje vamos comparar a votação em votos válidos de Lula nos primeiros turnos de 2006 e 2022 nas 28 cidades da microrregião do Alto Vale. Será uma boa oportunidade para ver o quanto se modificou o voto no principal nome do petismo em uma região altamente bolsonarista. Em outra ocasião, comparamos a votação de Bolsonaro de 2018 x Bolsonaro 2022, clique aqui para ler caso ainda não tenha lido. Acredito que a leitura do que se segue flui melhor se ler a comparação Bolsonaro x Bolsonaro, mas isso é só uma sugestão.
Em suma, ver o Lulismo no Alto Vale antes e depois do alvorecer do Bolsonarismo é oportunidade que a essa comparação permite. Convém, entretanto, ressaltar que essa comparação é com dados de cidade e não de seções, que é mais confiável. Portanto, cabe essa ressalva. Veja os achados com cautela!
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Vou partir do suposto que o leitor já tenha alguma familiaridade com os termos que usarei a seguir - correlação e p-value-, caso você não tenha essa segurança, é sugerido que leia a análise Bolsonaro 2018 x Bolsonaro 2022, a primeira da série eleições 2022 onde explico com mais detalhamento.
Iniciamos nossa caminhada pela tabela 1 :
Lula teve mais votos em 2022 em somente 4 das 28 cidades da região. Mesmo tendo constatado na primeira análise que Bolsonaro caiu um pouquinho na região, o efeito do bolsonarismo ainda é muito forte e o PT parece longe de alcançar o tamanho que tinha na região em 2006.
No que se segue, vamos analisar as relações entre Lula 2002 e Lula 2006, bem como a variável ‘Y’’. Mas o que é ‘Y’?
‘Y’ = Lula 2022 - Lula 2006
A tabela 2 é a primeira aproximação mais própria do problema. Analisamos as médias de votação 2006, 2022 e ‘Y’ - ou seja os valores das colunas 2,3 e 4 da tabela somados e divididos por 28(o número de cidades). Analisamos também a votação de Lula em Santa Catarina nas duas ocasiões.
Nossos 28 municipios são historicamente de direita, como você pode constatar na tabela 2 e em mais análises de eleições anteriores nesse site. A força do bolsonarismo na região tem efeito direto na base lulista que já era fraca e se enfraqueceu ainda mais. Além disso, a região é, em média, ainda mais bolsonarista que um dos estados mais bolsonaristas do país: Santa Catarina.
Por que escolher o primeiro turno e não o segundo?
Por que o voto no segundo turno é mais de rejeição,o “menos pior”. Já no primeiro, temos um voto mais convicto, dado que as opções são em maior número.
A média foi de redução de 'Y'. A seguir, vamos analisar essa variável de forma mais profunda.
Um primeiro teste de correlação que dá pra fazer é entre o Lula de 2006 e o de 2022 tendo os 28 casos (cidades) como unidade de análise. É o que se segue abaixo:
Vimos na última postagem desse site que onde Bolsonaro foi bem em 2018 é um bom indicativo de onde foi bem em 2022. Será que o mesmo é verdade em relação a Lula 2006 x Lula 2022.
Acima vê-se que sim, mas mais moderadamente do que a comparação Bolsonaro 2018 x Bolsonaro 2022 (lá deu 0,89 de ‘cor’)
Com uma técnica de regressão é possível prever o efeito de Lula 2006 em Lula 2022. Com base nessa técnica, previmos (para as 28 cidades) que cada 1% em 2006 prevê 0.45% a mais em 2022.
O R2 é uma medida que descreve o quanto uma regressão descreve da variável analisada. Na primeira análise desse site sobre as eleições de 2022, apresentamos um modelo de regressão simples que visava observar o quanto Bolsonaro 2018 explica a variação nas 28 cidades do voto em Bolsonaro 2022, o valor vai de 0 a 1(quanto mais perto de um maior poder explicativo). Nessa análise o valor obtido foi de 0.69. No modelo em que Lula 2006 "explica" a variação intermunicipal de Lula 2022, o valor de R2 obtido foi de 0.23.
Ou seja, Lula 2006 prevê com menor exatidão Lula 2022, do que Bolsonaro 2018 prevê Bolsonaro 2022. Talvez a distância no tempo explique essa diferença.
Outro modo de ver essa relação é destacar que mesmo passando tantos anos os municípios ainda apresentem padrões que se assemelham moderadamente entre 2006 e 2022.
A título de curiosidade também vamos tentar entender o que explica a diferença de uma eleição para outra. Ou seja o valor da subtração 'Y'
Vamos tentar ver se há alguma relação com 2 atributos: tamanho da cidade e área rural para a cidade ter reduzido ou aumentado 'Y'.
Verificamos com simples testes de correlação os 2 atributos:
O p-value em ambos os casos é insatisfatório (não é menor que 0,05). Não dispomos de segurança para analisar os efeitos positivo para Área Rural (menor diferença) e negativo para Tamanho da Cidade (maior diferença). O que motiva as cidades a terem maior ou menor ‘Y’ é algo que esses simples dados comparativos não conseguem captar. Minha hipótese é que as cidades mais bolsonaristas em 2018, foram menos afetadas pelo efeito de queda geral da votação em Bolsonaro. É isso que o gráfico abaixo mostra:
Ainda que não tenha sido um grande resultado, passou no p-value e mostrou uma correlação maior. Mostrando que o caminho talvez seja por essa via. Ou seja, de forma moderada concluímos que municípios com maior votação em Bolsonaro em 2018 tendem a ter a diferença Lula 2022 - Lula 2006 maior e negativa.
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