Tô Ryca Crítica

Que as comédias são o carro-chefe do cinema brasileiro, ao menos em relação a público, isto não é novidade. Entretanto, nos últimos tempos o gênero vem passando por uma certa subdivisão, de olho em atingir determinado público específico. Tô Ryca atinge justamente este interesse, já que dialoga diretamente com as classes C e D, as mesmas que passaram a frequentar o cinema com mais assiduidade nos últimos anos.


Tô Ryca - Poster

Tal objetivo fica muito explícito logo na abertura, onde várias peculiaridades da classe mais pobre são ressaltadas. Dos problemas de transporte nas grandes cidades ao modo de se vestir e agir, a personagem de Samantha Schmütz é o reflexo de seu público-alvo - e, talvez por isso, provoque a imediata ira nos mais radicais. Tô Ryca também oferece a Samantha a aguardada oportunidade de enfim ser protagonista, após tantas participações coadjuvantes na tela grande - e, no fim das contas, ela é um dos poucos motivos para sorrir no longa-metragem.


Completamente à vontade em cena, Samantha constrói sua Selminha de forma bem descontraída. Frentista em um posto de gasolina, ela é surpreendida com a notícia de que um tio milionário lhe deixou R$ 300 milhões como herança, mas apenas se cumprir a tarefa de gastar R$ 30 milhões em apenas um mês. Detalhe: não pode ter bens em seu nome e possui uma taxa de apenas 5% para doações e jogos de azar. Ou seja, o objetivo da missão é realmente abrir a carteira e gastar à vontade.


Se a missão designada pelo tio é o estopim da saga da "pobre menina rica", que tem dinheiro à vontade e aos poucos percebe que nem tudo na vida é possível comprar, por outro lado escancara a fragilidade do roteiro, escrito por Fil Braz (Minha Mãe é uma Peça). Existe uma imensa lacuna sobre a motivação que o tal tio teria para propôr um desafio do tipo, assim como certas transições da vida de Selminha são extremamente bruscas - é o que acontece com sua entrada e saída da política, ambas apresentadas de forma repentina. Sem falar no fato de que, mesmo com tal desafio, havia um jeito fácil de cumpri-lo: bastava viajar mundo afora e se hospedar nos hotéis mais caros de cada cidade. Só que, neste caso, não haveria filme.


Diante de tais características, resta a Tô Ryca beber da mesma fonte de Vai que Cola e Um Suburbano Sortudo, no sentido de explorar os conflitos morais e de comportamento entre classes sociais. A sequência na boate, onde uma patricinha interpretada por Fiorella Mattheis reclama do funk, é o melhor exemplo deste confronto pré-estabelecido, que surge também na tentativa de golpe aplicada pelos banqueiros e no próprio conflito nos personagens de Fabiana Karla e Marcus Majella. O dinheiro corrompe, é a mensagem transmitida, baseando-se também na ideia de que a honestidade é intrínseca aos mais pobres.


Tô Ryca - Foto

Curiosamente, é no confronto entre ricos que Tô Ryca enfim diz a que veio. A disputa política entre Selminha e Falácio (Marcelo Adnet, bem caracterizado), um típico político conservador associado a feudos religiosos, traz momentos divertidos que refletem bem a atual composição política do Brasil. Afinal de contas, o jeito escrachado e descrente de Selminha é bem parecido com o de candidatos como Tiririca, cuja plataforma se baseia mais na tragédia atual da política nacional do que em qualquer proposta. O mesmo vale para o personagem de Adnet, que, por mais que seja estereotipado, pode ser perfeitamente associado ao crescimento da bancada evangélica.


Bastante caricato e com enquadramentos tipicamente televisivos, Tô Ryca se sustenta apenas no carisma de Schmütz e nesta vertente política, pelo reflexo do Brasil atual. Por mais que não seja uma comédia original nem muito elaborada, ao menos não ofende o espectador - e isso, em meio a péssimos filmes como os coirmãos Até que a Sorte nos Separe e Um Suburbano Sortudo, já é algo a comemorar.Que as comédias são o carro-chefe do cinema brasileiro, ao menos em relação a público, isto não é novidade. Entretanto, nos últimos tempos o gênero vem passando por uma certa subdivisão, de olho em atingir determinado público específico. Tô Ryca atinge justamente este interesse, já que dialoga diretamente com as classes C e D, as mesmas que passaram a frequentar o cinema com mais assiduidade nos últimos anos.




Tô Ryca - Poster


Tal objetivo fica muito explícito logo na abertura, onde várias peculiaridades da classe mais pobre são ressaltadas. Dos problemas de transporte nas grandes cidades ao modo de se vestir e agir, a personagem de Samantha Schmütz é o reflexo de seu público-alvo - e, talvez por isso, provoque a imediata ira nos mais radicais. Tô Ryca também oferece a Samantha a aguardada oportunidade de enfim ser protagonista, após tantas participações coadjuvantes na tela grande - e, no fim das contas, ela é um dos poucos motivos para sorrir no longa-metragem.




Completamente à vontade em cena, Samantha constrói sua Selminha de forma bem descontraída. Frentista em um posto de gasolina, ela é surpreendida com a notícia de que um tio milionário lhe deixou R$ 300 milhões como herança, mas apenas se cumprir a tarefa de gastar R$ 30 milhões em apenas um mês. Detalhe: não pode ter bens em seu nome e possui uma taxa de apenas 5% para doações e jogos de azar. Ou seja, o objetivo da missão é realmente abrir a carteira e gastar à vontade.




Se a missão designada pelo tio é o estopim da saga da "pobre menina rica", que tem dinheiro à vontade e aos poucos percebe que nem tudo na vida é possível comprar, por outro lado escancara a fragilidade do roteiro, escrito por Fil Braz (Minha Mãe é uma Peça). Existe uma imensa lacuna sobre a motivação que o tal tio teria para propôr um desafio do tipo, assim como certas transições da vida de Selminha são extremamente bruscas - é o que acontece com sua entrada e saída da política, ambas apresentadas de forma repentina. Sem falar no fato de que, mesmo com tal desafio, havia um jeito fácil de cumpri-lo: bastava viajar mundo afora e se hospedar nos hotéis mais caros de cada cidade. Só que, neste caso, não haveria filme.




Diante de tais características, resta a Tô Ryca beber da mesma fonte de Vai que Cola e Um Suburbano Sortudo, no sentido de explorar os conflitos morais e de comportamento entre classes sociais. A sequência na boate, onde uma patricinha interpretada por Fiorella Mattheis reclama do funk, é o melhor exemplo deste confronto pré-estabelecido, que surge também na tentativa de golpe aplicada pelos banqueiros e no próprio conflito nos personagens de Fabiana Karla e Marcus Majella. O dinheiro corrompe, é a mensagem transmitida, baseando-se também na ideia de que a honestidade é intrínseca aos mais pobres.




Tô Ryca - Foto


Curiosamente, é no confronto entre ricos que Tô Ryca enfim diz a que veio. A disputa política entre Selminha e Falácio (Marcelo Adnet, bem caracterizado), um típico político conservador associado a feudos religiosos, traz momentos divertidos que refletem bem a atual composição política do Brasil. Afinal de contas, o jeito escrachado e descrente de Selminha é bem parecido com o de candidatos como Tiririca, cuja plataforma se baseia mais na tragédia atual da política nacional do que em qualquer proposta. O mesmo vale para o personagem de Adnet, que, por mais que seja estereotipado, pode ser perfeitamente associado ao crescimento da bancada evangélica.




Bastante caricato e com enquadramentos tipicamente televisivos, Tô Ryca se sustenta apenas no carisma de Schmütz e nesta vertente política, pelo reflexo do Brasil atual. Por mais que não seja uma comédia original nem muito elaborada, ao menos não ofende o espectador - e isso, em meio a péssimos filmes como os coirmãos Até que a Sorte nos Separe e Um Suburbano Sortudo, já é alg