História do Centro Cultural Casa De Palmito

Casa de Palmito 


Construída na década de 40, do século passado, a Casa de Palmito, edificada na região do Costão dos Náufragos, no centro de Barra Velha, apresenta algumas particularidades que justificam o desejo de diversas pessoas que há muitos anos defenderam o seu tombamento junto ao poder público municipal.  

Em 2010, Erna Bisewvski concedeu entrevista ao Projeto Descortinando Histórias. Na ocasião, Bisewvski anunciou que “o seu tempo está terminando”: A senhora Erna Bisewvski, foi protagonista de muitas reportagens e visitas realizadas por pesquisadores, historiadores, jornalistas e curiosos, interessados na história da sua residência. Sentada em uma cadeira de balanço e acompanhada de seu cão e muitos gatos. Sempre recebeu com muito carinho e emoção, todos que desejam conhecer a sua residência e, consequentemente, sua história.  

Dona Erna nasceu em Pomerode, no dia 08 de agosto de 1920, teve 04 irmãos, todos já falecidos. Com 17 anos, casou-se em Joinville, com André Bisewvski e não tiveram filhos. Sua história em Barra Velha, iniciou no hotel da família Krause, pois com a viuvez deixou Joinville e veio trabalhar no hotel de seus familiares. Aqui, conheceu o industrial, Augusto Teodoro Wald Becker, que costumava veranear nas praias de Santa Catarina. Com Wald Becker, viveu uma rápida história de amor na Casa de Palmito, construída com troncos de palmitos extraídos das matas do município. 

No dia 06 de novembro de 1955, vítima de um infarto e após alguns anos de muito sofrimento devido a uma perna amputada, seu companheiro a deixou. Na Casa de Palmitos e na memória de Erna, restaram as lembranças. Com o crescimento da cidade, a casa ficou “sufocada” entre diversas construções, a ponto de não ser mais percebida pelos moradores de Barra Velha e veranistas, entretanto, quando foi construída, poderíamos considerá-la como uma “mansão” devido a sua imponência, tendo como jardim, a região onde era o restaurante Casa Nossa com uma vista espetacular, junto ao mar. Dona Erna conservou todas essas informações na memória e lamentava profundamente, pois estava perdendo a visão, “enxergo somente uma luz”, enfatizou.  

Assistida pelos sobrinhos, Walter Gustavo Krause (Dinho) que residia na Casa de Palmitos e por Ilca Breneisen, que realizava os afazeres domésticos e cuidava de sua tia no decorrer da semana, além dos poucos amigos que a visitavam. Lamentava pela solidão que vivia: “Quando a gente fica velho, todos abandonam a gente. Jamais imaginei que ficaria assim na velhice”. Com os olhos repletos de lágrimas, dona Erna desejava que sua residência fosse preservada, pois considerava que a Casa de Palmito era uma importante referência ao passado de Barra Velha, “queria muito que o povo ficasse com a casa”.  

Junto a Erna Bisewvski, diversas pessoas se organizaram para tombar a Casa de Palmito como Patrimônio de Barra Velha. A imprensa se mobilizou por diversas vezes defendendo o tombamento: blitz de conscientização histórica, abraço a Casa de Palmito, abaixo-assinado e outras ações visando a preservação da residência histórica e extravagante pela forma e material utilizado na sua construção.  

Em 2014, após a criação do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural – COMPAC e aprovação da Lei de Tombamento, a Casa de Palmito finalmente se tornou Patrimônio Histórico Municipal. Poucos dias após a assinatura do decreto do tombamento, dona Erna faleceu. A Casa ficou completamente abandonada, mas no ano de 2022 o imóvel e toda a área foi vendida e o COMPAC autorizou a retirada da Casa de Palmito do lugar, desmontagem e montagem na Praça Lauro Carneiro de Loyola (praça da laguna) onde ela renasce como o Centro Cultural Casa de Palmito.  

A partir de hoje, Barra Velha vive uma nova fase na valorização da cultura local. O Centro Cultural Casa de Palmito está dividido em dois ambientes principais, o auditório que homenageia a senhora Erna Bisewiski que sediará eventos diversificados ao longo do ano e também o espaço de exposições Augusto Teodoro Wald Becker que manterá uma exposição fixa sobre a história da Casa de Palmito e sediará exposições temáticas.   


Por Juliano Bernardes 

Professor e Historiador.