O projeto, a ser implantado na Ceilândia, visa a proposição de uma reformulação do paradigma de escola parque, formulado por Anísio Teixeira, a partir de novas temáticas educacionais pertinentes à uma educação emancipatória no contexto contemporâneo.
Nesse contexto, busca-se a atualização do programa arquitetônico consolidado pelas escolas parque brasilienses a partir da inclusão de espaços para letramento tecnológico e ambiental.
Além disso, também é objetivo do projeto a proposição de um edifício pautado por técnicas e materiais construtivos sustentáveis.
Atualmente, segundo dados da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios (PDAD) realizada em 2021, a Ceilândia possui 106.717 estudantes entre 4 e 24 anos, colocando-se como a Região Administrativa (RA) com a maior população escolar do Disrito Federal, representando cerca de 12% de todos os estudanates da cidade. Desses, 66.159 estudam em escolas públicas, sendo a maioria delas localizadas na própria RA.
Nesse contexto, a Ceilândia se apresenta como um importante polo educacional, possuindo 69 unidades escolares de ensino fundamental que se dividem entre escolas classe (EC) e centros de ensino fundamental (CEF). Contudo, possui apenas 5 escolas classe com capacidade para o ensino integral e uma escola parque para atender à toda a demanda das demais, evidenciando a insuficiência do atendimento para educação integral e indo na direção contrária das metas propostas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), que propõe a ampliação do ensino integral para no mínimo 55% das escolas da educação básica.
Por fim, faz-se fundamental a atualização do currículo básico oferecido nas escolas parque em consonância com novas propostas para o programa arquitetônico das escolas parque de modo que, possam se materializar como um edifício contemporâneo aos atuais desafios de uma educação com influências de novos temas como digitalização e sustentabilidade.
A Escola Parque não se trata apenas de um edifício escolar, representa um projeto educacional e arquitetônico profundamente pautado pela visão de Anísio Teixeira de uma sociedade moderna e democrática. O modelo, que se materializou nas décadas de 1950 e 1960, buscou romper com o paradigma da escola tradicional, alinhando-se a um plano de educação integral e inovador para o Brasil.
O conceito da Escola-Parque não surgiu do zero, mas foi o resultado de um diálogo constante de Anísio Teixeira com as ideias da educação progressiva, a qual ele teve contato durante seus estudos nos Estados Unidos nas décadas de 1920 e 1930 (SOUZA, 2016). Ele defendia que a escola deveria ser um ambiente de aprendizado ativo, onde a criança pudesse aprender pela experiência, e não por um conhecimento passivo e simulado. Em sua visão, a educação deveria estar conectada à vida social real, e a escola, por sua vez, deveria se organizar de forma progressiva para acompanhar o ritmo de uma sociedade em constante mudança.
Nessa perspectiva, a proposição de um novo programa que inclua as necessidades mais atuais como o ensino em tecnologia e sustentabilidade, em consonância com os eixos educacionais já consolidados como o currículo de artes e esportes, é a garantia da continuidade do programa educacional de vanguarda defendido por Anísio Teixeira.
Além disso, outra característica importante na concepção dessas escolas é a arquitetura que, foi concebida para refletir essa filosofia. Ela se afastava da espacialidade rígida e monumental das escolas do início da República para dar lugar a conjuntos mais abertos e horizontalizados. O programa era dividido em dois setores distintos, porém complementares: a Escola Classe, dedicada à instrução formal e às matérias tradicionais, e a Escola Parque, que oferecia atividades socializantes, artísticas, recreativas, culturais e de trabalho manual. Essa divisão permitia que os alunos, em turnos alternados, participassem de uma jornada escolar de tempo integral, experimentando uma formação completa que combinava o ensino formal com a autoeducação e a convivência (CHANIM, 2018).
A tipologia foi pensada para ser mais do que um edifício isolado segundo Anísio Teixeira, era um "centro de preparação para a vida moderna". Em Salvador, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro se coloca como a primeira experiência desse modelo, se tornando um núcleo de estruturação comunitária. Em Brasília, essa ideia se aprofundou e se integrou ao planejamento da nova capital, fundindo-se com o conceito da unidade de vizinhança, onde as escolas-classe estariam espalhadas pelas superquadras e a escola-parque serviria como um centro aglutinador para várias delas.
Essa articulação urbana visava democratizar o acesso ao ensino e fomentar a convivência social entre crianças de diferentes classes sociais, rompendo com o sistema de educação discriminatório e de privilégios do passado. Nesse contexto, faz-se imperativo a atualização desse programa a partir da proposta de uma nova Escola Parque modelo, que traga em sua arquitetura fundamentos contemporâneos do projeto de arquitetura, dando ênfase a infraestruturas sustentáveis, estratégias de conforto ambiental e a garantia de um espaço que possa se tornar um núcleo comunitário que se abra para toda a sociedade, permitindo a apropriação do espaço para atividades culturais, ampliando os laços sociais e reafirmando a identidade local.
_localização: Asa Sul - Brasília, DF
_autoria: José de Souza Reis
_ano: 1960
_área: 12.800 m²
A arquitetura da Escola Parque 307/308 Sul é uma expressão da função pedagógica idealizada por um olhar de vanguarda de Anísio Teixeira. A planta do pavimento superior do bloco principal é totalmente livre, o que permite uma flexibilidade para acomodar diferentes arranjos de atividades, como biblioteca, museu e filmoteca. Contudo, a flexibilidade da proposta livre, cria barreiras para usos com requisitos mais específicos e, da forma como foi entregue, delega à administração da escola a função de concepção dos espaços internos.
A fachada livre, marcada pela alternância de grandes janelas em fita e elementos vazados , não apenas enquadra as vistas, mas também proporciona conforto luminoso e ventilação natural. A racionalidade é um atributo central, dividindo as funções pedagógicas em três volumes distintos: o bloco de salas de aula, o bloco de oficinas e o auditório.
A implantação da Escola Parque dialoga diretamente com o Plano Piloto de Brasília e a ideia de Unidade de Vizinhança de Lúcio Costa. A localização da escola na entrequadra promove a integração com a comunidade, reforçando a ideia de que o espaço escolar se confunde com o espaço público da superquadra.
Apesar de sua importância, a escola sofreu com o tempo e com intervenções que descaracterizaram alguns de seus atributos originais. No entanto, seu valor histórico, cultural e arquitetônico foi reconhecido pelo tombamento como Patrimônio Cultural do Distrito Federal em 2004, o que assegura a responsabilidade de protegê-la para as futuras gerações.
BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de Educação – PNE e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF., 26 jun 2014. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm
CHANIN, Samira Bueno. Cidade nova, escolas novas?: Anísio Teixeira, arquitetura e educação em Brasília. Orientador: José Tavares Correia de Lira. 2018. 248 p. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo) - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2018.
CODEPLAN - Companhia de Planejamento do Distrito Federal. Pesquisa distrital por amostra de domicílios 2021. Brasília: 2021. Disponível em: https://ipe.df.gov.br/pdad-2021-3. Acesso em: 15 set. 2025.
EBOLI, Terezinha. Uma experiência de educação integral. Salvador: [s. n.], 1969. 85 p. Disponível em: http://arquivohistorico.inep.gov.br/index.php/crpe-ba-m16p1-umaexperienciaeducacaointegral-terezinhaeboli. Acesso em: 17 set. 2025.
SEEDF - Secretaria de Estado de Educação. Educação em tempo integral: mais tempo para aprender, crescer e escolher caminhos. Brasília, 1 set. 2025. Disponível em: https://www.educacao.df.gov.br/educacao-integral-2/. Acesso em: 16 set. 2025.
SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO, XIV., 2016, São Paulo. Cidade, escola e urbanismo [...]. São Paulo: [s. n.], 2018. 248 p. Tema: O programa Escola-Parque de Anísio Teixeira.
SOUZA, Edilson de. Um plano educacional para um novo tempo: Anísio Teixeira e as escolas classe/escola parque de Brasília. Caderno eletrônico de Ciências Sociais, Vitória, v. 3, n. 2, p. 39-52, 2016.