Os sertões
Euclides da Cunha
Euclides da Cunha
Os sertões – marco fundamental nos estudos sobre a formação do imaginário nacional, ao lado de Casa-grande e senzala e Raízes do Brasil – foi escrito a partir de um trabalho jornalístico sobre a rebelião de Canudos, liderada por Antonio Conselheiro e duramente reprimida pelo governo. Baseada em teorias deterministas em voga na época, a obra aborda cientificamente a influência do meio sobre o homem, como mostra a própria estrutura dos capítulos: “A Terra”, “O Homem”, “A Luta”.Parte da riqueza do livro reside no fato de ele retratar a mudança de opinião do escritor que, movido por um espírito patriótico e republicano, via com maus olhos a revolta dos “fanáticos” defensores da monarquia, alinhado ao restante da elite letrada, que não tolerava a insurgência de um grupo, considerando-a uma ameaça ao projeto civilizatório do Brasil, do qual o ideal positivista de “ordem e progresso” era o lema. Dificilmente classificável, devido à mescla de jornalismo, literatura e estudo sociológico, o livro adianta temas-chave do Modernismo e tem como um de seus legados a incorporação do ponto de vista local – nesse caso, do Brasil profundo –, por meio de uma linguagem grandiosa e repleta de contrastes. “O sertanejo é, antes de tudo, um forte” impôs um novo modo de se pensar o brasileiro, e tornou-se referência histórica incontornável para as discussões sobre identidade nacional a partir de então. Além do texto estabelecido por Walnice Nogueira Galvão, a edição conta com uma extensa fortuna crítica, as cadernetas de campo de Euclides da Cunha e um conjunto de imagens de Flávio de Barros, único registro fotográfico conhecido do conflito.
Foi engenheiro, repórter jornalístico e escritor, além de ter trabalhado com o Barão do Rio Branco no Ministério das Relações Exteriores. Estudou na Escola Politécnica e na Escola Militar, onde obteve uma formação positivista. Quando em 1897 escreveu o artigo “A nossa Vendeia”, sobre o levante de Canudos, foi convidado pelo Estado de S. Paulo para fazer uma reportagem sobre o conflito. Da experiência nasceu sua grandiosa obra Os sertões que, além de ser uma contribuição para o pensamento brasileiro, expõe a mudança de opinião do autor sobre a rebelião, com a qual tomou contato na iminência de seu massacre. Euclides da Cunha, eleito membro da Academia Brasileira de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro em 1903, foi influência decisiva para os modernistas e regionalistas, especialmente devido à incorporação do ponto de vista local. Morreu de forma trágica, em 1909, assassinado pelo amante de sua esposa.