Capítulo 1 - Que lugar é esse ?
Relatar esta história não é fácil. Meu nome é Arthur Menezes, e tudo começou enquanto eu estava em casa. O ano era 500, no século V. Como comerciante de joias, levava uma vida tranquila e bem-sucedida em um vilarejo pacífico. No entanto, tudo mudou quando adoeci gravemente. Sem alternativas, deixei meu filho, Joaquim Menezes, encarregado de meus negócios. Ele era jovem e inexperiente, mas não havia outra escolha. Busquei os melhores tratamentos, mas nada surtiu efeito.
Deitado em minha cama, sozinho após a perda de minha amada esposa, refletia sobre como deixar tudo para meu filho, embora ele ainda não estivesse pronto. Minha condição piorava, e começaram as alucinações — ou pelo menos era isso que pensei.
Numa noite estranha, enquanto Joaquim estava fora em uma viagem de negócios acompanhado de um amigo de confiança, uma criatura misteriosa rondava minha casa. Por mais que tentasse vê-la pela janela, ela desaparecia antes que meus olhos pudessem captar seus detalhes. Mesmo fraco, peguei minha espada para me proteger.
Depois de alguns minutos de silêncio, voltei a deitar. Foi então que senti algo inexplicável: meu corpo parecia ser puxado para outro lugar. Eu não conseguia reagir ou me mover. De repente, encontrei-me em uma prisão sombria, localizada em um calabouço que mais parecia parte de um castelo.
Sem saber se estava sonhando ou vivendo aquilo, tentei entender como fui parar ali. Em casa, mal conseguia me mexer devido à doença, mas ali sentia-me estranhamente revigorado. Não havia fome, nem cansaço. Depois de horas gritando por ajuda, uma criatura finalmente apareceu diante de minha cela.
Ela tinha cerca de dois metros e meio, corpo magro e um olhar vazio. Assustado, recuei para o canto da cela enquanto a criatura me observava em silêncio, sem expressão. Perguntei com voz trémula:
— Onde estou? Quem é você?
Sem responder, a criatura agarrou meu braço e me levou para outra sala. Ao chegar, percebi tratar-se de um salão nobre, decorado como parte de um castelo. Fui colocado cuidadosamente em uma cadeira, como se não quisesse me machucar. Enquanto tentava entender o que estava acontecendo, uma segunda criatura entrou na sala e sentou-se diante de mim.
Esta criatura era peculiar: parecia um pequeno boneco de pano desgastado, queimado e corroído pelo tempo. Tinha apenas um olho; o outro era um buraco vazio. Uma de suas mãos estava intacta, enquanto a outra parecia ter sido arrancada.
Criatura
Ela me olhou com um sorriso perturbador e disse:
— Saudações, caro Arthur. Sou o anfitrião deste lugar e pedi que um de meus companheiros o trouxesse até mim. Sua situação não estava nada boa, não é? Parece que você estava doente. Bem, digamos que agora não tem mais o que temer. Note que não sente dor, não é mesmo?
Arthur
Eu pensava: “De fato, não sinto dor. Terá esta estranha criatura me curado? Mas quem é ela?”
Perguntei:
— Quem é você? O que quer de mim?
Criatura
Ela respondeu:
— Como disse, sou o anfitrião deste lugar. O que quero é simples: um jogo. Este lugar é muito entediante, e vocês humanos me divertem. Se aceitar jogar comigo, posso restaurar sua saúde e talvez até encontrar uma forma de você voltar para casa. Mas, se recusar, você morrerá, pois sua doença é mortal.
Arthur
Perguntei:
— Que escolha é essa? Como poderei voltar? Que lugar é este?
Criatura
Ela respondeu:
— Pense neste lugar como um limiar entre a vida e a morte. Aqui é sua última chance. Eu não posso brincar com quem já morreu ou com quem está plenamente vivo. Se eu não o trouxesse, você já estaria morto. O jogo é simples: mandarei meus companheiros até você. Se sobreviver a todos, você vence. Caso contrário... bom, acho que já entendeu.
Arthur
Eu pensava: “O que devo fazer? Se recusar, morrerei; se aceitar, terei uma chance. Enquanto isso, posso tentar escapar deste lugar.” Então perguntei:
— Você me dá sua palavra?
Criatura
Ela respondeu:
— Certamente!
Arthur
Então declarei:
— Eu jogarei!
Capítulo 2 - Não Olhe para Trás
Após aceitar os jogos, fui levado novamente para a prisão. Desta vez, encontrei uma maçã em minha cela. Aquele ser enigmático a deixou lá e, sem nenhuma expressão, foi embora. Parecia que em seu semblante não havia nenhum resquício de sentimento.
Mesmo sem fome, comi a maçã e senti minhas forças se renovarem, como se estivesse pronto para iniciar o desafio. Enquanto aguardava, ouvi ao longe o choro de alguém, espantado com algo que havia ocorrido. Chamei por essa pessoa, mas não obtive resposta.
Diversas celas como a minha estavam vazias, e eu tentava entender aquele lugar. De repente, senti um grande cansaço e meus olhos pesaram. Peguei no sono.
Ao acordar, estava em um corredor escuro, apenas uma luz ao final indicava o caminho. Decidi seguir em frente e o corredor se dividia em três direções. À esquerda, havia o desenho de um rato; ao centro, uma águia; e à direita, uma serpente.
Sem entender muito bem, escolhi o caminho do meio, o da águia, mas ao caminhar bastante, percebi que voltara ao ponto de partida. Minha mente fervilhava de perguntas. O que estava acontecendo? Quando me virei para olhar para trás, me assustei.
Uma figura semelhante a um boneco de madeira estava parada, observando-me. Apavorei-me e sem reação, virei-me e segui em frente. Após andar alguns metros, olhei para trás novamente e o boneco estava mais perto. Meu coração derreteu de pavor. Aquele ser me seguia quando eu não olhava para ele.
Eu precisava decifrar o jogo. Procurei alguma pista pelo cenário, mas não encontrei nada. Então, decidi seguir pelo caminho da serpente, ansioso por escapar logo daquele lugar. Após caminhar bastante, voltei ao ponto de partida novamente e a criatura estava ainda mais perto. Apavorado, corri para o caminho do rato.
Desta vez, consegui chegar a outra sala. A criatura vinha atrás de mim, enquanto eu desviava o olhar para procurar uma saída. Quando desviava o olhar da criatura, ela se aproximava de mim. Seus passos lembravam batidas de galhos. Eu precisava tomar cuidado ou perderia o jogo.
Novamente, o caminho se dividia em três. Corri para o caminho do rato, mas voltei ao início, e a criatura se tornara mais rápida. Percebi que a cada retorno, ela ficava mais ágil. Decidi andar de costas, encarando a criatura. Percebi um desenho de rato em seu peito. Olhando para ela, entrei no caminho do rato e caminhei por bastante tempo, chegando a uma nova bifurcação. Quando olhei para frente, vi outra criatura semelhante à primeira. Encarei a nova figura enquanto ouvia passos rápidos. O que eu faria agora? Se desviasse o olhar, seria alcançado.
Notei que a segunda figura tinha um desenho de serpente. Decifrei a charada lentamente. Tomei distância da segunda criatura e, olhando na direção da primeira, entrei no caminho da serpente. Ambas começaram a se mover. Ouvia o riso da segunda e os passos da primeira.
Comecei a correr e, ao encontrar outra bifurcação, pensei: "Agora só resta o caminho da águia". Sem hesitar, segui por ele e vi a saída ao longe. Ao aproximar-me, voltei ao início, com três criaturas atrás de mim. Como vencer aquele jogo?
Sem tempo para pensar, corri com um desespero maior. Entrei no caminho do rato, depois pelo da serpente, até perceber que ao seguir pelo caminho da águia, todas as criaturas pararam. Assim, entendi que deveria guiá-las às entradas opostas às suas origens.
Ao seguir pelo caminho correto, a luz da saída se acendeu novamente e, quando fechei os olhos, estava em minha cela de volta. Sobrevivi ao jogo.
Respirei fundo, sentando-me na cama. Notei uma ferida em meu ombro, estranhamente sem lembrar de tê-la feito. Novamente, a criatura gigante surgiu, observando-me. Esticou o braço, entregou-me outra maçã e foi embora, sem emoção ou palavras.
Comendo a maçã, senti minhas forças renovadas mais uma vez. Ouvi ao longe uma voz:
Voz Estranha: "Parece que você venceu o primeiro jogo. Ele está animado com você."
Arthur: "Quem é você?", perguntei...
Voz Estranha: "Alguém que, como você, está jogando, mas não por muito tempo."
Arthur: “Por quê? O que está acontecendo aqui? Quem é você?"
Sem obter mais respostas, permaneci aguardando o que viria a seguir.
Capítulo 3 - A Rainha
Eu estava aguardando o que poderia vir. Decidi chamar aquele estranho novamente e perguntei seu nome.
Arthur: “Quem é você?”
Estranho: "Meu nome não importa, não importa mais. Eu joguei, joguei e, no final das contas, continuo aqui."
Arthur: “Então ele está mentindo para nós? Não vou sair daqui se vencer?”
Estranho: "Não, ele cumpre sua palavra. A questão é que eu pedi mais do que me foi oferecido. Porém, os jogos aumentaram de dificuldade a tal ponto que tentei trapacear. Ele então me deixou preso aqui para refletir. Sabe o que acontece com quem trapaceia? Ele se sente desafiado. Estou aqui há tantos anos que nem sei mais quanto tempo se passou. É assim que começa, até que você fica louco. Cheguei como você, motivado, e conheci um companheiro que perdeu o jogo. Sabe onde ele está agora? Seus restos mortais estão em uma cela não muito longe daqui. Conseguiram quebrar seu espírito e colocá-lo em outro corpo, transformando-o em uma criatura terrível. Aquele Boneco tem poder sobre todo esse lugar. Não acredito que um mundo assim exista."
Narração: Fiquei espantado porque não sabia o que dizer.
Arthur: “Como ele traz pessoas para cá? Como ele as impede de atravessar para o outro lado?”
Narração: Antes que pudesse me responder, notei uma passagem no fundo de minha cela e fui puxado para lá. Caí em um lugar escuro, semelhante a um campo aberto, com uma grande colmeia no meio. O espaço era todo fechado, sem possibilidade de escape, e havia um portão. Corri até o portão, onde encontrei uma carta que dizia que a chave para abrir estava na colmeia. Entendi que estava em outro jogo.
Dirigi-me à colmeia. Já não estava preocupado, só queria que aquilo acabasse. Dentro da colmeia, vi algumas criaturas paradas nas paredes e uma escada em espiral que levava até o topo. Lá em cima, pude ver a chave. Conforme eu andava, as criaturas despertavam. Uma delas voou em minha direção, então fiquei parado e a encarei até que ela se afastou e voltou a pousar. Notei que elas não enxergavam bem.
Algumas criaturas estavam comendo, e quando me aproximei, notei que eram restos mortais. Meu coração se encheu de pavor. Aqueles eram corpos de pessoas? Minhas pernas se travaram até que um barulho de asas amedrontador tomou a colmeia. Era a rainha. Ela entrou e todas as outras criaturas se afastaram. Apenas com uma mordida, pegou vários corpos e começou a devorar. Então notou minha presença. Corri para as sombras e me escondi enquanto ela me caçava. Com muita dificuldade, consegui chegar até o topo, estendi o braço e peguei a chave. Para tentar escapar da criatura, corri e pulei, mas ao cair, notei que meu braço estava quebrado. Gritei de dor, insuportável, e todas as criaturas vieram até mim. Se eu ficasse, morreria e seria devorado. Então corri até o portão, abri-o, caí em uma sala vazia e desmaiei.
Quando abri os olhos, voltei à minha cela. Meu braço estava restaurado e ao lado da cama havia um caroço de maçã.
Arthur: “Como pode isso? Meu braço... não sinto mais dor. O que aconteceu?”
Estranho: "Essas maçãs têm algo que restaura as forças e o vigor. Ele sempre entrega uma após os jogos. Não sei o que elas têm, só sei que pertencem a este mundo de alguma forma."
Arthur: “Entendo. Esse último jogo foi terrível. Achei que não iria sobreviver. Odeio insetos, e também o escuro. Parece até que ele está brincando com meus medos. Você já viu criaturas semelhantes a abelhas?”
Estranho: "Não. Os jogos parecem diferentes para cada pessoa. Meus jogos foram totalmente diferentes. Pode me chamar de John. Imagino que este lugar atravesse o tempo. Vivi nos tempos de ouro da pirataria. Eu e minha frota estávamos em um motim quando fomos emboscados por uma embarcação inimiga. Fui ferido, mas meus companheiros cuidaram de mim. Enquanto a ferida infeccionava, uma criatura sem expressão veio até mim e me puxou para este lugar. Meus jogos foram, digamos, fugir de sereias demoníacas, criaturas abissais vindas do mar, entre outras coisas. Sinto que a cada jogo perco parte de mim. Não sei se consigo mais viver no mundo normal. Estou me perdendo, mas espero que você não acabe assim e encontre uma saída."
Arthur: “Não pense assim. Nós dois vamos sair daqui. Tem alguma forma de escapar?”
John: "Não tente escapar. Ele não irá perdoá-lo por isso. Apenas jogue. Meu destino já está selado desde o momento em que quebrei as regras."
Arthur: "Escute, se houver algo que eu possa fazer, eu farei."
Narração: Ele permaneceu calado do outro lado da prisão. Voltei a descansar. Algumas perguntas surgiram em minha cabeça, tais como: seria essa criatura um mediador entre a vida e a morte? Impossível. Talvez alguém brincando com poderes que vão além. Como alguém com poderes assim poderia ser trapaceado? Por que ele está neste mundo? Ele foi criado ou já existia? Se foi criado, quem o criou? E se eu conversasse com ele, responderia minhas perguntas?
Enquanto essas perguntas surgiam, fui pego pelo sono.
Em breve o proximo capitulo... (Capitulos novos toda semana)