Rafael Rabelo

Rafael Rabelo
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Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Antes de cursar biologia e me encantar com a ecologia eu fui, acreditem, técnico em enfermagem e trabalhava em um hospital em Porto Alegre. Na época, eu estava cansado de trabalhar na rotina intensa do hospital, mas queria continuar trabalhando na área da saúde. Foi aí que eu decidi prestar o vestibular para biologia. Minha ideia era entrar na faculdade e começar a formação para seguir a carreira acadêmica, mas para trabalhar com pesquisa na área da saúde. Na verdade, até a metade da graduação, eu segui por esse caminho – e continuei trabalhando no hospital para poder pagar a faculdade. Meu primeiro projeto de iniciação científica envolvia experimentos de terapia celular em camundongos de laboratório com enfisema pulmonar. A ideia era avaliar se as lesões pulmonares se regeneravam com as células-tronco. Depois de um tempo eu parei de trabalhar na enfermagem e passei a ser o técnico do laboratório de diagnóstico molecular, realizando os exames de PCR para diagnósticos de doenças do hospital. Só mais tarde é que acabei me encantando por outros assuntos na biologia e fui parar na ecologia.


Como surgiu o interesse pela ecologia?

Na metade da graduação, quando eu cursei as disciplinas de ecologia de comunidades e ecossistemas, ecologia aplicada e biologia da conservação me encantei pela ecologia. A ideia de pensar na biologia em uma visão mais ampla me fascinava, e aprender sobre os problemas ambientais atuais me sensibilizou de uma maneira muito forte. Nesse momento, eu havia trancado a faculdade e pedi demissão do hospital para ter uma experiência no exterior. Morei por sete meses na África do Sul com o objetivo de aprender inglês. Quando voltei para o Brasil, já fui atrás da mudança de área. Fiz meu segundo projeto de iniciação científica, trabalhando com monitoramento da população de bugios no maior fragmento florestal de Porto Alegre. Depois da graduação, me mudei para o interior do Amazonas, para trabalhar no Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, onde fiquei por dois anos antes de entrar no mestrado. A experiência em Mamirauá foi intensa, pude ter contato profundo com o campo, com a biodiversidade e as populações tradicionais, e tudo isso me deu a certeza de que queria continuar trabalhando com ecologia e conservação na Amazônia. Mas foi o mestrado e doutorado em ecologia, no Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), que me deram a base forte de ecologia de comunidades, onde aprofundei os conceitos e teorias que baseiam minhas principais pesquisas de hoje em dia.


No que você está trabalhando agora?

Meus interesses na ecologia são bem diversos, ainda que focados na ecologia de comunidades. Desde o mestrado venho tentando entender os fatores que afetam a distribuição das espécies na natureza e organizam as assembleias biológicas que encontramos localmente. No momento, estou finalizando um trabalho onde estudei o papel do ambiente e da dispersão como fatores determinantes da distribuição de borboletas amazônicas em larga escala. Basicamente, eu queria entender o que era mais importante para determinar quantas e quais espécies são encontradas em um determinado local: os requerimentos ambientais das espécies ou fatores espaciais, como a distância geográfica (áreas próximas tendo espécies mais parecidas que áreas distantes, por exemplo)? Spoiler: parece que o ambiente é mais importante, ainda mais se tratando de borboletas, que dispersam com facilidade e dependem muito de temperatura e radiação solar para manter seu metabolismo. Além disso, depois do doutorado voltei para o Instituto Mamirauá e assumi uma posição de líder de um grupo de pesquisa. Nosso grupo é bem diverso e desenvolve pesquisas sobre a biologia e ecologia de répteis, aves e mamíferos, com enfoque em pesquisa aplicada para ações de conservação desses grupos. Nossas linhas de pesquisa envolvem conservação e manejo da fauna amazônica, ecologia de populações e comunidades, biogeografia da Amazônia e epidemiologia e saúde de vertebrados terrestres.


O que você gostaria que todos soubessem?

Que poderíamos resolver muitos problemas do mundo se todos conseguissem exercitar a empatia e o respeito ao próximo. Nesse momento, também gostaria que todos soubessem que temos uma grande responsabilidade em nossas mãos nas próximas eleições, para garantir a escolha de um presidente com o mínimo de cidadania e respeito pelo nosso povo.


Como seria um dia perfeito para você?

Um dia em um lugar tranquilo, de preferência na natureza, me divertindo com minha filha e minha companheira, na companhia de amigos queridos, curtindo o dia sem pressa e sem obrigações.