O Observatório sobre Dominação Financeira e Econômica objetiva a discussão e o fomento de pesquisas a partir da perspectiva da sociologia e antropologia econômica e financeira, apoiando-se em atividades de ensino, pesquisa e extensão universitária. Busca oferecer relevantes instrumentos analíticos de caráter transversal e interdisciplinar para o pesquisador na área de ciências humanas e sociais aplicadas, ampliando a compreensão do crescente impacto do processo do financismo na vida cotidiana.
Objetivos do Observatório
O principal objetivo é fomentar a discussão e pesquisa sobre o processo de dominação econômica e financeira para subsídio de políticas públicas e movimentos da sociedade civil organizada, e servindo-se, para tal, de uma abordagem da sociologia e antropologia econômica e do conhecimento, de caráter transversal e interdisciplinar, que abarque pesquisadores internos e externos à Universidade.
Para a consecução deste objetivo, também propõem-se a:
a) Congregar alunos de graduação e pós-graduação, docentes e pesquisadores independentes da UFABC que tem como temática de pesquisa a dominação financeira na sociedade e nos mercados por meio de encontros temáticos para discussão.
b) Promover o intercâmbio de pesquisadores (alunos de graduação e pós-graduação, docentes e pesquisadores independentes) integrantes do Observatório com pesquisadores de grupos de pesquisa na temática de outras instituições de ensino e pesquisa, no Estado de São Paulo, para geração de um fluxo de conhecimento que abarque reflexões epistemológicas e analíticas quanto à dominância financeira.
c) Consolidar o Observatório através de atividades regulares, em especial, os Encontros temáticos para discussão e o Intercâmbio com grupos de pesquisa, de modo a poder fomentar o fluxo de conhecimento interdisciplinar e transversal aos programas de graduação e pós-graduação da UFABC.
d) Projetar nacionalmente e internacionalmente as pesquisas realizadas pelos pesquisadores integrantes do Observatório através da realização de eventos, na temática, no intuito de criar uma rede de fluxo de conhecimento e pesquisadores que permita aprofundar os trabalhos desenvolvidos no âmbito da UFABC.
“Parti do cotidiano, daquilo que, na vida, se encarrega de nós sem que o saibamos seque: o hábito – melhor, a rotina – mil gestos que florescem, se concluem por si mesmos e em face dos quais ninguém tem que tomar uma decisão, que se passam, na verdade, fora de nossa plena consciência. Creio que a humanidade está em metade enterrada no cotidiano. Inumeráveis gestos herdados, acumulados a esmo, repetidos infinitamente até chegarem a nós, ajudam-nos a viver, aprisionam-nos, decidem por nós ao longo da existência. São incitações, pulsões, modelos, modos ou obrigações de agir que, por vezes, e mais freqüentemente do que se supõe, remontam ao mais remoto fundo dos tempos. Muito antigo e sempre vivo, um passado multissecular desemboca no tempo presente como o Amazonas projeta no Atlântico a massa enorme de suas águas agitadas.”
Fernand Braudel*
A partir da década de 1980 se pode observar mais claramente a reorientação das políticas econômicas, dos países centrais aos periféricos, em prol da liberalização do fluxo internacional de capitais e mercadorias. Estas políticas desencadearam uma série de mudanças na sociedade e nos mercados a reconfigurar o próprio Estado, instituindo uma acirrada concorrência intercapitalista, uma concentração do poder político e econômico dos oligopólios, e uma série de consequências sociais em razão da desregulamentação do mercado de trabalho, da descentralização produtiva, e da maior liberdade aos produtos financeiros.
Um dos resultados mais dramáticos destas políticas, que apregoavam a liberalização financeira como caminho para o crescimento e promoção do bem estar, constitui o aumento da desigualdade social em quase todos os seus aspectos. Esta série de acontecimentos que integraram ainda mais os mercados, a “mundialização” financeira, deu-se com ao ritmo da intensidade da multiplicação das inovações financeiras e da queda das barreiras estatais para o fluxo de capitais.
Os impactos de tais mudanças nas sociedades nacionais se deram conforme a dinâmica e equilíbrio das forças sociais existentes nestas, a ditar o ritmo de integração ao novo regime de acumulação que se apresenta. Nestas sociedades, a cultura, as ideologias, a linguagem, o gesto, e as mentalidade se apresentam intercruzadas nos conflitos que a permeiam, a moldar a forma de cognição e ação dos seus integrantes. Frente a isto, a sociologia e a antropologia econômica traz um conhecimento científico a revelar novos modos de se compreender o mundo, relevantes à complexidade das relações sociais presentes.
Na crescente dominância dos produtos financeiros na vida dos indivíduos, por vezes já naturalizados, desponta o impacto da ação social do investidor (agente) para toda a sociedade. Este processo de dominância do setor financeiro sobre a sociedade têm especiais consequências quanto a releitura dos direitos sociais (com crescente controle da prestação destes serviços pelo setor privado e sendo titularizado) e ao modo de cognição da realidade e da ação concreta por parte do cidadão médio. Assim, não apenas o investidor, mas também a instituições sociais responsáveis pela reprodução da vida social se encontram como um aspecto desta realidade que não pode ser negligenciada pelo pesquisador.
Seja pelo detalhe ou por uma visão mais distanciada do indivíduo, no debate quanto ao financismo (que engloba o processo de financeirização), a dominância do setor social dos rentistas/financistas apresenta relevância para a compreensão das transformações mundiais, seus impactos, e suas mutações, em especial no que toca a sociedade brasileira.
Diversas instituições de ensino e pesquisa no Brasil e no mundo têm procurado escrutinar esta questão por várias abordagens, epistemologias. A Universidade Federal do ABC, embora privilegiada pelo aspecto interdisciplinar de seu projeto político-pedagógico, pouco se aventura nesse profícuo campo intelectual por meio da sociologia econômica. Tendo em vista suprir tal carência, o Observatório sobre Dominação Financeira e Econômica volta suas ações, em ensino, pesquisa e e extensão, nesta área.
Linhas temáticas
Na investigação da temática do Observatório, os estudos e discussões se orientam por 7 linhas temáticas, de modo a articular diversas perspectivas do processo de financeirização na sociedade contemporânea. Assim, possibilitando uma compreensão multi e transdisciplinar do objeto.
* BRAUDEL, Fernand. A dinâmica do capitalismo. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Rocco, 1987. p. 9.