Diretrizes e Propostas de Ações Educativas de EP

Nesta página estão reunidas diretrizes e propostas de ações educativas de Educação Patrimonial que os curadores deste projeto propõem para serem desenvolvidas no Complexo Industrial da antiga Maesa. A proposta sempre estará em construção, por isso, convidamos os visitantes do site a utilizarem a seção de comentários do Livro de Visitas para registrarem outras diretrizes e propostas que considerarem importantes.

  1. Diretrizes e ações - Educação Patrimonial

Para a construção destas diretrizes, levamos em consideração estudos e discussões realizadas ao longo da formação no Curso de História da UCS, a partir de referências que estão citadas no final desta página, além de experiências profissionais em instituições e órgãos de preservação do patrimônio cultural que têm a execução de ações de Educação Patrimonial como uma de suas funções.

Partindo do que orienta a mais atual política de Educação Patrimonial em âmbito nacional, expressa na Portaria n.º 137, de 28 de abril de 2016, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), construímos estas diretrizes, complementadas por outras referências teórico-metodológicas sobre o campo. De acordo com a Portaria n.º 137 do Iphan, entende-se por Educação Patrimonial "os processos educativos formais e não formais, construídos de forma coletiva e dialógica, que têm como foco o patrimônio cultural socialmente apropriado como recurso para a compreensão socio-histórica das referências culturais, a fim de colaborar para seu reconhecimento, valorização e preservação."

  • Realizar ações educativas de Educação Patrimonial concomitantemente aos processos de tombamento e de preservação. A comunidade não deve ser apenas informada sobre, mas devem ser criadas condições para que os sujeitos participem ativamente desse processo, de forma individual ou por meio das entidades representativas.

  • Entender a Educação Patrimonial como processo, e não como um produto, ou como mera transmissão de conteúdos e de informações.

  • Levar em consideração os saberes locais e os interesses da comunidade com a preservação, para que crie-se vínculos afetivos e de identidade, além do usufruto integral dos espaços, sem desigualdade e sem distinções de qualquer gênero.

  • Proporcionar uma abordagem crítica com relação ao passado, não reproduzindo a tradição de transmissão de uma história que desconsidera a participação dos trabalhadores na formação da economia, da sociedade e da cultura regional.

  • Criar condições para perceber o mundo criticamente, bem como, perceber-se de forma crítica na sociedade, compreendendo o seu papel como cidadão.

  • Entender e refletir sobre o processo de preservação do patrimônio cultural como um processo político e, por extensão, de construção da cidadania, respeitando-se a legislação atinente ou propondo e debatendo novas políticas públicas de preservação, que atendam as demandas presentes da sociedade.

  • Superar a visão da preservação voltada apenas para as coisas (os bens em si), devendo-se considerar outros valores de preservação, como os valores históricos, cognitivos, formais, afetivos, pragmáticos e éticos do patrimônio cultural, e centrando no usuário (e não apenas no especialista) os sentidos da preservação.

  • Visão participacionista com relação à preservação do patrimônio cultural.

  • Propiciar condições para aproximar a comunidade da história da Maesa, com destaque para os mais jovens, em idade escolar, com o intuito de oportunizar a construção do conhecimento sobre a história do trabalho e dos trabalhadores da fábrica.

  • Promover o registro a memória de ex-diretores e ex-trabalhadores da Maesa constituindo um acervo de fontes orais e visuais que possibilite a construção do conhecimento histórico, e divulgar as produções oriundas desse processo de registro por meio das práticas de História Oral e da História Pública, caracterizadas pelo compartilhamento da autoria com os depoentes.


2. Propostas de ações educativas e produções culturais

  • Memorial. Muitos pavilhões da Fábrica 2 já se constituem em espaços de memória, especialmente aqueles que ainda mantêm os maquinários do período que a Eberle funcionava no local. Com a criação de um Memorial do Trabalho e do Trabalhador, já previsto no Projeto De Intervenção: Recuperação, Ocupação, Uso e Gestão da Maesa, destaca-se aqui a sugestão de que esse espaço de memória tenha um caráter de exposição sensível, trazendo elementos textuais, visuais, sonoros e olfativos, que remetam ao ambiente da fábrica em seu funcionamento. O Memorial também deve promover a acessibilidade, para possibilitar a presença de todos os tipos de público. Propõe-se, ainda, a realização de exposições itinerantes, descentralizando o conhecimento sobre a história da cidade, percorrendo escolas e espaços comunitários nos bairros.

  • Visitas guiadas. Realização de visitas guiadas, presenciais quando as condições sanitárias permitirem, e virtuais, quando o caso de restrições. De forma presencial, as visitas serão acompanhadas por um guia, com roteiro pré-estabelecido, circulando pelos pavilhões e áreas que formavam a Fábrica 2. De forma virtual, as visitas serão realizadas por meio de gravações em vídeo dos espaços que compõem o Complexo Industrial da Maesa, sendo acompanhadas por um guia, que destacará a história dos prédios, da fábrica e dos trabalhadores.

  • Podcast. Roteirização, gravação e disponibilização de um podcast sobre a história da Metalúrgica Abramo Eberle e do Complexo Industrial da Maesa. A proposta se dará com a gravação de entrevistas com ex-trabalhadores da empresa, filhos de ex-empregados e pessoas da comunidade que, de alguma forma, fizeram parte da história da metalúrgica. Os podcasts ficarão disponíveis para acesso por meio das mídias sociais.

  • Mediação com acervos históricos. A ação tem por objetivo realizar a mediação com acervos históricos relacionados a Maesa, especialmente a Coleção Eberle, do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Propõe-se a reprodução de fotografias, jornais, álbuns da empresa e entrevistas realizadas pela instituição para que possam ser manuseadas pelos participantes da mediação. Como síntese desta ação, propõe-se a construção, por cada participante, ou por grupos de participantes, de uma história da Maesa, que pode ser expressa em diferentes linguagens: escrita, visual, oral, etc.

  • Oficina de preservação de documentos. Como extensão da mediação com os acervos históricos, esta ação constitui-se com o objetivo de conhecimento e aplicação de noções e técnicas básicas de conservação e preservação de documentos históricos. A oficina pode despertar nos participantes a ideia de que a memória está presente nos documentos que todos guardamos em casa ou na escola, e os conscientiza sobre a importância da sua preservação, assim como deve ser feito com relação ao acervo da Maesa.

  • Oficina de fotografia pinlux. A oficina ensina os participantes a confeccionar uma câmera fotográfica analógica que é feita com materiais simples e reaproveitáveis, como caixinha de fósforo, fita isolante, pilhas/baterias usadas, latinha de refrigerante e filme fotográfico em película. Propõe-se saídas a campo para fotografar, sendo sugerido que os estudantes registrem com suas câmeras o seu olhar autoral sobre a Maesa, sua memória e seu patrimônio cultural, gerando, após a revelação das imagens, discussões sobre os conceitos.

  • Livro Infantil. Produção de um livro infantil que conta a história da fábrica. Em narrativa adequada à idade e com ilustrações feitas por artistas locais, trazer a história de Abramo, da Metalúrgica Eberle, dos trabalhadores/as e do Complexo da Maesa. Estimulando o interesse das crianças pela história local, o livro pode ser distribuído nas escolas da rede municipal e utilizado como material de apoio nas aulas de História. Como proposta alternativa, uma revista do tipo História em Quadrinhos, com o mesmo intuito.

  • Mostras de trabalhos escolares. Utilização do espaço do Complexo da Maesa para a realização de mostras de trabalhos escolares que abordem aspectos da Maesa quanto à sua arquitetura e história. A mostra seguiria os padrões das mostras científicas, havendo a participação convidados para a avaliação dos trabalhos.

  • Rodas de discussão. Promoção de rodas de discussão com a comunidade fomentando o debate sobre o uso sobre a Maesa.

  • História Oral e História Pública. Realizar trabalho de registro da memória de ex-trabalhadores da Maesa por meio da metodologia da História Oral, produzindo-se, a partir dessas fontes, narrativas participativas (autoria compartilhada) com os depoentes. Entre as produções, pode-se realizar livros, fotobiografias, documentários e podcasts.


Oficina de interpretação de fotografias da Maesa

Esta oficina tem exemplo no vídeo ao lado, tendo sido ministrada pelo professor Anthony Tessari. A partir do seu estudo, podemos perceber como as imagens fotográficas servem à interpretação histórica, evidenciando aspectos da organização da fábrica e das relações entre capital e trabalho. O vídeo também é uma síntese sobre a história da Metalúrgica Abramo Eberle, partindo da visualidade construída sobre os operários da indústria local.

Referências

CEDUC-IPHAN. Educação Patrimonial: histórico, conceito e processos. Iphan, 2014.


HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999.


MACHADO, Ironita Policarpo. Educação Patrimonial. In. MACHADO, Ironita Policarpo; ZANOTTO, Gizele, (org.). Momento Patrimônio I, 2012. Disponível em: https://www.academia.edu/3242978/Momento_Patrim%C3%B4nio_-_Volume_I Acesso em: 30/06/2016.


ORIÁ, Ricardo; PEREIRA, Júnia Sales. Desafios Teórico-metodológicos da relação Educação e Patrimônio. In. Resgate, vol. XX, n. 23 - jan./jun. 2012 p. 161-171. Disponível em: http://www.cmu.unicamp.br/seer/index.php/resgate/article/viewFile/260/259 Acesso em 30/06/2016.


SCIFONI, Simone. Desafios para uma nova Educação Patrimonial. Revista Teias, Políticas e Prátivcas de Educação Patrimonial no Brasil e na América, v. 18 , n. 48 jan.-mar. 2017.