19 E 25 DE NOVEMBRO DE 2022

FESTIVAL

CENA NEGRA INDEPENDENTE

MANIFESTO

O Festival surge da urgência em visibilizar a cena negra independente local: aqueles artistas que trazem no corpo suas memórias, que ecoam movimento e som ancestral mesmo tendo que rasgar no dente as sutis e escancaradas faces do racismo.

A Cena Negra Independente é aquela que escurece o palco. Que ultrapasse as coxias, os muros e os lugares de subserviência impostos a séculos a uma única cor: a nossa. A cena negra é a cor, e o movimento em urgência de se apresentar. Ela tem pressa em dar início à seu espetáculo. Não pode mais esperar o momento oportuno, a boa vontade, os editais, o sindicato, as instituições, o marasmos institucionais e nenhuma forma das nunca iniciativas. Ela é corpo: sai das manchetes corpo morto, ganha o corpo vida. E se vive é em estado constante de movimento: que dança, batuca, sente, sonha, geme, grita, vibra, acredita. É de agora e é de antes, muito antes daqui.

Esse é o movimento de retorno à cena, tomando de volta a coroa, e devolvendo à negra arte o protagonismo que nunca lhe deveria ser cortado do roteiro. O corte sangrou. Estamos aqui repletos de feridas, cicatrizadas e entreabertas. Estamos vertendo em cena, sangue, força e suor. Mas estamos aqui, e não iremos sair de cena, fincamos nossas raízes nesse tablado. Para anunciar tudo aquilo que um dia tentaram nos roubar, e todo novo que está por vir.

A vontade que eu tenho é de recriar o mundo. Reinventer a lógica, fazer das trevas o dia e da luz o reflexo de uma noite clara. Quem sabe estando no centro do mundo, pudesse eu, os meus passados, os meus vindouros, estarmos fadados à uma nova sorte. Não sei se o branco é mesmo a união de todas as cores. Nunca me vi ali, e isso só reforça que a minha escuridão é da luz a mais profunda ausência. Já não quero estar fora. Estou no palco. Eis-me no centro de minha própria história. Para vê-la encenada, quem sabe me notar refletido. Quero poder criar uma luz negra, sem as exigências do que já se sabe. Por muito tempo minha luz esteve submetida e subjugada. Quero poder recriar-me a partir de minha própria escuridão.

TEXTO MANIFESTO

ALESSANDRO TERRAS ALTAS

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O FESTIVAL CENA NEGRA INDEPENDENTE acontece nos dias 19 de novembro em Ituiutaba - MG e 25 de novembro em Uberlândia - MG, nos campi Pontal e Santa Mônica da Universidade Federal de Uberlândia.

Idealizado pelo Coletivo Quilombo Teatro, é uma realização da PROAE - UFU, e está inserido na programação do Mês da Igualdade, que conta ainda com uma vasta programação enegrecida.

Ocorrerá nos dias Saguão do RU no Campus Pontal, e no CC - Centro de Convenções, no Campus Santa Mônica, com entrada franca.

ATRAÇÃO PRINCIPAL

ESPETÁCULO AMBRÓSIO

REINADO NEGRO NAS ENTRANHAS DAS GERAIS

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SINOPSE

ATRAVESSA MAR DE SANGUE. ATRAVESSA RIO QUE SALGA. A MEMÓRIA QUE ATRAVESSA DESAGUOU-NOS NAS ENTRANHAS DAS MINAS GERAIS. SURGEM RESQUÍCIOS DO LONGÍNQUO REINADO NEGRO DAS REGIÕES DA SERRA DA MARCELA, COM CAPITAL FUNDADA ÀS MARGENS DO CÓRREGO DO CHUMBADO PELO REI AMBRÓSIO. A NEGRA TRAMA É FRUTO DO LEGADO DO QUILOMBO DO CAMPO GRANDE, UMA DAS MAIORES CONFEDERAÇÕES QUILOMBOLAS DA HISTÓRIA DO BRASIL.

AMBRÓSIO: RECONTANDO O SEGUNDO

MAIOR QUILOMBO DO BRASIL

E MAIOR DE MINAS GERAIS EM CENA

VISIBILIZANDO UM REINADO DE RESISTÊNCIA DO SERTÃO MINEIRO,

SILENCIADO POR MASSACRES, PERSEGUIÇÕES E RACISMO INSTITUCIONAL

RELEASE

“AMBRÓSIO: REINADO NEGRO NAS ENTRANHAS DAS GERAIS” CANTA E CONTA AS REMINISCÊNCIAS DO QUILOMBO DO AMBRÓSIO, OU QUILOMBO DO CAMPO GRANDE, UM DOS MAIORES COMPLEXOS QUILOMBOLAS QUE SE ESTENDEU PREDOMINANTEMENTE NOS TERRITÓRIOS DE MINAS GERAIS, E AINDA GOIÁS E SÃO PAULO; AINDA POUCO PESQUISADO E INVESTIGADO PELA HISTORIOGRAFIA, INSTITUIÇÕES DE ENSINO E PODER PÚBLICO.

OITO ARTISTAS, ENTRE ATORES E INSTRUMENTISTAS, DESEMPENHAM MÚLTIPLOS PAPEIS EM CENA, COM CANÇÕES ORIGINAIS EXECUTADAS AO VIVO NO PIANO, PERCUSSÃO, FLAUTA E VIOLÃO, DE UMA EQUIPE PREDOMINANTEMENTE NEGRA FORMADO PELOS MEMBROS DO COLETIVO QUILOMBO TEATRO DE UBERLÂNDIA – MG.

O ESPETÁCULO SURGE DE UMA EXTENSA PESQUISA E INVESTIGAÇÃO TEATRAL REALIZADA DESDE 2018 PELO GRUPO, À PARTIR DO QUE FOI CONTADO E ATRAVESSADO PELA ORALIDADE, NOS AUTOS DE TOMBAMENTO DO “SÍTIO ARQUEOLÓGICO E QUILOMBO DO AMBRÓSIO” DO IPHAN, NAS CARTAS HISTÓRICAS DA CAPITANIA E OU DA COROA, SABIDAMENTE ADULTERADAS; EM LENDA FANTASIOSA PUBLICADA POR CARMO GAMA EM 1904; EM REGISTROS DE FOLCLORISTAS E NUMA MATÉRIA, “ERA UMA VEZ... UM REI NEGRO” PUBLICADA NO JORNAL “O ESTADO DE MINAS” EM 1948.