A primeira edição da disciplina de pós-graduação ocorreu em 2021, em caráter experimental, junto à Pós-Graduação em Design da Faculdade de Arquitetura, Urbanismo e Design da Universidade de São Paulo (FAUUSP), em uma iniciativa da professora Maria Cecília Loschiavo dos Santos, docente responsável, e Ana Julia Melo Almeida, doutoranda à época, como docente assistente.
Naquele momento, a disciplina foi registrada com o nome Design, artefatos e relações de gênero (DSG 5019) e contou com doze estudantes em seu quadro discente. A ideia de proposição do curso se deu em uma articulação entre pesquisa e ensino, fruto da elaboração da tese de doutorado de Ana Julia, Mulheres e profissionalização no design, que foi defendida em junho de 2022 na FAUUSP.
Do trabalho realizado em torno da construção e finalização da pesquisa em questão, surgiu a ideia de pensar uma disciplina de Pós-Graduação que abordasse o gênero como ferramenta teórica e metodológica nas investigações em design. Desse modo, três eixos foram definidos como fios-condutores do curso: 1. Introdução aos estudos de design; 2. Estudos de gênero e teorias feministas; e 3. Design, tecnologias de gênero e interseccionalidade.
Por meio dessa primeira experiência, percebemos a relevância dos estudos de gênero e das perspectivas feministas para as pesquisas de design, além do envolvimento e interesse do corpo discente nessas abordagens. Ainda em sua primeira edição, a professora Raquel Noronha, da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), participou de umas aulas, apresentando metodologias aplicadas em suas pesquisas por meio de um enfoque situado e constituído no âmbito do design e da antropologia. A partir desse novo diálogo, surgiu a ideia de pensar a disciplina em formato interinstitucional para o ano de 2022, envolvendo cerca de 40 estudantes de pós-graduação, em sua maioria de design, mas não somente, de norte a sul do país e alguns de outros países da América Latina.
Como reestruturação para o novo formato, incorporamos mais um quarto eixo de elaboração para as aulas: Casos situados, perspectivas decoloniais e queer em projetos de design, além de incluirmos os estudos em torno de masculinidades. Essa abordagem veio por meio de um diálogo de pesquisas conduzidas por Raquel Noronha e Griselda Flesler, professora da Universidad de Buenos Aires (UBA), no projeto Gender Design in STEAM da Carleton University, em Otawa, Canadá. Nesta experiência de dois anos, entre 2020 e 2022, que reuniu equipes de pesquisas de vários países do Sul Global, problemas e interesses comuns tornaram-se evidentes, embora as diferenças entre países e mesmo regiões tenham sido também uma força motriz para o intercâmbio e a aprendizagem conjunta.
Dessa maneira, em uma abordagem mais abrangente, a disciplina foi reformulada e credenciada novamente, dessa vez como o nome Design e Gênero (DSG 5024) na USP e concomitante ofertada como Tópicos Especiais em Design de Produto I (MD 28), com o subtítulo Design e Gênero, no Programa de Pós-Graduação em Design da UFMA.
A partir daí, a disciplina se expandiu para um formato interinstitucional, ampliando o escopo inicial para uma atuação em uma rede de instituições e pesquisas. No bojo desta disciplina, desse diálogo, foi gerada a iniciativa de criação da Red Latinoamericana de Diseño y Género (ReLADyG), rede coletiva de pesquisadoras(es) em design e gênero no âmbito da América Latina, em relação próxima à International Gender Design Network (iGDN), da qual Griselda Flesler já fazia parte.
Em 2023, contou em seu quadro de docentes com mais uma professora convidada, a pesquisadora Eva Rolim Miranda, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Design da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ampliando os debates sobre cultura do cuidado e do trabalho feminino, por meio da desobediência epistemológica como método de intervenção. Neste ano, recebemos 47 inscrições, totalizando cerca de uma centena de participantes em suas três edições.
É importante mencionar que a disciplina foi construída coletivamente por meio de diferentes abordagens e perspectivas mobilizadas nas pesquisas e práticas pedagógicas das docentes que compõem o seu quadro. Cada professora traz entrelaçamentos entre diferentes campos (filosofia, antropologia, design, história das relações de gênero, estudos da linguagem e das representações etc.), que fornecem bases teóricas e metodológicas para as investigações em design. Nesse percurso, há um ponto importante de contato entre as abordagens, que é o de observar e compreender as relações assimétricas de poder que permeiam as práticas de design, tensionando-as por meio dos estudos de gênero e das perspectivas feministas.
A disciplina é ofertada na modalidade remota, e sempre no segundo semestre de cada ano letivo. As inscrições podem ser feitas via FAUUSP, UFMA e UFPE.