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CADERNOS DE HISTÓRIA - UFPE

Dossiê: Aspectos de História da Ásia

v. 12, n. 12 (2017)

Parece difícil acreditar que, em pleno 2018, o campo de pesquisas relativas à Ásia ainda seja considerado algo quase exótico no Brasil. O presente Caderno de História da UFPE tenta prestar contas de tentativas para abrir novas perspectivas a este respeito. Embora haja vozes, inclusive na academia, que insistem na dificuldade ou mesmo impossibilidade de conduzir estudos a respeito de quase todos os assuntos que fogem à dualidade Europa Ocidental e América - com o nobre acrescimo, muito recente, do campo dos Estudos Africanos - novos horizontes se oferecem em várias universidades. Os obstáculos invocados - falta de acesso à historiografia e à documentação, e os idiomas (como o Chinês e o Japonês, por exemplo) dominados por poucos pesquisadores brasileiros – só podem valorizar os estudiosos que respondem ao desafio...

Capa: Mateus Samico

"Mapa chinês do hemisfério oriental", 1799. David Woodward and J.B. Harley (editors),

The History of Cartography: Traditional East and Southeast Asian Societies (Vol. 2, Book 2), 1995.

Link: https://periodicos.ufpe.br/revistas/cadernosdehistoriaufpe/issue/view/2675


A Leste Vermelho - revista de estudos críticos asiáticos é uma revista acadêmica semestral de Estudos Asiáticos que publica artigos, resenhas e traduções nas áreas de História Social, História Econômica, Ciências Sociais e Artes. Os textos publicados na Leste Vermelho abordam análises sociais, econômicas, históricas e de obras artísticas, participando de debates sobre a história dos Estados socialistas na Ásia, revoluções, movimentos sociais, gênero, cultura, crítica da integração de países asiáticos ao sistema capitalista contemporâneo. A Leste Vermelho é uma revista de origem acadêmica, mas objetiva difundir e divulgar estudos que sejam pertinentes às problemáticas sociais atuais também em outras instâncias que não a universidade, por isso procura publicar também artigos de divulgação que aliem o rigor acadêmico a uma linguagem acessível aos ativistas sociais.

Volume I Volume II Volume III Volume IV

Mulheres no Movimento Revolucionário Chinês (1839 - 1949) - A China possui uma cultura de brilho inesgotável que suscita muito interesse. Sua civilização milenar se soma à importância geopolítica da nação mais populosa do mundo. Estudar aspectos peculiares dessa história pode ajudar a entender uma realidade desafiadora. Destinado aos estudantes, bem como a um público mais amplo, o presente livro constitui uma incitação à leitura sobre a história contemporânea da China.

A abordagem escolhida enfoca as informações sobre as mulheres, e mais exatamente, sobre aquelas que participaram do movimento revolucionário. Pois tiveram um papel considerável nas transformações que afetaram a China nos séculos XIX e XX. Da mesma forma que se pode escrever uma história econômica, política ou militar – diga-se de passagem, quase sempre no masculino! – parece interessante, por uma vez, orientar os holofotes sobre heroínas famosas, ativistas políticas conhecidas ou camponesas, operárias e estudantes (cujos nomes foram esquecidos) que construíram, tanto quanto seus companheiros, a China atual.

A condição das chinesas, sobretudo das camponesas, conheceu, no século XX, uma mudança sem precedente. De um lado, em razão da melhoria da situação das populações rurais em geral; do outro, em virtude de modificações específicas, fruto da contribuição da metade feminina da população às lutas sociais.

Mulheres participaram das grandes rebeliões camponesas do século XIX, bem como das organizações contra a dinastia manchu. Alunas secundaristas e estudantes, organizaram grupos de estudo e trabalho para “Salvar a nação e o mundo”. Animaram as grandes manifestações nacionalistas contras as potências que tratavam a China como “semi-colônia”. Operárias, fizeram greve em massa nas indústrias urbanas. Construíram a República soviética chinesa e tomaram parte na Longa Marcha. Camponesas de todas as idades foram essenciais na condução da resistência contra o Japão e, depois, contra Chiang Kai-shek e seus aliados norte-americanos, apoiando as tropas comunistas e aliadas, informando-as sobre os movimentos do inimigo, organizando a população, o abastecimento, cuidando dos feridos, evacuando os civis frente aos ataques e bombardeios. Ocasionalmente, pegavam em armas nas milícias. Sustentaram também a economia das zonas liberadas, assumindo o lugar dos homens no campo, revivendo as manufaturas tradicionais, particularmente têxtil que fora desmontada pelas importações impostas pelas potências estrangeiras. Em todas as situações, sofreram as medidas extremas de repressão que todos os governos reacionários deslancharam contra os movimentos progressistas.

Essa rica experiência histórica, de infinita variedade na sua dimensão humana, nos toca; longínqua espacial e culturalmente, parece, contudo, muito próxima nas suas preocupações, aspirações, emoções.

Christine Rufino Dabat (Professora no Departamento de História da UFPE) Livro Texto 3, Recife: Editora Universitária da UFPE, 2006.