REVISTA DIGITAL . NÚMERO 1 .


Sonhos

Quero minha vida de volta. Não fisicamente. Quero minha mente de volta. Com liberdade de sonhar. Quero planos, metas, objetivos . . .

Sonhar me faz muita falta. É parte determinante da minha natureza. Posso viver privada de muita coisa, mas me devolvam minha liberdade de sonhar.



Obscuro

Medo ?

Prazer ?

Viver o novo excita. São sonhos de bons resultados entremeados com pensamentos catastróficos. É como pular do trampolim numa piscina sem saber se está com água ou não. Mudanças causam esse medo do que virá, mas que rotina entediante seria sem novas experiências. Por que se assustar com a vida? Por que desejar a monotonia? Viver tem altos e baixos. Uma estrada plana e reta dá sono no motorista colocando sua vida em risco. Não espere nada da vida, só aposte no melhor e viva!



Amar e gostar.

Descartável e eterno.

Gostar de alguém ou de alguma coisa é bem diferente de amar. O amor nos sugere um sentimento mais profundo, arrebatador. Iniciado com a paixão, o amor pode ser irracional. Será duradouro? Só o amor não se sustenta. É preciso desenvolver afeto, carinho, cumplicidade. O respeito é fundamental mas a paixão é temperamental e não respeita limites. Deixa-se levar pelo ciúme que abala a harmonia. O gostar é mais suave, não tão exigente e mais permanente. O final dos amores deixa corações partidos em pessoas destroçadas, sem rumo e autoestima. Rastejam por migalhas de atenção do ser amado. Sem bons resultados. O sentimento mais bonito e eterno é a amizade. Se a amizade acabar, é porque nunca existiu.





Branco, lapso

Há dias em que se sente a cabeça oca, ou se sente no mundo da lua. A cabeça sempre fervilhante de palavras, que requer tanto treino para alcançar o silêncio para meditar, está vazia.

Como assim? Isso pode acontecer do nada ou causado pelo nervosismo, o que é mais comum e portanto causando grandes embaraços. É forte o medo da falha. Pode ser até paralisante.

É preciso ter confiança na criatividade e na capacidade de improvisação. Caso contrário nunca se conseguirá aceitar tarefas ou desafios. E como se pode viver sem essa coragem?

A autoestima é fundamental para uma vida “normal“ e mentalmente saudável!



Acidez

Não gosto de frutas ácidas. Estou degustando lindas ameixas roxinhas, aparência apetitosa. Enganosas. Estão muito ácidas, de me fazer tremer toda. Refrescância decepcionante. Nem o morango que tantos amam, me atrai. O mesmo acontece com pessoas, as ácidas me desagradam. Mesmo com aparência enganosa, não é fácil ocultar a acidez por muito tempo.

O pior é que ela é contagiante. Acidez e mau humor, pegam, sem que se perceba. Bom evitar contato enquanto se pode. Atenção, a sociedade merece esse cuidado. Frutos e pessoas doces devem ser sua prioridade!



Céu, liberdade, voar

Desde sempre o Homem deseja voar. Foram inúmeras as tentativas, a maioria com final trágico. Mas o sonho de voar como os pássaros permanece. Balões e pipas levam o Homem aos céus. E o ser humano se realiza na pretensa liberdade de se afastar da Terra. Sonho mais masculino, pelo que se vê. O sexo feminino é mais pé no chão. Mulher, normalmente é âncora. E lá estão nossos meninos de todas as idades, realizando o sonho de se lançar aos céus sem responsabilidades ou medo das consequências!

Outros se iludem buscando a liberdade através das drogas e acabam descobrindo que se colocaram na mais cruel prisão!

Com que prazer esses hábitos são passados através das gerações.

São quase características hereditárias.

Mas não me enquadro na mulher âncora, pois solto pipas com a imaginação.





Revertério

Quando tudo parece que vai bem, num repente, as coisas mudam e degringolam. Susto. É muito fácil se acomodar no bem bom. Sair da zona de conforto dói. É necessária uma reação, ou melhor, uma adaptação. Recriar e se reinventar com urgência. Pode parecer que raramente acontece, mas não. Esses altos e baixos fazem parte da rotina do ser humano. Há que se manter alerta e com a certeza de que, com empenho e criatividade, se alcança uma performance vitoriosa!



Impotência

Quando se tem um dependente querido, procurar estudar o que é o vício é o melhor caminho, mas não o mais fácil ou menos dolorido. Saber mais traz a ilusão de poder ajudar mais. ILUSÃO! A sensação de impotência vai se tornando cada vez mais clara e dolorosa. Conhecer o terrível caminho das drogas e as fatídicas consequências que virão, tornam a impotência assustadora. Não há como se proteger. É aconselhado que se desapegue do dependente deixando-o à própria sorte, como se isso fosse fácil.

A grande verdade é que a opção pelas drogas, feita por uma pessoa, condena quem o ama a um calvário em que o sofrimento é crescente e sem fim!



Brincar, fazer, prazer

Era uma época em que as crianças tinham muito prazer em brincar. Se orgulhavam de fazer seus próprios brinquedos. Conseguir o material adequado já era uma diversão. Construir, executar seu projeto era pura felicidade. Quando o brinquedo era considerado pronto, era o sonho realizado!

Tão diferente dos anos 2000 em que as crianças jamais estão satisfeitas . Sempre querendo mais e o mais atual. Tendo tantos não aproveitam nenhum. Crianças estragadas pelo muito. O consumismo faz da criança uma vítima da insatisfação e os pais cheios de culpas criadas por equívocos e más interpretações, são cúmplices.

Pobre sociedade que se perdeu na má compreensão do que é cuidar e não lembra mais que limites e frustração fazem parte da transformação de uma criança em uma pessoa mentalmente sadia!



Educar, formar

Não há escolas preparatórias para essa função de extrema responsabilidade. Há que se improvisar baseando em informações observadas. Mas será sempre uma experiência empírica, de resultados desconhecidos. Os próprios objetivos à serem procurados nem sempre serão os melhores . É como andar em areia movediça. É um caminho nada confiável. O que tem religião, encontra conforto entregando nas mãos de Deus. Um grande alívio. Os órfãos da espiritualidade . . . Tarefa árdua a paternidade responsável!





Amável

É alguém gentil, atencioso e carinhoso. Pessoa agradável que todos querem ter por perto. Mas amável também significa que essa criatura é, facilmente, amada. O que faz sentido. Porém, são as pessoas de gênio difícil as que mais precisam de atenção e afeto. O descaso social só irá aumentar o precipício que as coloca à margem. O não reconhecimento dessa triste realidade, pode gerar muito arrependimento e remorso tardios!



Açodamento

O linguajar atual colocou essa palavra em desuso. Muitos nem devem conhecer o seu significado e quem já soube parece ter esquecido.

E como ela faz falta!

Que outra palavra deve ser usada que não açodamento, para descrever a forma precipitada e irresponsável com que algumas pessoas estão se divertindo e colocando sua vida e outras em risco, como se o perigo já estivesse superado?



Mexerica

Família

Filosofando com a mexerica, fazendo alusão à família. Num único fruto, mal se tira a casca, se encontra uma delicada rede branca, que mantém a família dos gomos unida. Os gomos são assimétricos com tamanhos bem diferentes. Tem sempre uns menores aninhados. E os caroços que garantem a procriação? Num gomo menor 3, vários gomos maiores sem caroço. Essa é a diversidade de uma família. Pais que geraram famílias numerosas, vivem a diminuição de sua descendência! Mesmo que não façam uma opção voluntária, a Natureza se encarrega disso.



Um Novo Ano, esperança, entusiasmo, o novo nos aguardando.
Surpresas, o inesperado é sempre um desafio.
O inusitado que nos aguarda é a vida pulsando, vibrando em nós. Instigando o prazer de estar vivo!



Sobre a autora

Carmen Marina Sande é formada em Psicologia Clínica pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro - UERJ. Durante a sua formação, aprofundou conhecimentos e competências sobre clínica em abuso de drogas, no NEPAD, referência mundial em drogadição. Desde então, sua prática está relacionada às questões de compulsão e abuso de substâncias, assim como, à terapia sistêmica familiar breve.

É casada, desde 22 de fevereiro de 1962, com Aloysio Gosling Sande, jornalista, e mãe de quatro filhos: Andréa, Alexandre, Axel e Rodrigo Sande.


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Ilustrações de Axel Sande | axel@gabinetedeartes.com.br

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