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Public Policies for Promotion of Social Mobility and Equality of the Opportunities

Mestra Luana dos Santos Fraga

Brazil is a country that has a stronger inequality; while a small proportion of Brazilians have a huge amount of financial resources, another large portion of the population faces severe budget restrictions. Furthermore, according to an OECD study published in 2018, the descendants of low-income Brazilian families can take up to nine generations to reach the country's average income. Putting these two aspects together, we can see that there are severe obstacles for individuals of new generations. The ones who are born in low-income families will face stronger difficulties to achieve higher levels of education and income than their parents faced.

Considering those issues, the great Brazilian challenge is to interrupt this repetition and association of results- economic, educational, or occupational- between parents and children in families that suffer shortages of financial and social resources. However, the important question is how to provide conditions for children to have a different reality from their parents, with more opportunities. In some families, the care providers do not even know how to change their children's reality or are deprived of financial and health resources.

Nevertheless, children and young people cannot be punished for something they are not responsible for. For this reason, to have a more egalitarian society, the state must provide to all children and young people more opportunities through public policies. For instance, the Bolsa Família Program aims to generate more equality, as it transfers income and has conditionalities concerning health and education. Nonetheless, in some families, it is not enough, as inequality goes far beyond income.

According to IMDS a policy focused on social mobility needs to identify the community's need and whether the solution is cement or a nursery school. In some cases, the need can be a health center or alternatives for young people on the verge of being captured by trafficking. Thus, public policies are needed to provide more equality in terms of health, social relationships, development of socioemotional skills, cognitive-behavioral therapy to assist in decision making, better housing conditions, violence prevention and technological inclusion.

Also, to have an effective public policy, whether in promoting equal opportunities and social mobility or other issues, it is essential that they are supported by science and evaluated continuously. Initially, a diagnosis of the shortcomings experienced in a context must be made, and before that, design the intervention and put it into practice as a pilot project. From its implementation, indicators must be created and monitored to enable the results to be accompanied. Impact assessment research should be developed, identifying whether the intervention is effective and comparing its costs and benefits.

Despite being complex and with visible results in the long run, this process is possible. If we look at other countries and even some Brazilian states, we find examples of successful public policies such as the Programa de Apoio ao Desenvolvimento Infantil in Ceará or the Becoming a Man in Chicago. Such policies can generate greater equality of opportunity for new generations and, consequently, more Brazil's economic development.


References:

OECD. A Broken Social Elevator? How to Promote Social Mobility. Paris: OECD Publishing, 2018. Avaliable in: <https://www.oecd.org/social/soc/Social-mobility-2018-Overview-MainFindings.pdf>. Access in 12 Feb. 2020.

IMDS. Sem computador e internet, jovens mais pobres têm menos oportunidades, 2020. Avaliable in: <https://imdsbrasil.org/conteudos/materias/05/sem-computador-e-internet-jovens-mais-pobres-tem-menos-oportunidades>. Access in 10 Feb. 2020.

IMDS. Projetos sociais buscam reduzir abismos no acesso à tecnologia, 2020. Avaliable in: <https://imdsbrasil.org/conteudos/materias/06/projetos-sociais-buscam-reduzir-abismos-no-acesso-a-tecnologia>. Access in 11 Feb. 2020.

IMDS. As trilhas da mobilidade social, 2020. Avaliable in: <https://imdsbrasil.org/conteudos/materias/01/as-trilhas-da-mobilidade-social>. Access in 05 Feb. 2020.

IMDS. Uma construção realista do futuro, 2020. Avaliable in: <https://imdsbrasil.org/conteudos/materias/02/uma-construcao-realista-do-futuro>. Access in 05 Feb. 2020.

IMDS. Mobilidade social à luz das políticas públicas e da ciência, 2020. Avaliable in: <https://imdsbrasil.org/conteudos/materias/03/mobilidade-social-a-luz-das-politicas-publicas-e-da-ciencia>. Access in 05 Feb. 2020.



Economistas que Inspiram!

Marianne Bertrand é a “Economista que Inspira” desta semana!

Bertrand nasceu na Bélgica, onde cursou bacharelado em Economia e mestrado em Econometria na Universite Libre de Bruxelles. Em 1993 a economista mudou-se para os Estados Unidos, onde concluiu o doutorado em Economia na Universidade de Harvard em 1998. Ao fim do doutorado Marianne trabalhou como professora no departamento de Economia da Universidade de Princeton. Já em 2000 foi para a Universidade de Chicago, onde leciona até hoje.

A linha de pesquisa de Bertrand é em microeconomia aplicada, voltada principalmente para as áreas de economia do trabalho, finanças corporativas e economia do desenvolvimento. A pesquisadora tem artigos publicado em importantes revistas como no Quartely Journal of Economics, no Journal of Political Economy, na American Economic Review e no Journal of Finance. Um de seus artigos sobre discriminação no mercado de trabalho, “Are Emily and Greg More Employable Than Lakisha and Jamal? A Field Experiment on Labor Market Discrimination” publicado na American Economic Review já conta com mais de cinco mil citações, e é um dos trabalhos mais importantes no campo de experimentos em economia do trabalho.

A economista já recebeu vários prêmios e homenagens, incluindo o Prêmio de Pesquisa Elaine Benett de 2004, concedido pela American Economic Association em reconhecimento às pesquisas na área de Economia realizadas por mulheres no início de suas carreiras. Em 2012 recebeu o Prêmio Rosen da Society of Labor Economists, que reconhece as contribuições mais notáveis para o campo da Economia do Trabalho.

Além de atuar como docente, Marianne também ocupa cargos como diretora e pesquisadora em conselhos e instituições que visam utilizar as ferramentas e pesquisas da área de economia para melhorar a sociedade. Bertrand é diretora do Rustandy Center for Social Sector Innovation da Universidade de Chicago e do Poverty Labs da mesma universidade. Além do mais, a economista é coeditora da American Economic Review e membro da Academia Americana de Artes e Ciências. Ela também atua como pesquisadora do National Bureau of Economic Research (NBER), nas áreas de políticas públicas e economia do trabalho.


Fontes:https://www.chicagobooth.edu/faculty/directory/b/marianne-bertrandBertrand, Marianne, and Sendhil Mullainathan. 2004. "Are Emily and Greg More Employable Than Lakisha and Jamal? A Field Experiment on Labor Market Discrimination." American Economic Review, 94 (4): 991-1013.

Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Laura Vernier Fujita. Ela possui graduação, mestrado e doutorado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2016).


Atualmente é professora categoria adjunto na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Economia, com ênfase em Métodos Quantitativos em Economia.


Confira a entrevista completa abaixo.

Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?

Optei pelo curso de ciências econômicas quando tinha 16 anos. Na época, o que me motivou foi a proximidade e o gosto pelas exatas e pela parte financeira. Além disso, conversava com meu pai sobre as profissões, e o fato de ele ser economista e conseguir me dar explicar com clareza do que se tratava o curso, foi um fator decisivo na minha escolha.

Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa.

Sou professora na Escola de Negócios da PUCRS, e recentemente ingressei na comissão coordenadora de curso de Ciências Econômicas e Ciências Contábeis. Há alguns anos, também participo do Núcleo de Inovação Pedagógica na universidade. Com relação à pesquisa, mantenho interesse na área de desenvolvimento econômico, mais especificamente na linha de economia da educação.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?

Quando ingressei na faculdade, considerava o curso de ciências econômicas predominantemente masculino. Hoje, percebo que é um ambiente misto, que pode ainda trazer alguns 'resquícios' da época que ingressei.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.

Não sofri nenhum preconceito diretamente por ser economista mulher. Creio que a cada dia esta distinção está reduzindo, apesar de ainda ser algo muito recorrente para a maioria das mulheres economistas.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Ingressei cedo na faculdade, concluindo aos 20 anos. Com 22 conclui o mestrado e, com 26, o doutorado. Inclusive fui orientada por mulheres economistas muito competentes e dedicadas, tanto na graduação (Cecília Hoff), como no mestrado e doutorado (Izete Bagolin). Na mestrado, eu iniciei dando monitorias nas disciplinas de microeconomia. Esta experiência começou a despertar em mim a vontade de ser docente, que foi se tornando cada dia mais presente. No doutorado, segui dando monitorias, e em meados do curso, comecei a dar aula no interior do estado. Foi uma época intensa e bem cansativa, uma vez que eu viajava aproximadamente 1000km por semana (500 ida e 500 volta para as missões) e estava escrevendo a minha tese. Ministrei aulas durante 3 semestres nesta universidade. Quando estava finalizando o doutorado, candidatei-me a outras instituições mais próximas da minha casa (Porto Alegre). Consegui ser chamada em ambas, e optei por trabalhar na PUCRS, local que considero minha casa! E desde então estou trabalhando como docente, participando do grupo do NIP e agora como membro da comissão coordenadora de curso.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Como em qualquer carreira, muita dedicação, esforço e interesse são fatores importantes para construir um profissional competente. É um curso extremamente interessante e com uma enorme gama de opções. Se esforce e busque o seu diferencial!

Os arranjos familiares importam no momento de decidir em qual rede de ensino matricular os filhos?

Os arranjos familiares tradicionais vêm declinando gradativamente no mundo dando espaço para as novas configurações familiares. As famílias monoparentais femininas, ou seja, aquelas em que os filhos residem apenas com suas mães, são o segundo maior tipo de arranjo familiar no Censo de 2010, com 12,2%, contra 7,9% em 1970. Adicionalmente, os dados do IBGE apontaram para o aumento da proporção de mulheres que chefiam domicílios entre 1981 e 2011: a porcentagem saltou de 16,9% para 37,5%.

De acordo com Becker (1993), a renda e as preferências familiares (dentre elas, o número de filhos) impactam os determinantes dos investimentos em cada criança, uma vez que o custo de se investir nelas é afetado por suas características e habilidades naturais. Menezes-Filho e Pazello (2004) destacam que a qualidade educacional recebida pelas crianças no Brasil é distinta. Aquelas que estão matriculadas no sistema público acessam, em média, unidades escolares de qualidade inferior quando comparadas às escolas privadas

Assim, o artigo analisou se os arranjos familiares (monoparentais ou biparentais) afetam na escolha parental de qual rede de ensino (pública ou privada) matricular os filhos. Além disso, consideramos se as chances se modificam de acordo com o nível de ensino, o sexo e a ordem de nascimento da criança, pois os investimentos parentais podem ser diferentes segundo as suas preferências.

Os principais resultados mostram que 14,88% das crianças e jovens viviam em arranjos monoparentais femininos. Segundo a ordem de nascimento, para os arranjos familiares monoparental feminino e casal com filhos, as famílias preferem investir no filho mais velho, em detrimento dos demais filhos. Além disso, verificou-se que o filho do sexo masculino tem menores chances de estudar em uma rede privada caso esteja em um arranjo monoparental feminino. Esse resultado pode mostrar uma preferência da mãe em incentivar o estudo da filha em uma tentativa de empoderá-la.


Para ter acesso ao trabalho na íntegra acesse o link: https://rebep.org.br/revista/article/view/1286


Economistas que Inspiram!

Carmem Aparecida Feijó é a “Economista que Inspira” desta semana!

Feijó é professora titular da Universidade Federal Fluminense (UFF), na qual possui vínculo institucional desde 1992.

Carmem possui graduação em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1974), mestrado em Economia da Produção pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1977), doutorado em Economia pela University College London (1988) e Pós-doutorado na Universidade de Columbia (2015-2016).

Em sua carreira acadêmica, Feijó desenvolve pesquisas com ênfase em Macroeconomia Pós-Keynesiana, atuando principalmente com os temas: macroeconomia pós-Keynesiana, crescimento econômico, indústria, produtividade e contabilidade social. Entre suas contribuições científicas, que perpassam por jornais nacionais e internacionais com renome, os seus livros no tema de Contabilidade Social se tornaram manuais indispensáveis nos cursos de economia do Brasil. Pelas suas notáveis contribuições, ela é bolsista de produtividade em pesquisa nível 1D do CNPq.

Carmem também já assumiu diversos cargos em órgãos de coordenação da pesquisa nacional. No biênio 2008-2009, ela ocupou a Secretaria Executiva da Associação Nacional de Pós-Graduação em Economia (ANPEC). Em setembro de 2011 assumiu a função de Coordenadora-adjunta da área de Economia da CAPES (triênio 2010-2013), e em maio de 2012 a Coordenação da área. Atualmente, integra o comitê assessor de Economia do CNPq (triênio 2020-2023).

Carmem também atuou como pesquisadora no Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) até 2003. De 2015 a 2020 atuou como editora dos Cadernos do Desenvolvimento do Centro Internacional Celso Furtado. É membro-eleita do International Statistical Institute (ISI) desde 1998.

Uma carreira e tanto não é mesmo?! Com certeza Carmem já inspirou e vem inspirando muitas economistas por aí.

Você já leu algum livro ou artigo da Carmem Feijó? Deixei seu comentário e compartilhe com sua rede.

Fonte: http://lattes.cnpq.br/9040659895653917

Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Simone Magalhães. Economista com mestrado em Administração Estratégica. Ela é pós-graduada em Perícia Criminal e Ciências Forenses e em Economia Empresarial, possui MBA em Finanças e Controladoria. Ela também é especialista em Inteligência e Investigação em Fontes Abertas e em Investigação Patrimonial.


Atualmente, Simone é proprietária e responsável técnica da Magalhães Assessoria e Perícias Ltda, atuando há 19 anos como perita judicial e extrajudicial.

Confira a entrevista completa abaixo.


Qual a sua área de atuação?

Sou proprietária e responsável técnica da Magalhães Assessoria e Perícias Ltda, atuando há 19 anos como perita judicial e extrajudicial. Meu foco de trabalho é a produção de provas para a fase inicial de uma ação judicial.

Também sou professora em diversos cursos de pós graduação nas áreas de Perícia Judicial e Extrajudicial , Compliance e Auditoria

E Ainda, sou professora da Escola de Educação Continuada para Peritos do Conselho Federal de Economia. Ex-Presidente do Conselho Regional de Economia do RS gestão 2016.


O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho?

Meu dia a dia é bastante intenso. A grande maioria do meu trabalho provém de escritórios de advocacia, mas também atendo tribunais de justiça. Meu trabalho é focado em receber a demanda dos clientes, organizar e ler toda a documentação enviada e analisar de forma minuciosa o caso.

A partir de então, parto para a investigação de acordo com a demanda. Assim, uso ferramentas de buscas na web, em toda as camadas (de google a dark web), buscando assim o máximo de informações que ampare a tese de acusação ou de defesa do meu cliente. Também faço diligências nas empresas, cartórios, fóruns e demais locais que forem necessários para buscar a informação que preciso.

Após toda a investigação, o que demanda em torno de 70% do meu trabalho, eu compilo as informações em um Parecer Técnico extremamente bem fundamentado, acompanhado de todo o material proveniente da investigação feita e envio ao cliente.


Quais os principais motivos que lhe levaram a estudar Economia?

Economia não foi minha primeira opção. Fiz 1 ano de engenharia. Mas na época já trabalhava e meu diretor era economista e me falou da profissão e disse que eu tinha perfil para a área. Então fui fazer um teste vocacional na Unisinos e foi incrível que economia estava na ponta com engenharia. Então resolvi trocar para ver se realmente iria gostar. Quando fiz a disciplina de economia introdutória e macroeconomia, não tive dúvida que era a profissão que eu queria.

O olhar macroeconômico dá aos economistas um diferencial incrível, pois aprendemos a olhar todas as coisas de uma forma ampla e jamais estar na “caixinha”. Também a microeconomia me trouxe os conhecimentos da teoria dos jogos, uma ferramenta imprescindível para a área que atuo. Claro, não posso deixar de citar que a faculdade de economia é para os fortes, pois temos uma carga de estudo muito grande e precisamos aproveitar cada detalhe na nossa formação diária para alcançar sucesso profissional.


Vivências no mercado de trabalho

Eu comecei a trabalhar muito cedo, pois meu sonho era cursar uma faculdade e precisava ter condições para isso. A partir do meu terceiro trabalho, sempre trabalhei em áreas financeiras e planejamento de empresas de médio e grande porte. Desde 2002, trabalho na minha empresa.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres, que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho?

Na minha época de faculdade, os homens eram maioria. Hoje acho que está mais equilibrado. No meu escritório sempre dou preferência em chamar estudantes de economia, treinar e contratar. Também dou preferência para mulheres, pois são mais detalhistas e é tudo que preciso.


Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher?

Preconceito por ser mulher economista não. Quando fui presidente do Conselho de Economia do RS, fui eleita por uma banca de conselheiros 100% masculina.

O mais próximo de preconceito que posso ter sofrido foi quando morei em Minas Gerais, mas acredito que o fato não era de ser mulher e sim de ser de fora. Mas com o tempo, tiveram que me aceitar pela qualidade do trabalho que apresentei.


Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Num momento difícil de crise econômica em 2002, fiz um curso de perícia no Corecon/RS e quando fui desligada resolvi entrar para a área. Em três meses já tinha uma carteira de clientes e nunca mais sai. Há uns 8 anos atrás, resolvi entrar para a área criminal e comecei a fazer excelentes trabalhos, inclusive um deles concorreu ao prêmio Assistente Técnico da Sociedade Brasileira de Ciências Forenses e ficou em 7º lugar, concorrendo com todos os tipos de crimes do país. Hoje meu foco é perícia investigativa.


O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Como falei, sou uma militante da área. A faculdade de economia te prepara para um universo de possibilidades. As mulheres têm ainda mais vantagens por ter um perfil mais detalhista e conseguir ter vários olhares ao mesmo tempo. O lado ortodoxo da profissão fica com os homens e o lado criativo e inovador com as mulheres, então não tenho dúvida que nossa profissão deveria ser dominada pelas mulheres.


Se possui uma carreira acadêmica, seria interessante que fale sobre seu tema de pesquisa.

Hoje trabalho na minha pré-tese de doutorado. Estou estudando processos decisórios na área judicial e entender como as provas técnicas em fase de conhecimento contribuem no julgamento da lide.


Os efeitos da produção de orgânicos na renda dos municípios brasileiros

A agricultura orgânica tem aumentado a sua importância econômica no agronegócio mundial. Em 2017, 69,8 milhões de hectares de produção foram registrados no mundo o que movimentou 97 bilhões de dólares2017 (Willer, e Lernoud, 2019).

No Brasil, o aumento no número de certificações de produtores orgânicos e projeções otimistas de consumo, também refletem a crescente importância desse segmento para o agronegócio do país(ORGANIS - Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável, 2017). Sendo o Brasil o país com o maior mercado para produção de orgânicos na América Latina e Caribe, conforme projeções de 2017 (Willer, e Lernoud, 2019).

Apesar da adoção de certificação de produção orgânica ter apresentado crescimento, ela ainda apresenta importantes custos de barreira à entrada (Mazzoleni e Nogueira, 2006). Dificuldade, que influencia principalmente a adoção de agricultura orgânica por produtores empresarias ou agroindustriais(Assis, 2006). Sabe-se que a adoção da agricultura orgânica por produtores patronais se mostra difícil em razão da perda inicial de produtividade pela adoção de práticas agroecológicas de cultivo

Assim, foi avaliado se municípios com produção relevante em contexto nacional, acima de 2% das propriedades, lograram de resultados econômicos positivos em comparação a município com produção orgânica abaixo da média.

A produção acima da média ampliou o PIB per capita municipal em R$ 1.647 e o valor agregado agropecuário em R$ 35.376. Para os resultados utilizando o pareamento, os valores foram também significativos, R$ 1.677 e R$ 35.311.

Considerando os resultados é possível verificar a causalidade com relação à produção de agricultura orgânica pelas propriedades e crescimento econômico. O que reforça o impacto positivo das produções agroecológicas, que transcendem o já confirmado impacto ambiental.


Para ter acesso ao artigo na íntegra acesse: https://en.anpec.org.br/calendar/48_Encontro_Nacional_de_Economia-Programacao_Preliminar-20201126.pdf


Economistas que Inspiram!

O quadro “Economistas que Inspiram” desta semana lhes apresenta Kate Raworth.

Kate é britânica, formada em economia pela Universidade de Oxford. Atualmente, é professora e pesquisadora do Environmental Change Institute da Universidade de Oxford. Raworth tem experiência em missões de campo pelas Organizações das Nações Unidas e também colaborou com a Oxfam viajando para diversos países subdesenvolvidos fazendo pesquisas sobre sustentabilidade e pobreza.

Kate diz que cresceu vendo noticiários sobre desastres ambientais e pobreza nos países subdesenvolvidos, e isso que a motivou a estudar a fundo estes temas e contribuir para uma mudança real no mundo. Sua pesquisa gira em torno da economia sustentável, para a economista é necessário vencer as barreiras do mainstream econômico que encara o PIB como principal medida de crescimento e pensar em um modelo menos limitado, onde o crescimento econômico não comprometa as futuras gerações.

Desde 2011, Kate Raworth, trabalha em uma nova proposta de desenvolvimento econômico onde o crescimento da economia não é concorrente da proteção ambiental, pelo contrário, há um equilíbrio e integração entre a economia e o meio ambiente. Em 2017 ela sintetizou sua teoria no best-seller “Economia Donut: uma alternativa ao crescimento a qualquer custo”.

O trabalho de Raworth ultrapassou as fronteiras da Universidade e seu modelo de desenvolvimento está sendo implementado em diversas cidades ao redor do mundo. Em 2020 Amsterdã foi a primeira cidade a oficializar o início da execução do modelo de economia Donut. Além disso, outros governos procuram o Laboratório de Ação da Economia Donut, criado pela economista, em busca de consultoria para melhorar o modelo de desenvolvimento econômico de suas cidades.

Kate Raworth foi recentemente apontada pela Revista Forbes como uma das cinco mulheres economistas que estão revolucionando seus campos de pesquisa e redefinindo o estudo da economia mundial. E além disso, Kate também está sendo uma inspiração para todas nós.

Fontes:

https://www.kateraworth.com

https://theintercept.com/2020/09/22/entrevista-kate-raworth-pandemia/


Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Professora Drª Fernanda Cristina Wiebusch Sindelar. Ela possui graduação em Ciências Econômicas pelo Centro Universitário Univates (2003), mestrado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2007) e doutorado em Ambiente e Desenvolvimento pelo Centro Universitário Univates (2015).


Fernanda tem experiência na área de Economia, atuando principalmente nos seguintes temas: Vale do Taquari, cadeias produtivas, agricultura orgânica, e indicadores envolvendo sustentabilidade de sistemas.

Confira a entrevista completa abaixo.

Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?

Quando estava finalizando o ensino médio, fiz um teste vocacional que indicava a realização de dois cursos: economia e direito, considerando meu perfil. Na época, não me enxergava seguindo a área do direito (minha visão era limitada, e tinha certeza que não queria ser advogada atuando em um escritório e defendendo causas), e a economia, me atraiu mais, já que eu tinha afinidade com matemática e áreas exatas (na época também desconhecia toda a parte subjetiva da economia como ciência social, achava que era mais quantitativa), assim como, li muito a respeito e me atraia a ideia de poder compreender melhor como as coisas funcionam no mundo de maneira geral, que eu teria uma visão mais ampla que de um ambiente organizacional interno (foco maior da Administração ou Contabilidade, na época). Além disso, a procura por cursos de economia era inferior a procura por Administração, então achava que isso poderia ser um diferencial para mim. Na época também visualizava a possibilidade de realizar um concurso público em um banco ou organização governamental, então cursar economia poderia ser interessante.

Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa.

Sou docente permanente na área de gestão organizacional na Univates. No meu plano de trabalho incluem-se horas destinadas a: a) docência, seja no ensino presencial, como à distância, b) coordenação de curso de graduação (agora em 2021 assumi a coordenação dos cursos tecnológicos da gestão ofertadas na modalidade EAD, que atualmente são 8), mas também já coordenei os cursos de Relações Internacionais e Comércio Exterior, c) também participo de um projeto de extensão que busca discutir questões das Relações Internacionais em escolas da região, e, d) atuo junto a projetos de pesquisa (como voluntária). As pesquisas estão relacionadas a três temas: sistemas produtivos sustentáveis, em especial, avaliando as contribuições das cooperativas para o alcance do desenvolvimento sustentável; sistemas orgânicos de produção, e migrações internacionais.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?

Quando iniciei meus estudos acho que essas diferenças eram mais presentes (nunca esqueci um comentário que um colega meu na época fez, dizendo que eu era muito nova para estudar economia, que me faltaria vivência para compreender tudo o que acontecia - ele era homem, e bem mais velho, felizmente tudo isso superado), mas hoje em dia, já não vejo mais tanto. No mundo corporativo acredito que estas questões infelizmente ainda estejam presentes, mas no ambiente em que atuo, a distinção entre gêneros é menos presente.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.

Poucas vezes. Felizmente atuei em quase toda a minha vida profissional na Universidade, então acho que estive menos exposta a esse tipo de preconceito.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Como mencionei na questão anterior, minha vida profissional é vinculada basicamente a Univates. Logo que iniciei minha graduação, consegui um estágio no departamento de economia da Univates (na época cada curso praticamente tinha o seu departamento, depois foram reestruturando), onde atuei por dois anos. Depois disso, fui Bolsista de Iniciação Científica FAPERGS. E após, passei a trabalhar como auxiliar administrativa no setor Financeiro da Instituição, até passar na seleção do Mestrado. Durante o mestrado, tive outra experiência profissional, mas minha intenção sempre atuar junto a uma universidade. Assim, logo que terminei o mestrado me candidatei a vagas de docentes (iniciei em um faculdade em Caxias do Sul), e em 2008 passei em uma seleção na Univates, onde estou desde então. Entre 2008 e 2011 foi professora horista, e desde 2012 como professora permanente.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

A economia é um curso que nos auxilia a compreender como as coisas funcionam de maneira ampla. Como as atividades estão sempre ocorrendo, precisamos estar atentos a tudo o que acontece o tempo inteiro, não apenas no meio econômico, mas outras áreas que também afetam as atividades econômicas, como a política e o ambiente internacional, por exemplo. Não se trata apenas na alocação de recursos com o intuito de ampliar a rentabilidade (já que muitos associam a economia ao dinheiro), mas também, que devemos reconhecer a necessidade de desenvolvermos atividades que contribuam para a melhora da renda, mas também respeitem o meio ambiente e procurem um desenvolvimento da sociedade de maneira ampla.

Sinta-se à vontade para acrescentar outras informações que julgar interessante que mulheres que pretendem ou atuam na área de economia saibam.

Independente de gênero, acredito que devemos fazer nosso trabalho da melhor forma possível. Profissionais sérios, dedicados, que buscam o aperfeiçoamento constante, tendem a obter sucesso e satisfação no meio em que irão atuar.




A variável ambiental: internalizando o desenvolvimento sustentável

Entender os processos empresariais de apropriação da temática do desenvolvimento sustentável via certificação ambiental.

Como as empresas se apropriaram e internalizaram a discussão sobre o conceito de Desenvolvimento Ambiental Sustentável? A leitura objetiva estudar no âmbito das empresas a relação do crescimento econômico com o meio ambiente, mas precisamente empresas que conquistaram a certificação NBR norma ISO 14001:2004.

A partir da contribuição das correntes da Economia Neoclássica e Economia Ecológica, discute- se os processos de apropriação do tema de Desenvolvimento Sustentável pelo setor empresarial via certificação ambiental.

Este livro é dirigido as empresas que buscam se apropriarem do conceito de desenvolvimento ambiental sustentável, assim como, as principais implicações socioeconômicas resultante da implantação de um sistema de gestão ambiental.


Para ter acesso ao trabalho na íntegra acesse o link: https://www.morebooks.de/store/gb/book/a-vari%C3%A1vel-ambiental:internalizando-o-desenvolvimento-sustent%C3%A1vel/isbn/978-620-2-56113-6


Economistas que Inspiram!

O quadro “Economistas que Inspiram” desta semana lhes apresenta Leda Maria Paulani. Leda, atualmente é professora do Departamento de Economia e da Pós-graduação em Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade - Universidade de São Paulo - FEA/USP, na qual possui o título de livre docente desde 2004.

A nossa Economista de hoje, formou-se em Economia no ano de 1976 pela USP. Paulani, além da graduação em Ciências Econômicas, no ano de 1981 conclui o curso de Comunicação Social pela Escola de Comunicação e Artes (ECA) -USP. Conclui seu doutorado Teoria Econômica pelo Instituto de Pesquisas Econômicas - IPE/USP no ano de 1992.

Seu campo de pesquisa centra-se principalmente em Economia Política, Economia Brasileira e Contabilidade Social. No período de 2004 a 2008 atuou como presidente da Sociedade Brasileira de Economia Política (SEP).

Paulani é pesquisadora do CNPq (bolsista de Produtividade em Pesquisa nível 1D). Possui inúmeros artigos, livros, organização e edições de livros publicados. Publica regularmente em periódicos nacionais e internacionais, tanto na área de economia como também nas demais áreas das Ciências Humanas.

Além de sua atuação acadêmica, durante o período de 2001 a 2003, ela atuou como assessora chefe do gabinete da Secretaria de Finanças da Prefeitura de São Paulo. No decorrer 2013 a 2015, foi secretária municipal de planejamento, orçamento e gestão da Prefeitura de São Paulo.

Uma carreira e tanto, não é mesmo?! Com certeza Leda já inspirou e vem inspirando muitas economistas por aí.


Fonte:

http://143.107.92.173/CCPEAE/orientadores-plenos/membro-8060340964685263.html

Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Professora Drª Kellen Fraga, graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 2004, mestrado e doutorado em Economia pelo Programa de Pós-Graduação em Economia da UFRGS. Atualmente é professora da Escola de Negócios da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), e atua na coordenação do curso de Ciências Econômicas da PUCRS.


Ela também integra o Núcleo de Inovação Pedagógica da Escola de Negócios e é professora e coordenadora de cursos de Pós-Graduação Online da PUCRS. Tem experiência profissional junto ao Governo Federal e à Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex-Brasil) nas áreas de promoção de exportações e internacionalização de empresas, e de desenvolvimento produtivo de micro e pequenas empresas (2007-2011). Desenvolveu atividades de assessoria ao Núcleo de Apoio à Gestão da Inovação da PUCRS (2012-2015) e a empresas startups no TECNOPUC, Parque Científico e Tecnológico da PUCRS (20015- 2020). Tem conhecimentos em Economia, com ênfase em Crescimento e Desenvolvimento Econômico, Economia Brasileira, Internacionalização, Empreendedorismo e Inovação.

Confira a entrevista completa abaixo.

Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?

Minha inconformidade em não saber qual o papel do governo na sociedade e qual a sua influência as nossas vidas. Aos 13 anos de idade, enquanto meus colegas faziam seus trabalhos de história sobre a Grécia, eu insisti para fazer sobre o Plano Real!


Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa.

Eu sou professora do curso de Ciências Econômicas da PUCRS. Atualmente, também atuo como coordenadora. Acolho e oriento os estudantes na escolha do percurso formativo e complementar do curso; respondo pelos processos acadêmicos dos estudantes, como a matrícula e a formatura; planejo e executo um plano de trabalho de coordenação que está voltado a práticas pedagógicas, seja para a qualificação de disciplinas, seja para avaliação do curso, pois também integro o núcleo de inovação pedagógica da Escola de Negócios. Participei de ações de extensão universitária com comunidades de extrema pobreza através do Projeto Rondon, organizado pelo Ministério da Defesa e universidades brasileiras em cidades do Piauí, Maranhão e Minas Gerais.


Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?

A maioria dos estudantes de Economia ainda é do gênero masculino na PUCRS, embora cresça o interesse do público feminino pelos temas que se estudam no curso. No meu ambiente de trabalho não percebo distinções de gênero; penso que a Universidade ainda é um dos poucos locais que se orientam pela pluralidade e a diverisidade.


Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.

Quando atuei no governo federal, em Brasilia, sofri preconceito. Em reuniões de grupos de trabalho interministeriais, por exemplo, somente os homens tinham voz. As representantes mulheres eram "intermediadas" pelos seus colegas homens. É como se participássemos meramente como ouvintes.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Após o mestrado eu comecei a lecionar economia em uma faculdade de Porto Alegre e na UFRGS, como professora substituta. Fui assessora da Apex-Brasil, a Agência Brasileria de Promoção de Exportações, e participei da execução de políticas de desenvolvimento produtivo do Governo Federal. Morei em Brasília durante cinco anos. Voltei para Porto Alegre para ser professora da PUCRS. Nos últimos anos, atuei também como assessora no Tecnopuc, Parque Científico e Tecnológico da PUCRS, na área de desenvolvimento de startups.


O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

A carreira de economista é fascinante. Você conhece a obra de grandes pensadores que originaram os maiores debates no mundo; você aprende teorias e instrumentos que te fazem compreender o que é ciência e como aplicá-la; ganha habilidades com cálculos e métodos quantitativos que te permitem estimar como os fenômenos ocorrem. Você passa a ser capaz de entender um pouco de política econômica; saber da importância dos mercados e dos seus princípios. Enfim, é muito além de quanto você poupa ou quanto você ganha; é como você passa a tomar decisões e é capaz de mudar a realidade da qual faz parte.


Insumos associados à função de produção de saúde para idosos no Brasil: uma análise com base na pesquisa nacional de saúde 2013


A população brasileira está em processo de envelhecimento, e um dos principais desafios para o país neste momento é assegurar aos nossos idosos um envelhecimento saudável e com qualidade de vida.

Por esta razão, estudos sobre a função de produção de saúde dos idosos, que buscam identificar os insumos associados à produção de boa saúde para essa população, tornam-se relevantes para o delineamento de políticas públicas com foco na saúde preventiva.

Os resultados do artigo apontam que atingir níveis mais altos de escolaridade, ser branco, alcançar nível socioeconômico mais elevado, praticar atividades físicas regularmente, ter plano de saúde e não ter sido diagnosticado com alguma doença crônica são fatores positivamente associados à percepção de boa saúde por parte dos idosos.

Considerando a depreciação natural do estado de saúde que ocorre com o aumento da idade e o rápido processo de envelhecimento da população, políticas específicas para essa faixa etária são de grande relevância, sobretudo devido aos custos e às complexidades relacionadas às internações.

Desta forma, os autores sugerem que políticas públicas que influenciem o comportamento dos indivíduos, seja por meio da adoção de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos, alimentação saudável e interação social., que podem ter sua eficácia, seja por intermédio do estímulo aos cuidados com a saúde – especialmente para o sexo masculino, que reporta ter boa saúde, mas, no entanto, acessa pouco os serviços de saúde, além de apresentar custos mais elevados de internações. Nesse sentido, é preciso incentivar o acesso dos homens aos postos de saúde, assim como a criação e a frequência de programas públicos para a prática de esportes e academias ao ar livre. Por fim, é preciso repensar a política em relação ao acesso aos planos de saúde, com o custo elevado para os idosos.

Disponível em:

https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/ppp/200928_PPP54_Miolo_ART08.pdf


Economistas que Inspiram!

A nossa Economista de hoje fará parte da equipe econômica do presidente norte americano Eleito Joen Biden, na qual ocupará o cargo de secretária do tesouro – primeira mulher a dirigir o Departamento.

Yellen se formou summa cum laude (com a maior das honras) na Brown University em economia no ano de 1967 e recebeu seu Ph.D. em economia pela Universidade de Yale em 1971.

A Universidade de Yale concedeu a Yellen a medalha Wilbur Cross em 1997 por realizações notáveis ​​em bolsas de estudos, ensino, administração acadêmica e serviço público e um título de Doutor Honorário em Ciências Sociais em 2015. Em 1998, Brown a concedeu um título Honorário Doutor em Direito e, em 2000, o Bard College concedeu-lhe o título de Doutor em Letras Humanas.

Dra. Yellen é uma bolsista ilustre residente do Programa de Estudos Econômicos da Brookings Institution – agora licenciada por conta do cargo que irá assumir. Além disso, ela já atuou como presidente do Conselho do Federal Reserve (2014-2018), como vice-presidente do Conselho do Federal Reserve (2010-2014), como presidente e diretor executivo do Federal Reserve Bank de San Francisco (2004-2010 ) e como Presidente do Conselho de Consultores Econômicos da Casa Branca (1997-1999).

Além do mais, ela possui uma atuação importante em diversas universidades: Professora Emérita na Universidade da Califórnia em Berkeley, na qual foi Professora de Negócios e Professora de Economia Eugene E. e Catherine M. Trefethen (1999-2006); professora assistente de economia na Universidade de Harvard (1971-1976); e, professora da London School of Economics (1978-1988).


Fonte: https://www.brookings.edu/experts/janet-l-yellen/

A Covid-19 e a volta às aulas: ouvindo as evidências

O artigo tem como objetivos investigar o impacto do fechamento das escolas, em decorrência da pandemia de COVID-19, no desempenho dos alunos no curto e no longo prazo, e refletir sobre potenciais intervenções que poderiam mitigar suas consequências.

Os autores fizeram uma revisão da literatura sobre situações similares de fechamento de escolas, uso do tempo escolar e estratégias eficazes de ensino, analisando mais de uma centena de trabalhos acadêmicos publicados recentemente.

A investigação mostrou que o fechamento temporário de escolas, planejado ou não, está mais associado com estagnação do que com perda de conhecimento, ou seja, o aluno deixa de aprender, e quando há perda, ela pode ser recuperada a curto prazo com o retorno das aulas.

Entretanto, observa-se efeitos sobre evasão escolar, que deve ser vista com cuidado entre grupos mais vulneráveis.

Estratégias como aumento da carga horária escolar, uso de tecnologias ou ensino remoto dificilmente são eficazes e dependem fortemente de outras estratégias aliadas como currículo bem estruturado e professores bem preparados.

Estratégias eficazes que podem ser adotadas pela escola incluem: avaliação diagnóstica, tutorias focalizadas, dever de casa, garantia de frequência escolar. Políticas voltadas à primeira infância e atenção aos primeiros anos escolares dos alunos, incluindo a alfabetização são cruciais para enfrentar desigualdades educacionais.

Para acessar o artigo na íntegra é só clicar no link: 10.1590/S0104-403620200028028



Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Professora Drª Ana Paula Bastos, graduada em Psicologia das Organizações pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (1993), Master of Arts in Economics - University of Tsukuba, Management Science and Public Policy Studies (1998) e Doctor of Philosophy in Economics - University of Tsukuba, Institute of Policy and Planning Sciences (2002), Japão.


Ela possui pós-Doutorado nos Institutos de Economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (2002) e na Universidade de Campinas (2013). Ela também foi Visiting Scholar no Instituto de Geografia da Universidade de Colônia, Alemanha (2018). Coordenou o Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido da Universidade Federal do Pará (UFPA) e foi vice-diretora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos /UFPA. Atualmente, Ana Paula é Professora Associada do Departamento de Gestão de Políticas Públicas da FACE, Universidade de Brasília. Tem experiência na área de economia e desenvolvimento com ênfase em Estudos Regionais e Urbanos.

Confira a entrevista completa abaixo.

Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?

Interesse pelas questões da desigualdade e desenvolvimento desigual das nações

Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa.

Estudo impactos socio-ambientais da expansão do capitalismo sobre sociedades não capitalistas. Estudo percepções difundidas entre as populações mais vulneráveis em como o aumento da renda média e dos indicadores socioeconomicos é panaceia para a aceitação de qualquer tipo de modelo de desenvolvimento, ignorando saberes e práticas tradicionais de existência. Os focos atuais de pesquisa são o Corredor Rodoviário Bi-Oceânico, Porto Murtinho portos Norte do Chile e a Expansão do Porto de Santa Marta no Norte da Colômbia.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?

O ensino e pesquisa universitários em Economia são um ambiente masculino. Se entre os/as estudantes existe um equilíbrio de gênero (graduação e pós), entre pesquisadores/as começam as desigualdades: mais homens vão produzir mais e também vão liderar mais projetos, vão ser maioria entre os/as professores/as. No entanto entre todas as carreiras profissionais de economista, me parece que a Universidade é a menos desigual.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.

Na pós-graduação em economia sim: assédio por alguns professores e "benevolência" por outros. Como optei pela carreira acadêmica na inserção e desenvolvimento de minha vida profissional não tenho percebido preconceito.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Percorri um longo caminho, desde a graduação em Psicologia do Trabalho e Empresas pela Universidade do Porto, Portugal. No meu primeiro emprego trabalhei com restruturação de empregos industriais, e uma psicóloga não era bem aceita no chão de fábrica ou pelos gestores. Decidi ir fazer Gestão para o país na moda em práticas de gestão da produção, à època: Japão. Uma vez lá me interessei muito mais pelos aspectos da economia da Inovação e como tinha a opção de mestrado em economia, eu escolhi a linha da economia. O Doutorado veio naturalmente. terminado o Doutorado, vim fazer pós-doutorado no IE da UFRJ com o prof. João Carlos Ferraz e não mais deixei de pesquisar Brasil e seu modelo de (des)envolvimento. A paixão pelo novo me levou a fazer concurso de visitante no Departamento de Economia da Universidade Federal do Pará. O concurso para professor efetivo foi para a área de economia do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, onde expandi meus olhares e, apesar de leccionar teoria econômica e métodos quantitativos, passei a realizar todas as minhas pesquisas de forma interdisciplinar. Após uma breve passagem pelo IE da Unicamp para conciliar razões familiares (tratamentos de reabilitação de uma filha deficiente) com um aprofundamento das teorias de desenvolvimento ali desenvolvidas, acabei por pedir transferência para a UnB, também pelas mesmas razões familiares, onde lecciono as disciplinas de politica fiscal e economia do setor público no Departamento de Gestão de Políticas Pûblicas e faço parte do Núcleo de Estudos Amazônicos do Centro de Estudos Multidisciplinares da UnB. Há dois anos (2018, inserida num projeto de pesquisa com a Universidade de Colônia, Alemanha, tive uma breve passagem pelo Instituto de Geografia Econômica desta Universidade. à época extendi minha estada para aproveitar que minha filha fizesse um tratamento pioneiro de reabilitação numa unidade da Universidade. Desde o nascimento de minhas filhas muito prematuras (e mãe solo) toda a minha produção vem sendo afetada. Na verdade, minha carreira tem altos e baixos dependendo das necessidades de maior ou menor atenção à reabilitação de minha filha.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Nunca se deixarem abalar pelo preconceito que possam sofrer, nem permitir (se calar) a qualquer tipo de assédio por parte de professores ou superiores hieráquicos, colegas, supervisionados, alunos ou orientandos. Os conteúdos da economia são neutros podem ser apreendidos por ambos os gêneros, no entanto o capitalismo não o é. A inserção no mercado de trabalho discrimina a mulher por a entender responsável pelo núcleo familiar, por a considerar frágil e muitos outros etc. O núcleo familiar muitas vezes desconsidera o trabalho não remunerado da mulher e/ou não ignora a importância de seu papel profissional. Resistir e vencer!

Sinta-se à vontade para acrescentar outras informações que julgar interessante que mulheres que pretendem ou atuam na área de economia saibam.

Sugeriria ler Silvia Frederici a todas as candidatas a economista e os estudos de economia feminista a todas aquelas que já o são.


Economistas que Inspiram!

Cecilia Elena Rouse é reitora da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais de Princeton e professora de Economia e Relações Públicas. Seus principais interesses de pesquisa são em economia do trabalho, com foco na economia da educação. Rouse é diretora fundadora da Seção de Pesquisa em Educação de Princeton e membro da National Academy of Education. Ela é editora sênior do The Future of Children, uma revista científica de política publicado pela School and the Brookings Institution, atua no conselho editorial do American Economic Journal e foi editora do Journal of Labor Economics. Ela também atua no Conselho de Relações Exteriores da Universidade de Rhode Island e é membro do National Bureau of Economic Research (NBER).

Seus trabalhos são amplamente conhecidos e tratam de aspectos sociais, como as desigualdades educacionais e a discriminação de gênero no mercado de trabalho. Segundo Rouse, ela foi atraída pela economia por ser uma disciplina na qual ela pode realmente abordar os problemas sociais.

De 2009 a 2011, Rouse atuou como membro do Conselho de Consultores Econômicos do presidente Barack Obama e trabalhou no Conselho Econômico Nacional dos EUA na administração Clinton como assistente especial do presidente de 1998 a 1999.

De sua experiência econômica no serviço público, o qual lhe proporcionou aplicações de políticas públicas, Rouse conta: "Trabalhei para ajudar a desenvolver um conjunto de políticas em várias áreas, incluindo encontrar maneiras de tornar mais atraente para os empregadores a contratação de trabalhadores e encontrar maneiras de os trabalhadores investirem em si mesmos para torná-los mais produtivos".

Recentemente, em novembro de 2020, o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, indicou Rouse para presidir o Conselho de Consultores Econômicos e, se for confirmada, ela atuará como membro do gabinete do presidente. Ela será a quarta mulher a presidir o Conselho e a primeira Afro-Americana.

No evento, Rouse declara: “Este é um momento de urgência e de oportunidade, diferente de qualquer outro que enfrentamos nos tempos modernos - a urgência de acabar com uma crise devastadora e a oportunidade de construir uma economia melhor em seu rastro, uma economia que funcione para todos, que traga oportunidades de emprego e não deixe ninguém cair pelas fendas ”.

Rouse ingressou no corpo docente de Princeton em 1992 após obter seu doutorado em economia pela Universidade de Harvard, onde também concluiu seu trabalho de graduação.


Referências:

https://spia.princeton.edu/faculty/rouse

https://www.nber.org/people/cecilia_rouse?page=1&perPage=50

https://planetprinceton.com/2020/12/01/biden-nominates-princeton-economist-cecilia-rouse-to-chair-council-of-economic-advisers/

https://admission.princeton.edu/academics/faculty-profiles/cecilia-rouse

Intensidade Ecológica do bem-estar no Brasil: uma abordagem regional


A aplicação da abordagem da “intensidade ecológica do bem-estar humano (EIWB)” relacionada ao crescimento econômico é inédita no Brasil. Entende-se como EIWB a razão de uma variável representativa da pressão ambiental (CO2, por exemplo) e uma variável de bem-estar humano (IDH ou expectativa de vida, por exemplo).

O que Camila e os professores Ely e Osmar fizeram foi investigar os efeitos do crescimento econômico sobre a EIWB no Brasil. Como método, utilizaram um modelo de regressão time-series cross-section (TSCS) Prais-Winsten e encontraram resultados condizentes com a literatura internacional.

Para ter acesso ao artigo na íntegra é só acessar o link :

https://periodicos.ufsc.br/index.php/geosul/article/view/64877/44387



Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou Ana Flávia Machado, graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (1985), mestra em Economia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1993) e doutora em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2000). Atualmente ela é professora associada IV da Universidade Federal de Minas Gerais.

Entre 2010 e 2014, ela ocupou o cargo de Editora do periódico Nova Economia do Departamento de Ciências Econômicas da UFMG. No período de agosto de 2015 a março de 2018, Ana Flávia ocupou o cargo de Diretora Científico-Cultural do Espaço do Conhecimento UFMG. De março de 2018 a dezembro de 2020, esteve como Diretora de Cooperação Institucional da UFMG. Pesquisadora no CNPq em produtividade desde 2004 e membro eleita do Comitê Executivo da Association for Cultural Economics International (ACEI) a partir de 2019.

Confira a entrevista completa abaixo.

Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?

Aos 18 anos, escolhi estudar Economia porque gostava de matemática, história e geografia, disciplinas da prova aberta do vestibular à época. Conversa com uma prima que cursava Economia e memórias da infância, basicamente uma imagem fotografada na mente, também contribuíram para a escolha. No 3o período, pensei em sair, em razão do grau de abstração, mas, com avanço do curso em direção às disciplinas de História Econômica, Macroeconomia e Economia Política, decidi concluir minha formação em Ciências Econômicas.

Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa.

Sou professora na UFMG desde 1995. Eu me dedico à docência, orientação e pesquisa. Nos últimos cinco anos, também ocupei cargos na administração universitária. Bom, há cerca de dez anos, tenho como principal área de pesquisa a Economia da Cultura. Antes, trabalhei na pesquisa em economia do trabalho, economia da educação e pobreza e desigualdade. Em Economia da Cultura, trabalhei e trabalho com temas relativos a economia criativa, consumo cultural, valoração de bens culturais, mercado de trabalho de artistas, economia de museus e, recentemente, com papel das cidades criativas no desenvolvimento socioeconômico.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?

Sim, há ainda distinção, mas minhas colegas mais jovens já tem outro posicionamento quando comparadas às da minha geração. Basta observar, quantas macroeconomistas são hoje referência para discutir conjuntura econômica no Brasil. Há trinta anos atrás, a participação da mulher nesse ambiente era praticamente inexistente

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.

Sofri antes de entrar para a Universidade como professora. Quando trabalhava em processos de negociação de pautas econômicas, muitas vezes, os negociadores me chamavam de "menina", buscando deslegitimar minha argumentação. Mas, como sou "ferrinho de dentista" (assim meu pai me dizia), era raro perder na discussão.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Bom, quando tinha 18 anos, fui estimulada a fazer concursos públicos. Nos anos 80, trabalhar nos bancos federais era uma grande oportunidade. Passei em alguns deles. Quando ainda fazia graduação, fui trabalhar no Banco do Brasil no horário noturno. Era um bom emprego do ponto de vista do salário e dos benefícios. Lá, conheci outros universitários como eu e fizemos muita coisa juntos, inclusive entrar para o movimento sindical. Ao concluir a graduação, em 1985, fiz a ANPEC e passei. Pedi demissão do banco para me dedicar ao mestrado e dar aulas de Economia em escolas particulares. Depois de terminado os créditos do mestrado, trabalhei com consultoria, em especial no II Diagnóstico da Economia Mineira, quando aprendi muito sobre a economia do meu estado. Em 1989, fui aprovada na seleção do DIEESE para ser assessora técnica de sindicato. Foi outro momento de grande aprendizado. Permaneci no DIEESE até 1995, quando fiz concurso para professora assistente na UFMG. Estou lá até hoje e penso que encontrei o melhor lugar para estar como economista, o da docência e da pesquisa.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

A Ciência Econômica é uma área muito interessante porque nos ensina a pensar, nos dá oportunidade de compreender a realidade de forma mais ampla, além de nos fornecer muitos instrumentos de mensuração. Então, façam bom uso, comecem a usar desse manancial de ideias e modelos para construção de algo que tenha como centralidade o diferente, o outro. Em seu trabalho, pensem mais em pessoas, em grupos e coletivos e não em resultados, empresas e setores. Quando pensamos nas pessoas envolvidas nos vários processos, chegamos mais próximas de algo inclusivo e distributivo.


Onde está a corrupção no Brasil? Uma análise sob a ótica do Índice Regional de Corrupção – IRC


O estudo propôs um Índice Regional De Corrupção – IRC inédito para o país, calculado com base em dados oriundos de três fontes: (i) Análise de 27.975 processos judiciais de corrupção, nas 220 Procuradorias Regionais do Ministério Público Federal, com jurisdição nos 5.570 municípios brasileiros; (ii) Análise de 2.312 contas irregulares do Cadastro de Contas Julgadas Irregulares – Cadirreg – do Tribunal de Contas da União; e (iii) Análise do Índice de transparência Municipal do MPF, calculado para todos os municípios da federação. Os dados foram ponderados pela população de cada município, referentes aos anos de 2015 e 2016.

O ICR varia em entre 0 e 1, sendo um indicador de menos corrupção valores próximos a zero, e mais corrupção valores próximos a um.

Os resultados apontam a formação de clusters espaciais da corrupção do tipo alta incidência (high-high) para as regiões dos estados do Norte, e baixa incidência (low-low) para os do Sul. Em nível Brasil o ICR médio reduziu e passou de 0,23em 2015 para 0,21 em 2016.


Para ter acesso ao trabalho na íntegra acesse o link:

https://www.anpec.org.br/sul/2020/submissao/files_I/i3-dce906b21ba25b9cd3ce7b62aadb47d0.pdf


Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Izete Pengo Bagolin, graduada em Economia pela UFSM, Mestre em Economia Rural na UFRGS e o Doutora em Economia Aplicada na UFRGS. Além de ser uma das fundadoras do Conexão Mulheres & Economia.

Atualmente, ela é Professora e Pesquisadora na Escola de Negócios da PUCRS e credenciada nos Programas de Pós-Graduação em Economia do Desenvolvimento e Serviço Social. Pesquisa as temáticas que a motivaram estudar economia: pobreza, desigualdade, desenvolvimento humano e educação.

Confira a entrevista completa abaixo.


Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?

Escolhi fazer Economia por dois motivos. O primeiro deles é que eu planejava fazer concurso para o Banco do Brasil e por isso queria um curso que fosse útil para esse propósito. O segundo, e mais determinante, é que durante o ensino médio eu tive um ótimo Professor de Geografia que adotava um livro muito legal, que tratava de Geografia Econômica, que falava de desigualdades regionais, pobreza, etc e eu amei esse conteúdo e comecei a pesquisar em que curso eu continuaria estudando esses assuntos. Com base nisso, eu fiz meu único vestibular da vida para Economia na UFSM.


Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?

Sim. Além da menor representatividade das mulheres na profissão, é frequente o comentário sutil, a piadinha "inocente", a sugestão de que você deve organizar a agenda, a festinha de aniversário, etc.


Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.

Já, mais de uma vez.


Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Cumpri todos as etapas acadêmicas necessárias para a vaga, previamente já havia acumulado bastante experiência docente em outras instituições, tanto como professora substituta desde que finalizei a graduação, quanto como professora tempo integral e coordenadora de curso de graduação em outra instituição comunitária onde também fui editora de revista e vice diretora. Adicionalmente eu apresentei projeto de pesquisa e cumpri todos os requisitos no processo seletivo.


O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Que é uma área de conhecimento muito instigante, cheia de oportunidades e desafios. Que é necessário ter gosto por estudar e continuar aprendendo porque o campo de atuação é dinâmico e você nunca está completamente pronto. Mas é bastante gratificante e estimulante.


Sinta-se à vontade para acrescentar outras informações que julgar interessante que mulheres que pretendem ou atuam na área de economia saibam.

É importante que mulheres que pretendem estudar economia saibam que elas podem fazer a diferença. Que é um campo com muito espaço para boas ideias e proposições voltadas ao bem comum e a transformação da sociedade para melhor. Que muitas mulheres já vem trabalhando para fazer a diferença nessa profissão e sendo reconhecidas por isso tanto nacionalmente quanto internacionalmente. Economia é, sim, um curso adequado para mulheres.


A criação dos Institutos Federais de Educação afetou os indicadores de rendimento das escolas estaduais no ensino médio?

O estudo buscou verificar os efeitos da ampliação de escolha escolar gerada pela mudança exógena da instalação dos Institutos Federais de Educação Ciência e Tecnologia (IFs), sobre o desempenho das demais escolas públicas estaduais no ensino médio.

A instalação do IF leva a um aumento da taxa de reprovação e redução da taxa de aprovação. Esse cenário vai ao encontro do que a literatura chama de “cream skimming”, ou seja, a retirada dos melhores alunos pelos IFs deixa as demais escolas públicas estaduais em situação pior.

Os resultados encontrados vêm a corroborar para o desenho de políticas educacionais que visam o aumento de escolha escolar, como o caso de políticas de vouchers escolares no Brasil.

Ressalta-se a importância de estudar o caso brasileiro e suas especificidades, pois a estratificação das escolas tende a aumentar quando as opções de escolha escolar se expandem e, consequentemente, geram reprodução de desigualdades socioeconômicas.

Para ter acesso ao trabalho na íntegra acesse o link: https://www.anpec.org.br/encontro/2019/submissao/files_I/i5-6725b6f77dbb317138fd3bafe32c56ec.pdf


Economistas que Inspiram!

Ester Boserup nasceu no dia 18 de maio de 1910, na Dinamarca, graduou-se como em 1935 com “Candidatus Politices”, um grau de mestrado descrito por ela como “Economia teórica, sociologia e política agrícola”. Ela trabalhou para o governo dinamarquês (1935-1947), e para a Comissão Econômica da Europa da ONU (1947-1965) em política comercial agrícola.


Ficou conhecida por se opor as pressuposições, nada otimistas, sobre crescimento da população e a produção de alimentos colocadas por Malthus no século XVIII. Em seu estudo, Boserup busca tratar o fenômeno de maneira oposta a Malthus, destacando que a mudança populacional é quem impulsiona a intensificação da produção agrícola.


Além disso, na década de 1970 Boserup publica sua obra Womens’s Role in Economic Development (O papel da Mulher no Desenvolvimento Econômico), a qual é reconhecida como central nas discussões acerca do impacto do desenvolvimento sobre as relações de gênero.


“As mulheres sempre foram um componente importante na prática da agricultura, além dos sistemas agrícolas corporativos-comerciais do mundo, e mesmo assim sua consideração estava faltando na teoria econômica e na prática de desenvolvimento da época” (TURNER; FISCHER-KOWALSKI, 2014, p. 6).

Você sabe o que é teto de vidro?

Mestranda Ana Carolina Tedesco

Sabe-se que, no Brasil, as mulheres, em relação aos homens, apresentam menores taxas de participação no mercado de trabalho (Tedesco e Souza, 2020), ganham menos (Scorzafave e Menezes-Filho, 2001) e tendem a ocupar, majoritariamente, cargos informais (BRUSCHINI e LOMBARDI, 2000). Discussão ainda incipiente na esfera econômica, no entanto, é relativa à irrelevante (ou quase inexistente) presença de mulheres ocupando cargos de chefia e liderança, tanto na esfera pública quanto na esfera privada; ocorre aos montes, mas pouco investiga-se as causas ou documenta-se a respeito.

Nesse ensejo, Madalozzo (2009) encontrou que mulheres têm muito menos chances de ocuparem cargos de liderança em alguma empresa se essa empresa for tradicional, isto é, se a empresa contar com Conselhos Administrativos para escolhas de CEOs. Uma das explicações fornecidas pela autora, ancorada em ampla literatura internacional, é a de que esse método de escolha de CEO considera características pessoais dos decisores, e como esses Conselhos Administrativos são compostos, em sua maioria, por homens, a escolha de uma CEO mulher é menos provável, uma vez que uma mulher, na posição de chefe, pode não passar a imagem que os membros do Conselho desejam passar, seja por suas propostas e seja por suas características pessoais. Infelizmente, em empresas menos tradicionais, o cenário não diferente tanto, de modo que também seja quase inexistente a presença de mulheres em cargos de liderança. No setor industrial, por exemplo, ser mulher reduz em 12% as chances de ocupar essa posição de gestão, mesmo que a mulher em questão seja mais qualificada ou tenha mais experiência que seus concorrentes homens.

No geral, devido a seus critérios com maior transparência e publicidade, a esfera pública é menos hostil às mulheres relativamente a esfera privada, embora isso não signifique que a situação seja muito melhor. No funcionalismo público, a cada 10 vagas de trabalho, seis são ocupadas por mulheres (IPEA, 2012). No entanto, a desigualdade salarial entre gêneros na mesma profissão continua existindo e sendo desfavorável a elas.

A essas desigualdades salariais e de ocupação, acrescidas das dificuldades de ascensão na carreira, é cunhado o termo “teto de vidro”, ou seja, as barreiras invisíveis que as mulheres enfrentam no mercado de trabalho que as impendem de progredir profissionalmente. Essas barreiras invisíveis foram construídas a partir de instituições que repudiavam a presença de mulheres em lugares de poder e via com maus olhos àquelas que desafiavam os costumes da época. São julgamentos subjetivos, mas que podem ser chamados de preconceito ou de discriminação contra o gênero feminino.

Por seu caráter subjetivo, para que o teto de vidro possa ser chamado pelo nome que lhe é devido, as mulheres precisam ser dotadas de características produtivas idênticas ou superiores às de seus congêneres do sexo masculino, de modo que as razões pelas quais a grande maioria das promoções (ou as facilidades trabalhistas) são destinadas a indivíduos do gênero masculino não sejam conhecidas ou observáveis. Enquanto os benefícios dessa barreira invisível recaem majoritariamente sobre indivíduos do gênero masculino, as penalizações geralmente recaem sobre indivíduos do gênero feminino, afetando drástica e negativamente suas oportunidades de carreira e progressões profissionais, fazendo com que a presença feminina em cargos de liderança - consequentemente, nos mais altos decis de renda advinda da remuneração do trabalho - seja mínima ou inexistente, na esfera pública e na esfera privada.

Há autores que defendem que essas barreiras são estruturais, uma vez que não é o teto que está segurando o progresso das mulheres, mas sim toda a estrutura das organizações de trabalho. Para Meyerson e Fletcher (2000), as barreiras não estão só no topo, como em toda a trajetória da carreira feminina, uma vez que as dificuldades, as desigualdades e o preconceito são uma realidade desvantajosa a elas em todos os momentos de sua vida profissional. Além disso, o número reduzido de mulheres em cargos de decisão dificulta ainda mais o rompimento deste fenômeno, pois adia a implementação de políticas e medidas que estimulem uma maior participação feminina nas instâncias superiores da administração.

Dessa maneira, políticas que incentivem publicamente a ascensão de mulheres a cargos de liderança podem ser efetivas ao aumento da presença delas nesses cargos, pois a simples ocupação do cargo de CEO por uma mulher pode significar a alteração da cultura empresarial de uma empresa, além de abrir caminho para que mulheres em cargos menores consigam enxergar que as mais altas posições de trabalho também podem ser ocupadas por elas.

Fontes:

BRUSCHINI, C.; LOMBARDI, M. A bipolaridade do trabalho feminino no Brasil contemporâneo. Cadernos de Pesquisa. São Paulo, n. 110, p. 67 - 104, julho de 2000.

MADALOZZO, R. CEOs e composição do conselho de administração: a falta de identificação pode ser motivo para existência de teto de vidro para mulheres no Brasil?. Revista de Administração Contemporânea, v. 15, n. 1, p. 126-137. 2011.

MEYERSON, D.; FLETCHER, J. A modest manifesto for shattering the glass ceiling. Harvard Business Review. Boston: Harvard Business Press, 2000.

Mulheres e Homens em Ocupação de Cargos de Direção e Assessoramento Superior (Das) na Carreira de Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental (EPPGG), IPEA 2012.

SCORZAFAVE, L.; MENEZES- FILHO, N. Participação feminina no mercado de trabalho brasileiro: evolução e determinantes. Pesquisa e Planejamento Econômico. Rio de Janeiro, v. 31, n. 3, p. 441 - 478, dez. 2001.

TEDESCO, A.; SOUZA, K. Ser mulher importa? Determinantes, evidências e estimativas da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro. Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-21, jun. 2020

Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Paola Braga, graduada pela Universidade Federal de Rio Grande, Especialista em Gestão de Projetos, Mestre em Economia Aplicada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e doutoranda em Economia do Desenvolvimento pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Atualmente, ela exerce atividades na área de planejamento econômico com ênfase na formulação e avaliação de políticas públicas. Desempenha a função de consultor técnico legislativo – economista - na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, tendo coordenado a Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo na Assembleia.

Confira a entrevista completa abaixo.

Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho?

Já atuo como economista há 15 anos, sendo que atualmente exerço minhas atividades na área de planejamento econômico com ênfase na formulação e avaliação de políticas públicas. Desempenha a função de consultor técnico legislativo – economista - na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, tendo coordenado a Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo na Assembleia.

Desempenhando as funções de coordenadora e consultora técnica, os desafios e atribuições que se apresentam referem-se a dinâmica dos temas abordados, tendo em vista a amplitude de discussões, na qual é necessário atender as demandas da sociedade civil, assim como as necessidades que chegam para a análises de pareceres que precisam ser elaborados, em relação aos projetos apresentados pelo Poder Executivo, além das Proposições Legislativas trazidas por cada um dos 55 Parlamentares.

Enquanto consultora técnica legislativa na Comissão de Economia, sou uma das responsáveis pela elaboração dos pareceres que devem subsidiar a tomada de decisão dos parlamentares gaúchos.

É válido esclarecer que, enquanto coordenadora da Comissão de Economia, Desenvolvimento Sustentável e do Turismo, o trabalho mais desafiador refere-se às relações institucionais entre os distintos Poderes, é assegurar que estes conflitos de interesses que são peculiares (e necessários) ao processo democrático, contribuam da melhor maneira possível, buscando sempre o bem-estar do principal interessado – os cidadãos gaúchos.

Conciliar os interesses da iniciativa privada, do poder público e das necessidades da sociedade é, sem dúvida, o maior desafio que se apresenta ao consultor técnico legislativo, economista.

Quais os principais motivos que lhe levaram a estudar Economia?

O que me fez optar pelo curso de Ciências Econômicas foi a possibilidade conciliar as habilidades de álgebra - dada a facilidade que desde cedo demonstrei para a área de exatas -, à necessidade de solução de problemas que eu enxergava na sociedade. Ou seja, busquei a partir da minha escolha por economia, poder contribuir, de alguma forma, para a melhoria no bem-estar das pessoas.

Então, eu reuni as minhas habilidades de ciências exatas às contribuições que eu poderia vir a dar, enquanto cientista econômica, isso fez com que eu optasse pelo curso de Economia, profissão pela qual sou apaixonada.

Vivências no mercado de trabalho

Considero-me uma privilegiada, pois tive a oportunidade de iniciar minhas atividades profissionais como professora do Departamento de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Em seguida fui selecionada para atuar como economista no planejamento estratégico de uma grande empresa, a Engevix Construções Oceânicas, subsequente à instalação no Polo Naval de Rio Grande.

Isso me permitiu um enorme crescimento profissional, uma vez que ao concluir graduação e mestrado, foi propiciado a mim conciliar meus conhecimentos acadêmicos às necessidades e desafios apresentados no mercado de trabalho, na iniciativa privada.

Em seguida, fui selecionada para atuar como professora universitária nas Faculdades Atlântico Sul de Rio Grande, atividade em paralelo à função de coordenadora de planejamento, que desempenhava na Engevix. Esta oportunidade, também, em grande medida contribuiu ao meu crescimento profissional, dada a troca com os alunos, por exemplo – que, em sua maioria tinham mais idade e maior experiência profissional que eu.

Paralelamente recebi o convite para assumir a Coordenação de curso de Tecnologia e Recursos Humanos e a Supervisão das Atividades Complementares nas Faculdades Atlântico Sul, o que exigiu um aprimoramento das minhas habilidades de liderança, comunicação e sensibilidade de gestão.

Na sequência, fui convidada a ministrar cursos de pós-graduação, na área de gestão estratégica de negócios e de projetos, propiciando um grande passo em minha carreira: a possibilidade de atuar em dois projetos inovadores para o Brasil, a construção dos navios petroleiros FPSOs (que são unidades de produção, armazenagem e transferência de petróleo) e dos navios-sonda (projetados para a perfuração de poços submarinos), ainda pelo Estaleiro Rio Grande.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres, que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho? Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher?

Conforme dito anteriormente, iniciei minhas atividades profissionais como economista bastante jovem, com 2 3 anos. À época o preconceito ainda era explícito, o que aumentou o desafio a ser enfrentado em minha trajetória profissional e acadêmica. Contudo, atualmente, acredito que todas nós, mulheres, estejamos mais fortalecidas para ultrapassarmos essas dificuldades. Embora, seja importante, trazer ao centro do debate que ainda enfrentamos cotidianamente este preconceito (apesar de) velado.

Indiscutivelmente, no mercado de trabalho, nós, mulheres, precisamos provar (todos os dias) que somos capacitadas para realizarmos as mesmas atividades que nossos colegas homens, com a mesma dedicação, zelo e confiabilidade, apesar do preconceito. Poderia aqui citar diversas situações nas quais ficou perceptível a diferenciação no trato, o preconceito que enfrentei.

Mas prefiro dizer que, o mais importante, ao longo da minha caminhada, foi o aprendizado. Aprendi a segurar a mão de muitas outras mulheres e homens, estimados colegas, que estavam ao meu lado contra essas infelizes atitudes e, em especial, APRENI A ESTENDER A MÃO para outras mulheres a fim de romper esse estigma do preconceito.

O meu ambiente de trabalho é historicamente dominado por homens, mas as mulheres têm transformado esse ambiente, com um trabalho qualificado, respeitoso e com muita sororidade.

Muitos colegas homens também têm incentivado o nosso crescimento no poder público, assegurando maior espaço na tomada de decisão. Em especial, no meu caso, conforme já dito, apesar dos preconceitos inerentes ao Poder Público, tenho muito orgulho da atividade de que desempenho.

Com efeito, a principal força para que sejam rompidos esses antigos preconceitos (que apesar de velados atualmente, ainda existem), é, sem dúvida, buscar e dar apoio a outras mulheres, para que juntas possamos conquistar espaços cada vez mais significativos em nossa sociedade.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Eu participei de uma seleção externa, embora não seja para um cargo efetivo, via CORECON-RS, a qual exigia titulação mínima de mestre ou doutor em Economia. Nesta, além dos critérios de currículo, entrevista e plano de trabalho, a mim foi imposto um desafio extra, de desenvolver um texto propositivo que descrevesse a situação econômica Rio Grande do Sul, em um prazo de cinco dias. Meu texto foi entregue em menos de 2 dias. De 32 inscritos, quatro chegaram na etapa final, sendo eu a única a apresentar um plano de trabalho e o artigo.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Minha mensagem para as novas economistas: vocês devem se preparar para serem as melhores em tudo, dediquem-se, ao máximo, mulheres! Qualifiquem-se e provem para a sociedade, que além de métodos quantitativos e análises matemáticas robustas, temos sensibilidade para compreendermos o nosso cotidiano.

Como economistas, devemos visar o bem-estar das pessoas, tendo em mente que a Economia é uma ciência social aplicada, portanto, a sociedade deve ser sempre o nosso principal objeto de estudo!


As Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAMS)

Me. Júlia Sbroglio Rizzotto

No Brasil, a violência contra a mulher tem mostrado dados alarmantes. O Mapa da Violência Contra a Mulher, divulgado em 2015, aponta que a taxa de homicídios de mulheres no Brasil aumentou em 12,5% entre 2006 a 2013. Em 2013, foram assassinadas 4.762 mulheres, o que corresponde a uma média de 13 mulheres mortas por dia (WAISELFISZ, 2015.).

O Brasil é o 5º país com mais assassinatos de mulheres entre 83 países pesquisados pela Organização Mundial da Saúde (OMS, 2005). De acordo com Waiselfisz (2015) esse número é ainda maior nos últimos anos, considerando que a taxa por cem mil habitantes era de 4,4 em 2003 e passou para 4,8 em 2010.

Um dos caminhos para combater essa violência é a denúncia que pode ser realizada em uma das Delegacias Especializadas no Atendimento à Mulher (DEAM), que são unidades especializadas da Polícia Civil concentrando em crimes como estupro e violência por parceiro íntimo que visam as mulheres. A primeira delegacia foi instaurada em São Paulo em 1985 (JUBB, 2010). Desde então os estados vêm implementando esse mecanismo e em 2018, de acordo com dados do IBGE, existiam 460 Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher no Brasil.

A DEAM é responsável por registrar a ocorrência, investigar e apurar os crimes. Além disso, nessa delegacia é possível solicitar as medidas protetivas previstas na Lei Maria da Penha e o encaminhamento para laudos no Instituto Médico Legal (IML).

A instauração de uma DEAM tende a desencadear uma redução na violência por parceiro íntimo. Isso ocorre porque contribui para criar opções externas mais seguras para as mulheres agredidas que decidem deixar o relacionamento abusivo (PEROVA e REYNOLDS, 2017; MANSER e BROWN, 1980).

Conforme Perova e Reynolds (2017) houve uma redução da violência contra mulher de mais de 50% em 2009 se comparado à 2004 entre as mulheres jovens de 15 a 24 anos. Os autores também apontaram que ter uma delegacia da mulher em uma capital ou região metropolitana reduz em 17% a taxa média de homicídios femininos.

Com a criação das DEAMs, as mulheres passaram a ter um “ponto de partida” para buscarem apoio no combate à violência. Entretanto, as delegacias precisam funcionar de maneira eficaz e de forma integrada a fim de oferecerem um atendimento qualificado que evite a revitimização da mulher que procura a mesma (BRANDÃO, 2014). Pasinato (2006) aponta que o primeiro atendimento dado à vítima é extremamente importante assim como o papel que esse momento passa a ter sobre as decisões que ela tomará quanto a permanecer na relação violenta ou buscar novas saídas para a sua vida.

Em uma situação de violência é possível denunciar através da DEAM mais próxima. É preciso ter um documento de identificação para registrar a queixa e caso a vítima seja menor de idade precisa estar acompanhada de um maior. Além disso, nesse momento de pandemia, no Rio Grande do Sul a polícia civil oferece um número no WhatsApp onde as vítimas podem se manifestar. O governo também tem uma central de atendimento à mulher, o ligue 180, que é um canal que registra e encaminha as denúncias de violência contra a mulher aos órgãos responsáveis.


REFERÊNCIAS

BRANDÃO, E. R. Nos corredores de uma Delegacia da Mulher: um estudo etnográfico sobre as mulheres e a violência conjugal. Rio de Janeiro: Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2004.

MANSER, M.; BROWN, M. Marriage and household decision-making: A bargaining analysis. International economic review, p. 31-44, 1980.

PASINATO, W. Atendimento às mulheres em situação de violência em Belo Horizonte. O desafio de construir redes de atenção às mulheres em situação de violência, v. 1, p. 131-167, 2006.

PEROVA, E.; REYNOLDS, S. A. Women's police stations and intimate partner violence: Evidence from Brazil. Social Science & Medicine, v. 174, p. 188-196, 2017.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE (OMS). Researching violence against women. Technical report, 2005.

WAISELFISZ, J. J. Mapa da Violência 2015: homicídio de mulheres no Brasil. FLACSO Brasil. 2015.


Economistas que Inspiram!

Joan Violet Robinson é uma economista inglesa, nascida em 31 de outubro de 1903, que se tornou reconhecida por suas contribuições na teoria Econômica, especialmente em relação a Economia Pós-Keynesiana. Muitos a consideram a única mulher nascida antes de 1930 que pode ser considerada uma grande economista.

Robinson concluiu sua formação pela Cambridge University em 1925, vindo a ser professora pela mesma instituição no ano de 1937. Nesse meio tempo, Joan casou-se com Austin Robinson, também economista, passando a residir na Índia entre 1926 e 1929 em razão do cargo de governador do estado de Gwalior ocupado por ele.

Durante sua estadia na Índia, Joan participou de um grupo que discutia a transferência de recursos entre os estados semi-independentes do Principado Indiano, a Índia Britânica e a Coroa Britânica. Esse período de sua vida foi determinante para influenciar suas obras com a preocupação com os problemas dos países subdesenvolvidos[1]

Durante a II Guerra Mundial, Robinson atuou em comitês para o governo britânico, visitando a China e União Soviética, o que aumentou seu interesse no estudo do desenvolvimento. No Comitê de Pesquisa em Construção do Ministério de obras, ela era a única mulher e única economista.

A partir da década de 1950, Joan Robinson teve maior produção acadêmica, tornando-se membro da British Academy em 1958 e Full Professor em 1965. Em 1979 ela se tornou a primeira mulher a ser nomeada bolsista honorária no King’s College. Robinson fez parte do “Cambridge Circus”, no fim da década de 1930, no qual um grupo de jovens economistas que se dedicavam ao estudo do famoso livro ‘Teoria Geral do Emprego, do juro e da moeda’ de Keynes[2]. Era esperado que ela fosse a ganhadora do Prêmio Nobel de Economia no ano de 1975[3], que foi laureado a Leonid Kantorovich e Rjalling Koopmans.

Entre as contribuições de Joan Robinson está a construção de um novo arcabouço analítico de inspiração principalmente keynesiana e marxista (mas não apenas). As influências que continua exercendo são inúmeras¹, entre elas, estão suas reflexões sobre a revolução cultural da China[4] e o termo “monopsônio”, cunhado por ela em 1933[5], para designar um único vendedor de um mercado.


[1] http://www.race.nuca.ie.ufrj.br/revistas/socinfo/artigos/heller1.htm.

[2] https://www.econlib.org/library/Enc/bios/Robinson.html

[3] https://www.econlib.org/library/Enc/bios/Robinson.html.

[4] ROBINSON, J. V. The Cultural Revolution in China. Harmondsworth: Pelican Original, 1969.

[5] ROBINSON, J. V. The theory of imperfect competition. Quarterly Journal of Economics, 1933.

Existem spillovers espaciais na expansão da energia solar no Brasil?

Mestranda Bethanya Korzeniewicz

Quando falamos sobre inovações, sabemos que a tendência é existir forte dependência espacial, pois as informações práticas sobre a utilização das mesmas são mais acessíveis aos que estão mais próximos, e, dito isso, o uso prático de energia solar ainda é novidade para a maior parte da população.

Além da imitação, há outros fatores que influenciam a difusão do uso deste tipo de energia, como a renda e a educação. O objetivo deste estudo é analisar os fatores associados à expansão da capacidade instalada de energia solar de pequena escala destinada ao consumo residencial nas mesorregiões do Brasil.

Entre esses fatores, de particular interesse é verificar o efeito da dependência espacial. Para capturar este indicativo, é usado um modelo de econometria espacial.

Os resultados confirmam a presença de transbordamentos espaciais e, juntamente com a renda per capita e a educação, são os principais fatores que favorecem a expansão deste tipo de energia nas mesorregiões do Brasil.


Para ter acesso ao trabalho na íntegra basta clicar o link abaixo!

Link: https://brsa.org.br/wp-content/uploads/wpcf7-submissions/2743/Fochezatto_Enaber_Adelar.pdf


Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Paula Pereda, Graduada, Mestra e Doutora em Economia pela Universidade de São Paulo (FEA-USP).


Atualmente, ela trabalha como professora na mesma universidade.


Confira a entrevista completa abaixo.



Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?

No Ensino Médio, foi a relação entre humanas e exatas.

Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa.

Professora e Pesquisadora. Trabalho com avaliações de políticas públicas, principalmente com foco em saúde e meio ambiente.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?

Já existem evidências de que professores são melhores avaliados do que professoras e que as mulheres progridem menos na carreira do que homens. Meu ambiente de trabalho é domindado por homens e existem algumas ações diferentes: convidam mais mulheres para cargos administrativos (que não trazem benefício à carreira de pesquisador) e homens interrompem mais as mulheres em seminários. Já sofri discriminação por parte de um aluno em uma banca em que eu era avaliadora.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.

Sim

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Muito estudo (mestrado e doutorado), concurso público.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

É uma carreira muito bonita. A economia é uma ferramenta para estudar comportamentos humanos e melhorar a vida das pessoas. Meu conselho seria para elas não se acanharem frente aos desafios e se apoiarem em outras mulheres (alunas ou professoras).


INTELIGÊNCIA FINANCEIRA: Afinal, o que é isto?

Mestra Dirlene Silva


A falta de conscientização financeira atrapalha a vida dos brasileiros. De acordo com a reportagem publicada na Gazeta do Povo, no início deste ano, 61 milhões de brasileiros estavam com o nome negativado no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) e ainda, segundo o Banco Mundial, apenas 3,64% dos brasileiros economizam para a aposentadoria, um dos índices mais baixos do mundo: a média na América Latina é de 10,6%, enquanto em outros países emergentes este índice é bem mais elevado, como no México (20,85%), África do Sul (15,93%) e Rússia (14,56%). Além disso, apenas 28% dos brasileiros declararam ter poupado algum dinheiro nos últimos 12 meses, significando o 14º pior índice do mundo.

Apesar de economia e finanças estarem presentes no nosso dia a dia, não temos o hábito de falar sobre isto na família ou entre amigos. Também não aprendemos educação financeira na escola, embora nos últimos anos, algumas escolas já tenham incluído educação financeira em suas grades curriculares, este percentual ainda é pequeno. Segundo pesquisa divulgada pelo Portal UOL, apenas 21% das escolas brasileiras oferecem a disciplina.

A ausência de educação financeira na escola soma-se a infinidade de crenças negativas sobre dinheiro que nos são apresentadas ainda na infância, como “dinheiro não traz felicidade”, “dinheiro é a raiz de todos os males”, “só é rico quem nasceu rico”, “se enriqueceu é porque fez algo ilícito” e outras que são incutidas em nossas mentes. Posteriormente, na vida adulta, os fatores citados afetam nossa relação com as finanças e consequentemente, qualidade de vida.

A inteligência financeira está relacionada à inteligência emocional. Ao contrário, do que se pensa, o comportamento financeiro é mais emocional do que racional e está

“diretamente ligado a capacidade de conhecimento de suas capacidades financeiras, organização e disciplina. Ter inteligência financeira é ter as ações com dinheiro sob controle, ou seja, quando se adquire algo se faz pela real necessidade e sabe-se exatamente da capacidade de pagamento. Também pressupõe não ter atitude impulsiva e entender a diferença de preço baixo, preço alto e preço justo” (Kiyosaki, 2017).

Kiyosaki (2017) que é autor do best seller Pai Rico, Pai Pobre, afirma que a inteligência financeira pode ser desenvolvida em qualquer momento da vida. Logicamente, quanto mais cedo melhor. Cita também as principais capacidades que demonstram inteligência financeira e como desenvolvê-las: Controlar seu orçamento; proteger seu dinheiro; melhorar suas relações financeiras e; fazer mais dinheiro.

CAPACIDADE DE CONTROLAR SEU ORÇAMENTO

É ter domínio sobre suas finanças. Para isto, é essencial saber exatamente qual seu rendimento líquido, seu custo de vida e seus gastos (aluguel/prestação casa própria, luz, água, transporte, alimentação e lazer), classificando-os em gastos fixos e variáveis; essenciais e supérfluos.

O cartão de crédito é apenas um meio de pagamento, portanto significa que tudo o que for pago com ele deve estar no seu orçamento e deve ser controlado. O cartão de crédito por si só, não representa um problema. O problema está no descontrole e na ilusão de que não é preciso pagá-lo. Não se iluda, cartão de crédito é dinheiro. Anote diariamente os gastos e mensalmente analise o que estava previsto e o que foi realizado.

CAPACIDADE DE PROTEGER SEU DINHEIRO

É a capacidade de cuidar do seu dinheiro, evitando pagar coisas desnecessárias. Como pagar juros, tarifas e o pior, cair em golpes.

É considerada endividada a pessoa que tem dívidas acima de sua capacidade de pagamento e/ou dívidas em atraso. O ideal é não ter dívidas que comprometam mais que 70% do que você recebe. Contudo, este percentual nem sempre é possível, então não alimente o sistema financeiro pagando juros ou pagando por coisas que poderiam não ter taxas.

Poucos sabem, mas a Resolução nº 3.919/2010 do Banco Central obriga todos bancos a disponibilizar gratuitamente uma conta corrente para pessoas físicas. Obviamente, nenhum banco diz isto. Assim como ocorre com a conta corrente, nenhuma instituição informa que há opções de cartão de crédito sem anuidade.

Durante a pandemia os golpes financeiros aumentam mais de 80% segundo a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN). Os tipos de golpes são os mais diversos, contudo os mais comuns referem-se a ganhos de prêmios e promessas de rendimentos muito acima do praticado pelo mercado para aplicações.

CAPACIDADE DE MELHORAR AS RELAÇÕES FINANCEIRAS

É a capacidade de analisar e questionar seus hábitos financeiros de forma a melhorá-los. Antes de comprar algo tenha certeza da real necessidade do item. Se faça os seguintes questionamentos:

· Eu preciso?

· Eu posso? (Pagar SEM sacrifícios)

Outra forma de melhorar a relação com as finanças é se perguntar: Por que pagar por coisas que posso ter de graça? Pratique exercícios ao ar livre, como caminhadas, corrida, andar de bicicleta ou use os equipamentos de ginástica que há em alguns parques. Opte pelo “faça você mesmo” e cozinhe mais, limpe você mesma(o) sua casa e aproveite para queimar calorias e acompanhe os vídeos e “lives” gratuitas para se atualizar.

Normalmente, os hábitos de consumo estão diretamente ligados ao quanto somos influenciados pelos padrões impostos pela sociedade. Por que comprar o produto X, se Y tem a mesma funcionalidade, tem boa qualidade e é vendido por um preço 30% menos que o preço de X? Quebrar este ciclo é agir com inteligência financeira.

CAPACIDADE DE FAZER MAIS DINHEIRO

É a capacidade de aumentar sua fonte de renda. Existem duas formas de fazer mais dinheiro: Uma é trabalhar mais, ou seja, ter uma fonte de renda extra, como fazer doces ou salgados, abrir uma loja física ou virtual, brechó, dar aulas particulares e etc. A outra é investir e usar o tempo e os juros compostos a seu favor.

Quando se fala em investimento, o primeiro passo é constituir uma reserva de emergência.

A reserva de emergência é um valor que vai cobrir seus gastos essenciais por um determinado período, geralmente de seis meses a um ano, caso algo lhe aconteça e você vir a perder sua fonte de renda.

A pandemia é um ótimo exemplo. Muitas pessoas perderam seus empregos ou tiveram seus empreendimentos fechados neste período e estão sobrevivendo graças as suas reservas de emergências. Se não as tinham, tudo ficou mais difícil.

Exemplo: Se mensalmente, seus gastos essenciais são de R$ 2.000,00, você precisaria ter uma reserva de emergência de, no mínimo, R$ 12.000,00 para sobreviver 6 meses sem renda.

Poupando no mínimo R$ 200,00 por mês (10% dos gastos essenciais apurados) em 60 meses, ou seja, 5 anos, aplicando em título do Tesouro Selic você teria R$ 12.572,54.

Depois de ter uma reserva de emergência é hora de pensar em investimentos de longo prazo, adotando um planejamento estratégico para sua vida. Quais são seus sonhos? Seus desejos? Seu propósito de vida?

Pensando assim, se torna muito mais agradável pensar em fazer dinheiro, pois o dinheiro vai te proporcionar realizar seus sonhos! Desta forma, aplique a regra 50-30-20 na sua vida.

“A regra 50-30-20 pressupõe que devemos utilizar 50% da renda para os “gastos fixos e essenciais” como moradia, alimentação e educação; 30% com “estilo de vida” como roupas e lazer, destinando 20% para investimentos” (Infomoney, 2020).

Se você já possui, está desenvolvendo ou potencializando estas capacidades, parabéns! Você aumentou seu QI financeiro! Sobretudo, tenha em mente que: A relação que você estabelece com o dinheiro determinará também sua qualidade de vida.

REFERÊNCIA

BANCO CENTRAL DO BRASIL. Resolução nº 3.919/2010. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/pre/normativos/res/2010/pdf/res_3919_v4_P.pdf

GAZETA DO POVO. Brasil: Um país dos analfabetos financeiros. Disponível em: https://www.gazetadopovo.com.br/economia/brasil-pais-dos-analfabetos-financeiros/

INFOMONEY. Regra 50-30-20: Conheça um método para organizar suas finanças. Disponível em: https://www.infomoney.com.br/minhas-financas/regra-50-30-20-conheca-um-metodo-para-organizar-suas-financas/

KIYOSAKI, Robert. Pai rico, Pai pobre. Rio de Janeiro: Alta Books, 2017

NAVARRO, Roberto. Coaching Financeiro. Rio de Janeiro: Momentum Editora, 2014

PORTAL UOL. Só 21% dos brasileiros tiveram educação financeira. Disponível em: https://6minutos.uol.com.br/minhas-financas/so-21-dos-brasileiros-tiveram-educacao-financeira-na-infancia-aponta-pesquisa-ibope-c6-bank/

REVISTA NEWS. Febraban alerta para aumento de golpes financeiros na pandemia. Disponível em: https://revistanews.com.br/2020/09/23/febraban-alerta-para-aumento-de-golpes-financeiros-na-pandemia/


Economistas que Inspiram!

Gabriela Chaves é economista formada pela PUC-SP, Mestra em Economia Política Mundial pela Universidade Federal do ABC. Atua como pesquisadora nas áreas de gênero, raça e trabalho e na Educação Financeira.

Após anos de dedicação ao mercado financeiro, Gabriela Mendes Chaves descobriu sua verdadeira missão: “Democratizar a economia através da educação”. Ela se questionava: “Se todo mundo lida com dinheiro todos dias, por que não aprendemos sobre”? Analisando este questionamento, Gabriela entendeu que para cumprir sua missão e compartilhar seus conhecimentos sobre economia e finanças para periferia, seria necessário adaptar a linguagem e se aproximar da realidade da população. Assim, ela buscou uma maneira que NÃO incluísse fórmulas complicadas e elaborou uma forma simples de falar sobre economia e finanças à população periférica. Além de participar de projetos sociais, em 2018 ela criou uma escola que oferta cursos de Educação Financeira que visam o “empoderamento financeiro” das populações periféricas que contam com uma metodologia inédita de ensino de economia a partir do Rap brasileiro.

Através de ferramentas reais de administração do dinheiro, as pessoas aprendem sobre padrões de consumo e consumo consciente; técnicas de negociação e quitação de dívidas, economia na prática, mecanismos de planejamento e metas financeiras, além de descobrir um alinhado nas realizações de sonhos: o investimento.

Referências:

https://www.nofront.com.br

https://lifestyle.r7.com/centavo-por-centavo-elas-ensinam-economia-para-quem-tem-pouco-15012020

Eleições e a sub-representação das mulheres na política

Mestra Andressa Castro

Nos últimos anos, o debate sobre a valorização da mulher e a desigualdade de gênero tem ganhado cada vez mais espaço, mas um aspecto ainda precisa de atenção, a sub-representação política das mulheres. Em 2020, as mulheres representam a maioria do eleitorado, 52,5%, conforme informado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), porém essa maioria não se reflete no número de candidaturas e tampouco no número de mulheres eleitas. Assim, mesmo constituindo a maioria dos votantes continuamos sub-representadas no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas Brasileiras.

O Tribunal Superior Eleitoral divulgou recentemente que as eleições municipais de 2020 contam com pouco mais de 555 mil pedidos de registro de candidatura, sendo cerca de 185 mil de mulheres, aproximadamente 33,5% dos candidatos. Ainda que os números não impressionem e nem representem a real participação das mulheres na sociedade, é preciso que se reconheça o avanço das candidaturas femininas. Nas eleições municipais de 2016, as mulheres representaram apenas 31,9% das candidaturas e em 2012, 31,5%. Enquanto que nas eleições de 2018 somente 30,7% dos candidatos eram mulheres.

Há tempos que as mulheres no Brasil podem participar da vida política. O direito ao voto feminino foi instituído desde de 1932, inicialmente de forma facultativa e restrito à algumas classes. Mas com a promulgação da Constituição em 1988, a participação política representativa ganhou mais força. Apesar da conquista do direito ao voto, as eleitoras nunca foram devidamente incluídas na participação política, já que apenas cerca de 14% dos cargos eleitos são ocupados por mulheres. Em 2019, um ranking divulgado pela Inter-Parliamentary Union mostra que entre 193 países o Brasil ocupa a 143º posição em relação a participação feminina nas casas legislativas.

Muitos fatores contribuem para a baixa representatividade das mulheres na política. Em um recente estudo realizado por Amanda Gortari, sobre a participação e candidatura das mulheres na política, divulgado na Revista sobre Estudos Eleitorais do TSE ), é apontado que tanto fatores históricos como culturais contribuem para o baixo envolvimento das mulheres na política. Histórica e culturalmente foi relegado às mulheres o papel de cuidar dos filhos e da casa, enquanto que os homens sempre participaram ativamente das questões relacionadas à economia e política. O trabalho também salienta que a jornada dupla enfrentada por grande parte das mulheres, dividida entre o trabalho remunerado e o trabalho doméstico, são fatores que podem causar entraves na participação feminina na política. Além do mais, a composição predominantemente masculina dos partidos e das estruturas de liderança destas instituições também contribui para o baixo número de candidaturas femininas.

Com o intuito de aumentar a representação das mulheres na política várias iniciativas têm sido tomadas. Desde 2009, a Lei Eleitoral determina que os partidos devem destinar 30% das candidaturas para cada gênero, a fim de estimular as candidaturas femininas. Já a Lei dos Partidos estabelece que 5% do Fundo Partidário deve ser gasto com programas que promovam a participação política das mulheres. Em 2019, o TSE determinou que 30% do Fundo Eleitoral deve ser destinado às candidatas das mulheres. Mais recentemente outras iniciativas têm sido lançadas como o #Participa Mulher vinculado à Comissão Gestora de Políticas de Gênero do TSE, que visa promover uma maior participação das mulheres na política, não apenas por meio de ações e projetos que visem aumentar o número de candidaturas femininas, mas também prestando apoio para as mulheres eleitas.

Aumentar a representatividade das mulheres nas casas legislativas pode significar mais políticas e leis voltadas às questões de gênero e para amparo das minorias. Conforme uma pesquisa realizada pelo Inter-Parliamentary Union, os principais temas que as mulheres mais aprovam no parlamento estão relacionados à assuntos sociais, família, criança, jovens, idosos, deficientes, meio ambiente e recursos naturais, emprego e formação profissional e educação. No Brasil, um levantamento feito pelo Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFEMEA) mostra que os assuntos que as mulheres eleitas mais propõem são relacionados ao trabalho, principalmente questões sobre licença maternidade, previdência e trabalhadoras rurais, temas sobre à saúde, como atendimento à gestante e prevenção ao câncer.

Em um estudo realizado pelas pesquisadoras Christiane da Silva e Letícia Aguiar do Núcleo de Estudos Constitucionais da UniCEUB, as pesquisadoras apontam que as parlamentares brasileiras também são as principais responsáveis por discutir temas como política de cotas, aumento do número de creches e violência contra as mulheres. As pesquisadoras ressaltam que os temas levados ao Congresso pelas mulheres parlamentares não são só de interesse do gênero feminino, mas de todos. Também pontuam, que do ponto de vista de uma democracia representativa, nada mais justo que as mulheres, maioria da população, tenham suas pautas de interesse discutidas e aprovadas.

Dito isso, fica perceptível que a sub-representação feminina na política traz consequências negativas, principalmente na elaboração e execução de políticas públicas que considerem questões importantes para a melhoria da vida das mulheres. Em um tempo em que o debate sobre a desigualdade de gênero ganha mais espaço e importância, fica cada vez mais evidente que o caminho para que mudanças realmente efetivas ocorram passa pelas urnas. Aumentar o engajamento político das mulheres e principalmente elegê-las é crucial para que nossa voz se torne cada vez mais alta.

Fontes:

GORTARI, A. S. N. A podridão da candidatura laranja: ponderações acerca da participação feminina nas eleições brasileiras. Estudos Eleitorais, Brasília, DF, v. 14, n. 1, ed. especial, p. 32-49, jan./abr. 2020.

SILVA, C. O. P. da; AGUIAR, L. C. Mulheres e poder: cotas femininas para participação na política. Estudos Eleitorais, Brasília, DF, v. 14, n. 1, ed. especial, p. 88-106, jan./abr. 2020.

Inter-Parliamentary Union. Ranking da Participação das Mulheres no Parlamento. https://data.ipu.org/women-ranking/?month=10&year=2020.

TSE. Dados Eleitorais. Disponível em: https://www.tse.jus.br/eleitor/estatisticas-de-eleitorado/eleitorado.

TSE. Cartilha Mais Mulheres na Política. Disponível em:https://www.gov.br/mdh/pt-br/assuntos/mais-mulheres-na-politica/CartilhaMulheresnaPoltica.pdf.


Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Ana Jordânia, Doutora em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF).



Atualmente ela trabalha como professora na Universidade Candido Mendes .


Confira a entrevista completa abaixo.


Quais os principais motivos que a levaram a estudar Economia?

É essencial entender o mundo que vivemos e estudar Economia nos ajuda a entender grande parte de tudo que nos cerca.

Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa.

Sou Professora Universitária e Pesquisadora. Possuo experiência acadêmica na área de Teoria Econômica e prática com estudos de temas relacionados a Política Monetária e Fiscal, Transparência Fiscal e Eficiência de Gastos Públicos. Atualmente, sou Professora na Universidade Candido Mendes, dos cursos da graduação e do Mestrado em Economia e Gestão Empresarial. Tenho publicação em revista especializada: Economic Bulletin, Economic Modelling, Journal of Economic Studies e Estudos Econômicos.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho, há distinções entre os gêneros?

Sim. Percebo essa diferença latente na hora da escolha por cargos de liderança. Você pode ser a melhor professora do Departamento, porém, na hora de escolher um professor/a para um cargo de liderança acabam sendo priorizados os homens.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher? Conte-nos sobre esta experiência.

Sim.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Excelência no que eu faço. Tanto dentro da sala de aula quanto nas pesquisas que realizo.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Se preparem para serem as melhores, desde o primeiro dia da faculdade, na área de Economia nós temos que ser infinitamente melhores que os homens para ter algum destaque.

A formação da Região Metropolitana de Porto Alegre e as transformações na sua estrutura econômica no período de 1999 a 2009

Me. Natália Branco Stein

Na publicação de hoje apresentamos o primeiro artigo da nossa colaboradora Natália Stein!

Ele foi resultado do seu trabalho de conclusão de curso concluído em 2012 e orientado pelo professor André Luis Contri, que rendeu uma Menção Honrosa no prêmio CORECON/RS de monografias de 2013.

O artigo revisita a história da formação da Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), analisando a localização das atividades produtivas. A partir dessa análise setorial a principal questão do estudo era entender se as atividades produtivas se aglomeraram, desaglomeraram ou permaneceram inalteradas no espaço no período 1999-2009.

A autora analisou a evolução do PIB e do emprego, aplicando o método de quociente locacional (QL) que expressa o grau de especialização setorial dos municípios, comparando a participação percentual de um município em um setor particular, com a participação percentual do mesmo município no total do emprego da economia regional.

Como resultado o estudo apresenta que as principais transformações na região foram impulsionadas pelo desenvolvimento industrial local que antecedeu o período de análise. Porém, ainda que em menor grau, o artigo revelou que a RMPA apresentou um processo de desconcentração concentrada das atividades, pois Porto Alegre reduziu seu nível de concentração setorial com o simultâneo incremento da participação econômica dos municípios localizados no seu entorno.

“Trata-se do meu primeiro trabalho científico, o meu primeiro contato com o mundo acadêmico. Fiz questão de trazê-lo para, quem sabe, estimular os estudantes e futuros economistas a valorizarem seu TCC. É uma oportunidade de nos testarmos, colocar no papel aquele assunto que mais nos chamou a atenção ao longo do curso e, principalmente, de aprender. O resultado disso pode ser melhor do que imaginamos!

“Poder revisitar esse artigo me trouxe dois sentimentos: o primeiro é de orgulho, pois ainda com tão pouca bagagem, consegui construir algo interessante. E o segundo é de satisfação, pois ao reler o trabalho consigo perceber o quanto evoluí nesses anos”.

Está aí um bom exercício a fazer, não é mesmo? Reler os nossos trabalhos antigos pode ser um bom exercício para a valorização da nossa trajetória e para a melhor compreensão de tudo que já construímos.

Fonte: https://arquivofee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2014/07/20140730a-formacao-da-regiao-metropolitana-de-porto-alegre-e-as-transformacoes-na-sua-estrutura-economica-no-periodo-de-1999-a-2009.pdf


Economistas que Inspiram!

Christina Romer é uma economista formada pelo College of William & Mary (1981) e obteve seu doutorado em 1985 pelo Massachussets Institute of Technology (MIT). Assim que terminou seu curso de doutorado foi Professora Assistente na Universidade de Princeton, mas em 1988 passou a ensinar na University of California, Berkley, onde trabalha até hoje. Além disso, Romer também é co-diretora do Programa de Economia Monetária no National Bureau of Economics Research (NBER).

É especialista em história econômica e macroeconomia, com inúmeros artigos acadêmicos e livros publicados nessas áreas. Sua pesquisa foca em temas desde as causas da Grande Depressão até análises sobre o impacto da política monetária e fiscal no desenvolvimento e crescimento dos países.

Ao longo da carreira Romer acumulou diversas honras e distinções, entre eles, é ganhadora do Berkeley Distinguished Teaching Award e Robert A. Muh Award em Humanidades, Artes e Ciências Sociais no MIT. Também é a atual presidente eleita da American Economic Association.

Além da distinta carreira acadêmica, Christina Romer foi uma das integrantes do Conselho Econômico durante a administração do Presidente Obama entre 2009-2010. A economista era uma das responsáveis por projetar e orientar a resposta do governo à Grande Recessão. Ela desempenhou um papel fundamental na política macroeconômica, no resgate e reforma do sistema financeiro, na reforma da saúde e na política orçamentária.

Referências:

https://eml.berkeley.edu//~cromer/index.shtml

https://www.nytimes.com/2008/11/25/us/politics/25web-romer.html



Vocês já pararam pra pensar que podemos dividir os países em grupos, conforme suas diferenças em termos de desenvolvimento humano e desempenho ambiental, e identificar quais estão mais ou menos se direcionando para uma trajetória de desenvolvimento sustentável?

Foi exatamente isso que a Drª Camila Toigo, uma das nossas fundadoras e craque em desenvolvimento sustentável, propôs em seu artigo, publicado em 2016, na Revista FEE.

Camila utilizou técnicas de análise multivariada e variáveis mundialmente conhecidas para formar três grupos de países. Cada grupo foi compostos por países semelhantes entre si (dentro deles) e diferentes dos países dos outros grupos (fora deles).

Conforme cita a autora, “É essencial entender que sustentabilidade não está unicamente relacionada ao meio ambiente, mas está, também, associada com a forma com que as pessoas decidem viver. Sustentabilidade, portanto, está indissociavelmente ligada à equidade. Ou seja, estar presente a consciência de que a ação individual de uma pessoa poderá estar afetando milhões de pessoas a longo e/ou curto prazo”.

Faça o download do artigo no seguinte caminho: https://revistas.fee.tche.br/index.php/ensaios/article/view/3493


Economistas na Prática

O Economistas na prática desta semana entrevistou a Ana Paula, mestre em Economia e Desenvolvimento pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e Doutora em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).


Atualmente ela trabalha como analista de Inteligência e Pesquisa de mercado na Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (FIERGS) com a criação de estudos setoriais e regionais por meio de dados internos e externos e pesquisas customizadas para dar o suporte na tomada de decisão.


Confira a entrevista completa abaixo.

Quais os principais motivos que lhe levaram a estudar Economia?

Como a maioria dos jovens, tive certa dificuldade em definir qual carreira profissional queria seguir. Como sempre tive facilidade com os números, uni a combinação entre exatas e humanas e escolhi o curso de ciências econômicas, no qual não me arrependo em nenhum momento.

Vivências no mercado de trabalho

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres, que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho?

Na graduação e no mestrado tive a sorte da minha turma prevalecer por mulheres, porém, praticamente só tive professores homens, enquanto as professoras sempre deixaram claro o quanto a mais elas precisavam fazer pra mostrar sua importância na área. Foi nesse momento que senti que ainda existe discriminação pela mulher economista, porém sinto que está nascendo uma nova leva de mulheres economistas que estão mostrando sua importância como economistas.

No meu ambiente de trabalho tenho o prazer de trabalhar com várias mulheres empoderadas, sendo que nossa equipe prevalece de mulheres, porém ainda percebemos que nos cargos de chefia prevalecem com os homens.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher?

Em uma instituição que dei aula sentia que existia certo preconceito por ser mulher e também por ser mais nova e já ter concluído o mestrado.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Na graduação fui bolsista de iniciação cientifica e de extensão. Esse primeiro contato com a pesquisa fez eu ter o sonho de fazer mestrado e doutorado, o qual finalizei esse ano. Porém, mesmo adorando a área acadêmica, sempre senti a necessidade profissional de conhecer novas áreas e conseguir aplicar todo o conhecimento adquirido de forma mais prática. Por isso, concorri a vaga na área de inteligência e pesquisa de mercado.

Na entrevista final, concorri a vaga com dois homens que não eram economistas, nesse momento senti a importância da nossa profissão e que ela apresenta um diferencial por ser uma profissão que une maiores habilidades em duas áreas tão distintas, como exatas e humanas, o qual uma complementa a outra.


O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Cada vez mais nós mulheres estamos conquistando nosso espaço, então não desista dos seus sonhos, pois ainda temos um caminho longo para conquistar. Precisamos cada vez mais de mulheres que entendam a importância do seu espaço.

Abordagem das capacitações (AC) como ferramenta para avaliação de BEM-ESTAR: notas sobre vantagens e desafios

Dra Izete Pengo Bagolin


“O Bem-estar econômico lida com a base de juízos normativos, com os fundamentos das avaliações de bem-estar e com os fundamentos conceituais da formulação de políticas públicas. Não é um assunto modesto.” (SEN, 1996 p.50)


A Abordagem das capacitações (AC) pode ser considerada uma das opções mais abrangentes no debate acerca de questões relacionadas com o bem-estar. Inclusive, entre os requisitos defendidos por Amartya Sen, economista indiano laureado com o prêmio nobel de economia em 1998, como necessários para uma abordagem ser considerada uma boa opção para avaliação de arranjos sociais é que se tenha um espaço informacional amplo e seja aberta e flexível para adaptações aos diversos contextos da vida humana. Em função dessas características, as proposições da AC têm sido usadas com diferentes propósitos em estudos multidisciplinares nas mais diversas áreas do conhecimento. A AC é, também, considerada uma proposição normativa na qual os arranjos sociais devem ser primariamente avaliados de acordo com a extensão da liberdade que as pessoas têm para promover ou alcançar os funcionamentos que valorizam. Em outras palavras, isso significa que o progresso, o desenvolvimento ou a redução da pobreza ocorrem quando as pessoas têm maiores liberdades para fazer as coisas que valorizam.

Por exemplo, nos estudos desenvolvidos em 1986 e 1999 por Amartya Sen e em 2000 por Martha Nussbaum, os autores argumentam que a vida humana é muito mais complexa do que qualquer medida de renda seria capaz de mensurar ou avaliar. É importante considerar que em cada processo mental realizado para avaliar o bem-estar humano, estamos usando uma abordagem conceitual e, também, as nossas crenças anteriores sobre o que significa uma vida boa. Uma das justificativas para a necessidade de encontrar uma forma melhor de medir a condição humana foi o fato de que as limitações das medidas mais usuais com base na renda vão além de meras deficiências estatísticas em direção a deficiências conceituais.

Por exemplo, segundo a pesquisa realizada pelo professor de sociologia e desenvolvimento comparado Morris David Morris em 1979, o PIB é uma medida limitada e insuficiente de bem-estar por, pelo menos, cinco razões, sendo: 1) Muitas atividades produtivas relevantes são excluídas e outras menos relevantes que poderiam ser excluídas são incluídas; 2) O PIB não mede elementos subjetivos; 3) O PIB não mede a qualidade de vida da sociedade; 4) O crescimento da renda não melhora necessariamente o bem-estar; 5) Melhorias no bem-estar podem ocorrer sem o crescimento do PIB.

Nessa perspectiva, de acordo com as argumentações publicadas por Sen em 1985, 1987, 1992, 1997 e 1999, a avaliação do bem-estar poderia ser feita usando um conjunto interconectado de funcionamentos. Lembrando que funcionamentos de valor são todas aquelas coisas que uma pessoa considera importante ser ou fazer e que funcionamentos realizados é tudo aquilo que cada pessoa conseguiu, efetivamente, alcançar. Assim, todo o bem-estar pode ser estimado a partir dos elementos constitutivos dos funcionamentos. O bem-estar pessoal pode ser representado por um índice de funcionamento de um indivíduo. Nesse sentido, a AC é diferente da concepção convencional de bem-estar, que é principalmente centrada no aspecto econômico. Ou seja, a AC também valoriza o ser de cada pessoa, o que significa que a avaliação não se restringe apenas à quantidade de recursos que a pessoa tem acesso. O bem-estar e a qualidade de vida das pessoas são avaliados em termos de capacidades para obter os funcionamentos considerados valiosos. Tais funcoionamentos de valor podem variar dos mais simples e básicos, como ser bem nutrido e educado, até funcionamentos mais complexos e sofisticados, como ser feliz. As abordagens das capacitações e do desenvolvimento humano juntas representam uma abordagem mais geral dos problemas do que o contemplado pelo desenvolvimento econômico (junto com outras disciplinas) e que isso tem valor distintivo além das contribuições práticas e resultados empíricos da abordagem. Para mais informações sobre isso, ler o estudo de Sabina Alkire de 2005.

Seguindo essa perspectiva, dentre as vantagens que são discutidas na literatura, a abordagem das capacitações é considerada valiosa justamente por ser ampla e abrangente, aberta e flexível. É importante, no entanto, entender as implicações que essas características apresentam na prática, ou seja, suas vantagens e desvantagens. Como vantagens pode-se destacar que a abordagem é: adaptável, sendo possível sua aplicação a diferentes espaços em diferentes momentos do tempo (condições de bem-estar), tornando-se dessa forma uma abordagem com potencial de ser contexto específica.

O fato de ser aberta, exige que os funcionamentos de valor sejam definidos a partir de um processo de razão pública. Nessa perspectiva, os processos importam tanto quanto os resultados. Os usos da abordagem tem sido diversos, desde a descrição de situações ou fenômeno, passando pela identificação e proposição de alternativas para ação até a avalição de fenômenos políticos, projetos, dentre outras situações. Por considerar esse aspecto um mérito da abordagem, apesar das críticas, Amartya Sen não aceita a ideia de propor uma lista previamente definida de capacitações. Em várias palestras e publicações afirma que “ter uma lista fixa, proveniente apenas da teoria, é negar a possibilidade de uma participação frutífera do que deve ser incluído e por que” (ver seu trabalho de 2004). Sen argumenta que discutiu várias listas de capacitações que precisam receber atenção em qualquer teoria de justiça e, mais genericamente, em avaliação social, tais como liberdade para ser bem nutrido, viver uma vida livre de doença, ser livre para circular livremente, ser educado, participar da vida pública e assim por diante. O que ele é contra, é ter uma lista fixa de capacitações, que seja absolutamente completa e totalmente fixa (isso não poderia responder à razão pública e a formação de valores sociais).

O fato de não se constituir em uma teoria fechada, com critérios e variáveis previamente definidas, impõem desafios importantes ao seu uso. Dentre estes, pode-se destacar a necessidade de pensar políticas públicas de forma colaborativa, interdisciplinar e com muitos pesquisadores trabalhando em diferentes aspectos ao mesmo tempo. Além disso, os pesquisadores e formuladores de políticas públicas precisam manter um diálogo para construir um conjunto de simplificações e entendimentos. Mas, apesar dos desafios, a AC ainda se constitui em uma das abordagens mais modernas sobre desenvolvimento, sendo extensivamente usada em diversos campos de estudo.

Referências

ALKIRE, S. (2005). Why the Capability Approach? Journal of Human Development 6(1): 115-133.

MORRIS, D. M. (1979). Measuring the Condition of the World's Poor: The Physical Quality of Life Index Pergamon Press, Elmsford (1979)

NUSSBAUM, M (2000). Woman and Human Development, Cambridge. CUP. NUSSBAUM, M. (1999). Sex and Social Justice. Cambridge. CUP.

SEN A. K. (1985). Commodities and capabilities. Amsterdam. North Holland.

SEN A. K. (1987). The standard of living. Cambridge University Press. Cambridge. SEN A. K. (1992). Inequality re-examined, Clarendon Press, Oxford.

SEN A. K. and. Foster (1997). On Economic Inequality. Oxford. Clarendon Press.

SEN, A. (1983). Development: Which Way Now? The Economic Journal. v.93 p. 745-62. Dec.

SEN, A. (1996) Legal Rights and Moral rights: Old Questions an New Problems. Ratio Juris. V. 9, n. 2, p. 153-67, June.

SEN, A. (1997) Human Capital and Human Capability. World Development. v. 25. n. 12. p. 1959-61.

SEN, A. (1997) Individual preference as the basis of social choice. In ARROW et al eds. Social Choice Re-examined. London: Macmillan.

SEN, A. (1997), Quality of Life and Economic Evaluation: Welfare Economics and the quality of life. Academic Economic Papers. Vol. 25, N. 3.The Institute of Economics, Nankang, Taipei, Taiwan, R. O. C.

SEN, A. (1999), Development As Freedom. Oxford, New York.

SEN, A. (2004). Capabilities, Lists, and Public Reason: Continuing the Conversation. Feminist Economics 10(3): 77-80.


Economistas que Inspiram!

Deirdre Nansen McCloskey é Professora Emérita de Economia, História, Inglês e Comunicação na Universidade de Illinois em Chicago (UIC). Formada em Harvard na década de 1960 como economista, ela escreveu vinte livros e cerca de quatrocentos artigos científicos sobre teoria econômica, história econômica, filosofia, retórica, teoria estatística, feminismo, ética e direito. ²

Economista de prestígio no meio acadêmico, em 1992, McCloskey surpreendeu o meio acadêmico ao iniciar uma transição de gênero. McCloskey nasceu Donald e, aos 52 anos de idade, decidiu tornar-se Deirdre. Esse período de vida pessoal foi documentado no livro “Crossing: A memoir” (1999)³.

Após ter lecionado durante doze anos no Departamento de Economia da Universidade de Chicago em seus dias de glória, ela se descreve uma "mulher literária, quantitativa, pós-moderna, de mercado livre, episcopal progressista, ex-marxista, do meio oeste de Boston que era uma vez um homem. Não é "conservador"! Eu sou uma liberal clássico cristão”.²

Em 2017, o Manhattan Institute anunciou que Deirdre McCloskey foi vencedora do prêmio Hayek Book Prize pela obra “Bourgeois Equality”¹.

McCloskey enfrentou dificuldades durante sua transição, como o divórcio e distância de seus dois filhos. A irmã de McCloskey não aceitou a decisão e tentou interná-la em instituições psiquiátricas. De certa forma, a comunidade acadêmica acabou sendo mais tolerante que sua família (Ekaterina, 2018).

Suas principais contribuições foram para a história econômica da Grã-Bretanha (comércio do século 19, história moderna e agricultura medieval), quantificação da investigação histórica (Cliometria), retórica da economia e ciências humanas, metodologia econômica, virtude ética, economia feminista, economia heterodoxa, o papel da matemática na análise econômica e o uso (e mau uso) de testes de significância em economia.

Referências:

EKATERINA K. The Concept of Gender Crossing in the Deirdre McCloskey's Theory. Journal of Interdisciplinary Sciences, v. 2. p. 30-37, 2018.

¹https://www.manhattan-institute.org/html/mi-announces-deirdre-n-mccloskey-years-hayek-book-prize-winner-10319.html

²https://www.deirdremccloskey.com/main/bio.php#300

³https://www.fronteiras.com/artigos/deirdre-mccloskey-trans-liberal-e-em-defesa-das-virtudes-burguesas#:~:text=Nos%20anos%201990%2C%20aos%2052,é%20que%20Deirdre%20nascera%20Donald.


Oito dicas simples de estratégias para iniciar ou salvar seu negócio

Me. Dirlene Silva

Os altos índices de fechamento de empresas é um fator preocupante para a economia brasileira. Conforme os dados de 2019 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística já revelavam, mesmo antes da pandemia da COVID 19, cerca de 25% a 30% dos empreendedores não conseguiam concluir o primeiro ano de atividade, sendo que apenas 40% a 45% se mantinham no mercado após 5 anos de atividade.

Agora, durante a pandemia este índice de mortalidade de empresas disparou e recentes dados do IBGE apontaram o fechamento de 4 entre 10 empresas somente até a primeira quinzena de junho deste ano. Das empresas que permaneceram em atividade, 37,5% declararam forte impacto negativo nos negócios em decorrência da pandemia.

Foram mais de 700 mil empresas que fecharam as portas, sendo quase todas de micro ou pequeno porte. As micro ou pequenas empresas (empresas com até 49 funcionários) representaram 99,8% dos negócios encerrados, já as médias, 0,2%.

OS MOTIVOS

A falta de planejamento, conhecimento de gestão e ausência de comportamento empreendedor são, tradicionalmente, os principais fatores de fechamento de empresas no Brasil, segundo o Serviço Brasileiro de Apoio às Micros e Pequenas Empresas (SEBRAE, 2017). Estes fatores, somados à pandemia decretaram a sentença de morte prematura de milhares de empresas somente no primeiro semestre deste ano.

As empresas que sobreviveram, mesmo com dificuldades, tem em comum uma gestão mais sólida e/ou um empreendedor que pensa estrategicamente. Empreender é o sonho de muita gente, mas não basta ser excelente no que faz para levar adiante o negócio. Noções básicas de economia e estratégias de gestão podem salvar seu negócio das estatísticas de morte prematura.

1. PLANEJAMENTO

Viva o presente, planejando o dia a dia, mas mantenha o campo de visão voltado para o longo prazo, pois a falta de planejamento é o principal motivo de insucesso. O comportamento de empreendedor caracteriza a pessoa que tem pensamento estratégico, o qual compreende que estratégia é um processo de construção de futuro e que isto é importante para o crescimento sustentável e para sobrevivência do negócio frente a competitividade, exigências constantes e rápidas mudanças do mercado (PORTER, 1999).

2. TENHA FOCO

Principalmente no início de um empreendimento são muitas as necessidades e tarefas. Desta forma, lembre-se que é sim possível fazer muitas coisas ao mesmo tempo, entretanto a qualidade nunca é a mesma. Qualidade e quantidade são razões inversamente proporcionais. Por isto não confie em sua memória por melhor que ela seja! Use um sistema de agenda tradicional ou online e crie um hábito, uma rotina de anotar e organizar as tarefas diárias, das mais simples às mais sofisticadas. Além disto, aprenda a identificar o que é urgente e o que é importante. Atualmente, há diversos softwares gratuitos para agenda e gestão de cronogramas.

3. AUTOCONHECIMENTO

Como já dizia Sócrates “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os Deuses”. Assim como as pessoas precisam se autoconhecer para se desenvolver, as empresas também precisam se conhecer para crescer. Para isto, é essencial conhecer o seu negócio, sabendo quais são os pontos fortes e fracos, bem como as oportunidades e ameaças ao sucesso do negócio. Na gestão estratégica este processo é conhecido como matriz SWOT, um termo em inglês que significa strengths (forças), weaknesses (fraquezas), opportunities (oportunidades) e threats (ameaças) e é utilizado para análise do ambiente mercadológico (Kaplan e Norton, 2016).

4. FINANÇAS

Tão importante quanto o planejamento voltado para o longo prazo é o cuidado com a gestão financeira. Este é um ponto bastante sensível, visto que, na maioria das vezes o empreendedor é uma referência em sua área e justamente por isto decidiu empreender, mas comumente desconhece com gerir um negócio. Infelizmente não aprendemos finanças pessoais na escola e pior ainda, há um bloqueio e até vergonha de conversar sobre o assunto.

Quando se decide empreender deve-se contatar um escritório de contabilidade para tratar dos aspectos legais como registros, CNPJ, declarações e etc., pois para a maioria das empresas o registro e demonstrações contábeis são obrigatórios conforme a legislação brasileira. Entretanto, muitos desconhecem que contabilidade é diferente de gestão financeira e assim começam os problemas.

Outro erro comum é não separar o seu dinheiro do dinheiro do seu negócio. Este ato é crucial para o negócio se manter saudável! Tenha muita atenção, pois a forma como você lida com o dinheiro, determinará onde você vai chegar.

5. TRANSFORMAÇÃO DIGITAL

É importante ter em mente que a tecnologia é um meio e não um fim. Assim, devemos encarar que a transformação digital não é somente o uso da tecnologia e sim, um meio de agregar valor ao negócio. Use a tecnologia para criar canais de comunicação e conhecer as necessidades do seu cliente. Desta forma, será possível solidificar e construir relacionamentos mais empáticos, mudando a maneira de tratar o cliente. “Não adianta ser digital e não ser humano”.

Além de ouvir as necessidade do cliente é determinante responder e saber lidar com as situações, sendo empático e reflexível. Nem sempre o cliente tem razão, mas ele sempre merece ser ouvido. Isto vai determinar a fidelização deste cliente. Lembre-se: pior que não indicar é contraindicar!

6. INOVE

Inovação é um processo e uma necessidade de se reinventar, pensar “fora da caixa”, se atualizar e principalmente, para fazer diferente, mais e melhor o que se faz hoje.

Muitas vezes, mais importante que as respostas, são as perguntas. Por isto, a chave é estar constantemente se perguntando… E se? Exemplo: E se eu mudasse a nossa frequência de e-mails/whatsapp? E se tentássemos uma nova forma de comunicação? E se criássemos um combo de produtos?

Os negócios mais inovadores do mundo estão SEMPRE realizando diversos testes e tirando insights de cada um deles. A maioria dos testes podem falhar ou serem inconclusivos. Mesmo assim, trarão aprendizados para você e para o negócio. Elimine o pensamento de “ah, isto não vale para mim, pois meu negócio é pequeno” e tenha em mente que por maior que seja uma empresa hoje, todas já foram pequenas! Tudo tem um início! Não esqueça disto!

7. ATENÇÃO ÀS TENDÊNCIAS

O futuro não chega do nada. Ele dá sinais. Sinais que aparecem através das tendências. Por exemplo, a televisão, a internet, o celular e o uber demonstram a importância de dar atenção às tendências. Todos estes produtos que hoje são conhecidíssimos, já foram um dia desacreditados e considerados que jamais fariam sucesso.

8. LIÇÕES APRENDIDAS

Por fim e não menos importante, listo as lições aprendidas que são todos os conhecimentos adquiridos durante a realização de um processo ou projeto e, portanto, fazem parte do processo de aprendizagem. É imprescindível registrar todos os acertos e erros cometidos. Não tenha medo de errar (é errando que se aprende), mas não cometa sempre os mesmos erros! A ideia é produzir um documento que sirva como uma espécie de manual que possa ser consultado constantemente, podendo replicar as práticas que deram certo, evitar as falhas e assim ir buscando melhorias continuas. “Quem não melhora continuamente, fracassa lentamente”.

REFERÊNCIAS

AGÊNCIA IBGE. Pandemia foi responsável pelo fechamento de 4 em cada 10 empresas. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/28295-pandemia-foi-responsavel-pelo-fechamento-de-4-em-cada-10-empresas-com-atividades-encerradas. Acesso em 30/09/2020.

AGÊNCIA IBGE. Pesquisa Pulso Empresa: 37,5% das empresas foram afetadas negativamente pela pandemia na segunda quinzena de julho. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/28729-pesquisa-pulso-empresa-37-5-das-empresas-foram-afetadas-negativamente-pela-pandemia-na-segunda-quinzena-de-julho. Acesso em 01/10/2020.

JORNAL CONTÁBIL. Mortalidade das empresas. Disponível em: https://www.jornalcontabil.com.br/mortalidade-das-empresas-entenda-tudo-sobre-e-saiba-como-evitar. Acesso em 30/09/2020.

KAPLAN, Robert S. & NORTON, David P. A Execução Premium. Rio de Janeiro:

Campus, 2016.

PORTER, Michael. Competição = On Competition: estratégias competitivas

essenciais. Rio de Janeiro: Campus, 1999.

ROUBICEK. Marcelo. Qual o impacto a longo prazo do fechamento das pequenas empresas. Disponível em: https://www.nexojornal.com.br/expresso/2020/07/20/Qual-o-impacto-a-longo-prazo-do-fechamento-de-pequenas-empresas. Acesso em 30/09/2020.

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICROS E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE). Entenda o motivo do sucesso e do fracasso das empresas. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/sp/bis/entenda-o-motivo-do-sucesso-e-do-fracasso-das-empresas,b1d31ebfe6f5f510VgnVCM1000004c00210aRCRD?codUf=26&origem=estadual. Acesso em 01/10/2020.

SITEWARE. Quando usar diferentes tipos de estratégias empresariais. Disponível em: https://www.siteware.com.br/gestao-estrategica/tipos-de-estrategias-empresariais. Acesso em 23/09/2020.


Ser mulher realmente importa no mercado de trabalho brasileiro?

Mestranda Ana Carolina Tedesco

A atuação das mulheres no mercado de trabalho nunca esteve tão em voga no debate acadêmico e social como tem estado nos últimos anos. É consensual na literatura econômica que a participação da mulher no mercado de trabalho apresentou avanços consideráveis no século XXI em relação à segunda metade do século XX, inclusive no Brasil. No entanto, alguns desafios ainda são presentes quando o assunto é a atuação delas no mercado de trabalho, pois mesmo que tenham aumentando sua participação, continuam enfrentando inúmeros preconceitos, inclusive por serem mulheres.

De modo geral, as mulheres têm menores taxas de participação no mercado de trabalho relativamente aos homens, tendem a ocupar cargos informais e a receber salários menores em comparação ao salário de homens que exercem as mesmas funções. Um dos fatores que influenciam diretamente a participação no mercado de trabalho é a presença e a quantidade de filhos, assim como a disponibilidade de creches nas proximidades da residência ou do local de trabalho da mulher.

Com isso em mente, Tedesco e Souza (2020) elaboraram duas regressões para testar a que variáveis responde à participação da mulher no mercado de trabalho brasileiro e se “ser mulher” é um fator importante para a participação ou não. As autoras utilizam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio - PNAD de 2001 a 2015.

A constatação mais importante da pesquisa é a existência de um grande efeito discriminatório na força laboral exclusivamente por “ser mulher”. Em todos os anos, elas tiveram menores probabilidades de atuar no mercado de trabalho em relação aos homens. Não obstante, nos últimos anos da análise, 2014 e 2015, quando o mercado trabalhista começou a sentir os efeitos da recessão econômica de 2014 - 2017, há um aumento prejudicial às mulheres na diferença entre gêneros na participação no mercado de trabalho, pois elas foram as primeiras a sentirem os efeitos negativos da crise, diminuindo ainda mais suas possibilidades de ingresso neste mercado.

Outros resultados mostram que indivíduos chefes de família têm maiores probabilidades de participar do mercado de trabalho em comparação a cônjuges, filhos ou agregados, mas que, no entanto, quando uma mulher é chefe de família, a chance de ofertar trabalho cai vigorosamente em comparação a quando o posto de chefe de família é ocupado por um homem. A presença de filhos e a realização de trabalho doméstico também possuem consequências diferentes de acordo com o gênero do indivíduo. Enquanto a primeira característica aumenta a possibilidade de estar no mercado de trabalho para homens e casais com filhos menores de 14 anos e diminui a chance de ofertar trabalho para mães com filhos com menos de 14 anos, sejam elas casadas ou solteiras, a segunda característica tem efeito contrário.

De acordo com a pesquisa de Tedesco e Souza (2020), realizar trabalho doméstico reduz a probabilidade de homens participarem do mercado trabalhista, mas aumenta a chance de participação de mulheres, levando a crer que, quando elas participam da força laboral, o fazem enfrentando uma dupla jornada de trabalho. Infelizmente, esse resultado não é novidade na literatura, que vê a responsabilidade pelo trabalho doméstico ser majoritariamente feminina como uma explicação razoável à compreensão de porquê as menores taxas de participação no mercado de trabalho são de mulheres. A justificativa é que os efeitos de uma segunda jornada extenuante - trabalho doméstico em casa - afetam sua produtividade na primeira jornada de trabalho, reduzindo seu tempo de lazer e seu bem-estar. Assim, prevalece a concepção de que não há opção de renúncia àquilo que se supõe ser obrigação exclusiva de alguém.

Em termos gerais, os resultados não apenas indicam que as diferenças entre a participação de homens e mulheres no mercado de trabalho brasileiro permanecem significativas, como revelam que variáveis relacionadas à divisão do trabalho dentro da família, como o papel de chefe de família, a dedicação ao cuidado de filhos e aos trabalhos domésticos possuem efeitos distintos e desfavoráveis às mulheres.

Dessa maneira, políticas que viabilizem uma divisão do trabalho dentro da família de modo mais equitativo são um avanço em direção à igualdade entre gêneros no mercado de trabalho, beneficiando tanto a renda das famílias como o bem-estar geral da economia. Boas alternativas de políticas públicas baseadas em evidências que trazem retornos positivos são a provisão mais ampla - espacialmente - e inclusiva - socialmente - de creches e escolas, além de campanhas escolares que desmistifiquem a atribuição dos serviços domésticos exclusivamente à mulher. Dessarte, a longo prazo, o mercado de trabalho brasileiro pode ser menos hostil à presença feminina.

Fonte:

TEDESCO, Ana Carolina; SOUZA, Kênia Barreiro. Ser mulher importa? Determinantes, evidências e estimativas da participação feminina no mercado de trabalho brasileiro. Textos de Economia, Florianópolis, v. 23, n. 1, p. 1-21, jun. 2020. ISSN 2175-8085. Disponível em:

<https://periodicos.ufsc.br/index.php/economia/article/view/2175-8085.2020.e71518/43886>.

Você sabia?


A Região Sudeste concentra a maior participação de casamentos homoafetivos no Brasil. Sabia?

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2018, 0,9% dos casamentos registrados no Brasil eram de casais homoafetivos. Ao analisar as diferentes regiões do país, percebe-se que os mesmos estão concentrados nas Regiões Sudeste e Sul. Em 2017, o total de casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo foi de 5.887. Assim, neste período, houve um crescimento de 61,7%.


Com o crescimento do comércio digital em 2020, inúmeros casamentos têm adotado sites específicos, como é o caso da Wedy, que está localizada na Região Metropolitana de Porto Alegre e possui 10 anos de experiência neste segmento. Segundo dados disponíveis pela empresa, em 2019, 3% dos casamentos que utilizaram o site eram relações homoafetivas. Em 2020, até o momento, esses casamentos já representam 5% do total.

Viva os noivos! Viva as noivas!


Economistas que Inspiram!

Conheça Penelopi Kougianou-Goldberg, a primeira Grega e a segunda mulher a ocupar o cargo de Economista-Chefe do Banco Mundial!

Penelopi Kougianou-Goldberg é economista formada pela Universidade de Freiburg, Alemanha (1986) e Ph.D. em Economia, pela Universidade de Stanford (1992). Atualmente ela é professora de Economia na Universidade de Yale e também é pesquisadora associada no National Bureau of Economics Research (NBER), Distinguished Fellow do Center for Economic Policy Research (CEPR), e membro do conselho do Bureau of Research and Economic Analysis of Development (BREAD). Como destaque, cita-se a sua a passagem pelo Banco Mundial, de novembro de 2018 até março de 2020 em que ocupou o cargo de Economista-Chefe. Ela também foi ainda editora-chefe da American Economic Review e é membro da National Academy of Sciences da American Academy of Arts and Science.

Penelopi coleciona uma série de prêmios, entre eles o Guggenheim Memorial Foundation e Sloan Research Fellowships, e ainda é ganhadora do Prêmio Bodossaki em Ciências Sociais.

Sua área de atuação compreende a macroeconomia, se interessando por assuntos como política, comércio e desenvolvimento. Ela se dedicou a estudos de metodologias pra fornecer subsídios aos temas ligados a efeitos das políticas comerciais, comércio e desigualdade, proteção de direitos de propriedade intelectual, em países em desenvolvimento, taxa de câmbio e discriminação de preços.

Entre os temas das suas pesquisas mais recentes, destaca-se o estudo sobre o ressurgimento do protecionismo nos EUA; comércio, pobreza e desigualdade e a discriminação legal contra as mulheres.

FONTE:

https://economics.yale.edu/people/faculty/pinelopi-goldberg

https://www.ellines.com/en/famous-greeks/38742-the-first-greek-appointed-as-chief-economist-at-the-world-bank/


O papel da Mulher nas decisões de Consumo

Mestra Patricia Sande

Pelo senso comum, já sabemos que as mulheres opinam e decidem muito do consumo na família. Agora, através de pesquisas realizadas com este foco, sabemos que este percentual é realmente significativo. E esta influência na decisão de compra acontece pela troca de informações, experiências e identificação das mulheres com os homens da sua convivência ou meio social. Em pesquisas realizadas pela Nielsen em 2019 (uma consultoria mercadológica de São Paulo), 85% das decisões de compra no mundo todo são delas, o que representa um mercado econômico maior que a China e a Índia juntos, o que só confirma a importância da opinião feminina!

No Brasil, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) juntamente com o SPC Brasil investem em pesquisas inovadoras, de forma a contribuir ainda mais com o universo econômico do varejo, que já representa 57,11% do PIB nacional - setor de comércio e serviços. Um forte argumento que esta pesquisa traz à nossa discussão é de que quase 60% do PIB nacional vem do consumo em comércio e serviços, daí podemos dizer que esta parcela do PIB é também altamente influenciada pelas mulheres! E sobre como se formam as opiniões de consumo, mesmo sendo uma influência tão significativa no deste (consumo), as propagandas ainda não conseguem refletir o comportamento e imagem de muitas mulheres, segundo a percepção de 58,5% das entrevistadas (Nielsen, 2019). Mas apesar desta percepção, o marketing usado é inteligente o bastante para definir um consumo que seja adequado a cada estilo de vida, e como apresentou a pesquisa, as mulheres são consumidoras mais fiéis. Portanto, visando garantir uma experiência de compra satisfatória e oferecer bons produtos, as lojas (físicas ou on line) têm se esforçado para garantir a retenção e fidelização do público feminino mais do que teriam ao investir no relacionamento com o público masculino.

Ainda sobre a formação de opinião de consumo, o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), informam que as redes sociais são utilizadas por 94,3% das entrevistadas e quase 65% delas já mudaram seus hábitos de consumo por causa destas redes . A pesquisa mostra que cinco em cada dez entrevistadas (49,9%) fazem uso de apps no dia-a-dia, sobretudo as pertencentes às classes C, D e E (45,1%). Dentre as mulheres que utilizam essa ferramenta, os apps mais populares são aqueles que servem para compra online de roupas e sapatos (24,4%), pedir comida (11,2%), auxiliar a dieta (9,6%) e chamar táxi (9,5%). Já os aplicativos para auxiliar o planejamento do orçamento são citados por 8,8% das entrevistadas. E, mesmo com esta baixa procura por apps sobre orçamento, os conteúdos no YouTube de “como investir nosso dinheiro” (dados internos do Google) apresentam que 200% dos acessos se deu por mulheres, enquanto que 60% dos acessos fora feitos por homens. Podemos dizer de tudo isso, que o mercado deve ter uma atenção toda especial aos anseios e necessidades femininos!

Após vermos todas essas informações sobre decisão de consumo e sua possível formatação, podemos perguntar:

- Será que o consumo está crescendo, sendo consciente ou mesmo minimalista?

- Como será descrito nosso papel para desenvolvermos uma consciência daquilo que consumirmos?


Referências

https://www.agenciasantafe.com.br/blog/mulheres-no-mercado-de-consumo/

https://www.nielsen.com/br/pt/insights/article/2019/panorama-do comportamentodeconsumoe- estilo-de-vida-das-mulheres-brasileiras/

https://www.spcbrasil.org.br/imprensa/pesquisas


Violência contra a população LGBTI+ no Brasil

Mestranda Joici Cristiani de Souza

O assunto sexualidade sempre foi um dos maiores tabus da sociedade. Levado em pauta, esse assunto traz a necessidade de romper barreiras, pois se opõe aos valores e crenças enraizados na sociedade. Fica evidente que debater este tema é de extrema importância ao se observar que a violência sexual é um dos pontos que possui pouca visibilidade no Brasil e precisa de um maior levantamento e transparência. Por mais que as mulheres (cis) sejam as vítimas de maior número, outra parcela da população que também traz muita preocupação em relação à essa violência é a população LGBTI+.

Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2019), entre os anos de 2017 e 2018, apenas 11 dos estados brasileiros apresentaram dados sobre estupros de pessoas LGBTI+. As informações sobre esses casos são subnotificadas no país, cerca de 86 pessoas LGBTI+ em 2017 e 83 no ano de 2018, informaram que sofreram violência sexual.

Um dos crimes mais cometidos contra essa população (especialmente contra lésbicas) é o de estupro corretivo. Em geral, nesses casos, o agressor busca “corrigir” o comportamento sexual e social da vítima. Entretanto, estes atos não possuem dados emitidos pelos estados para a criação de políticas públicas que visam prevenir e combater esse crime bárbaro, o mesmo para o acompanhamento dessas vítimas, seja este físico ou psicológico.

Em 2018 foram registrados 13.104 estupros no país, correspondente a uma taxa de 26,4 a cada 100 mil habitantes, mas como as informações são incompletas, apenas 80 dessas vítimas eram LGBTI+. Neste mesmo ano apenas 3 estados afirmaram possuir uma rede de atendimento da população LGBTI+ para casos de violência. Os principais dados levantados sobre essa população são pesquisados por Instituições da Sociedade Civil e não por organizações governamentais (BENEVIDES; NOGUEIRA, 2020).

Muitas vezes por receios e dúvidas, a tomada de decisão desses indivíduos sobre denunciar ou não é afetada. Insegurança, desconfiança, receio da impunidade e omissão por parte do Estado na investigação, levam essas pessoas a não registrar os casos nos quais foram vítimas. Muitos por temer sofrer discriminações e preconceitos na hora de recorrer a seus direitos.

Apenas em junho de 2019 LGBTfobia se tornou um crime no Brasil, no qual discriminar uma pessoa por sua orientação sexual ou gênero pode ser punido com multa e levar até 3 anos de prisão, sem a possibilidade de fiança (GOMES; NICOLAU, 2020). Porém, segundo dados do Grupo Gay da Bahia (2019), a cada 26 horas alguém morre vítima de LGBTfobia, seja por assassinato ou até mesmo suicídio, o que faz do Brasil um dos países com maior número de mortes LGBTI+.

Objetivando defender os direitos LGBTI+ nesta pandemia, a organização de direitos humanos da ONU (2020) alertou os estados para garantir que as medidas de emergência adotadas pelos governos não aumentem as desigualdades de gênero e orientação sexual. A ONU demostrou não só uma preocupação com a saúde deste grupo, mas também com sua situação no mercado de trabalho, que devido ao preconceito, discriminação e LGBTfobia, os tornam mais propensos ao desemprego.

Somando-se aos obstáculos enfrentados por esse grupo de pessoas durante a pandemia, estão as dificuldades financeiras, subemprego, afastamento das redes de apoio, problemas com documentações ao recorrer a auxílios governamentais, dentre outros (ONU, 2020). Ainda, devido ao isolamento social, ocorreu o aumento da violência contra LGBTI+, que apenas no primeiro semestre de 2020 teve 89 casos de assassinatos. Segundo dados da ANTRA (2020) estima-se que 70% dessas pessoas que estão cumprindo o isolamento já sofreram algum tipo de violência, seja no ambiente familiar como pela vizinhança. Esse aumento na vulnerabilidade também agravou a saúde mental desses indivíduos, cerca de 45% deles apresentaram depressão, ansiedade e conflitos familiares, neste mesmo período.

A ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) e a ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos) formularam uma cartilha para a população LGBTI+ sobre o que fazer em caso de violência LGBTIfóbica, trazendo informações sobre como ajudar, denunciar e agir em casos de violência, sejam elas físicas, psicológicas, sexuais ou até mesmo simbólicas. Essa cartilha mostra a importância da denúncia, os tipos de violência, como ajudar, agir e proceder na ocorrência desses casos. Uma leitura muito importante principalmente neste momento de isolamento social.

Quando uma pessoa assume uma orientação sexual ou uma identidade de gênero que não está dentro do padrão de heteronormatividade essa pessoa ainda enfrenta uma luta diária de aceitação, tanto pessoal quanto pela sociedade. Nos dias atuais, essas questões não deveriam mais ser vistas como tabus. Precisamos falar sobre sexualidade, pois o mundo não se compõe apenas de cisgêneros, e as orientações sexuais não são apenas a heterossexualidade. É necessário que esse assunto tenha uma maior visibilidade sem que seja estigmatizado.

Uma alternativa para diminuir essa desigualdade seria o desenvolvimento de melhores políticas publicas por parte dos órgãos governamentais. Os dados sobre a população LGBTI+ demostram a fragilidade e o despreparo das autoridades e como esse grupo está sendo ignorado por eles. Precisamos de melhores leis para combater as violências, mais transparência nos dados públicos e respeito por parte da sociedade. A maioria das associações e instituições relataram que o principal caminho que poderia ajudar a eliminar essa desigualdade é pela educação, pois é a partir dela que aprendemos a respeitar os outros, combater o preconceito e a discriminação.


REFERÊNCIAS

Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA. BOLETIM Nº 03/2020. Assassinatos Contra Travestis e Transexuais em 2020. Disponível em: <https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/06/boletim-3-2020-assassinatos-antra.pdf>. Acesso em: 07 set. 2020.

Associação Nacional de Travestis e Transexuais - ANTRA; Associação Brasileira De Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos - ABGLT. O que fazer em caso de violência LGBTIfóbica? Disponível em: <https://antrabrasil.files.wordpress.com/2020/03/cartilha-lgbtifobia.pdf>. Acesso em: 07 set. 2020.

BENEVIDES, B. G.; NOGUEIRA, S. N. B. (Orgs). Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2019. São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2020.

Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2019. São Paulo, 2019.

GOMES, T.; NICOLAU A. O que mudou após 1 ano da criminalização da LGBTfobia no Brasil? Catraca Livre. 2020. Disponível em: <https://catracalivre.com.br/cidadania/o-que-mudou-apos-1-ano-da-criminalizacao-da-lgbtfobia-no-brasil/>. Acesso em: 07 set. 2020.

REIS, T. (Org.). Manual de Comunicação LGBTI+. Curitiba: Aliança Nacional LGBTI / GayLatino, 2018.

OLIVEIRA, J. M. D.; MOTT, L. (org.). Mortes violentas de LGBT+ no Brasil - 2019: Relatório do Grupo Gay da Bahia. 1. ed. Salvador: Editora Grupo Gay da Bahia, 2020.

ONU - Organização das Nações Unidas. Discriminação afeta saúde e acesso de pessoas LGBTQI+ ao mercado de trabalho. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/discriminacao-afeta-saude-e-acesso-de-pessoas-lgbtqi-ao-mercado-de-trabalho/> Acesso em: 07 set. 2020.

ONU - Organização das Nações Unidas. Especialista independente da ONU alerta que Estados devem incluir comunidade LGBTI na resposta à COVID-19. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/especialista-independente-da-onu-alerta-que-estados-devem-incluir-comunidade-lgbti-na-resposta-a-covid-19/>. Acesso em: 07 set. 2020.

ONU - Organização das Nações Unidas. ONU lança vídeo para celebrar o Dia Internacional do Orgulho LGBTI+. Disponível em: <https://nacoesunidas.org/onu-lanca-video-para-celebrar-o-dia-internacional-do-orgulho-lgbti/>. Acesso em: 07 set. 2020.


O papel da mulher na nova dinâmica da família brasileira

Me. Júlia Rizzotto


Os arranjos familiares vêm mudando ao longo das décadas em todo o mundo. A família tradicional composta pelo casal heterossexual com filhos abre espaço para as novas estruturas familiares: as famílias monoparentais e homoafetivas. Esse movimento pode ser observado no Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que mostra que o casal heterossexual com filhos passou de 61,9% da população, segundo o Censo de 1970, para 49,4% no Censo de 2010.

As famílias monoparentais são constituídas por uma pessoa, independente do sexo, que está sem companheiro, seja por decisão voluntária ou involuntária como divórcios ou viuvez. Elas foram reconhecidas como entidades familiares através da Constituição Federal de 1988, a qual compreende “entidade familiar” como “comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes” (art. 226 § 4º).

No Brasil, a monoparentalidade feminina, ou seja, os filhos residindo apenas com as mães, é um fenômeno em expansão, sendo o segundo maior tipo de arranjo familiar segundo o Censo de 2010, representando 12,2% das famílias brasileiras. No passado, esses arranjos eram relacionados com o abandono da mulher pelo companheiro. Hoje, as mulheres vêm tendo mais oportunidades de romperem os relacionamentos que não deram certo e também vivenciam a maternidade “solteira”. Entretanto, apesar da guarda compartilhada já ser uma lei, os cuidados com os filhos são associados a figura feminina, assim, os arranjos monoparentais masculinos representaram apenas 1,8% das famílias brasileiras segundo o Censo de 2010.

As grandes transformações econômicas, demográficas e sociais nas últimas décadas no Brasil, permitiram avanços na conquista dos direitos de cidadania das mulheres modificando assim a configuração dos arranjos familiares. Desse modo, começaram as mudanças das relações de gênero nas estruturas domiciliares, culminando no aumento do número e do percentual das mulheres chefes do lar.

Além dos novos arranjos que vêm surgindo e sendo reconhecidos como família, é possível observar uma mudança no Brasil quanto aos chefes do domicílio. O que te vem na mente ao pensar em chefe do domicílio? Uma figura masculina? Somente a partir do Censo de 1980 é que o IBGE reconheceu que o chefe do lar pode ser tanto do sexo feminino quanto do masculino. Assim, a partir do Censo de 2000 os termos “chefe do domicílio” e “chefe de família” foram substituídos por “responsável pelo domicílio” e “responsável pela família”. Dessa forma, o entrevistando não associa a posição de chefe com a figura masculina.

Segundo o Censo de 2010 há uma alteração no indivíduo que é o responsável pela família. Entre 2000 e 2010, o percentual de mulheres responsáveis pelo domicílio aumentou de 22,2% para 37,3%. Segundo um estudo de Cavenaghi e Alves (2018) com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) é possível observar uma enorme transformação na declaração de chefia nos arranjos biparentais. As mulheres passaram de comandar cerca de pouco mais de um milhão de famílias para quase sete milhões entre 2001 e 2015 (CAVENAGHI e ALVES, 2018).

Esse aumento significativo tem uma explicação. Ao longo dos últimos anos as mulheres vêm alcançando maiores escolaridades, mais reconhecimento e espaço no mercado de trabalho, acarretando remunerações maiores, apesar de ainda existir a desigualdade salarial de gênero. Assim, as mulheres vêm ganhando espaço como chefe do domicílio. De acordo com Cavenaghi e Alves (2018) essa alteração dentro da estrutura nuclear da família é um indicativo de um maior equilíbrio entre homens e mulheres. Ainda estamos distantes de viver em uma sociedade igualitária em termos de gênero na chefia familiar, mas as mulheres parecem estar conquistando os seus espaços e cada vez mais as suas independências financeiras.


REFERÊNCIAS

CAVENAGHI, Suzana; ALVES, José Eustáquio D. Mulheres chefes de família no Brasil: avanços e desafios. Rio de Janeiro: ENS-CPES, v. 120, 2018.

CENSO, I. B. G. E. Disponível em:< http://www. censo2010. ibge. gov. br/>. Acesso em: 27/08/20, v. 23, 2010.

E nós, Brasileiros de hoje, quem somos?

Dra. Camila Horst Toigo

Uma das maiores pesquisas primárias sobre valores, a World Values Survey [1], foi divulgada recentemente. Curiosa a respeitos das percepções e valores das diferentes populações do mundo, analisei a evolução dos principais indicadores que foram coletados entre 2017 e 2019. Com o intuito de entender o perfil e a percepção dos brasileiros nos tempos atuais, dado a conjuntura de crise social, política e econômica dentro da qual o país se encontra, separei quatro dimensões para analisar. Essas informações são de grande importância e refletem na economia do nosso país, além de refletir sobre alguns valores da sociedade brasileira.

POLÍTICA

O brasileiro nunca considerou a política um aspecto muito importante na sua vida. Comparando as sete ondas já realizadas (de 1989 a 2019), a segunda delas (entre 1989 e 1993) apresentou o maior percentual de pessoas que afirmavam que a arena política era muito relevante para seu dia-a-dia (22%). A tendência, após esse período, foi de queda nessa estimativa, chegando a 12% em 2010-2014. Porém, a partir de 2014, observou-se uma retomada da importância da política na vida dos brasileiros, o que está em consonância com os movimentos ocorridos, sobretudo, após 2013. Estamos mais atentos à política como um todo ou estamos mais polarizados, com base em nossos interesses pessoais?

RELIGIÃO

No Brasil, a religião é um elemento mais importante na vida da população do que a política, o lazer e os amigos. No entanto, desde a segunda onda da pesquisa (1994-1998), essa percepção tem mudando, sendo representada por uma tendência de queda, mesmo que em uma velocidade mais lenta. Há mais de 26 anos atrás, o percentual de brasileiros que citavam a religião como um aspecto importante na vida era de 64%, enquanto atualmente é de 45%. Acompanhado a isso, tem aumentado a parcela de pessoa que desconsidera o caráter religioso como valioso (de 8%, em 1998, para 10% em 2019). Será que há uma tendência de longo prazo secularista na sociedade brasileira?

DIVERSIDADE

Embora sejamos, diariamente, testemunhas de atrocidades decorridas da falta de tolerância, os resultados da última onda da World Value Survey mostram um brasileiro mais compassivo às diversidades. Apenas 2,5% dos respondentes citaram que não gostariam de ter pessoas de religiões diferentes como vizinhos e 2,6% citaram que não gostariam de ter imigrantes no bairro. Com relação às diferenças raciais, o percentual de intolerância é de 1,4%, em 2019. Porém, quanto o brasileiro é questionado sobre a possibilidade de ter vizinhos homossexuais, essa intolerância aumenta, chegando a representar quase 7% dos respondentes.

A partir de uma análise temporal entre a primeira e a última onda da pesquisa, observa-se uma tendência de queda de 23 pontos percentuais nas menções relacionadas ao homossexualismo e 10 pontos percentuais relacionados às diferenças de religiosidade. Embora com menor expressividade, também se constata uma redução da intolerância associada às diferenças raciais (queda de 4 pontos percentuais nas menções) e imigração (queda de 1 ponto percentual). Estaríamos nós, a sociedade que mais mata travestis no mundo [2] e que tem uma taxa de homicídio de negros de 44% [3], sendo mais compassivos com as diversidades?

UNIVERSO MASCULINO E FEMININO

Quando observamos indicadores de diversidade de gênero, reconhecemos um brasileiro com percepções mistas. Ao passo que 22% dos brasileiros concordam que homens são melhores para cargos executivos que mulheres, 30% concordam que homens devem ter mais direitos de trabalho do que mulheres e 35% concordam que há problema no fato da mulher ganhar a maior renda no domicílio (sendo a maioria dos concordantes mulheres (41%), por surpresa minha), também temos 47% dos brasileiros que não concordam que homens são melhores políticos que mulheres e outros 89% que não compartilham da percepção de que o ensino superior é mais importante para meninos do que para meninas.

Só para termos uma ideia de como estamos atravessando, mesmo que lentamente, uma mudança cultural neste quesito, muito relacionado a intensificação do movimento feminista e suas consequências, entre 1994 e 1998 o percentual de brasileiros que consideravam os homens como melhores político era de 48%, enquanto que entre 2017 e 2019 esse percentual é de 17%. Porém, mesmo que já observemos avanços importantes até mesmo em termos legais, ainda vemos percepções mais conservadoras a respeito da igualdade de gênero no mercado de trabalho. A última onda da pesquisa mostra que em 14 anos o percentual de brasileiros que consideram homens mais habilidosos para negócios do que as mulheres caiu muito pouco, de 30% em 2005 para 22% em 2019.

E nós, Brasileiros de hoje, quem somos?

O Brasileiro de hoje, segundo o WVS é mais interessado em política. No entanto, esse maior interesse por política tornou o país mais polarizado. Será que o Brasileiro realmente entende a arte da política ou apenas se tornou mais partidarizado? O Brasileiro tem se tornado mais tolerante, mas ainda persistem resistências aos homossexuais e a igualdade de gênero.

Em resumo, podemos observar, sim, mudanças comportamentais e de valores da população brasileira. Algumas podem decorrer de avanços estruturais na sociedade e na cultura, influenciadas por questões mais remotas, como a luta pela redução das desigualdades raciais e de gênero, a criação da lei Maria da Penha, a permissão de oficialização do casamento homoafetivo, a criação da lei de criminalização da homofobia. Outras, no entanto, podem decorrer de incentivos contextuais ou de macro tendências, que surgem criando tensões e formando grupo e movimentos diversos, a exemplo das condições políticas atuais decorrentes das investigações e dos escândalos de corrupção. A questão que deixo, aqui, é: considerando todas as mudanças de curto e longo prazo, qual brasileiro queremos ser?

Referências:

[1] Inglehart, R., C. Haerpfer, A. Moreno, C. Welzel, K. Kizilova, J. Diez-Medrano, M. Lagos, P. Norris, E. Ponarin & B. Puranen et al. (eds.). 2019. World Values Survey: Round Seven - Country-Pooled Datafile Version: https://www.worldvaluessurvey.org/WVSDocumentationWV7.jsp. Madrid: JD Systems Institute.

[2] Associação Nacional de Travestis e Transexuais. Dossiê dos assassinatos e da violência contra travestis e transexuais brasileiras em 2019 / Bruna G. Benevides, Sayonara Naider Bonfim Nogueira (Orgs). – São Paulo: Expressão Popular, ANTRA, IBTE, 2020.

[3] Atlas da Violência – IPEA/Fórum Brasileiro da Segurança Pública. 2020.


O "Economistas na prática" dessa semana entrevistou a Júlia Elisabete Barden, economista do estado do Rio Grande do Sul.


Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Santa Cruz do Sul (1995), mestra em Economia Rural pela UFRGS (1999) e doutora em Economia com ênfase em Economia do Desenvolvimento também pela UFRGS (2009)



Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho?

Atuo no ensino superior, sou docente na Universidade do Vale do Taquari Univates, pesquisadora no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu e desde 2016 estou na função de Pró-Reitora de Desenvolvimento Institucional. A pró-reitoria é responsável por duas áreas na instituição, planejamento e comunicação. Estas áreas estão subdivididas em cinco setores: planejamento e avaliação, projetos e processos, comunicação e marketing, TV Univates e Univates FM.

A área do planejamento é responsável pelo planejamento estratégico bem como das demais atividades necessárias para sua elaboração, implementação e acompanhamento. A avaliação está articulada com o planejamento para subsidiar sobre a globalidade institucional, contemplando todas as instâncias acadêmicas e administrativas. Por outro lado, a partir do posicionamento institucional, a área de comunicação e marketing estabelece as estratégias de comunicação, valendo-se da TV e da rádio no processo de comunicação. O setor de projetos e processos dá suporte para a elaboração das iniciativas que são definidas no planejamento e após elaborados e aprovados os projetos, estes são transformados em processos para serem incorporados nas rotinas da instituição, a fim de cumprir com o planejamento proposto. Diante deste contexto, cabe a pró-reitoria coordenar estas duas áreas para que haja plena articulação entre o planejamento, sua execução e a comunicação institucional.

Quanto as atividades de pesquisa, atuo na área do desenvolvimento, com ênfase no desenvolvimento humano e indicadores de desenvolvimento.

Quais os principais motivos que lhe levaram a estudar Economia?

A economia proporciona uma formação com visão abrangente, envolve uma compreensão da evolução econômica, social e histórica do sistema e das sociedades, bem como das diferentes correntes do pensamento econômico. Esta perspectiva foi importante para a escolha do curso, pois sempre gostei de estudar para compreender como se dá o funcionamento das sociedades, as inter-relações que se estabelecem entre economia, política e a evolução dos fatos ao longo da história. Na medida em que os estudos foram avançando tive mais certeza sobre a escolha que fiz, pois a economia permite não só uma visão ampla e sistêmica, mas também sob diferentes perspectivas (teórica ou aplicada) ou ainda sob diferentes enfoques (micro ou macro). Além da economia estar em constante evolução, pois tem incorporado com o passar do tempo as temáticas que permeiam a sociedade e suas relações (meio ambiente, pobreza, desigualdade, inovação., entre outros.).

Vivências no mercado de trabalho

Após a conclusão da graduação optei em seguir a carreira acadêmica e ingressei no programa de mestrado em Economia Rural. Em seguida, tive a oportunidade de iniciar como docente em uma instituição de ensino superior e desde então, estou nesta atividade. Tendo como objetivo consolidar a atuação profissional no meio acadêmico, segui com o processo de formação e cursei o doutorado em Economia.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres, que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho?

Não observo diferenciação. O que observo é que até um determinado período de tempo, os homens representavam a maioria dos estudantes na área da Economia e com o passar do tempo, mais mulheres passaram a cursar.

Em relação ao ambiente de trabalho que frequento, o meio acadêmico, não percebo diferenciação, entendo que neste segmento há um tratamento mais igualitário em relação ao gênero. Tendo em vista que no meio acadêmico se tem um plano de carreira e este é vinculado a formação acadêmica e na maioria das vezes a produtividade científica, entendo que as questões de gênero de uma maneira em geral tendem a ser equalizadas.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher?

Não, felizmente não passei por situações desta natureza.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

A primeira condição é seguir com a formação acadêmica para obter a titulação necessária para atuar no ensino superior. Logo após o início das atividades como docente no ensino superior tive a oportunidade de exercer atividades de gestão na universidade de forma paralela a docência. Antes de chegar à função atual, pró-reitora, tive a oportunidade de exercer diferentes cargos na área da gestão universitária: coordenadora de curso de graduação, chefe de departamento, vice-diretora de centro e diretora de centro. A formação na área da Economia possibilitou uma preparação muito importante para o exercício destas funções na gestão acadêmica. Para complementar a qualificação busquei formações específicas nesta área como uma Especialização em Gestão Universitária.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Trata-se de uma área de conhecimento instigante, abrangente e que proporciona diversas oportunidades para atuação. Dada a sua abrangência, torna-se importante identificar qual a área de interesse para que se possa buscar uma maior qualificação, diferenciação e consequente inserção no mercado de trabalho. Além do mais, dada a relação da área com o cotidiano, provoca uma constante busca pelo conhecimento e aprimoramento.


Invisíveis por serem pobres, empreendedores por falta de opção

Me. Ruza Cali Amon


O auxílio emergencial de 600 reais, disponibilizado a partir de abril em razão da pandemia, revelou uma fatia de trabalhadores que o governo considerou “fora do seu radar” por não possuir registro de microempreendedor individual nem contribuir de forma autônoma ao INSS. No primeiro dia de funcionamento, o aplicativo de cadastro recebeu 22 milhões de candidatos ao benefício, e o governo estima ser um total de 15 a 20 milhões os cidadãos que efetivamente são trabalhadores informais.

Os “invisíveis”, como passaram a ser denominados, não deveriam ser tão invisíveis assim, pois correspondem a cerca de 9% de toda a população brasileira. Sua repentina aparição nas contas do governo evidenciou, além da informalidade, outras questões ligadas ao acesso e ao uso do auxílio emergencial, tais como a exclusão digital, a falta de intimidade com transações financeiras bancárias, e dúvidas sobre a educação financeira necessária para lidar com o subsídio.

Por que não poupam nem tomam empréstimos bancários?

Com renda per capita de até 522 reais ou familiar total de até 3.135 reais (critérios do programa de subsídio), esses agentes econômicos são “invisíveis” não apenas por sua informalidade. Segundo Banerjee e Duflo na publicação Poor economics (2011), é por possuírem muito pouco que se presume não haver nada de interessante em sua existência econômica. Uma crise como a que enfrentamos agora os atinge em cheio por não terem reservas financeiras, e isso acontece porque as emergências que enfrentam são muitas e diárias — e eles não lidam apenas com as próprias, pois vivem em estreita relação com familiares, vizinhos e amigos. Quando têm algo para separar, não levam a uma instituição financeira porque pode ocorrer de o deslocamento e o custo administrativo cobrado pelo banco serem mais elevados do que a própria economia. Por essa razão, a via de poupança mais usual é a literal imobilização em materiais de construção, que serão utilizados no aumento de suas casas, ou mesmo no levantamento parcial de lajes e paredes. É uma forma de resistir à tentação ou à pressão de emprestar o dinheiro poupado aos que estão próximos. Ainda segundo os autores, os pobres também não têm acesso a crédito bancário por falta de garantias e, quando têm acesso, pagam mais juros do que os ricos por esse motivo; entre os que tomam empréstimos, 52% o fazem com agiotas, 24% com amigos ou vizinhos e 13% com familiares. Apenas 5% tomam emprestado de bancos.

Por que não se formalizam?

Os “invisíveis” revelados ao governo pela pandemia são autônomos que vivem de “bicos”. Estão à margem inclusive da pessoa jurídica “microempreendedor individual” onde se supunha que estivessem. Esse estado de informalidade não é apenas resultado da falta de organização ou de orçamento para enfrentar os custos da formalização: é um indicativo de que a expectativa desses cidadãos seria de estarem em outra posição produtiva, considerando o “bico” um tempo de espera por uma oportunidade de trabalho convencional. O título “Empreendedores relutantes” de um capítulo de Poor economics dá a pista: os pobres, em sua grande maioria, são empreendedores por necessidade, e não veem o empreendedorismo como algo a ser desejado, garantem os autores. A trilha que leva as famílias a essa situação costuma iniciar pela perda de emprego formal por parte de um dos seus membros. Então, uma atividade informal inicia porque alguém na família tem algum tempo livre (ou se imagina que tenha), e essa pessoa costuma ser a mulher, que vai acumular essa nova responsabilidade às tarefas de cuidar da casa e dos filhos. Sobre esse processo de autoemprego, a conclusão a que chegaram Banerjee e Duflo é que os numerosos empreendimentos iniciados pelos pobres sejam mais um sintoma da falha das economias em que vivem de prover a eles algo melhor do que uma prova do seu espírito empreendedor. E a conclusão à qual nós podemos chegar é que a faixa dos invisíveis brasileiros será ainda mais dilatada pela recessão que se avizinha e pelo abismo digital que se precipitou com o isolamento social.

Referências:

BANERJEE, A. V.; DUFLO, E. Poor Economics. Nova Iorque: PublicAffairs, 2011 (p. 157—234).

“Invisíveis” são 22 milhões em 24 horas de cadastro para o benefício de R$ 600. Estadão. https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,invisiveis-sao-18-3-milhoes-no-1-dia-de-cadastro-para-o-beneficio-de-r-600,70003264227. Acesso em: 7 de abril de 2020.


Economistas que Inspiram!

Formou-se com distinção em Economia pela Universidade de Harvard, concluiu seu mestrado pela Universidade de Oxford e obteve seu PhD no Massuchessets Institute of Technology em 2012. Atualmente é professora do Departamento de Economia na Universidade de Harvard. Em 2020 aos 37 anos recebeu a Medalha John Clark Bates, que reconhece economistas que atuam nos Estados Unidos com menos de 40 anos que contribuíram para o avanço do seu campo de conhecimento.

Segundo a American Economic Association, a pesquisadora foi reconhecida com a medalha John Clark Bates pela “sua coleta de dados pioneira, cuidadosa e criativa em seu trabalho empírico, Melissa Dell avançou nossa compreensão do papel que o Estado e outras instituições desempenham na vida cotidiana e nos resultados econômicos das pessoas. Ao fazer isso, ela também deu uma nova energia e direção a todo o campo da economia política do desenvolvimento”.

A pesquisa de Dell foca em examinar como determinados eventos históricos, condições econômicas e instituições podem afetar o desenvolvimento de longo prazo dos países, sua análise concentra-se principalmente em países da América Latina e do Sudeste Asiático. Seu trabalho combina dados históricos com modernas técnicas econométricas a fim de identificar relações causais que ajudem a explicar os diferentes padrões de desenvolvimento e persistência da pobreza em determinadas regiões.

Em um dos seus artigos mais proeminentes, Dell explora como o trabalho forçado nas minas localizadas em algumas regiões do Peru durante o período de colonização pela Espanha, entre os anos 1500-1800, afetam o desenvolvimento da região até o período recente. A partir de uma extensa coleta de dados e técnicas de estimação pioneiras o estudo mostrou que mesmo após 300 anos da abolição deste tipo de trabalho, as famílias que hoje residem nessas regiões são 20% mais pobres e as crianças nascidas apresentam mais problemas de desenvolvimento infantil comparado às crianças de famílias residentes nas regiões distantes destas minas.

Desta forma, a curiosidade e rigor científico de Melissa Dell se traduzem em pesquisas inovadoras que contribuem para o avanço da economia política do desenvolvimento, ao passo que também inspira jovens economistas e pesquisadoras.

Fontes:

https://news.harvard.edu/gazette/story/2020/04/economist-melissa-dell-wins-2020-clark-medal/

https://www.aeaweb.org/about-aea/honors-awards/bates-clark/melissa-dell

https://www.aeaweb.org/research/interview-melissa-dell-john-bates-clark


Desenvolvimento econômico e qualidade de vida no brasil: uma análise comparativa entre os municípios costeiros e os municípios não costeiros

Drª Blanca Gamarra

A Zona Costeira Marítima do Brasil[1] (ZCM) é formada por parte das regiões Norte, Nordeste, Sudeste e Sul do país[2], composta por 412 municípios[3], conforme apresentado na Figura 1. Em apenas 4,3% da área territorial costeira vivem em torno de 46 milhões de habitantes (IBGE, 2010), cerca de 23% da população total do país. A ZCM destaca-se sob os aspectos histórico, cultural, econômico e logístico. Praticamente todos os ciclos econômicos do país desde a sua descoberta estavam e estão intimamente relacionados ao território costeiro, inclusive os ciclos atuais do turismo de sol e praia e o do Pré-Sal (POLETTE e LINS-DE-BARROS, 2012). Além disso, do ponto de vista global, os terrenos à beira mar constituem pequena fração dos estoques territoriais disponíveis que abrigam amplo conjunto de funções especializadas e quase exclusivas. Essas características qualificam o espaço costeiro como raro e a localização litorânea como privilegiada, dotando-a de qualidades geográficas particulares, conforme destacado por Moraes (1999).

Figura 1: Caracterização da Zona Costeira Marítima

Fonte: Retirado do Artigo “A Erosão Costeira e os Desafios da Gestão Costeira no Brasil” de Celia Regina de Gouveia Souza, publicado da Revista da Gestão Costeira Integrada 9(1):17-37 (2009).


No presente trabalho pretende-se apresentar uma análise da qualidade de vida da população associada às dimensões ambiental, econômica e social entre os municípios costeiros e não costeiros do Brasil. Ao mesmo tempo busca-se caracterizar a estrutura sócio econômica desses municípios bem como as dimensões associadas à qualidade de vida da população.

Há consenso na literatura que trata de qualidade de vida e bem estar de que estes conceitos estão relacionados com o nível de desenvolvimento econômico alcançado pelos países ou regiões onde vivem as pessoas. Definir o que é qualidade de vida em termos econômicos, como em qualquer outra área do conhecimento, é muito complexo, pois as pessoas podem valorizar realizações que não estejam relacionadas como o aumento de renda ou crescimento econômico. Segundo Ul Haq (1995) a qualidade de vida pode estar associada a fatores como conhecimento, saúde, meio ambiente não poluído, liberdade política e aspectos da vida que não dependem exclusivamente da renda. Da mesma forma, Nussbaum e Sen (1996) destacam que essa definição se torna complexa por não estar relacionada apenas com o aumento de recursos ou renda, mas também com capacitações e funcionamentos.

Nesse sentido, Palomba (2002), destaca que a qualidade de vida está relacionada com (i) fatores materiais, associados à renda disponível, posição no mercado de trabalho, saúde, nível de educação etc; (ii) fatores ambientais tais como acesso aos serviços básicos, níveis de segurança, acesso à tecnologia e características de moradia; (iii) fatores de relacionamentos, ou seja, relações com familiares, amigos e conexões sociais em geral; e (iv) políticas governamentais, pois a qualidade de vida não é relacionada apenas à perspectiva dos indivíduos, mas também à perspectiva social, de modo que, depende das políticas públicas existentes.

A literatura econômica apresenta uma lacuna no que diz respeito a trabalhos que tratem especificamente do perfil de desenvolvimento sócio econômico da população da ZCM. Diante dessa lacuna fica difícil analisar em termos comparativos o nível de desenvolvimento sócio econômico entre as regiões costeira e não costeira. Essa escassez de trabalhos na área constituiu-se na motivação principal para o aprofundamento do conhecimento das características específicas da ZCM, de grande valia para a proposição e implementação de políticas públicas visando à maior qualidade de vida da sociedade.

Atualmente, um dos grandes desafios da ciência econômica é compreender, conceituar e quantificar o nível de bem-estar e qualidade de vida da sociedade, pois esse desafio implica no estudo de fatores subjetivos. A abordagem teórica utilizada sugere que a qualidade de vida está relacionada com fatores materiais, ambientais, políticas públicas e ainda com fatores de relacionamentos, o que lhe confere o caráter subjetivo. Deste modo, um dos desafios que enfrentados neste artigo envolveu a escolha das dimensões de análise que representassem esses fatores. Buscando contemplar os diferentes fatores foram avaliadas variáveis em três dimensões, a saber: características ambientais[4], econômicas[5] e sociais[6].

Tendo em vista este desafio e motivação, o trabalho realiza uma análise do nível de qualidade de vida entre os municípios costeiros e não costeiros do Brasil, aplicando um modelo econométrico[7] com vistas a responder o seguinte questionamento: existem diferenças na qualidade de vida de municípios costeiros e não costeiros associadas às dimensões ambiental, econômica e social?

A análise empírica realizada sugere evidência contrária ao senso comum de que em regiões com maior potencial de concentração de atividades econômicas há maior qualidade de vida. No que diz respeito às características econômicas os resultados encontrados corroboram a teoria, mostrando que existe, de fato, flagrante concentração econômica nos municípios costeiros. Os resultados para o Valor Adicionado dos setores Agropecuário, Industrial, Serviços, bem como Administração Pública e Impostos são significativamente maiores nos municípios costeiros no caso brasileiro, evidenciando uma concentração do potencial econômico nestes municípios quando comparados aos municípios não costeiros.

No entanto, a análise das características ambientais e sociais mostra que embora os municípios costeiros sejam mais desenvolvidos do ponto de vista puramente econômico, quando considerados outros aspectos do desenvolvimento esses municípios apresentam desempenho pior.

Quanto as características ambientais os resultados mostram que os municípios costeiros brasileiros apresentam resultados piores em todas as variáveis relacionadas com a destinação do esgoto e coleta de lixo. Destaque especial pode ser feito à região Sudeste que apresenta desempenho pior também nos indicadores relacionados ao acesso à energia elétrica e água potável nos municípios costeiros.

Em relação às características sociais os resultados mostram que os municípios costeiros brasileiros apresentam resultados piores dos indicadores IDHM-Longevidade e IDHM-Renda quando comparados aos não costeiros. Interessante notar que na região Sudeste o indicador IDHM-Renda não apresenta diferenças significativas entre municípios costeiros e não costeiros, porém, em todos os demais indicadores (IDHM, IDHM-Educação, IDHM-Longevidade e Expectativa de Anos de Estudo) os municípios costeiros da região Sudeste apresentam resultados piores relativamente aos não costeiros.

O método PSM permitiu realizar uma análise entre os municípios com características observáveis semelhantes localizados em diferentes zonas territoriais. O pareamento dos municípios costeiros e não costeiros brasileiros permitiu uma análise comparativa das características utilizadas na metodologia empregada como dimensões do nível de qualidade de vida. Assim, se considerados em conjunto, pode-se concluir no que diz respeito às características econômicas os municípios costeiros possuem melhor desempenho, porém, quando se analisa as características ambientais e sociais os municípios não costeiros apresentam melhores indicadores.

Diante desse cenário melhorias nas técnicas de gestão pública poderiam surtir efeitos positivos sobre o desempenho dos municípios costeiros. Considerando que estes municípios apresentaram resultados melhores no que diz respeito às características econômicas pode-se supor que exista potencial para investir em políticas públicas que objetivem alcançar melhores resultados também nas características ambientais e sociais, necessitando para tanto, qualificação das gestões públicas municipais.

É possível perceber que os efeitos da aglomeração econômica são claros nos municípios costeiros, no entanto, as demais dimensões relacionadas com a qualidade de vida não mostram o mesmo desempenho. A abordagem do desenvolvimento ao considerar o bem-estar como um conceito mais amplo, que transcende o simples crescimento material exige que, para existir qualidade de vida fatores ambientais e sociais sejam também parte da análise. Nesse sentido, pode-se concluir que numa abordagem do desenvolvimento a qualidade de vida dos municípios costeiros é inferior à encontrada nos municípios não costeiros.

É importante destacar que a metodologia empregada permite apenas concluir sobre a comparação entre municípios costeiros e não costeiros no que diz respeito a sua dinâmica de curto prazo e com características semelhantes observáveis. Ou seja, no período analisado, existe uma diferença de qualidade de vida a favor dos municípios não costeiros, porém, pouco pode-se inferir sobre a dinâmica da qualidade de vida do conjunto dos municípios brasileiros no longo prazo. A adoção de políticas públicas que objetivem melhorar os indicadores ambientais e sociais, por exemplo, pode reverter o cenário a favor dos municípios costeiros que já contam com melhores indicadores econômicos.


REFERÊNCIAS

MORAES, A. C. R. de. Os impactos da política urbana sobre a zona costeira. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, Secretaria de Coordenação dos Assuntos do Meio Ambiente – Brasília: MMA, 1995. 28 p – (Gerenciamento Costeiro; v.1)

____________________. Contribuições para a gestão da zona costeira do Brasil: elementos para uma geografia do litoral brasileiro. São Paulo: Hucitec; Edusp, 1999.

MOREL, B.L.G. DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E QUALIDADE DE VIDA NO BRASIL: UMA ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE OS MUNICÍPIOS COSTEIROS E OS MUNICÍPIOS NÃO COSTEIROS. Tese de doutorado apresentado no Programa de Pós Graduação em Economia do Desenvolvimento da PUCRS, setembro/2018.

NUSSBAUM, M. C.; SEM, A. K. La calidad de vida. Traducción de Roberto Ramón Reyes Mazzoni. México: FCE, 1996.

NUSSBAUM, M. Women and Human Development: The Capabilities Approach, CUP, 2000.

PALOMBA, R. Calidad de Vida: Conceptos y medidas. Taller sobre calidad de vida y redes de apoyo de las personas adultas mayores. CELADE, División de Población, CEPAL, Santiago, Chile, 2002.

POLETTE, M.; LINS-DE-BARROS, F. Os desafios urbanos na zona costeira brasileira frente às mudanças climáticas. Publicado na Revista Ibero-americana de Manejo Costero Integrado - Costas - Vol. 1 - Nº.1 - Júlio 2012. Disponível em: <file:///C:/Users/Blanca/Dropbox/PROJETO%20DE%20TESE/OLIVEIRA_ASMUS_DOMINGUES2012.pdf>. Acesso em: 20/03/2016

Ul HAQ, M. O Paradigma do Desenvolvimento Humano. (1995) Artigo citado no livro Desenvolvimento Humano: leituras selecionadas do PNUD, editado por Sakiko Fukuda-Parr, A. K. Shiva Kumar; tradutores: Stela Beatriz Tôrres Arnold [et al.]. Belo Horizonte: PUC Minas Virtual: PNUD, 2007.


[1] Características ambientais: Rede geral de esgoto ou pluvial, Fossa séptica, Fossa rudimentar, Vala, Escoamento Rio, Lago ou Mar, Outro escoadouro, % População em domicílios com banheiro e água encanada, % População em domicílios com coleta de lixo, % População em domicílios com energia elétrica.[2] Características econômicas: % Valor Agregado Bruto Agropecuário, % Valor Agregado Bruto Indústria, % Valor Agregado Bruto Serviços, % Valor Agregado Bruto Administração Pública, % Valor Agregado Bruto Impostos.[3] Características sociais: % Índice Desenvolvimento Humano, % Índice Desenvolvimento Humano – Educação, % Índice Desenvolvimento Humano – Longevidade, % Índice Desenvolvimento Humano – Renda, % Expectativa de Anos de Estudo, % Taxa de Analfabetismo de 18 anos ou mais.[4] O modelo econométrico é uma ferramenta utilizada na ciência econômica para dimensionar determinadas situações através dos dados que foram coletados numa determinada pesquisa.[5] Espaço geográfico de interação do ar, do mar e da terra, incluindo seus recursos ambientais (caracterização completa na seção 3.1).[6] Representados pelos estados de Pará, Amapá, Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul[7] Conforme o Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro II – PNGC II: Os municípios abrangidos pela faixa terrestre da Zona Costeira estão listados no Apêndice “B” a este Plano e qualquer atualização necessária será feita por meio de proposta do Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal - MMA.


O "Economistas na prática" entrevistou a Cecília R. Hoff, economista do estado do Rio Grande do Sul.

A Cecília é graduada em economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). mestra e doutora pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).



Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho?

Atuo como economista no Governo do Estado (Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão) e na Escola de Negócios da PUCRS. Como servidora, coordeno o acompanhamento das empresas estatais do RS, que envolve tanto a orientação para adequação das empresas às melhores práticas de governança corporativa, quanto a análise do desempenho econômico-financeiro e definição de estratégias de médio e longo prazos. O Estado possui 14 empresas estatais, em diferentes setores e de diversos tamanhos. É um trabalho muito rico, que envolve sinergias entre os ambientes empresarial e estatal. Na Escola de Negócios, sou professora do curso de graduação em economia, nas áreas de Macroeconomia e Economia Internacional. Costumo dizer que sou economista de profissão e professora de coração.

Quais os principais motivos que lhe levaram a estudar Economia?

Acho que a parte mais interessante da formação em economia é a combinação entre exatas e humanas. No currículo temos história, matemática, desenvolvimento, estatística. Disciplinas que envolvem teoria e outras práticas, muita leitura e muitos cálculos também. Como resultado, o curso de economia costuma formar profissionais multifacetados e flexíveis, com capacidade analítica, que podem atuar em diferentes áreas.

Vivências no mercado de trabalho.

Já trabalhei com consultoria em análise de conjuntura e cenários, com pesquisa sobre a economia brasileira, com gestão governamental, com a produção de estatísticas oficiais e como professora. Me agrada muito o contato com o público, seja com alunos, seja com pessoas que buscam informações para compreender a teia de relações econômicas que molda a nossa sociedade.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres, que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho?

Nos cursos de economia os homens costumam ser maioria, embora se observe o crescimento da proporção de mulheres e a tendência em direção a um maior equilíbrio. Esse predomínio masculino se reflete, naturalmente, no mercado de trabalho, o que em geral acentua as desigualdades de gênero que infelizmente ainda existem. Já perdi as contas da quantidade de eventos, reuniões e mesas redondas das quais participei como única mulher. Em geral ficamos nos bastidores.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher?

Em certa ocasião, estávamos aguardando o início de um evento no qual eu era a palestrante. Um participante cumprimentou os meus colegas e me ignorou. Com frequência também observo uma maior agressividade dos homens nos debates e nas disputas de opinião. Uma ex-chefe me pediu, em outra feita, que registrasse em foto uma reunião ampla na qual ela era a única mulher – “para mostrar para as minhas netas no futuro”, disse ela.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Na graduação, fui bolsista de iniciação científica e me encantei com a pesquisa acadêmica. No mestrado e doutorado, já como pesquisadora, me tornei professora e entrei para o mundo das consultorias. Ainda como professora, fiz concurso público e conheci o trabalho de gestão. Tenho orgulho da trajetória e me senti (sinto ainda) realizada em todas as etapas.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Ser economista é desafiador, como em geral são as profissões. Mas também pode ser muito gratificante. Para as futuras economistas, deixo as minhas dicas do que deu certo: flexibilidade, curiosidade, muito estudo e informação. Confiem nas suas capacidades, porque temos muito a contribuir.


A Economia da Saúde: Uma Análise Econômica da Doença de Machado-Joseph

Me. Cristiane da Silva

Vários aspectos relacionados com a saúde, também são problemas econômicos. A tal ponto que existe uma área de estudo dentro da economia, chamada Economia da Saúde. A área de economia da saúde é considerada importante porque as diversas dimensões do setor saúde, impactam no total da economia. Por exemplo, quando as pessoas enfrentam problemas de saúde, ou querem investir em saúde, elas se deparam com diversos problemas econômicos. Estes aspectos, compõem as chamadas políticas de saúde. (FOLLAND, GOODMAN e STANO, 2008).

O interesse em realizar uma análise econômica da Doença de Machado-Joseph, vem da necessidade de compreender os aspectos sociais e econômicos envolvidos, fornecendo subsídios para o desenvolvimento de políticas públicas destinadas ao fortalecimento e provisão de recursos para pesquisas clínicas, controle e acompanhamento da doença. Entender a situação destas famílias e seus custos associados à DMJ torna-se relevante na medida em que trata-se de uma doença hereditária onde, de modo geral, várias pessoas da mesma família são afetadas.

As questões relacionadas à saúde influenciam diretamente os gastos pessoais dos indivíduos, pois uma parcela da sua renda é gasta em acompanhamentos médicos. Além disso, o número de empregos na economia pode se modificar dadas determinadas condições de saúde do indivíduo, como quando o mesmo desenvolve a Doença de Machado-Joseph [1].

Para compreender com mais facilidade a DMJ, convém destacar que ataxia deriva da palavra grega taxis, que significa ordem. Assim, ataxia traduz-se como desordem ou incoordenação. (CARVALHO, 2004). Conforme Jardim (2000), as ataxias espinocerebelares autossômicas dominantes (SCAs) costumam se apresentar na vida adulta e têm grande heterogeneidade clínica.

A DMJ é conhecida como ataxia espinocerebelar do tipo 3, pois, trata-se de uma doença neurodegenerativa, geralmente fatal e de manifestação tardia. (BETTENCOURT et al., 2008). Um ponto interessante é que esta, pode ser a mais comum das ataxias herdadas dominantemente, uma vez que, as características clínicas da doença podem variar muito, inclusive dentro de uma mesma família. (PAULSON, 2012).

As lesões no cerebelo, presentes em acometidos pela DMJ, produzem dificuldades na marcha, postura, coordenação dos membros, fala e sistema oculomotor. Os doentes frequentemente referem sensação de insegurança enquanto caminham e sentem-se mais confortáveis quando afastam os dois pés. A interpretação errônea pelas outras pessoas como intoxicação alcoólica afeta os acometidos gerando vergonha, desconforto, e contribuindo para quadros depressivos. (ROLIM et al., 2006).Pacientes com a Doença de Machado-Joseph (DMJ) exigem atendimento especializado, cuidados especiais além de acompanhamento para aconselhamento genético, já que se trata de uma doença rara hereditária, neurodegenerativa e incapacitante que gera redução da autonomia e das atividades de vida diária. Os custos sociais e econômicos são desconhecidos até o momento para a DMJ, sendo assim, estimar os custos relacionados à saúde, diretos e indiretos por perda de produtividade atribuíveis a DMJ é um desafio importante.

Algumas análises preliminares, realizadas para o desenvolvimento de minha tese de doutorado, a partir de dados primários, provenientes de uma entrevista com uma amostra de pacientes portadores da DMJ em acompanhamento em um centro de referência na cidade de Porto Alegre – RS mostram que a doença não escolhe sexo, renda ou escolaridade. Dos 109 pacientes com a Doença de Machado-Joseph, 61 (55,96%) eram do sexo feminino e 48 (44,04%) do sexo masculino. A idade média total da amostra foi de 46,26 anos, não havendo diferença expressiva entre os sexos, incluindo indivíduos entre 16 e 79 anos de idade. Nesta amostra de 109 pacientes, verificou-se que existem diferenças entre os sexos quanto a escolaridade, pois, 56,25% dos homens possuem escolaridade inferior ao ensino médio completo, contra 44,26% das mulheres. Elas também estão à frente no que tange ao ensino médio completo e ao ensino superior quando comparadas ao sexo oposto.

Pela característica da doença em ser altamente debilitante, ela faz excluir os acometidos do mercado de trabalho de forma muito precoce, como pode ser visto no gráfico a seguir:


Gráfico 1 – Frequência relativa da idade em que pacientes com a DMJ deixaram o mercado de trabalho

Fonte: Elaboração própria

O gráfico evidencia que 80,81% dos acometidos com DMJ pararam de trabalhar antes dos 50 anos de idade. Quanto a renda individual dos portadores da DMJ que ainda trabalham, o que corresponde a 10 indivíduos do total de 109 acometidos, tem-se que a grande maioria (60%), para ambos os sexos, recebe entre R$ 1.050,00 e menos de R$ 1.950,00. Considerando os 86 pacientes que estão fora do mercado de trabalho mas que recebem algum benefício social, como aposentadoria por invalidez, por exemplo, nota-se que 39,13% das mulheres e 25% dos homens recebem menos de um salário mínimo. Além disso, a minoria da amostra (10,47%), de modo geral, recebe mais de R$ 2.850,00 por mês. Os dados mostram que apenas 9,17% dos acometidos pela DMJ conseguiram permanecer no mercado de trabalho e estes possuem uma renda individual superior aos que precisaram deixar o mercado de trabalho precocemente. Outro dado relevante é que a idade média entre os indivíduos que ainda trabalham é de 38,1 anos e entre os que não trabalham é de 47,08 anos.

De acordo com os dados e características da DMJ, pode-se perceber que provavelmente, em pouco tempo após o início dos sintomas da doença, os pacientes precisarão de um cuidador, seja ele do seu grupo familiar ou remunerado. E aqui cabe a reflexão, quem arcará com esses custos: i) o indivíduo e isso inclui familiares ou ii) a sociedade por meio do Estado?

Estudos como este tem relevância científica, social e econômica, especialmente por se tratar de um tema incipiente no Brasil e no mundo. Sabe-se que não há cura e tampouco tratamento para esta doença, apenas cuidados paliativos. No entanto, compreender aspectos de ordem econômica abordando questões que exercem influência dentro do grupo familiar destes pacientes é uma contribuição significativa deste estudo.

Existem estudos que evidenciam custos mais elevados com o avanço da gravidade da doença, um dos exemplos que pode ser mencionado é da doença de Alzheimer, em que verificou-se que na medida em que a doença progride os pacientes precisam aumentar os níveis de assistência médica, incluindo tratamento médico, medicamentos, equipamentos, cuidados pessoais, creche para adultos, entre outros. (DEB et al., 2017). De modo semelhante, pode-se pensar a DMJ, ainda que não haja estimativa anterior relacionada aos seus custos, os pacientes vão perdendo autonomia, deixando o mercado de trabalho e terminando acamados.

Para além das perdas sofridas pelos acometidos com a DMJ, tanto no que se refere a sua vida social, ao lazer, quanto ao seu trabalho o qual precisará abandonar; a família também sente os reflexos da doença, pois muitas vezes um familiar próximo precisará reduzir sua jornada ou mesmo deixar o mercado de trabalho para cuidar do doente, ou a família precisará arcar com custos de um cuidador diariamente, ou com os custos de uma clínica particular. Além disso, o Estado é responsável por garantir o atendimento a estes doentes no sistema único de saúde, fornecendo acompanhamento e aconselhamento genético, diversos profissionais da saúde habilitados em diferentes áreas (fisioterapia, psicologia, neurologia, genética médica, oftalmologia, entre outros) uma vez que os paciente precisam destes profissionais, centros de referência habilitados e ao alcance dos acometidos pela doença, bem como garantir auxílio social aos que não conseguem e não podem mais trabalhar. Em relação à sociedade, tem-se um recurso da saúde direcionado especificamente aos portadores de doenças raras, neste caso para a DMJ, que poderia ter outra alocação atendendo e melhorando o atendimento da população como um todo. Destaca-se ainda, o intuito de contribuir para a formulação de propostas de políticas públicas que visem à redução dos custos da DMJ, uma maior rede de apoio a esses pacientes bem como reportar a necessidade de investimento em pesquisa clínica.


REFERÊNCIAS

FOLLAND, Sherman; GOODMAN, Allen C.; STANO, Miron. A economia da saúde. 5 ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.



Economistas que Inspiram!

Conheça Stephanie Kelton, economista americana, Ph.D em economia pela The New School, e internacionalmente reconhecida como uma das principais referências da MMT (Modern Monetary Theory). Atualmente, ela é professora de economia e políticas públicas na Stony Brook University – Universidade estadual de Nova York.

Kelton além de se destacar na vida acadêmica, também é reconhecida pela sua atuação na esfera política. Já atuou como economista-chefe do Comitê de Orçamento do Senado dos EUA, e como consultora econômica sênior da campanha presidencial do Senador, norte americano Bernie Sanders.

A nossa economista de hoje, também contribuiu para a fundação do blog “New Economic Perspectives” – página reconhecida internacionalmente por trazer discussões acerca da MMT, assunto do livro (The Deficit Myth: Modern Monetary Theory and the Birth of the People's) que Kelton lançou em junho de 2020 – já considerado um dos best-sellers do New York Times, na categoria não-ficção.

Ela já coleciona inúmeras premiações. Foi eleita como uma das 50 pensadoras mais influentes em 2016 (POLITICO); 50 mais pessoas mais influentes 2019 (BLOOMBERG); 100 mulheres mais influentes em finanças 2020 (BARRON’ S).

Os seus principais interesses de pesquisa centram-se em: teoria monetária, política de emprego, história do pensamento econômico monetário, seguridade social, finanças públicas, política fiscal, contabilidade financeira, finanças internacionais e integração monetária europeia.

Sem dúvidas além de Kelton nos inspirar, nos mostra que mulheres podem sim estar à frente do debate sobre economia e política!


Fontes:

https://www.stonybrook.edu/experts/profile/stephanie-kelton

https://stephaniekelton.com/


Como desejar sem conhecer? Jovens de baixa renda e o ensino superior

Me. Luana Fraga


Conforme os estudos de Carvalhaes e Ribeiro (2019), Li e Zhong (2017) e Sánchez e Singh (2018), acadêmicos especialistas em educação superior, estimular o acesso a este nível de ensino, de jovens descendentes de famílias cujos pais têm poucos anos de estudo e baixa renda pode mudar o futuro destes jovens. Isso ocorre, pois, um maior nível de escolaridade aumenta as chances de se alcançar melhores empregos, maior remuneração e se tiver algum valor intrínseco para o indivíduo, pode também ter consequências diretas para o seu bem-estar individual.

No entanto, para que estes jovens alcancem esse nível de ensino, são exigidos esforços que vão além daqueles óbvios, como aumentar as vagas em universidades públicas, diminuir o preço das mensalidades em instituições privadas ou aumentar o número de bolsas Prouni por exemplo. A questão é muito mais complexa, pois envolve obstáculos nem sempre tangíveis, como as aspirações dos jovens e de seus pais. Segundo a pesquisa de Pasquier-Doumer e Risso (2015) as aspirações educacionais são importantes, pois fazem com que sejam realizados mais investimentos durante a infância no capital humano das crianças.

Em um estudo realizado por Sánchez e Singh (2018), que tem como título “Acesso ao ensino superior em países em desenvolvimento: análise de dados em painel da Índia, Peru e Vietnã” (traduzido) foi analisado, dentre outros aspectos, a relação entre as aspirações educacionais de crianças de 11 e 12 anos e o seu ingresso no ensino superior aos 19 anos. Para mensurar as aspirações educacionais foi feito o seguinte questionamento às crianças: “Imagine que você não tenha restrições e pudesse estudar o quanto quisesse, ou voltar para a escola se já saiu. Que nível de educação formal você gostaria de concluir? Uma pergunta análoga foi feita ao cuidador (geralmente, a mãe): ‘‘Idealmente, qual nível de ensino você gostaria que seu filho(a) concluísse? Os resultados evidenciaram que as aspirações foram invariavelmente positivas e, nos três países analisados, as aspirações de altos níveis de escolaridade relatadas pelas crianças e seus pais, foram um preditor significativo da frequência do ensino superior aos 19 anos.

No entanto, como criar aspirações sem saber das possibilidades? De forma mais clara, se um adolescente nasceu em uma família em que os pais não estudaram, ou completaram apenas os anos iniciais do ensino fundamental, possuem poucos recursos financeiros e nenhum outro familiar ou amigo(a) que ingressou no ensino superior, de que forma ele ou os seus pais irão aspirar ingressar e concluir o ensino superior? Como terão em mente a importância e os resultados oriundos de altos níveis educacionais?

Sob o meu ponto de vista há necessidade de ações desde a infância, que possibilitem levar conhecimento e informação, tanto à criança e ao adolescente, como aos seus familiares. É interessante que as famílias em situação de vulnerabilidade tenham conhecimento sobre a possibilidade de se adquirir uma profissão mais valorizada a partir da entrada na faculdade e, assim, direcionar seus esforços e motivações para tal, se for o desejado. Saber da existência de universidades públicas, como ingressar, o que elas oferecem aos seus estudantes de baixa renda (como moradia estudantil, restaurante universitário, bolsas de iniciação científica); ter conhecimento da possibilidade de bolsas de estudo integrais e parciais em instituições de ensino privadas, sejam estas através do apoio das próprias instituições ou de políticas públicas como o PROUNI e de financiamentos via instituições de ensino, FIES ou outros, tudo isso pode contribuir para o acesso ao ensino superior.

Levar essas informações aos adolescentes de baixa renda e suas famílias deveria se tornar prática recorrente. Muito deles nunca ouvem falar desses assuntos, não tem o apoio da família para se dedicar aos estudos, estudam em escolas que não dispõem de muitos recursos. Dessa forma, como estimulá-los a chegarem no ensino superior, a usufruir de um possível aumento do número de vagas nas instituições públicas e das oportunidades nas instituições privadas? É necessário mostrar aos jovens as oportunidades e o caminho que eles devem percorrer para ingressar e se manter na universidade. Mas como fazer isso? Uma ideia seria capacitar e treinar alguém que tenha acesso a crianças e jovens nas escolas, para que uma ou duas vezes no ano sejam apresentados a eles informações à respeito dos diferentes cursos oferecidos nas universidades, às oportunidades que existem nesses ambientes, a importância de se preparar para o Exame Nacional do Ensino Médio, entre outros aspectos. As feiras de profissões, que ocorrem em algumas escolas e instituições de ensino superior são bons eventos para estimular as aspirações das crianças e jovens, mas não devem ser deixadas para os últimos anos do ensino médio. É importante que desde cedo as crianças já comecem a aspirar um futuro de realizações educacionais e se prepararem para as oportunidades que possam surgir lá na frente.

Assim, o desafio de ingressar e concluir o ensino superior para os jovens cujos pais tem pouco ou nenhum ano de escolaridade é muito maior do que para aqueles que os pais já têm ensino superior. Muitos deles precisam descobrir por si só a importância da educação. São exigidos esforços que para superá-los é necessário ter consciência a cerca do processo e de seus resultados. E essa consciência não é só por parte dos jovens, mas também dos seus familiares, pois esses, de forma geral tem grande influência na vida e nas escolhas feitas pelos adolescentes. Aumentar vagas e tornar mais acessível os preços é um avanço no campo educacional brasileiro, mas conseguir inserir os indivíduos descendentes de famílias em situação de alta vulnerabilidade no ensino superior seria dar a eles uma possibilidade a mais de vencer a armadilha da pobreza, que tende a se perpetuar entre várias gerações.

Referências:

Carvalhaes, F., e Ribeiro, C.A.C. (2019), “Estratificação horizontal da educação superior no Brasil: Desigualdades de classe, gênero e raça em um contexto de expansão educacional”, Tempo Social, Vol. 31, No. 1, pp. 195-233.

Li, Z., e Zhong, H. (2017), “The impact of higher education expansion on intergenerational mobility: Evidence from China”, Economics of Transition, Vol. 25, No. 4, pp. 575-591.

PASQUIER-DOUMER, Laure; BRANDON, Fiorella Risso. Aspiration failure: a poverty trap for indigenous children in Peru?. World Development, v. 72, p. 208-223, 2015.

SÁNCHEZ, Alan; SINGH, Abhijeet. Accessing higher education in developing countries: Panel data analysis from India, Peru, and Vietnam. World Development, v. 109, p. 261-278, 2018.


O "Economistas na prática" entrevistou a Lauren Lewis Xerxenevsky, do Rio Grande do Sul.



Economista (UFRGS), Mestra em Economia do Desenvolvimento (PUCRS) e doutoranda em Políticas Públicas (UFRGS).

Concursada da SEPLAG-RS.



Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho? Se for pesquisadora, conte-nos sobre sua área de pesquisa

Trabalho na área de planejamento governamental no setor de preparação de projetos e captação de recursos de fontes externas ao tesouro do Estado como, por exemplo, organismos multilaterais, transferências do Orçamento Geral da União e bancos de desenvolvimento. Sou concursada da carreira de Analista de Planejamento, Orçamento e Gestão do Estado do Rio Grande do Sul. Desenvolvo as minhas atividades no Departamento de Projetos e Captação de Recursos (DECAP). No meu dia a dia, realizo assessoramento aos órgãos setoriais na preparação e no monitoramento de projetos financiados por fontes externas ao tesouro do Estado bem como oriento-os quanto à submissão de projetos para entidades financiadoras. Além da assessoria, atuou na elaboração de estudos de viabilidade e com a avaliação ex-ante de projetos. Atualmente, estou envolvida também na implementação de um Sistema Integrado de Projetos Públicos do Estado do Rio Grande do Sul e na implantação do Modelo de Excelência em Gestão dos Órgãos e Entidades que Operam Transferências da União, o Meg-TR.

Como pesquisadora, desenvolvo os meus estudos no campo de políticas públicas baseadas em evidências. Buscarei com a tese analisar um conjunto grande de avaliações de impacto, experimentais e quase-experimentais, de programas de prevenção à violência nas escolas através da técnica de metanálise para saber quais são os mais efetivos no combate à violência. Ou seja, aqueles que funcionam.

Quais os principais motivos que lhe levaram a estudar Economia?

Foram três grande motivos. Primeiro, a distribuição de conteúdos de disciplinas de humanas e exatas promovidos pelo curso. Lembro de ter visto no vestibular que matemática e história tinham pesos altos (era o único curso da grade da UFRGS com esta característica). Segundo, a influência do meu cunhado, na época formando da economia da UFRGS (Sandro Bergue, auditor TCE-RS). Conversávamos muito sobre o curso. Terceiro, o fato de que o jornalismo econômico sempre me chamou muita atenção. Recordo das minhas tentativas quando criança e adolescente em compreender os fenômenos econômicos que eram transmitidos na TV e nos jornais (planos de estabilização econômica, desemprego, desempenho da economia, etc). Tive certeza que tinha acertado de curso logo nas primeiras aulas de introdução à economia.

Vivências no mercado de trabalho

Sou concursada da SEPLAG-RS desde os meus 24 anos. Minha experiência vem dos trabalhos desenvolvidos no planejamento governamental que sempre são muito dinâmicos e desafiadores. Os temas são muito variados e relacionados a elaboração e implementação de políticas públicas. Duas iniciativas me entusiasmam muito. A primeira é o tema da avaliação de políticas públicas. Trabalho e estudo o tema desde 2007. Os trabalhos mais desafiadores neste campo foram os estudos de avaliação de impacto com o uso de técnicas econométricas e avaliações relacionadas à gestão e a resultados. Desenvolvi uma avaliação de impacto a pedido do Governo do Estado e do Banco Mundial para investigar o efeito do apoio governamental à pequenas e médias empresas gaúchas. Utilizei para tal, os dados de faturamento do Tesouro do Estado das empresas e os dados da RAIS identificada, ambos sigilosos. Foi um grande desafio. Outro grande trabalho foi atuar como coordenadora técnica e na execução da avaliação final de um financiamento com a vigência de 8 anos do Banco Mundial com o Governo do Estado (PROREDES BIRD). Foram mais de 28 projetos avaliados do ponto de vista de resultados e gestão (nas áreas de educação, transportes, desenvolvimento do setor privado, meio ambiente e gestão pública), além da avaliação para a compreensão da gestão do financiamento como um todo. O trabalho também exigiu muito esforço e inovação.

A segunda é a integração entre academia- setor público. Sempre gostei de relacionar o conhecimento teórico-prático promovido com esta ponte. Atualmente sou doutoranda em políticas públicas na UFRGS e os anos de 2010 a 2012, fiz mestrado em economia na PUCRS. Ambos os temas de pesquisa são na área da educação envolvendo avaliação de impacto e políticas públicas baseadas em evidências. Após o mestrado, apliquei o que aprendi nas disciplinas e na dissertação nos trabalhos no Estado, como por exemplo, a realização das avaliações que eu citei. Considero o mestrado como um divisor de águas da minha carreira, em termos de conhecimentos e métodos. Também gosto muito de ministrar aulas no tema da avaliação de políticas públicas, pois acredito que a preparação de aulas e a relação que envolve a transmissão-recebimento entre alunos-professor são um dos melhores caminhos para a promoção do desenvolvimento humano.

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres, que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho?

Vivemos em uma sociedade machista. Embora as mulheres tenham alcançado conquistas muito importantes, considero como fundamental esse olhar sempre muito atento sobre a discriminação de gênero que ainda persiste. O preconceito vem de todas as formas. Desde decisões e ações mais veladas até as mais explícitas. De uma sugestão para as mulheres fazerem o café, de interrupções na falas das mulheres, de postos diretivos e estratégicos serem ocupados predominantemente por homens, até falas e ações mais agressivas. Não podemos esquecer também o chamado "teto de vidro", que é um preconceito velado que impede que as mulheres possam ascender a cargos superiores com a mesma igualdade de condições que os homens. É incrível que no planejamento do Estado nós tenhamos somente agora uma primeira mulher a ocupar o posto de Secretária de Estado (Leany Lemos de 2019 a 2020). Dados da própria SEPLAG mostram que, no ano de 2018, os trabalhadores homens no Rio Grande do Sul ganhavam 36,8% a mais, em média, do que as mulheres e esse diferencial era ainda mais acentuado do que na média do Brasil (28,4%).

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher?

Já escutei de um superior, por exemplo, a seguinte fala ao lhe informar que mulheres que estiveram em licença maternidade não teriam o direito de realizar as suas avaliações de desempenho funcional que ocorrem anualmente, logo não poderia progredir na carreira: "qual é o problema de uma mulher ganhar menos?" Certa vez em uma reunião com um órgão setorial, cuja predominância era masculina, foi falado para as mulheres do planejamento que estavam presentes: “bom mesmo para acalmar uma mulher é um tanque de roupas”. São falas e ações que a gente não espera. Às vezes conseguimos reagir e outras vezes não. Felizmente, com uma forte mobilização das servidoras e partindo da minha iniciativa, conseguimos modificar os artigos esdrúxulos da legislação da carreira que impossibilitava a progressão funcional das servidoras-mães. Ao final, o mesmo diretor me disse: "tive que mudar o decreto, se não eu iria apanhar das mulheres". Ou seja, uma consciência zero acerca da discriminação pela condição de gênero no trabalho.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

No final da faculdade me interessei muito pelas disciplinas de setor público (Orçamento público, Setor público e Tópicos especiais de setor público). Decidi que iria atuar no setor público para melhorar a sociedade. Os temas das finanças públicas e do Estado de Bem Estar Social me deixaram muito entusiasmada. Fiz dois concursos na área de auditoria que, embora tenha ido bem, acabei não ficando entre os melhores. No concurso do planejamento, eu me identifiquei imediatamente com todo o conteúdo. Como já estava estudando há algum tempo os temas correlatos e como tive uma forte identificação com os conteúdos do planejamento governamental, sentia que estava bastante preparada para para realizar a prova. Foram nove horas de provas. Uma maratona!

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Gostaria de dizer para as mulheres que desejam atuar no setor público como economistas para persistirem e estudarem muito os temas ou os assuntos pelos quais vocês se identificam, assim como eu me identifiquei com o tema da avaliação de políticas públicas. Mantenham também sempre o olhar crítico e reflexivo sobre o tema de gênero, ou seja, não naturalizem situações de discriminação. Fiquem sempre muito atentas a qualquer tratamento ou situação que imponha diferenciação de gênero, e ajam e trabalhem para que estas situações não se perpetuem.

A quem está sendo confiado o que é mais precioso? A vida!

Prof. Dra. Izete Pengo Bagoli


O que cada um de nós tem de mais precioso é a vida. Em geral, nos momentos de fragilidades e incertezas gostamos de estar acompanhados por aquelas pessoas em quem mais confiamos, em geral da família ou os amigos próximos. Quando estamos doentes, nós valorizamos ainda mais a companhia e a atenção de alguém confiável pois queremos esse alguém próximo e nos cuidando. Diante da fragilidade humana, até mesmo uma pessoa desconhecida, pode marcar para sempre a vida de quem estava precisando de ajuda ao agir com amor, gentileza e atenção ajudando a enfrentar a vulnerabilidade e o medo.

No atual contexto, em função do distanciamento provocado pela pandemia, aquela valiosa companhia da pessoa próxima e conhecida não é uma opção possível para aqueles que precisam ficar internados nos hospitais. Em função disso, independente de ser o familiar ou o paciente, a necessidade de confiar vidas aos profissionais da saúde se tornou a única opção. E muitas reportagens estão mostrando a gratidão dos pacientes e a alegria dos profissionais[1] da saúde quando o trabalho é recompensado com a cura do paciente.

Mas quem são esses profissionais? Quem está, de fato, sob muita pressão e risco, cuidando dos Brasileiros nesse momento de fragilidade e incerteza? De acordo com os dados do Registro Anual de Informações Sociais (RAIS, 2018[2]), dos 667.960 profissionais brasileiros que estavam formalmente registrados no subgrupo dos profissionais da medicina, saúde e afins, 528.405 (79,10%) eram mulheres. Sendo que em Estados como São Paulo e Rio Grande do Sul, esse percentual de participação das mulheres no cuidado com a saúde era ainda mais elevado com 81,28 e 81,01% respectivamente.

Quando olhamos somente para os profissionais registrados no subgrupo da medicina, o predomínio feminino desaparece. Ainda assim, em 2018, as mulheres representavam 46,7% das trabalhadoras formais registradas no Brasil.

É interessante notar, no entanto, que a participação das mulheres difere de forma bastante significativa entre os estados brasileiros. Por exemplo, no Rio de Janeiro as mulheres representavam 53,63% das pessoas registradas nesse grupo. Por outro lado, no Piauí, as mulheres ocupavam apenas 36,86% dos cargos da medicina. Outros estados com participação feminina no grupo dos profissionais da medicina abaixo de 40% eram Ceará, Rondônia, Maranhão e Goiás. No entanto, apesar da reconhecida importância dos médicos, a presença mais constante e mais próxima é materializada por profissionais da enfermagem (enfermeira/os, técnicas/os de enfermagem e auxiliares de enfermagem) e da fisioterapia, para reabilitação pulmonar. Essas são pessoas que estão, muitas vezes, fazendo o papel do “acompanhante do paciente”, até de amigo do paciente e são predominantemente mulheres. As mulheres, profissionais competentes e dedicadas, estão, predominantemente, cuidando dos brasileiros que precisam ser internados pelo COVID-19.

Mas, a quem as famílias confiavam suas crianças, que também são preciosas, antes da pandemia? Novamente podemos recorrer aos dados da RAIS e ver que o predomínio feminino, no cuidado das crianças, é ainda maior do que na área da saúde.

Do total de professores do ensino infantil e fundamental em 2018, 82,33% eram mulheres. No Paraná, por exemplo, esse percentual chegava a 92,02% e, no Amazonas, que é o estado com maior participação de homens no subgrupo dos professores da educação infantil e ensino fundamental, ainda assim, a participação de mulheres era de 64,85%. Então, os Brasileiros confiam suas vidas e a de seus filhos, predominantemente para as mulheres sejam elas professoras, médicas, enfermeiras, fisioterapeutas, técnicas ou auxiliares de enfermagem.

Para refletir, questiono: por que, então, as mulheres são minorias nos cargos mais altos das empresas? Alguém ainda pode vir com o argumento de que as mulheres “não lidam bem com dinheiro”. Mesmo esse argumento já está bem fora de moda e precisa ser repensado. Instituições importantes como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial já fizeram isso e confiaram a liderança às mulheres. A economista e advogada Christine Lagarde foi diretora geral do fundo monetário internacional entre 2011 e 2019 e a Economista Deborah Wetzel é Diretora de Integração Regional do Banco Mundial.

Outro argumento que, as vezes ainda é usado, é de que as mulheres não lidam bem com “pressão”. No entanto, mais pressionado do que o ambiente hospitalar está atualmente (oferecendo risco aos profissionais e suas famílias) e mais pressionadas do que as professoras estão, no contínuo esforço de continuar educando mesmo que a distância parecem ser boas evidências de que mulheres podem ocupar a posição que quiserem.


[1] https://g1.globo.com/sp/santos-regiao/mais-saude/noticia/2020/05/23/hospital-comemora-alta-de-100o-paciente-com-covid-19-em-sp-oportunidade-de-vida.ghtml

[2] Registro Anual de Informações Sociais. http://bi.mte.gov.br/bgcaged/login.php. Acessado em 19/07/2020.


DICA DE LEITURA


A dica de leitura da semana é o livro recém lançado “Curto-circuito: o vírus e a volta do Estado” da economista Laura Carvalho. A professora da Faculdade de Economia e Administração da USP busca com o livro uma “reflexão incontornável” sobre o papel do Estado a partir do impacto econômico do coronavírus no Brasil. Para a economista, se o evento da crise econômica financeira de 2008 (e também na crise de 1929) serviu para mostrar a importância do papel do Estado estabilizador, o momento presente da pandemia faz repensar a atuação do Estado em outras funções necessárias. Segundo Laura Carvalho, a resposta adequada a uma crise desta natureza exige não apenas relaxar as regras orçamentárias em meio a calamidade mas uma oportunidade de “superar carências históricas que a pandemia tornou cristalinas”.

Em cada capítulo, escrito de forma ousada pela autora, exatamente no momento de um turbilhão como é a atual crise sanitária, social e econômica que conta com um final imprevisível, há a descrição e a reflexão de um dos tipos de função/papel de Estado diante da crise do vírus. São cinco funções detalhadas: o “Estado estabilizador” a partir de uma política anticíclica diante da crise econômica, com destaque especial em um primeiro momento para a sobrevivência das famílias e das empresas, o “Estado Investidor” de infraestruturas básicas em um país desigual como o Brasil para a promoção de investimentos em saneamento, moradia, entre outros, o “Estado protetor” social capaz de garantir um patamar mínimo de bem-estar para todos, o “Estado prestador de serviços” universal e gratuito em saúde e educação e o “Estado empreendedor” para o desenvolvimento tecnológico e produtivo do país.

Com uma linha bem argumentada, a economista defende que a pandemia reforçará as visões de mundo de cada um e as tendências anteriores, como o autoritarismo populista, a crise da globalização ou a crise do neoliberalismo. Diante do cenário de aprofundamento das visões de mundo, as funções de Estado descritas por Laura Carvalho vão ao encontro à proposta de estruturação de um núcleo básico de projeto para o país a ser constituído pelas forças democráticas a partir das “redes de solidariedade e mobilização” diante da crise do vírus. Segundo a autora, é “um projeto em que o Estado brasileiro, acima de tudo, se coloque a serviços de todos”. O livro é vendido pela internet pela editora todavia com um valor de R$ 34,90 (livro físico) e R$ 14,90 (e-book).

Elaborado por: Lauren Lewis Xerxenevsky



Economistas que inspiram!


Conheça Mariana Mazzucato: nomeada como uma das principais pensadoras sobre inovação!

Além de ser professora de economia da Inovação e Valor Público na UCL (Londres), também fundou o Instituto UCL de Inovação e Propósito Público, dedicado a pensar o papel das políticas públicas na definição da taxa de crescimento e de sua direção, com foco no treinamento da próxima geração de funcionários públicos, visando alcançar as capacidades organizacionais dinâmicas necessárias para esses cargos.

Venceu os prêmios SPERI New Statesman 2014), Hans-Matthöfer-Preis (2015) e Leontief (2018) e foi nomeada como uma das três principais pensadoras sobre inovação pela Nova República.

É membro do Conselho de Assessores Econômicos do governo escocês; Conselho de Liderança da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável da ONU e do Painel Consultivo do SITRA na Finlândia. Atualmente, ela é assessora especial do Comissário da CE para Pesquisa, Ciência e Inovação, Carlos Moedas, e recentemente escreveu um relatório da CE de alto impacto em Pesquisa e Inovação Orientada a Missões na União Europeia.

Sua pesquisa é financiada por muitas doações internacionais, incluindo da Comissão Europeia, da Ford Foundation, da Rockefeller Foundation e do Open Society Institutes.

Seu aclamado livro The Entrepreneurial State: desmistificando mitos do setor público versus privado esteve na lista de Livros do Ano de 2013 do Financial Times.

Mazzucato está participando de uma força-tarefa no Vaticano, assessorando o Papa Francisco em questões política-econômica, sobretudo contra a disseminação do COVID-19.

Segundo Mariana, o futuro, principalmente após a pandemia, deve voltar a priorizar e a debater sobre "valor" ao invés de "preço". Esse debate é mais aprofundado em seu livro chamado "'The Value of Everything: making and taking in the global economy.

"Trabalho com líderes globais em políticas "orientadas para a missão", que podem direcionar soluções para grandes desafios, da batalha contra o aquecimento climático à construção de sistemas de saúde resilientes."


Fontes:

https://marianamazzucato.com/

https://www.ucl.ac.uk/bartlett/public-purpose/news/2020/apr/iipp-selected-take-part-vatican-covid-19-commissions-economy-taskforce


EDUCAÇÃO INCLUSIVA: O CASO DAS TURMAS MULTISSERIADAS


Me. Lauana Rossetto Lazaretti


Nos primeiros anos de vida nos deparamos com o desafio de ingressar em um mundo novo e desconhecido, chamado escola. Isso é enfrentado de diferentes formas, a depender do ambiente escolar, da infraestrutura, do tamanho e da organização das turmas, entre outras características que influenciam na qualidade e no rendimento da educação. Essas questões fazem parte da agenda de pesquisa em Economia da Educação.

Uma forma específica de organização de turma ocorre quando duas ou mais etapas de ensino (ano/série) são conduzidas concomitantemente no mesmo espaço e com o mesmo professor, também conhecidas como turmas multisseriadas. Com menos infraestrutura e por não haver uma metodologia de ensino própria para as turmas multisseriadas, é comum haver uma visão negativa por parte da sociedade. Mas, embora poucos estudos atentem para esse modelo de organização, alguns benefícios podem, sim, ser observados.

Considerando que os alunos podem ter interações com pares de faixas etárias distintas, o efeito de estudar em turmas multisseriadas pode variar de acordo com a idade e a série dos alunos. Em termos de habilidades cognitivas – testes padronizados – os alunos de séries mais avançadas conseguem ajudar os demais alunos, o que reforça o aprendizado e contribui para um melhor desempenho dos anos iniciais da turma (LEUVEN; RØNNING, 2014). Por outro lado, os alunos de séries posteriores podem ter dificuldade para avançar no conteúdo relativo ao seu respectivo ano de estudo.

Com relação ao desenvolvimento de habilidades não cognitivas – liderança, auto percepção, atitude e comportamento – os resultados também são inconclusivos. Entre os aspectos positivos, os alunos dessas turmas podem ter mais facilidade de fazer novas amizades e melhorar o convívio social (MCCLELLAN; KINSEY, 1997). Porém, de forma negativa, eles tendem a desenvolver locus de controle externo, ou seja, passam a acreditar menos em si e mais em fatores externos para o alcance de seus objetivos (CHECCHI; DE PAOLA, 2018).

Do ponto de vista do professor, as turmas multisseriadas representam um desafio, pois é necessário organizar dois ou mais componentes curriculares distintos dentro de uma única turma (BERRY; LITTLE, 2006). Além disso, segundo dados do Censo Escolar de 2018, cerca de 50% dos professores de turmas multisseriadas possuem apenas ensino médio completo e mais de 60% residem em área rural. Esse é um perfil diferente dos professores de turmas seriadas, em que apenas 25% possuem unicamente o ensino médio e mais de 70% residem em áreas urbanas. Isso indica que os professores alocados às turmas multisseriadas possuem uma identidade local e podem não estar preparados para se adaptar a diversidade da turma.

No Brasil, em 2018, as turmas multisseriadas contemplaram mais de 800 mil alunos da rede pública de ensino, sendo uma opção de acesso à educação em locais com poucos alunos, principalmente em regiões rurais (75% das turmas). No total, cerca de 14% das turmas brasileiras são multisseriadas nos anos iniciais do ensino fundamental (EF 1). A Figura 1 apresenta a distribuição do número de escolas com turmas multisseriadas nos municípios brasileiros.


Figura 1 – Distribuição espacial do número de escolas com turmas multisseriadas nos municípios brasileiros

Fonte: Elaborado pela autora com base nos microdados do Censo Escolar de 2018.

As Regiões Norte e Nordeste, predominantemente, possuem o maior número de escolas com turmas multisseriadas. Entre o total de escolas multisseriadas do Brasil, 53% estão localizadas na Região Nordeste, 28% no Norte, 10% no Sudeste, 6% no Sul e 3% no Centro-Oeste. Cabe ainda destacar que 10% das escolas com alguma turma multisseriada não possuem abastecimento de água e fornecimento de energia elétrica, além de possuírem uma infraestrutura (internet, laboratórios, quadra de esportes, parque infantil e banheiro) inferior das demais escolas públicas brasileiras.

Contudo, as turmas multisseriadas, apesar de possuírem fatores negativos, podem representar uma solução para regiões distantes e de difícil acesso. Isso possibilita a inclusão de um maior número de pessoas na rede pública de ensino, corroborando com o Objetivo 4 de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), que visa assegurar a educação inclusiva e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos.

Ainda existem muitos questionamentos e investigações a serem realizadas com respeito as turmas multisseriadas, sobretudo incluí-las nas avaliações de desempenho, como a Prova Brasil e a Avaliação Nacional da Alfabetização. Essas questões, ainda pouco exploradas, lentamente vão sendo inseridas na agenda de pesquisa na área de economia da educação. No entanto, uma questão que merece ser discutida com maior agilidade é saber como essas escolas com um perfil diferente da tradicional seriação – amplamente localizadas em regiões rurais, com pouca infraestrutura, baixa formação dos professores e diversos componentes curriculares – estão se adequando ao contexto de isolamento social, que requer a utilização de ensino remoto e acesso a diferentes tecnologias para a continuidade das atividades escolares.


REFERÊNCIAS

BERRY, Chris; LITTLE, Angela W. Education for All and Multigrade Teaching: challenges and opportunities. In: LITTLE, A.W. (Org.). . Edducation for all and multigrade teaching. Springer, Dordrecht, 2006. p. 67–86.

CHECCHI, Daniele; DE PAOLA, Maria. The effect of multigrade classes on cognitive and non- cognitive skills. Causal evidence exploiting minimum class size rules in Italy. Economics of Education Review, v. 67, p. 235–253, 2018. Disponível em: <https://doi.org/10.1016/j.econedurev.2018.10.003>.

LEUVEN, Edwin; RØNNING, Marte. Classroom Grade Composition and Pupil Achievement. The Economic Journal, v. 126, p. 1164–1192, 2014.

MCCLELLAN, Diane E.; KINSEY, Susan. Children’S Social Behavior in Relationship To Participation in Mixed Age or Same Age Classroom. 1997, 1997. p. 1–21. Disponível em: <http://eric.ed.gov/?id=ED418771>.

O "Economistas na prática" entrevistou a Carin Deda, economista do estado do Paraná.

Carin possui mestrado em Gestão Urbana na linha de pesquisa em Políticas Públicas pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e é graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).


Qual a sua área de atuação? O que você faz no dia-a-dia de seu trabalho?

Sou economista do Estado do Paraná, especificamente atuo na Secretaria da Fazenda como chefe do departamento de análise orçamentária da Diretoria de Orçamento Estadual. Além disto, sou pesquisadora do Laboratório de Pesquisa em Política e Relações Intergovernamentais da PUCPR. O meu dia-a-dia de trabalho é bastante dinâmico, dentre as principais responsabilidades da diretoria de orçamento estão a elaboração e execução da lei de diretrizes orçamentárias e lei orçamentária anual, buscando equilíbrio fiscal e maior qualidade do gasto público, atuo de forma transversal nestas matérias, bem como na produção de estudos, análises e pareceres visando subsidiar a decisão governamental dos diversos assuntos que impactam nas finanças do Estado, por exemplo, o desenho de instituições relacionadas às regras fiscais, como a Lei de Responsabilidade Fiscal Estadual, a reforma da previdência no âmbito do Paraná ou, um exemplo do cenário atual, a análise e promoção de medidas de mitigação dos impactos econômico-financeiros no Estado gerados pela pandemia do coronavírus.

No universo acadêmico os meus interesses de pesquisa são na área de macroeconomia e economia do setor público, especificamente política econômica. Eu busco entender como fatores econômicos, políticos e as instituições influenciam nas decisões de alocação do gasto público. O que eu pesquiso eu acabo vivenciando na prática, portanto, a minha atuação profissional como economista no Estado tem uma ligação muito próxima e complementar com a minha atuação na academia.

Quais os principais motivos que lhe levaram a estudar Economia?

Sempre me interessei por questões ligadas à política econômica e a tentar entender o que os jornais traziam. Também sou muito curiosa em observar e saber sobre a ocupação profissional das pessoas que conheço, além de me inteirar um pouco da sua biografia. Meu primeiro emprego foi aos 16 anos, como menor aprendiz em uma multinacional, portanto, este ambiente me proporcionou, desde cedo, o privilégio de eu conviver com profissionais inspiradores que me apresentaram o mundo da ciência econômica o qual eu me apaixonei, principalmente pelo aspecto socioeconômico, por perceber que de alguma forma eu teria a oportunidade de impactar positivamente na vida das pessoas com o meu trabalho, e este foi o principal objetivo que me levou a estudar economia.

Vivências no mercado de trabalho

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres, que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho?

No período da graduação eu não sofri diferenciação por ser estudante de economia mulher, no meu grupo de iniciação científica, por exemplo, eu era a única mulher e tive oportunidades iguais às dos meus colegas. No entanto, àquela época a minha ótica ainda não estava voltada para estas questões, então é possível que muitas situações possam ter passado despercebidas. O meu senso de observação para as diferenças foi se tornando mais aguçado na medida em que eu fui conhecendo pessoas que passei a admirar e que têm um olhar e atitudes atentos para as diferenças de gênero, passei a conhecer melhor o que é preconceito, identificar as situações de tratamento diferenciado e a discutir mais o assunto. Algo que me marcou foi quando eu preparei uma aula para um curso de extensão que iria lecionar e ao solicitar para minha orientadora avaliar, ela me disse: “Está ótimo, Carin. Mas toma cuidado com a ausência de flexão de gênero, as/os alunas/os para as quais você irá lecionar são sensíveis a esta questão”. Participo do grupo de pesquisas que esta mesma professora coordena e sempre observei ela fomentar a diversidade, dando oportunidades às minorias, inclusive às mulheres. Temos um grupo diverso e muito competente do qual eu me orgulho participar.

É fundamental instigar esse olhar mais atento e trabalhar para diminuir estas diferenças, pois infelizmente o ambiente de trabalho ainda traz inúmeros obstáculos às mulheres economistas, muitas vezes ainda precisamos impor nossa voz, percebo corriqueiramente mulheres sendo interrompidas por homens e é comum que em reuniões de decisões estratégicas estejamos sempre em desvantagem, a última que computei o resultado foi 13 homens X 2 mulheres.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher?

Fiz uma reflexão retrospectiva para responder essa questão e fiquei surpreendida com a quantidade de situações deste aspecto que já passei e presenciei. Para exemplificar, em uma das minhas primeiras entrevistas de emprego (era para o setor administrativo de uma indústria) me perguntaram se eu era vaidosa, respondi que era uma profissional competente. Eu não fui selecionada para a vaga (sorte a minha rs); já ouvi a clássica pergunta em entrevista: “você pretende engravidar?” ou comentários em reuniões como: “deixa ela falar, ela é bonita”; já vi colega denunciando assédio no ambiente de trabalho e ser responsabilizada por isso, inclusive perdendo seu emprego. Por outro lado, acho válido elucidar que também encontro apoio e valorização no ambiente de trabalho, em uma dessas ocasiões fui selecionada para ocupar a posição de um economista muito competente que foi alçar outras oportunidades, a equipe da minha atual área é outro exemplo, na liderança temos duas mulheres e dois homens. E assim eu vejo que, aos poucos e com apoio vamos construindo uma rede mais justa.

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Em 2017 eu tinha acabado de defender a dissertação de mestrado quando um amigo me ligou e disse que tinha uma oportunidade na Secretaria da Fazenda em que a atuação tinha uma relação muito próxima com o que havíamos pesquisado juntos no projeto de iniciação científica (o qual eu dei continuidade na monografia e evolui na dissertação), eu achei ótimo e então ele me indicou para a vaga. Desde então eu trabalho na Secretaria da Fazenda, inicialmente como comissionada e mais recentemente como servidora efetiva após ter realizado e sido classificada em um concurso público para economista do quadro próprio do Estado.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

A formação de economistas é bastante ampla, a ciência econômica nos permite unir os números às ideias, criar modelos que representam as dinâmicas do funcionamento da sociedade e compreendê-los e analisá-los de modo a desenvolver capacidade analítica e perspectiva macro das dinâmicas que movem o mundo e o mercado valoriza estas características. Uma carreira na economia, seja no âmbito acadêmico ou do setor público e privado, está repleta de oportunidades de atuação profissional e crescimento individual.

Embora a formação de mulheres economistas venha crescendo, ainda temos uma participação minoritária especialmente no comando de decisões econômicas, como à frente de ministérios, por exemplo. Meninas, se joguem! Vamos fazer parte da mudança deste cenário, nós estamos do lado de cá para lhes receber e abraçar nesta rede incrível de mulheres economistas.


Desafios da oferta de educação básica no contexto da pandemia do Covid-19

Dra. Janice Viana

Diante da necessidade de distanciamento social, as escolas privadas e públicas que ofertam educação básica se deparam com desafios e incertezas. Por exemplo, as escolas privadas de ensino básico, que atualmente inclui a educação infantil e os ensinos fundamental e médio, foram muito afetadas pela pandemia do Covid-19. Conforme o estudo “Megatendências”, encomendado pela União pelas Escolas Particulares de Pequeno e Médio Porte, uma organização sem fins lucrativos criada para apoiar as escolas e instituições privadas do país. A pesquisa foi realizada no mês de maio pela empresa Explora - Pesquisas, Métricas e Inferências Educacionais, coordenada pelo Professor do Instituto de Ensino e Pesquisa (INSPER), Tadeu da Ponte. A amostra contou com mais de 400 escolas privadas, com 150 a 240 alunos matriculados, o que representa o perfil de 80% das escolas do sistema privado brasileiro. Quanto a abrangência, foram selecionados 83 municípios de diversas regiões do país e em 9 capitais.

Os resultados da pesquisa mostram que o distanciamento social afetou muito as receitas das escolas. Estima-se que de 30 a 50% consideram encerrar as suas atividades devido a basicamente três fatores, tais como: redução do número de alunos, atrasos nos pagamentos das mensalidades e inadimplência. Todos esses fatores fizeram com que a receita média das escolas de ensino infantil e fundamental reduzisse em 54%. Já as escolas que oferecem o ensino infantil, fundamental e médio apresentaram redução aproximada de 50%, até o mês de maio deste ano, com projeções de maiores quedas para o período de junho a agosto.

Além das dificuldades que a pandemia imprimiu sobre as receitas das escolas privadas de educação básica, Tadeu da Ponte chama a atenção para o aumento do desemprego e do abandono escolar. Cerca de 2/3 das crianças da rede privada, o equivalente a 1 milhão de crianças, de zero a três anos de idade, não retornarão para a escola ainda neste ano, em todo o país.

Por outro lado, segundo Eduardo Deschamps, conselheiro do Conselho Nacional de Educação (CNE) órgão do Ministério da Educação (MEC), as escolas públicas de educação infantil possivelmente não conseguirão ampliar a oferta de vagas, pois, já estão no limite da capacidade de atendimento.

As escolas públicas de ensino básico também irão enfrentar novos desafios, que decorrem tanto do ajustamento dos seus processos de ensino e de avaliação, quanto da ampliação do número de vagas, para atender à demanda dos alunos oriundos das escolas privadas.

Visando atenuar os problemas enfrentados pelas escolas particulares, o presidente da Federação Nacional das Escolas Particulares (FENEP), Ademar Batista Pereira, pede a criação de um "Voucher Educacional Temporário" ao governo federal para garantir as matrículas, evitar as falências das escolas privadas e impedir uma maior sobrecarga da rede pública de ensino básico.

No entanto, de acordo com os dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), os investimentos públicos por aluno do ensino básico reduziram a partir de 2015. No referido ano, a redução foi de 2,9%, já nos anos de 2016 e 2017, a redução foi em torno de 1,1% por ano, isto é, uma queda de 5,2% no triênio selecionado. Vale ressaltar que essas informações tratam do investimento médio da educação básica de todo o país, ou seja, dentro do contexto apresentado é importante lembrar que os municípios mais ricos, possuem maior participação dos recursos públicos em relação aos mais pobres.

Diante do exposto, cabem pelo menos dois questionamentos sobre o papel do Estado frente à crise. Um deles é sobre o ponto de vista constitucional, que garante a universalidade do ensino básico. O outro é do ponto de vista econômico, já que as famílias desfavorecidas precisam da escola para deixarem os seus filhos e retornarem para o mercado de trabalho, na retomada da economia.

A dimensão dos problemas que a pandemia trouxe para as escolas, famílias e alunos vai depender da duração do distanciamento social e das medidas que o governo irá adotar para atenuar a crise econômica. O mais importante agora é avaliar o impacto dessas decisões sobre a vida das crianças e das famílias mais pobres.

REFERÊNCIAS

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Indicadores financeiros educacionais. Disponível em: <http:// portal.inep.gov.br/indicadores-financeiros-educacionais>. Acesso em: 29 jun. 2020.

Pesquisa aponta colapso econômico de 30 a 50% das escolas particulares no Brasil em 2020. Jornalarua.com.Disponível em:<https://jornalarua.com/2020/05/31/pesquisa-aponta-colapso-economico-de-30-a-50-das-escolas-particulares-no-brasil-em-2020>. Acesso em: 29/06/2020.

Pais cancelam matrículas de crianças em creches particulares. notíciasr7.com. Disponível em:<https://noticias.r7.com/educacao/pais-cancelam-matriculas-de-criancas-em-creches-particulares-24052020>. Acesso em: 08 jul. 2020.

Risco de falência atinge metade das escolas pequenas e medias do Brasil, diz pesquisa. Folha de São Paulo.<http://www1.folha.uol.com.br/educacao/2020/06/risco-de-falencia-atinge-metade-das-escolas-pequenas-e-medias-do-brasil-diz-pesquisa.shtml>. Acesso em: 10 jul. 2020.

Você sabia que o prêmio CAPES de teses de economia existe há 14 anos e premia, anualmente, a melhor tese, aquela que está mais próxima da fronteira do conhecimento da área?

Para esse prêmio, os cursos de doutorado indicam a melhor tese de doutorado defendida no anterior. Após receber todas as indicações, a CAPES constitui uma comissão para avaliar qual é a melhor tese de doutorado em economia do país.

Você sabia que em 50% das vezes as teses premiadas foram desenvolvidas por mulheres? 😍💪😎 Além disso, sabia que as pesquisadoras premiadas discutem temas bem diversos e complexos da economia?

Veja alguns títulos de teses que foram vencedoras:

1) “Escolaridade das crianças no Brasil: três ensaios sobre a defasagem idade-série”

2) “Estudos empíricos sobre microeconomia bancária no Brasil”

3) “Práticas agrícolas e degradação ambiental: um estudo para o caso da agricultura familiar”

4) “Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário no Brasil”

6) “Pobreza multidimensional no Brasil rural e urbano”.

Para saber mais sobre os trabalhos desenvolvidos e quem são essas economistas de destaque, acesse: https://www.capes.gov.br/premiocapesdete…/edicoes-anteriores


Economistas que inspiram!

Conheça Maria da Conceição Tavares, economista de atuação importantíssima no meio acadêmico nacional e latino-americano e para a construção do pensamento econômico brasileiro.

Maria da Conceição Tavares nasceu em Anadia, Portugal no dia 24 de abril de 1930. Diplomou-se em matemática pela Universidade de Lisboa em 1953 e veio para o Brasil em 1954. No Brasil, iniciou a graduação em economia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde se graduou com suma cum lauda (Prêmio Visconde de Cairu) em 1960.

Tavares foi professora no atual Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ) e no Instituto de Economia da Universidade de Campinas (UNICAMP) no Estado de São Paulo. Ao lado de Mário Henrique Simonsen, Delfim Netto e João Paulo dos Reis Velloso criou a pós-graduação em economia no Brasil.

Um de seus trabalhos mais reconhecidos “Auge e Declínio do Processo de Substituição de Importações”, que foi publicado em 1972, marcou as pesquisas sobre industrialização no Brasil e tornou-se uma das principais referências no assunto em toda a América Latina. Ela ainda foi pesquisadora da CEPAL/ONU e também atuou como pesquisadora visitante em várias outras instituições internacionais. A Economista coleciona, ainda, uma série de prêmios que conquistou ao longo da sua trajetória profissional.

O Jornal Outras Palavras publicou uma matéria completíssima sobre ela, com base no documentário de sua vida chamado "Livre Pensar". Dê uma olhada aqui: https://outraspalavras.net/agenda/a-indispensavel-maria-conceicao-tavares/


FONTE: http://www.interpretesdobrasil.org/sitePage/231.av

A evolução do mercado de trabalho e a participação feminina

Me. Andreia Pereira de Freitas


Nos anos 90, a economia brasileira passou por uma reestruturação produtiva, decorrente da abertura econômica, impactando o mercado de trabalho de forma a reduzir as ocupações formais, gerando maiores exigências para inserção da mão de obra e aumentos substanciais no desemprego. Com isso, constatou-se uma nova configuração no mercado de trabalho com elevação do número de autônomos, terceirizados e trabalhadores por conta própria. O processo foi retratado por Montali em seus estudos sobre a temática da família na reestruturação produtiva (2000); dos rearranjos familiares (2004); e da mulher sob precarização do trabalho (2006). Esse novo arranjo levou ao aumento da precariedade do trabalho e à crescente informalidade, ampliada pelas pessoas que não conseguem se recolocar profissionalmente. Perante a esse cenário, a participação da mulher cresceu rapidamente, devido à necessidade de recompor a renda familiar. No entanto, essa situação levou algumas mulheres a sujeitarem-se a ocupações precárias, assim como os aposentados se viram obrigados a se manter ativos para formar a renda das famílias.

Já nos anos 2000, esse cenário mudou. De acordo com Amitrano (2013) ocorreu uma melhora no mercado de trabalho devido ao aumento do PIB, e da taxa de crescimento, consumo e investimento, impulsionado principalmente pelos setores econômicos relacionados às commodities. Como reflexo, observou-se a elevação das ocupações formais e a desaceleração da precariedade do trabalho, além do aumento na escolaridade brasileira, onde se ressalta o crescimento da instrução feminina, que conforme mencionam Scorzafave e Menezes-Filho (2006), vem contribuindo para a continuidade do aumento da força de trabalho. Em decorrência da crise mundial de 2008, Cacciamali e Tatei (2010) relatam que o ajustamento do mercado de trabalho se deu pelo número de ocupações formais, e nessa acomodação observou-se elevação da participação das mulheres, pela entrada de cônjuges, decorrente do desemprego dos chefes de família e de maior escolaridade.

Na literatura, encontramos algumas pesquisas que procuram caracterizar a participação da mulher no mercado de trabalho: Wajnman, Queiroz e Liberato em “O Crescimento da Atividade Feminina nos Anos Noventa no Brasil” mostram que o maior crescimento foi de trabalhadoras por conta própria no comércio. Essa categoria absorveu mulheres inativas e desempregadas e foi a responsável pela maior geração de empregos. Além do comércio, Bruschini e Lombardi (1996) também identificam um aumento de participação feminina no setor de serviços. Já Scorzafave e Menezes-Filho (2006) analisam os fatores que tem contribuído para o aumento da participação feminina, encontrando como principal resultado o aumento do nível educacional no Brasil entre 1982 e 2002. Segundo esses autores, a contínua melhoria do nível de instrução da mulher deve continuar favorecendo a inserção feminina no mercado de trabalho, visto que o seguimento de mulheres que apresentou o maior crescimento de participação foi brancas, cônjuges, entre 25 e 44 anos de idade, e as que apresentam 4 a 11 anos de estudo. Em relação à cor da pele, o aumento da participação das brancas foi maior que o das não brancas, e, por ser maioria, contribuíram com a maior parte do efeito incidência do estudo.

Os autores alertam para o fato de que se houvessem políticas públicas mais fortes de acesso a creches, contribuiriam para a maior inserção de cônjuges na força produtiva, uma vez que a dificuldade de trabalhar, para as mulheres, seria menor, em virtude da maior disponibilidade de serviços de apoio, favorecendo principalmente as mulheres de baixa instrução educacional. Podemos acrescentar a esta orientação, políticas de promoção de igualdade racial para diminuir também a desproporção quantitativa e qualitativa na participação de mulheres brancas e não brancas no mercado de trabalho formal.

Em um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, Foguel e Russo (2019), procuram compreender a evolução da taxa de participação no mercado de trabalho brasileiro ao longo das últimas décadas. Os resultados da pesquisa apontam que o efeito de idade segue o padrão esperado: a participação neste mercado aumenta na fase jovem, estabilizando-se na fase adulta e retraindo-se na fase mais velha. Também mostra tendência de maior participação para as mulheres, refletindo alterações nos padrões culturais em relação à maior participação feminina no mercado de trabalho brasileiro. As projeções das taxas de participação de homens e mulheres seguem direções opostas, conforme se observa no gráfico abaixo.

Gráfico1: Taxa de Participação Observada e Predita - 1992 a 2030 (em%)

Fonte: Foguel; Russo, 2019 (PNAD/IBGE e projeções da população/IBGE)


Concluindo essa análise que indica o aumento da participação e da importância da mulher no mercado de trabalho brasileiro, chamo atenção para questões tratadas por Passos e Guedes (2018), que alertam para a “crise de cuidados” que a sociedade começa a enfrentar. Ao longo dos anos, a mulher assumiu o papel de provedora de cuidados, enquanto que o homem se ocupava com o de sustento da família. Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, a configuração desse mercado vem se alterando, mesmo que se mantenha o papel da mulher de reprodução da vida em sociedade, uma vez que a concepção de um ser humano é uma exclusividade feminina. Ao mesmo tempo em que a mulher aumenta sua participação no mercado de trabalho, a população também envelhece; e essa é uma questão que devemos atentar. Culturalmente, o ato de “cuidar das pessoas” é uma tarefa atribuída principalmente à mulher; somando-se as jornadas que ela já exerce.

Tendo em vista, o aumento da expectativa de vida a demanda por atenção aos idosos cresce e faz-se necessário à implementação de uma Política Nacional de Cuidados (PNC) que: i) elimine a visão de que o cuidado é uma atribuição apenas feminina, e ii) que enfrente a questão do envelhecimento populacional. Faz-se necessário, portanto, políticas públicas que permitam um equilíbrio da oferta e demanda de cuidados e uma maior igualdade de gêneros.


REFERÊNCIAS:

AMITRANO, C. R. Considerações sobre o mercado de trabalho no Brasil. In: CORRÊA, VANESSA PETRELLI. Padrão de acumulação e desenvolvimento brasileiro. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2013.

BRUSCHINI, C.; LOMBARDI, M. R. O Trabalho da Mulher Brasileira nos Primeiros Anos da Década de Noventa. In: Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 10. Anais. Belo Horizonte: ABEP, v.1, pp. 483-516, 1996.

CACCIAMALI, M. C.; TATEI, F. Crise Econômica Mundial: Mudanças nas Características do Desemprego no Mercado de Trabalho Brasileiro. In: Moretto, A; Krein, J. D.; Pochmann, M.; e Macambira, J. Economia, Desenvolvimento Regional e Mercado de Trabalho do Brasil. Fortaleza: Instituto de Desenvolvimento do Trabalho, Banco do Nordeste do Brasil, Centro de Estudos Sindicais e de Economia do Trabalho, 2010.

FOGUEL, M. N.; RUSSO, F. M. Decomposição e Projeção da Taxa de Participação do Brasil Utilizando o Modelo Idade-Período-Coorte (1992 A 2030). IPEA – Nota Técnica Mercado de Trabalho, n. 66, abr. 2019.

MONTALI, L. Família e Trabalho na Reestruturação Produtiva: Ausência de Políticas de Emprego e Deterioração das Condições de Vida. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 15, n. 42, 2000.

MONTALI, L. Rearranjos Familiares de Inserção, Precarização do Trabalho e Empobrecimento. Anais do XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, Caxambú- MG – Brasil, de 20- 24 de Setembro de 2004.

MONTALI, L. Provedoras e Co-Provedoras: Mulheres-Cônjuge e Mulheres-Chefe de Família sob a Precarização do Trabalho e o Desemprego. Revista Brasileira de Estudos Populacionais, São Paulo, v. 23, n. 2, p. 223-245, jul./dez., 2006.

PASSOS, L.; GUEDES, D. Participação Feminina no Mundo do Trabalho e a Crise de Cuidados da Modernidade: Conexões Diversas. Planejamento e Políticas Públicas, n.50, Jan./Jun. 2018.

SCORZAFAVE, L. G. e MENEZES-FILHO, N. Caracterização da participação feminina no mercado de trabalho: uma análise de decomposição. Economia Aplicada. 10(1): 41-55, jan-mar 2006.

WAJNMAN, S.; QUEIROZ, B.; LIBERATO, V. O crescimento da atividade feminina nos anos noventa no Brasil. In: Encontro Nacional de Estudos Populacionais, 11. Anais. Belo Horizonte: ABEP, v. 2, p. 2429-2454, 1998.


Mulheres protagonistas nos divórcios:

os custos do casamento estão com elas?

Me. Renata Pereira Cardoso


Gary Becker (1978) pôs a figura do casamento sob a ótica da racionalidade econômica. Para o autor, os indivíduos mantêm-se casados sempre que os benefícios esperados da união superam os ganhos da solteirice. Em síntese, a teoria busca propor explicações racionais para a consolidação e dissolução do matrimônio, que vão além da atração, do amor e do desejo de constituição familiar.

Entre os benefícios do casamento estariam a produção e consumo conjuntos, a divisão e coordenação de tarefas domésticas, como destacado por Cânedo em uma pesquisa conjunta com seus colegas. Além disso, pode-se destacar os ganhos de escala pelo uso compartilhado de espaços e utensílios domésticos, o aumento do crédito e melhor coordenação dos investimentos, como salientado nos trabalhos de Borenstein e Courant. Há evidência ainda, de que dois indivíduos podem quase dobrar seu poder de compra ao se unirem, conforme afirmam Lazear e Robert na pesquisa “Family size and the distribution of per capita income”.

Considerando que os cônjuges ponderam entre os custos e benefícios de permanecer em uma união, os dados apontam que permanecer em uma relação conjugal parece estar custando mais às mulheres brasileiras. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), os pedidos de divórcio não consensual requerido pelas mulheres aumentou nos últimos anos, passando de 55% (49.752) em 2011 para 60% (62.312) pedidos em 2018. A evolução pode ser observada no gráfico a seguir.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados de registros civis do IBGE.

Pode-se apontar duas situações que colocam as mulheres em vulnerabilidade e desvantagem na relação matrimonial. A primeira e a mais grave é a crescente violência contra a mulher (veja o texto publicado aqui no CM&E: “Violência contra a mulher e o coronavírus: uma pandemia que agrava a outra”). A segunda, refere-se à sobrecarga de trabalho doméstico imposto às mulheres.

Dados do IBGE demonstram que mulheres dedicam quase o dobro do tempo[1] ao trabalho doméstico quando comparado à dedicação dos homens. Destaca-se que os dados são relativos tanto a mulheres quanto a homens que também trabalham fora. A evolução pode ser observada no gráfico a seguir.

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual – IBGE

Pode-se observar que a alocação do tempo entre homens e mulheres no domicílio apresenta uma certa estabilidade ao longo dos anos. É como se os homens estivessem com o padrão pré-definido de horas que podem “ajudar” as mulheres.

Além das horas efetivamente empregadas no trabalho doméstico visível, tais como lavar louça, cozinhar, limpar, etc., há de se falar na carga mental. A carga mental contempla todo o trabalho de planejamento e gestão do domicílio, realizado preponderantemente pelas mulheres. Preocupar-se com os alimentos que vão faltar, com as datas de provas dos filhos e tarefas, com o que será preparado para jantar, etc., são atividades invisíveis e cansativas que ocupam as mulheres e prejudicam sua saúde mental (ARAÚJO et al. 2005).

Ainda há muita discussão a ser feita até que exista entre homens e mulheres uma equânime responsabilização e divisão do trabalho doméstico (cabe reforçar que precisamos de divisão e não “ajuda”). A quarentena e o distanciamento social devido à pandemia alteraram as relações conjugais e familiares, além de aumentar as horas de convivência no domicílio. Home office, homeschooling e a permanência das mulheres em casa tornam imprescindível e inadiável essa discussão.

REFERÊNCIAS

Araujo TM, Pinho PS, Almeida MMG (2005). “Prevalência de transtornos mentais comuns em mulheres e sua relação com as características sociodemográficas e o trabalho doméstico”. Rev Bras Saude Mater Infant 2005; 5(3): 337-48

Becker, G. S. (1973). “A Theory of Marriage: Part I”. Journal of Political Economy, v. 81, p. 300-310.

Borenstein, S.; Courant, P. N., “A How to Carve a Medical Degree: Human Capital Assets in Divorce”, Settlements, American Economic Review, December, 1989, vol. 79, no. 5, 992-1009.

Canêdo-Pinheiro, M. ; Lima, L. R. and Moura, R. L.(2008), Fatores econômicos e incidência de Divórcios: evidências com dados agregados brasileiros. XXXVI Encontro Nacional de Economia, 2008.

Lazear, E. P.; Robert T. M. (1981). “Family size and the distribution of per capita income."

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE – Estatísticas do Registro Civil. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9110-estatisticas-do-registro-civil.html?=&t=o-que-e. Acessado em: 16/06/2020.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua - PNAD Contínua. Disponível em: https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/trabalho/9173-pesquisa-nacional-por-amostra-de-domicilios-continua-trimestral.html?=&t=quadro-sintetico. Acessado em: 17/06/2020.


[1] Média de horas (pessoas ocupadas) dedicadas aos afazeres domésticos e/ou às tarefas de cuidado de pessoas na semana de referência.



Nosso "Economistas na prática" da vez entrevistou a Me. Carine Almeida Vieira.


Carine possui graduação e mestrado em Economia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e é doutoranda em Ciências Humanas e Sociais – na linha de Economia, Desenvolvimento e Sociedade – pela Universidade Federal do ABC (UFABC), com estágio de doutorado na York University – Faculty of Environmental Studies – sob orientação do Dr. Peter Victor, na cidade de Toronto, Canadá.

Qual a sua área de atuação?

Atualmente trabalho como Analista de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) na Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP). Faço parte de uma equipe de nove pessoas, composta por três subgrupos: os programadores, a equipe de banco dados e os analistas de dados, na qual me incluo. Meu trabalho é analisar dados de todos os tipos, e a partir deles, gerar modelos preditivos, por exemplo. É um trabalho bastante integrado com os outros subgrupos, mais proximamente com o grupo de banco de dados, pois são eles que disponibilizam grande parte das bases para que eu possa desenvolver o meu trabalho.

Quais os principais motivos que lhe levaram a estudar Economia?

A tentativa de entender melhor o mundo sob uma perspectiva socioeconômica. Desde muito nova, nunca conseguia entender muito bem os conflitos e confrontos entre nações e povos, a fome e a injustiça em meio a tanta riqueza gerada. Me recordo de uma vez que questionei algo relacionado a uma guerra no Oriente Médio para meu professor de geografia e ele me disse: “tem motivos econômicos por trás dessa disputa, todos esses conflitos têm.” Esse, talvez, tenha sido um dos momentos que me marcaram e me motivaram a escolher o curso de Ciências Econômicas.


Vivências no mercado de trabalho

Você observa alguma diferenciação, por parte de outras pessoas, entre homens e mulheres, que estudam Economia? E no seu ambiente de trabalho?

Sou graduada e mestre na UFSM, durante esse tempo tive o prazer de trabalhar com mulheres inspiradoras. Mesmo enquanto aluna, a minha turma era bastante mista. Só fui perceber algum tipo de diferenciação quando saí da cidade de Santa Maria.

Ministrei um minicurso na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), quando entrei na sala, que estava lotada, encontrei apenas duas mulheres e os demais todos homens, isso foi algo que me marcou bastante.

No trabalho, faço parte de uma equipe de nove pessoas e sou a única mulher, porém não sinto qualquer tipo de tratamento desigual. No entanto, gostaria de ter mais colegas mulheres na minha equipe. Acho a representatividade feminina importante, principalmente na área de análise de dados, em que os profissionais são predominantemente homens.

Você já sofreu algum tipo de preconceito por ser economista mulher?

Uma ocasião que me marcou e eu, honestamente, acredito que aconteceu pelo simples fato de ser mulher, foi em um concurso que fiz. Era meu primeiro concurso, para professor substituto, eu era a única mulher, mas também a única doutoranda. Os outros concorrentes eram todos mestres e homens. Uma das primeiras perguntas que a banca fez foi: “Qual sua idade?”. Fico em dúvida se essa pergunta aconteceria se eu fosse homem...

Qual foi o caminho percorrido para você alcançar o seu emprego atual?

Fiz um processo seletivo com três etapas: triagem curricular, entrevista, e por fim apresentei um case com um tema predefinido. Na última etapa do processo seletivo, eu era a única mulher – éramos 4 finalistas. Os concorrentes eram ótimos, eu inclusive conhecia alguns deles e eles já trabalhavam como pesquisadores na organização, estavam buscando a efetivação. Honestamente, por ser um campo com predominância masculina, tive um sentimento de satisfação por saber que, de alguma forma, as mulheres estão ocupando mais esses espaços.

O que você considera interessante falar para mulheres que pretendem estudar e/ou seguir na carreira de economista?

Na minha opinião, pesquisar sobre o campo é importante para a escolha da profissão que se quer seguir. Gostar do que faz é fundamental. Mas devemos ter consciência que muitas vezes, simplesmente por ser mulher, temos de nos destacar para ter o mesmo reconhecimento. Temos um caminho longo ainda até alcançarmos a igualdade, mas já podemos ver uma melhora significativa. Por fim, destaco que é importante que a nova geração de mulheres saiba que pode trilhar o caminho que quiser e que, de alguma forma, consiga visualizar isso.


Um recomeço verde: seria uma quimera?

Me. Patricia Batistella

Sabemos que a pandemia ainda não acabou, e não podemos ser tão otimistas que seu fim aconteça tão brevemente. No entanto, alternativas com o objetivo de amenizar os danos por ela causados, já estão sendo pensadas - e assim deve continuar. O importante, além disso, é de que essas estratégias busquem aliar a retomada econômica com medidas favoráveis ao meio ambiente, sobretudo ao clima. Pois já que iremos pensar em um “recomeço” é necessário considerar o problema das mudanças climáticas, que já estão em curso nessa pauta.

As mudanças climáticas, da mesma forma que o coronavírus não escolhe cara e muito menos coração de quem irá atingir. Porém, as pessoas afetadas por esses eventos irão sofrer das mais variadas formas. A crise atual acabou por exacerbar algumas das fragilidades socioeconômicas do país, marcado por elevada desigualdade social e renda; sistema de infraestrutura básico precário (35,7 % da população tem ausência de esgotamento sanitário[1]); e elevada taxa de desemprego (12,6% [2]). Todos esses problemas estruturais, acabaram por potencializar ainda mais os efeitos da pandemia, e no caso das mudanças climáticas não será diferente.

As características socioeconômicas pré-existentes na sociedade são fatores determinantes na vulnerabilidade ao clima, tanto a vulnerabilidade biofísica como a social. A combinação de elementos externos ambientais das mudanças climáticas – chuvas em excesso, ondas de calor, secas - com fatores não climáticos - economia, sociedade, política e tecnologia - são responsáveis por moldar a exposição, a sensibilidade e a capacidade de adaptação dos indivíduos. E quanto mais prejudicada for essa estrutura já existente, o número de pessoas em situação de vulnerabilidade as alterações no clima tende a ser maior. O painel brasileiro de mudanças climáticas (PBMC, 2013), aponta que a população mais vulnerável a esses eventos é a população da região Nordeste do país. A qual não possui capacidade adequada de proteção e resposta, em virtude do limitado acesso a bens e serviços básicos e baixos índices de desenvolvimento econômico e social.

As mudanças climáticas compreendem diversos assuntos, que vão desde emissões de gases de efeito estufa (GEE) até relacionadas ao impacto, adaptação e vulnerabilidade dos seres humanos e dos ecossistemas. O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), considerado referência nesse assunto, em seu quinto relatório destaca que fenômenos sem precedentes foram averiguados desde 1950, sendo que muitos desses poderiam ser conferidos às atividades humanas (IPCC, 2014).

Embora inúmeras notícias nos últimos dias tenham relatado queda nas emissões de GEE, em decorrência da baixa atividade econômica provocada pelas medidas quarentenárias, é lamentável dizer que esse contexto está longe de ser o bastante para solucionar os problemas ambientais. O Brasil ocupa, atualmente, a sexta posição no total de emissões globais de GEE, porém é marcado por apresentar um padrão distinto das causas dessas emissões. Aqui, diferentemente, dos demais países grandes emissores, a principal fonte geradora desses gases é provocada pela mudança do uso da terra, que representou 44% das emissões no ano de 2018. De acordo com a nota técnica divulgada pelo SEEG (2020), as tendências das emissões de GEE no Brasil em 2020 tendem a ser maior que 2019, pois, como já apontado, a principal fonte de emissões, que são as mudanças de uso da terra, está em livre expansão pelo crescimento do desmatamento na Amazônia - que, por sinal, tem avançado durante a pandemia.

Em sentido oposto, as propostas de recuperação pelo mundo já sinalizam que parte dos pacotes de estímulos terão recursos destinados a medidas favoráveis ao clima. Como é o caso da União Europeia[3], que irá direcionar 25 % dos 750 bilhões de euros do seu plano de resposta econômica à crise do coronavírus. Medidas de recuperação sustentável também estão sendo envidadas por demais países da Europa: França, Dinamarca e Espanha. Os elementos contemplados em todos esses planos, buscam apoiar desde indústrias automobilísticas - a fim de promover a produção de veículos de baixo carbono – até reformas ecológicas em moradias sociais (JAEGER, 2020).

Essas medidas, além de tornarem o funcionamento da economia mais saudável, criarão mecanismos de proteção às mudanças climáticas, outras potenciais pandemias e eventos inesperados. Em contrapartida, no Brasil, até o presente momento, não se tem evidências de que os planos de retomada irão contemplar tais preocupações.

Sabemos que esses planos são arrojados e desafiadores, principalmente, pelo fato de que o modelo de crescimento econômico, que ainda predomina mundialmente é baseado em atividades que demandam elevada quantidade de energia, e, consequentemente, queima de combustíveis fósseis (principais causadores de GEE). Não há dúvidas de que novas alternativas de desenvolvimento econômico precisam ser repensadas, sobretudo aquelas que não busquem somente o aumento da renda, riqueza como um fim, mas sim, como um meio que possibilite a transição para uma economia verde.

Esse seria o momento oportuno para se pensar nessas questões e traçar estratégias que, viabilizem infraestrutura e mecanismos adequados para o enfrentamento das consequências das mudanças climáticas, tendo em vista que nosso prazo já está mais que apertado! E no fim, por certo seria importante mudar a nossa forma de enxergar o progresso. Colocar como prioridade aquilo que garante a nossa sobrevivência, de modo algum seria exagero. Esperamos que não se torne apenas uma quimera acreditar em um recomeço no qual os seres humanos mantêm em devido equilíbrio sua relação com o meio ambiente.


Referências

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Desemprego. Disponível em:< https://www.ibge.gov.br/explica/desemprego.php>.

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Síntese de Indicadores Sociais (SIS). Disponível em:< https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/9221-sintese-de-indicadores-sociais.html?=&t=resultados>.

JAEGER, Joel. Europe Charts a Course for Sustainable Recovery from COVID-19 (2020). World Resources Institute. Disponível em:< https://www.wri.org/blog/2020/06/europe-charts-course-sustainable-recovery-covid-19?>.

Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PMBC). Impactos, Vulnerabilidade e Adaptação. DF, Brasília, 2013.

Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Mudança climática 2013: a base das ciências físicas. Contribuição do Grupo de Trabalho I para o Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima ; Cambridge University Press: Cambridge, Reino Unido, 2014.

Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG). Emissões totais. Disponível em:< http://plataforma.seeg.eco.br/total_emission#>.


[1] Fonte: Síntese de Indicadores Sociais (SIS) – IBGE, 2018.[2] Fonte: Taxa de desocupação no trimestre (encerrado em abril de 2020) PNDAD, IBGE 2019.[3] O pacote foi divulgado no dia 27 de abril e para sua implementação deverá passar pela aprovação do parlamento europeu e pelos 27 estados membro, mas caso aprovado for será o maior investimento verde já realizado.


ECONOMISTAS QUE INSPIRAM!

Conheça Esther Duflo, a segunda ganhadora mulher do Prêmio Nobel, mas a primeira mulher economista a receber o prêmio na área da economia!

Duflo, uma das inspirações que motivaram a criação do nosso grupo de mulheres, nasceu em 1972 em Paris, França. Formou-se PhD pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) Cambridge, nos Estados Unidos em 1999 e, como professora, atua com o tema “Alívio da Pobreza e Economia do Desenvolvimento” na mesma instituição.

Ela recebeu o prêmio Nobel de Economia em 2019 juntamente com seu marido, Abhijit Banerjee, americano nascido na Índia, e com Michael Kremer, também americano. Os três economistas desenvolveram uma nova abordagem para obter respostas confiáveis sobre os melhores métodos de aliviar a pobreza no mundo.

Com a premiação, Duflo (46 anos) é a pesquisadora mais nova a ser premiada e a segunda mulher a ganhar o Nobel. Ela tem sido considerada uma das economistas mais brilhantes da sua geração, tendo obtido também o prêmio John Bates Clark Medal em 2010, que recompensa economistas com menos de 40 anos nos Estados Unidos.


SAIBA UM POUCO MELHOR SOBRE SUA PESQUISA:

"A pesquisa realizada pelos Laureados deste ano melhorou consideravelmente nossa capacidade de combater a pobreza global. Em apenas duas décadas, sua nova abordagem baseada em experimentos transformou a economia do desenvolvimento, que agora é um campo de pesquisa em crescimento.

Apesar das recentes melhorias dramáticas, uma das questões mais urgentes da humanidade é a redução da pobreza global, em todas as suas formas. Mais de 700 milhões de pessoas ainda subsistem com rendimentos extremamente baixos. Todos os anos, cerca de cinco milhões de crianças com menos de cinco anos ainda morrem de doenças que muitas vezes poderiam ter sido prevenidas ou curadas com tratamentos baratos. Metade das crianças do mundo ainda saem da escola sem habilidades básicas de alfabetização e matemática.

Os Laureados deste ano introduziram uma nova abordagem para obter respostas confiáveis ​​sobre as melhores maneiras de combater a pobreza global. Em resumo, envolve dividir esse problema em perguntas menores e mais fáceis de administrar - por exemplo, as intervenções mais eficazes para melhorar os resultados educacionais ou a saúde infantil. Eles mostraram que essas perguntas menores e mais precisas geralmente são melhor respondidas por experimentos cuidadosamente projetados entre as pessoas mais afetadas.

Em meados da década de 90, Michael Kremer e seus colegas demonstraram o quão poderosa essa abordagem pode ser, usando experimentos de campo para testar uma série de intervenções que poderiam melhorar os resultados das escolas no oeste do Quênia. Abhijit Banerjee e Esther Duflo, freqüentemente com Michael Kremer, logo realizaram estudos semelhantes de outras questões e em outros países. Seus métodos de pesquisa experimental agora dominam inteiramente a economia do desenvolvimento.

As descobertas de pesquisa dos Laureados - e as dos pesquisadores que seguem os passos deles - melhoraram drasticamente nossa capacidade de combater a pobreza na prática. Como resultado direto de um de seus estudos, mais de cinco milhões de crianças indianas se beneficiaram de programas eficazes de aulas de reforço nas escolas. Outro exemplo são os pesados ​​subsídios para cuidados de saúde preventivos que foram introduzidos em muitos países.

Estes são apenas dois exemplos de como esta nova pesquisa já ajudou a aliviar a pobreza global. Também tem um grande potencial para melhorar ainda mais a vida das pessoas em pior situação do mundo."



*Tradução nossa

A redução da desigualdade no mercado de trabalho entre homens e mulheres não traria benefícios apenas para as mulheres, em si.

Conforme dados publicados pela WeConnect em 2020, o impacto da equidade geraria efeitos no desempenho da economia, elevando a produção de bens e produtos finais e, consequentemente, aumentando a geração de renda.

Isso significa que, independentemente da bandeira que se levante, a redução da desigualdade traria, de fato, mais benefícios do que as condições do mercado de trabalho atual trazem.

Portanto, que lutemos pela diminuição da lacuna entre homens e mulheres e que todos possam ter os mesmo direitos e condições!

Violência contra a mulher e o coronavírus: uma pandemia que agrava a outra


Me. Júlia Sbroglio Rizzotto

SEXTOU!

Selecionamos para vocês alguns trechos da matéria publicada por Avivah Wittenberg-Coxna na estimada revista Forbes, que conta como cinco economistas mulheres estão revolucionando o campo da economia.


Segue o link da matéria completa (texto em inglês): https://www.forbes.com/sites/avivahwittenbergcox/2020/05/31/5-economists-redefining-everything--oh-yes-and-theyre-women

Esther Duflo, Stephanie Kelton, Mariana Mazzucato, Carlota Perez e Kate Raworth estão unidas em seu espanto frente a como a economia foi definida e debatida até o momento. Sua incredulidade é palpável.

Como Rebecca Henderson uma professora de administração e estratégia na Escola de Administração de Harvard e autora do livro “Re-imaginando o capitalismo em um mundo em chamas”: “É estranho finalmente chegar ao ponto e ver como o mundo está sendo dirigido. Quando as mulheres atingem o auge na carreira elas às vezes encontram um mundo mais parecido com um sapo cheio de verrugas do que com um príncipe encantado.

Você tem a mesma sensação quando ouve as economistas se lançando em campos ainda muito dominados por homens. Uma espécie de coletivo “você está brincando comigo, certo?” Essas cinco economistas estão revelando segredos e convidando as pessoas para mudar suas prioridades. Um número crescente de pessoas está ouvindo – até o papa.

Seguem quatro mensagens que elas compartilham:


  1. Supere – Desafie a ortodoxia

Mariana Mazzucato: Seu TED Talk provocativamente chamado “O que é valor econômico e quem o cria” estabelece o questionamento: “Se algumas pessoas são criadoras de valor”, ela pergunta, “o que todo o resto faz? Batatas? Destroem valor?”. Ela quer fazer a economia servir as pessoas, invés de explicar sua servidão.

Stephanie Kelton: No seu próximo livro "O mito da dívida" (previsão de publicação em junho de 2020), ela argumenta que as políticas para o governo e para as famílias não são nada parecidas, afinal qual família pode imprimir dinheiro ou definir taxa de juros? Déficits podem ser usados de maneiras boas ou ruins, mas eles próprias são uma ferramenta política neutra e poderosa. “Eles (déficits) podem financiar guerras injustas que desestabilizam o mundo e custo milhões em vidas”, ela escreve, “ou podem ser usados para sustentar a vida e construir uma economia mais justa que funcione para a maioria e não para poucos.” (...) Ela está apontando para a mente e o significado por trás do dinheiro.


  1. Tenha crescimento verde – crescimento além do PIB

Kate Raworth, pesquisadora-chefe associada ao Instituto de Mudança Ambiental da Universidade de Oxford, é a autora de "Economia Donut". Ela desafia nossa obsessão pelo crescimento e seus indicadores desatualizados. (...) O escopo limitado do PIB (por exemplo, ignorando o valor do trabalho não remunerado, como o trabalho doméstico e parental ou não fazendo distinções entre receitas provenientes de armas ou água) nos manteve “financeiramente, politicamente e socialmente viciados em crescimento” sem levar em conta os custos para as pessoas e para o planeta.

Carlota Perez não quer parar ou reduzir o crescimento, ela quer desmaterializar ele. A vida será construída sobre uma economia circular que multiplica serviços e intangíveis que oferecem crescimento ilimitado (e menos prejudicial ao meio ambiente). Ela aponta para a revolução tecnológica que está criando novos estilos de vida.


  1. Ter um bom governo - O papel estratégico do estado

Os governos devem usar seu poder - tanto de investimento quanto de compras - para orientar os esforços em direção aos grandes desafios em nosso horizonte, não apenas à recuperação imediata a curto prazo.


  1. Seja real - Além das fórmulas, entrando em campo

Todas essas economistas também argumentam que devemos sair das teorias e entrar em campo. Eles rejeitam a ideia de cálculos teóricos nerds feitos dentro dos limites de uma torre universitária e desafiam os economistas a experimentar e testar suas fórmulas no mundo real.

A economia por muito tempo permaneceu um domínio teimosamente masculino e os homens continuam a dominar o pensamento dominante. No entanto, com o tempo, as ideias antes consideradas sem valor se tornam cada vez mais visíveis. A mudança de estranho para aceitável na política é frequentemente acelerada pela crise. Emergindo dessa crise, cinco economistas inteligentes estão oferecendo uma gama inovadora de novas ideias sobre um caminho mais ecológico, saudável e inclusivo. Ah, e elas são mulheres.”

*Tradução nossa.** Todos os trechos foram retirados ipis litteris da matéria da Forbes.

VOCÊ SABIA?

️Isso mesmo, as mulheres desempenham 66% de todo o trabalho no mundo,

️Produzem 50% de toda a comida,

Mas recebem apenas 10% do rendimento e

São donas de 1% a 2% das propriedades.

Essas disparidades se encontram ainda mais acentuadas na América do Sul.

EaD no ensino superior: uma tendência inevitável

Dr. Tatiane Pelegrini

Em tempos de pandemia, os professores da rede básica de ensino tiveram que se adaptar rapidamente a uma nova realidade, o ensino a distância. Todavia, no ensino superior, essa situação já é realidade para 1 em cada 4 estudantes. De acordo com dados do INEP para o ano de 2018, aproximadamente, 24,3% dos estudantes matriculados no ensino superior tem aulas a distância, em 2008 esse percentual era de 12,5%.

A tendência é que esses números continuem a crescer. Embora não tenha tido a mesma repercussão que os programas anteriores, como o Programa Universidade Para Todos, o Ministério da Educação criou em 2005 o projeto da Universidade Aberta do Brasil (UAB), com o objetivo de articular e integrar um sistema nacional de educação superior a distância voltado a ampliação e interiorização da oferta dessa modalidade no Brasil.

Entre os anos de 2005 e 2018, o número de alunos matriculados na modalidade EaD apresentou um crescimento de 114.642 para 2.056.511 matrículas, ou seja, um aumento de 18 vezes (INEP, 2019). A tendência rapidamente crescente da linha do gráfico corrobora que a aderência dos alunos à esta modalidade tem sido cada vez maior ano após ano.


Fonte: Elaborado pela autora a partir dos dados do Censo do Ensino Superior (INEP, 2019)

O ano de 2018 é marcante, por ser o ano em que pela primeira vez na série histórica as vagas de EaD superam as presenciais. Do total de 13,5 milhões de vagas ofertadas, 6,4 corresponderam a modalidade presencial e 7,1 na modalidade à distância (INEP, 2019). Desse modo, o EaD se consolida como uma forma de acelerar a expansão de vagas no ensino superior, além de acessar regiões distantes, compatibilizar o tempo dos estudantes e possibilitar uma educação permanente.

Com tamanha expansão, o EaD tornou-se um objeto de disputa no mercado educacional com uma expressiva participação do setor privado e marcada pela presença de grupos educacionais (Giolo, 2008).O setor privado detém 91,6% das matrículas e tem se consolidado em economias de escala, com grandes grupos ofertando uma gama cada vez maior de cursos de graduação (ênfase em cursos de licenciatura e tecnológicos), especializações e MBAs.

Diante disso, é inevitável nos questionarmos, especialmente, a respeito da qualidade dos cursos ofertados, uma vez que estes apresentaram uma grande expansão em um período relativamente curto de tempo. Persistem dúvidas a respeito da aprendizagem vinculada a uma separação de professores e alunos, capacitação dos docentes e coordenadores, bem como sobre a qualidade dos instrumentos de avaliação (Moran 2009). De acordo com a última avaliação do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), em 2017, 6,1% dos cursos presenciais tiveram conceito máximo, enquanto no EaD, o percentual alcançou 2,4%.

Ainda é cedo para julgarmos? Talvez sim, mas de todo modo, a tecnologia estará cada vez mais presente no ensino superior, sendo a base para que o ensino online se transforme em um processo inevitável. O Ensino a Distância continuará a crescer e será responsável pela formação de muitos profissionais brasileiros. O ensino presencial e as instituições de ensino superior terão que se adaptar a essa nova realidade, inovando e incorporando recursos tecnológicos às práticas pedagógicas de ensino e avaliação. As fronteiras do conhecimento – e sua transmissão - sempre serão ampliadas.


Referências

GIOLO, J. A educação a distância e a formação de professores. Educação & Sociedade, v. 29, n. 105, p. 1211-1234, 2008.

MORAN, J. M. O ensino superior a distância no Brasil. Educação & Linguagem, v. 12, n. 19, p. 17-35, 2009.

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Microdados Censo do Ensino Superior e ENADE. Disponível em: <http://inep.gov.br/microdados>. Acesso em: 22 mai. 2020.


Economistas na prática:

A ideia deste post é mostrar o mundo inimaginável que existe por trás da atuação de alguma economista! O que acham de desfrutar caminhos diferentes e, até mesmo, desconhecidos pelo senso comum?

A economista da vez é uma das nossas fundadoras, a doutoranda em economia pela PUCRS, Luana Fraga - veja mais informações sobre ela em "Sobre Nós", na página das integrantes.

No atual momento, Luana atua como pesquisadora e está em processo de elaboração da sua tese de doutorado. Sua área de pesquisa é voltada para o desenvolvimento humano e, mais especificamente, sua pesquisa investiga e traz reflexões sobre “mobilidade intergeracional”.

Vocês já ouviram falar sobre esse conceito? Nossa fundadora preparou o infográfico ao lado para que todos possam entender os principais conceitos que são pilares do debate e como esse assunto se relaciona com economia.

Se você também pesquisa o tema “mobilidade intergeracional” ou é interessado no assunto, não hesite em entrar em contato com ela. Lembre-se: estamos sempre abertas para parcerias, trocas de ideias e esclarecimentos de dúvidas!


VOCÊ SABIA?

Que o mercado de trabalho é desigual entre gênero é um fato indiscutível. Os dados mostram, os especialistas comprovam e a realidade corrobora.

Mas você sabia que, embora as mulheres sejam quase metade da população mundial, o setor formal só absorve 40,8% da mão de obra feminina? Isso significa que a desigualdade não se estabelece apenas em termos salariais mas, também, de contratação. Os desafios para a equidade e a melhoria desse cenário são imensos e vão desde uma mudança no discurso, passando pela melhor entendimento sobre a divisão das tarefas doméstica e pelo fomento a políticas públicas.