Sempre falei da minha idade, com orgulho e alegria, sem a considerar em termos de tempo, por ter vencido na vida, apesar dos escolhos e incompreensões, que encontrei ao palmilhar o meu caminho, traçado com respeito. Procurei manter o espírito jovem, o corpo são, esforcei-me por andar, passo a passo com o tempo, mas sem permitir que ele me envelhecesse.
Tive sempre presente a Canção do Tamoio, de Gonçalves Dias: “Não chores, meu filho; Não chores, que a vida é luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate; Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos, Só pode exaltar”, o compromisso escoteiro.
Acho que é fundamental o respeito, antes de qualquer outro enunciado. Tudo é respeito: respeito às leis, respeito às convenções sociais, respeito aos mais velhos e mais jovens, respeito geral.
O envelhecimento é uma condição normal do corpo e não do espírito. Para compreender a vida, olhei para trás e me detive recolhendo os frutos do meu trabalho, após olhando para a frente e contemplando o futuro. A estrada que separa é a mesma que une. Preenchi a vida com prazer, esperanças, aspirações, atividades e ocupações. Tive a felicidade de um casamento feliz, de mais de 50 anos, encantador e de filhos e netos, que me trazem alegria.
É preciso não separar a vida em anos. Cada estágio da vida tem as suas compensações. Na mocidade são prazeres, sensações e estímulos; na maioridade, produção, desenvolvimento e apreciação; na maturidade, suavidade, compreensão, discernimento e tolerância. Aceitei cada estágio gradualmente, sem volver para trás, com pesar e sim olhar para a frente, com entusiasmo, trabalho prazeroso e apreensão e, desta forma, não envelheci... Considero-me, e acho que estou certo, um rio que corre mansamente no seu leito e se enriquece, cada vez mais calmo, mais rico em pensamentos e ações e mais belo, não no corpo, mas no espírito, à medida que vai se alargando.
Sei que não tenho poderes para deter os acontecimentos e a inevitável marcha futura do braço da morte, mas recebo com tranquilidade esse momento, porém não dou nenhuma razão para que isso aconteça... Não sou eterno e sim um ser humano, parte de um todo, como uma hora do dia. “Assim como a hora, devo chegar; e assim como a hora, devo passar” (Epíteto). Tenham sempre presente o verso de Vitor Hugo:
“Somente vive quem luta,
Quem traz na alma e sobre a fronte
Um desígnio inabalável
Quem galga o áspero cume,
De um destino alevantado.
Quem vae pensativo e cheio
De sublime aspiração
Levando diante dos olhos
Toda noite, todo dia”.
Ernani C. Straube (1929-2025)