A formação histórica de São Paulo começou quando a cidade foi escolhida pelos colonos portugueses como capital da província, devido à sua posição estratégica no planalto, na região dos Campos de Piratininga. A localização favorecia a transposição da Serra do Mar e oferecia boa visibilidade para defesa (MIRANDA, 2002, p 43). A história da Mooca está ligada à sua localização, próxima ao centro histórico e a duas rotas comerciais: o caminho para o porto de Santos e o rio Tamanduateí, utilizado para transporte e abastecimento (MIRANDA, 2002, p 5).
Com a descoberta de ouro em Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso no final do século XVII, São Paulo perdeu parte de sua população, e a economia, baseada na agricultura, entrou em estagnação. Somente no final do século XVIII, com o esgotamento das minas, houve recuperação. A dificuldade no escoamento da produção se devia à localização das terras férteis no interior e ao obstáculo da Serra do Mar (MIRANDA, 2002, p 51).
A chegada da São Paulo Railway em 1867 foi decisiva para a economia da capital, facilitando o escoamento do café do interior até o litoral. A ferrovia impulsionou a ocupação de áreas pouco habitadas a leste do Tamanduateí, promovendo sua transformação em regiões urbanas (MIRANDA, 2002, p 55).
A cidade passou de um núcleo restrito na colina histórica a um espaço em expansão. A mudança da economia de subsistência para a de exportação inseriu São Paulo na divisão internacional do trabalho, liderada pela Grã-Bretanha, exportando café e importando bens industrializados (MIRANDA, 2002, p 55).
Fazendeiros passaram a se aproximar da cidade, deixando de utilizá-la apenas para lazer e adotando-a como local de moradia, aproveitando sua proximidade com o porto de Santos e as oportunidades do comércio cafeeiro (MIRANDA, 2002, p 55).
O crescimento da indústria criou empregos e atraiu muitos imigrantes, gerando expansão urbana, especialmente em bairros como o Brás. Na Mooca, antes formada por propriedades rurais, houve divisão das terras e surgimento de áreas com características urbanas. A proximidade entre moradias e fábricas formou bairros operários (RUFINONI, 2004, p 19).
Imigrantes, principalmente italianos, chegaram ao Brasil com ideias anarquistas, influenciados pelos movimentos operários e pela Revolução Russa. As más condições de trabalho contribuíram para a Grande Greve Geral de 1917, iniciada no Cotonifício Crespi e espalhada por fábricas do Brás (MIRANDA, 2002, p 92).
Na década de 1940, a ocupação industrial ao longo da ferrovia em direção ao ABC uniu bairros operários como Brás, Mooca e Cambuci. Porém, com o crescimento da indústria automobilística e o foco no urbanismo rodoviário, a cidade deixou de investir em transporte de massa. Em 1955, a construção da Rodovia Radial Leste rompeu a conurbação entre esses bairros.
Comparação entre mapas da região da Mooca - antes e depois da construção da Radial Leste
A instalação de fábricas em áreas pouco ocupadas, como antigas chácaras e sítios, moldou o traçado dos bairros, criando quarteirões com fachadas industriais contínuas e sem recuos, característica ainda visível (MIRANDA, 2002, p 6-7).
Na década de 1970, o “Milagre Econômico” impulsionou o crescimento, mas a crise do petróleo e a queda do PIB em 1974 levaram ao II Plano Nacional de Desenvolvimento, que incentivou a interiorização da indústria para cidades como Campinas, São José dos Campos e Sorocaba (CLEPS, 2003, p 69-70).
O interior oferecia terras mais baratas, incentivos f iscais e mão de obra mais acessível, enquanto os custos elevados da capital e as conquistas trabalhistas tornaram a produção mais cara, favorecendo o deslocamento industrial (CLEPS, 2003, p 71). Nos anos 1980, a indústria na capital entrou em declínio.
Na década de 1990, com a globalização e a abertura econômica, produtos importados tomaram o mercado interno, agravando a crise da indústria local. Muitas fábricas foram abandonadas ou passaram a ter usos transitórios, como supermercados e igrejas, enquanto outras foram deixadas à deterioração. A partir dos anos 1980, a Mooca passou por valorização imobiliária devido à sua localização e infraestrutura de transporte. Esse processo provocou a descaracterização do bairro e sua verticalização, fazendo com que sua memória fabril e imigrante fosse gradualmente esquecida (RUFINONI, 2004, p. 54).