TAREFA SEMANA 3 - MODELOS PARA PENSAR A COMUNICAÇÃO PÚBLICA DAS CIÊNCIAS E ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA

Acompanhe as atividades desenvolvidas pelo Grupo 2.

Exposição Queerentena, do Museu da Diversidade Sexual (MDS)


A iniciativa escolhida pelo grupo foi a exposição on-lineQueerentena - Expira”, promovida pelo Museu da Diversidade Sexual com o objetivo de expor obras de artistas LGBTI+ produzidas no período da quarentena durante a pandemia do novo Coronavírus. São ao todo 60 obras, entre colagens, desenhos, gravuras, vídeos, pinturas e fotografias. Todos os trabalhos são acompanhados por um texto introdutório e algumas acompanham audiodescrição.

Link da exposição: https://artsandculture.google.com/story/RgURHz6frRLGMw?hl=pt-br

A seguir, analisamos a exposição a partir dos pressupostos teóricos dos modelos de compreensão pública das Ciências, dos eixos estruturantes e indicadores de Alfabetização Científica (AC). Por fim, apresentamos uma breve análise sobre os resultados identificados e as possibilidades didático-formativa que podem ser exploradas.


  • Modelos de compreensão pública das Ciências:

Comunicar publicamente as Ciências é compreendida como uma ferramenta a serviço do cidadão, que atende necessidades, dissemina informações importantes, com o objetivo de respeitar o espaço de debates e melhorar a compreensão do funcionamento da sociedade (SCHWAICKARDT, 2018). Nesse sentido, dentro do campo de pesquisa da comunicação pública das ciências, surgiu modelos para compreender essa comunicação "indo de um conceito de “déficit” ou difusão linear de popularização para modelos que enfatizam o conhecimento leigo, o engajamento público e a participação pública na formulação de políticas científicas" (BROSSARD; LEWENSTEIN, 2021, p. 16).

Analisando nosso objeto de investigação, a exposição "Queerentena - Expira", identificamos a presença de três modelos de compreensão pública das Ciências. Vejamos abaixo essa relação.


Modelo Contextual: fazendo referência ao próprio nome, o modelo contextual é associado a uma audiência específica, atendendo a uma demanda a partir de uma determinada situação (espacial e temporal). Portanto, elegemos o modelo contextual de compreensão pública das ciências na exposição "Queerentena - Expira", pois retrata a vida de artistas LGBTI+ durante da pandemia de Covid-19 em 2020.


Modelo de Conhecimento Leigo: esse modelo é entendido a partir de uma fragilidade no aprofundamento dos conhecimentos científicos. Na exposição analisada, é possível perceber a presença desse modelo em algumas obras que fazem menção a conhecimentos científicos, porém, não os defini (cabe ao público visitante esse entendimento). Como exemplo, destacamos a obra "Respaldo Vazio" que traz o termo paralaxe e, a obra "Quero conhecer meu corpx" com a expressão andrógeno. Nenhuma defini esses conceitos.


Modelo de Engajamento Público: esse modelo traz a tona temas de cunho político com envolvimento de conhecimentos científicos e técnicos, além de se preocupar em envolver os cidadãos no tema que está sendo comunicado. A exposição "Queerentena - Expira", coloca no dentro do debate o tema da diversidade, da representatividade, mostrando o isolamento de pessoas já isoladas antes do contexto pandêmico.


  • Eixos estruturantes da AC:

(Eixo 2): Preocupa-se com a compreensão da natureza das ciências e dos fatores éticos e políticos que circundam sua prática. Reporta-se, pois, à ideia de ciência como um corpo de conhecimentos em constantes transformações por meio de processo de aquisição e análise de dados, síntese e decodificação de resultados que originam os saberes. Com vista para a sala de aula, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, esse eixo fornece-nos subsídios para que o caráter humano e social, inerentes às investigações científicas, seja colocado em pauta. Além disso, deve trazer contribuições para o comportamento assumido por alunos e professor sempre que defrontados com informações e conjunto de novas circunstâncias que exigem reflexões e análises considerando-se o contexto antes de tomar uma decisão.


  • Indicadores de AC contemplados:

Indicador Interação: interação estético-afetiva

Presença de áudios e vídeos em algumas obras:

http://exposicao.mds.org.br/expo/queerentena#the-mysterious ; http://exposicao.mds.org.br/expo/queerentena#quero-reconhecer-meu-corpx ; http://exposicao.mds.org.br/expo/queerentena#insula.

Indicador científico:

Presença de conhecimentos e conceitos científicos, assim como, do processo de produção de conhecimento científico :

http://exposicao.mds.org.br/expo/queerentena#respaldo-vazio ; http://exposicao.mds.org.br/expo/queerentena#cmykuir ; http://exposicao.mds.org.br/expo/queerentena#autorretrato-abril.


Indicador Interface Social:

Impacto da ciência na sociedade (o uso de máscara imposto pela pandemia de Covid-19; abordagem do tema HIV):

http://exposicao.mds.org.br/expo/queerentena#linn-em-casa ; http://exposicao.mds.org.br/expo/queerentena#pandemia-marco-2020


Análise


A partir de uma lógica positivista, o Museu da Diversidade Sexual não seria classificado como um museu de ciências. A gestão do Museu entende que sua missão é “administrar e programar espaços culturais e levar projetos culturais de qualidade para diferentes plateias (...) nas áreas de Teatro, Dança, Música, Literatura e Circo”. No entanto, a partir de um posicionamento político no qual há a valorização das ciências humanas e sociais como práticas científicas e não hierarquizando a diversidade dos métodos, o espaço pode ser entendido como museu de ciência. O Museu, é um equipamento público do estado de São Paulo e não está vinculado a uma instituição de pesquisa científica (instituto de pesquisa ou universidade), como ocorre com outro museus públicos de ciência de São Paulo, no entanto, a Secretaria de Economia e Cultura Criativa, à qual está subordinado (ainda que sob a gestão de uma Organização Social - OS) possui museus de ciência que podem ser identificados mais explicitamente como tal, a exemplo do Museu Catavento.


Já a exposição Queerentena, por si só, é um objeto que pode ser enquadrado como ação de divulgação científica de forma menos controversa que o Museu que a vincula, dada sua temática contextualizada no período da pandemia de Covid-19 e trazendo nas obras dos artistas expositores elementos característicos referentes a este período, como o isolamento social que significa no nome da exposição e protagoniza a maioria dos trabalhos, além de outros que aparecem frequentemente nas obras, como o uso de máscaras. Alguns dos descritivos também apresentam questões de ciência, como o da obra Autorretrato Abril, que entra no campo da filosofia das ciências ao mencionar o tratamento nazista imposto aos gays traçando um paralelo com governos que se utiliza de uma ciência acrítica e parcial para edificar alicerces ideológicos contra a diversidade humana.


A partir dos modelos de comunicação pública da ciência, podemos enquadrar a exposição no Modelo Contextual por sua estrutura que produz um fluxo unidirecional e que, caso entendamos assim, esteja direcionada a um público específico. Apesar do fluxo de via única, a temática abordada visa não apenas que essa audiência se informe sobre os tópicos relevantes, mas que se envolvam ativamente na formulação de políticas públicas, remetendo ao Modelo de Engajamento Público. Poderíamos ainda identificar na exposição, ao tratá-la como uma iniciativa do comunicação pública da ciência, o Modelo do Conhecimento Leigo, que valoriza a expertise de não cientistas, visto que a transmissão das informações é feita por artistas (que são LGBTQs, mas não são identificados como cientistas que estudam as questões de diversidade sexual).


Em relação aos indicadores de Alfabetização Científica para espaços museais: no que diz respeito à interação: a interação física (4a) se restringe ao que a visão e a audição podem captar através da tela de computador ou smartphone. Predomina a interação estético-afetiva (4b), seja por conta da temática identitária, seja por se tratar de uma exposição de arte.


Referências

BROSSARD, D.; LEWENSTEIN, B. V. Uma avaliação crítica dos modelos de compreensão pública da ciência: usando a prática para informar a teoria. In: MASSARANI, L.; MOREIRA, I. de C. (Orgs.). Pesquisa em divulgação científica: textos escolhidos. Rio de Janeiro: Fiocruz/COC, p. 16-55, 2021.

SCHWAICKARDT, H. C. Um estudo sobre a comunicação pública da ciência nas ações do Pint of Science em Uberlândia no ano de 2018. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Jornalismo). Uberlândia, Brasil: Universidade Federal de Uberlândia, 2018.