Entrevista

Larissa Macedo

Entrevista com Larissa Macedo que é curadora, crítica, artista, professora e pesquisadora, doutoranda e mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP. É uma das criadoras do projeto <ater> (@projetoater) que tem como objetivo evidenciar os impactos da inteligência artificial na produção de artistas racializadas nas redes sociais. Também é professora dos cursos de graduação e pós-graduação de Licenciatura em Artes, Design, Comunicação Social e Moda do Centro Universitário Belas Artes e realiza palestras, cursos e oficinas com temáticas voltadas às questões relacionadas às diversidades, às redes sociais, à inteligência artificial, às novas estéticas, aos modelos de produção artísticos e multimídia, e às práticas político-sociais e curatoriais ativistas e multidisciplinares.

Na sua apresentação do seminário abordou o tema das encruzilhadas: práticas artísticas nas redes sociais, sobre o projeto <ater>. Tudo isso nos fez ter alguns questionamentos, decidimos então chama-lá para uma entrevista e aqui está o resultado:


1. "Como uma pessoa que estuda comunicação, você acredita que seria possível um processo de descolonização das mídias? Se sim, como você acha que isso seria possível?"


Considerando as redes sociais, que é a minha área de pesquisa, acho complexo termos um processo de descolonização atualmente. Os aplicativos dessas redes hoje pertencem a grandes oligopólios de big techs (como Meta, Alphabet, etc) que ditam os funcionamentos dessas plataformas com foco na monetização dos nossos dados, tempo e atenção, dentre outras questões. Por isso, como comentei na palestra, prefiro a perspectiva contracolonial do mestre quilombola brasileiro Nego Bispo, que nos ensina que mais do que subverter é preciso contrariar a colonialidade.


2. "Como você percebe o impacto do seu trabalho e estudos nesse processo de descolonização?"


Acho que minha pesquisa de doutorado pode contribuir com outras perspectivas e formas de dialogar com a produção artística e curatorial nas redes sociais hoje. Além de trazer outros olhares para esses espaços comunicacionais. Como comentei na palestra, a partir do operador conceitual de encruzilhada de Leda Maria Martins e das noções de Exu presentes na matriz afrodiaspórica brasileira, podemos compreender as redes sociais e as práticas artísticas nesses espaços de forma contracolonial, tensionando as ambivalências que tangem a comunicação e a arte nas redes sociais atualmente.


3. "Para nós, alunos de comunicação e Multimeios, qual seria o seu conselho para que nós pudéssemos colaborar para a desconstrução dos esteriótipos coloniais, em especial na mídia como rede?"


Primeiro: é preciso compreender o que é rede social, o seu funcionamento e as lógicas algorítmicas. O letramento digital é fundamental para que possamos lidar com essas questões. Principalmente, no que diz respeito aos atravessamentos da inteligência artificial tanto nas redes sociais quanto em outras vivências cotidianas. Segundo: buscar conhecer outras epistemologias para pensar as mídias, a comunicação, a arte e a tecnologia hoje. Ter um olhar contracolonial pressupõe estar em diálogo e conhecer outras epistemologias e imaginários sociais, como bem nos ensina Sueli Carneiro. Essa é uma das possibilidades para começarmos a desarticular o pensamento colonial eurocêntrico que nos funda como sociedade.


4. "O que você sugere, como prática, pra mudar o "imaginário coletivo" daqui pra frente?"


Entender que a contracolonização não é uma ação teórica e sim uma prática de vida, uma ação ética. Ou seja, não basta fazer apenas um exercício teórico e conceitual, é importante refletir e agir. Transformar as reflexões em ações efetivas. É preciso romper, tensionar e questionar nossas escolhas, estudar, entrar em contato e conhecer práticas que não sejam hegemônicas para que, a partir disso, tenhamos a “Arte como contra-história. Arte como encruzilhada” (Moacir dos Anjos - Revista ZUM, 2021). Como citei na palestra e reforço aqui com essa frase do Moacir do Anjos.