O espírito da Bauhaus e sua pedagogia

Por Ana Beatriz Venceslau Coelho

A Bauhaus, escola criada no ano de 1919 em Weimar, na Alemanha, foi pioneira no ramo do ensino do design e ao buscar relações entre arte, técnica e indústria. Suas ideias, trabalhadas em pouco tempo, alcançaram e continuam alcançando pessoas no mundo todo, tornando-a uma escola tão importante e grande fonte de referência da área do design, da arte e da arquitetura.

Podemos dizer que a Bauhaus surgiu como o produto de uma série de transformações e ideias revolucionárias ocorridas nos séculos XIX e XX causadas pela Revolução Industrial e também, pelas vanguardas que romperam fortemente com a tradicional percepção de arte que se tinha até então. Nesse contexto onde as novas tecnologias e indústria estavam em constante crescimento, cria-se uma necessidade de arte moderna proveniente de uma “estética de máquina” que acompanhe todas essas revoluções e não mais uma arte ligada à natureza como era dominante desde o Renascimento.

A escola foi ideia de Walter Gropius, um arquiteto alemão. Ele queria construir uma escola de arte e design que ajudasse a mudar o mundo utilizando da técnica e da máquina.

“A idéia fundamental de Gropius era a de que, na Bauhaus, a arte e a técnica deveriam tornar-se uma nova e moderna unidade. A técnica não necessita da arte, mas a arte necessita muito da técnica, era a frase-emblema. Se fossem unidas, haveria uma noção de princípio social: consolidar a arte no povo.” (BÜRDEK, 2005, pg. 28)

Gropius tinha o objetivo de trazer para o novo século a face do modernismo e dessa forma, a Bauhaus sempre esteve aberta a receber pessoas de diferentes culturas e propostas de diversas tendências. Praticamente qualquer novidade era bem-vinda e essa suscetibilidade a diferentes ideias foi o que chamou a atenção de toda a Europa para a Bauhaus.

“Essa talvez tenha sido a contribuição pedagógica mais importante de Gropius e da Bauhaus: a idéia de que o design devesse ser pensado como uma atividade unificada e global, desdobrando-se em muitas facetas, mas atravessando ao mesmo tempo múltiplos aspectos da atividade humana.” (CARDOSO, 2008, pg. 133)

Para constituir o corpo docente da Bauhaus, Gropius selecionou vários artistas abstratos ou da pintura cubista como Wassily Kandisky, Paul Klee, Lyonel Feininger, Oskar Schlemmer, Johannes Itten, Georg Much e Lászlo Moholy-Nagy. Também atuaram como professores, profissionais de áreas da arquitetura, fotografia, literatura, escultura, design e combinações intermediárias destas profissões.

Muitos estudiosos da Bauhaus costumam separar a pedagogia bauhausiana em fases de acordo com a influência de professores:

O período inicial com as ideias expressionistas e místicas de Gropius e Itten;

O período onde dominara o tecnicismo e o racionalismo de Moholy-Nagy e Meyer;

O período final em que o ensino da arquitetura foi praticamente o foco de estudos com Mies van der Rohe.

Ao longo de suas atividades, o ensino da Bauhaus se estruturou em torno de oficinas dedicadas a uma única atividade ou material. Uma parte essencial e cerne da formação básica na Bauhaus foi o Vorkurs, criado por Johannes Itten em 1919/20, era um curso preparatório ou preliminar, denominado posteriormente de curso básico, o qual foi se transformando ao longo dos anos, mas sempre com o mesmo objetivo de reunir a vasta gama de assuntos que eram ofertados na escola. Os alunos se inscreviam no curso preliminar e ao invés de estudar por exemplo, história da arte, passavam em primeiro lugar a ter o contato com as formas abstratas. Era ensinado sobre os materiais, suas texturas, teorias da cor... Uma forma de encontrar a própria individualidade e qual direção seguir ao escolher uma oficina específica. Foi o que basicamente, unificou a Bauhaus de todas as épocas.

Em determinado momento, as oficinas da Bauhaus começaram a mudar dos produtos de caráter individual para os produtos feitos como protótipos da produção industrial e do consumo em massa.

“Com o postulado de Walter Gropius “Arte e Técnica – uma nova unidade”, foi criado um novo tipo de profissional para a indústria, alguém que domine igualmente a moderna técnica e a respectiva linguagem formal. Gropius criou com isso os fundamentos para a mudança da prática profissional do tradicional artista/artesão no designer industrial como conhecido atualmente” (BÜRDEK, 2005, pg. 37)

As peças produzidas eram simples e elegantes e carregam a imagem do que hoje consideramos um ótimo design moderno. Porém, na época eram julgadas como incrivelmente simples. Seus designs eram feitos de acordo com a função de cada objeto e das exigências para a produção em massa.

A MR chair (1927) de Mies van der Rohe foi um dos grandes projetos da época da Bauhaus, com um design moderno e minimalista, é grande referência para os designs atuais.

(imagem-fonte: https://www.wikiart.org/pt/ludwig-mies-van-der-rohe)

Conjunto de café e chá (1924) de Marianne Brandt é um dos mais valiosos produtos da metalurgia da Bauhaus, exaltando as formas geométricas.

(imagem-fonte: Bauhaus-archiv)

Em 1928, Gropius deixa seu posto de diretor da Bauhaus por pensar que com a ascensão do movimento nazista ele iria prejudicar a escola, visto que os nazistas sempre o atacaram. Assim, nomeia Meyer como seu sucessor. Hannes Meyer acreditava que o designer deveria servir ao povo, satisfazendo suas necessidades com produtos adequados. Dessa forma aquele conceito inicial de que a Bauhaus deveria ser uma escola superior de arte foi esquecido e muitos artistas deixam a Bauhaus. Além disso, Meyer tinha fortes inclinações políticas de esquerda e nos poucos anos que esteve na direção da Bauhaus levou a escola para um viés cada vez mais próximo ao comunismo. Considerando que a Alemanha passava por fortes polarizações políticas e o nazismo estava crescente, Meyer é retirado da direção da Bauhaus em 1930 e Ludwig Mies van der Rohe é seu sucessor.

“Também contrariando as suas raízes nos movimentos de artes e ofícios e a sua prática de produção manual e artesanal, a experiência da Bauhaus acabou contribuindo para a consolidação de uma atitude de antagonismo dos designers com relação à arte e ao artesanato. Apesar de ser uma escola cheia de artistas e artesãos – ou talvez por causa disto – acabaram prevalecendo aquelas opiniões que buscavam legitimar o design ao aproximá-lo de uma pretensa objetividade técnica e científica.” (CARDOSO, 2008, pg.135)

Em sua direção, Mies van der Rohe queria restituir a arte como fundamento da Bauhaus, se distanciando das fortes atitudes funcionalistas que dominavam. Procurou retomar a arte sem perder a disciplina, e sem inclinações de qualquer atividade política. Porém, mesmo assim os nazistas tomam o poder da cidade de Dessau e fecham a Bauhaus, que julgavam ter ideais antipatriotas.

A última localização da Bauhaus foi em Berlim, no ano de 1932, em uma fábrica, onde Mies van der Rohe procura continuar a escola como uma unidade independente e privada. Porém, “em 20 de Julho 1933, apenas alguns meses após a “captura do poder” por Adolf Hitler seguia-se a autodissolução da Bauhaus.” (BÜRDEK, 2005, pg.33)

Mesmo após o fechamento da escola, em 1933, por causa das políticas adotadas pelo regime totalitarista, os ideais da Bauhaus não se extinguiram. Muitos estudantes e professores emigraram para outros países e puderam levar as ideias e o espírito da Bauhaus para o mundo, possibilitando que se perpetuassem seus métodos de ensino e tornando-se referência para o ensino do design contemporâneo.


Referências

BAUHAUS: the face of the 20th century. Autor: Frank Whitford. Inglaterra, 1994.

CARDOSO, Rafael. Uma Introdução à História do Design. São Paulo: Ed. Blucher, 2008, 3.a ed

BÜRDEK, Berhard. História Teoria e Prática do Design de Produtos. São Paulo: Blucher, 2005

Ficha Técnica

Texto desenvolvido por Ana Beatriz Venceslau Coelho para a disciplina Introdução ao Estudo do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Design - Abril de 2021. O texto colabora com o projeto de extensão “Blog Estudos sobre Design”, coordenado pelo Prof. Rodrigo Boufleur (http://estudossobredesign.blogspot.com)