Ingrid Veiga

Ingrid Veiga

(Instagram - Lattes)


  • Pode nos contar um pouco de como você entrou na vida acadêmica?

Entrar na UFRJ sempre foi um sonho desde quando eu era criança, eu não entendia muito bem o que era, mas sempre que passava pelo portão de acesso dizia que ia estudar lá. Na primeira aula de biologia do ensino médio ficou claro o que eu queria estudar. No final do ensino médio ficou claro que eu queria dar aula e estudar genética humana. Entrei para a licenciatura em ciências biológicas.

No primeiro período eu tentei entrar para um laboratório que trabalhava com marcação de proteínas, mas não tinha vaga. No segundo período me interessei por um estágio em genética vegetal, mas ainda era muito “jovem” para a vaga. Entre o segundo e o terceiro período surgiu uma vaga para paleontologia e, por algum motivo, eu me interessei mesmo não tenho nada a ver com o que eu tinha pensado em fazer até aquele momento e eu mandei um e-mail bem ansioso.

No dia da entrevista, eu levei todos os meus documentos possíveis, mas nenhum deles foi necessário. Eu me senti parte do laboratório assim que cheguei e passei a tarde lá, conversando e ajudando na organização de um campo que aconteceria na semana seguinte. Isso foi quase seis anos atrás. E não teve volta. O retorno do campo trouxe o meu projeto de IC, que se transformou na minha maior curiosidade e, atualmente, no meu mestrado.

De uma certa forma, eu não sabia como era a vida acadêmica quando entrei na faculdade ou naquele laboratório incrivelmente limpo no meio de um prédio em obra, mas depois de entrar só pareceu natural continuar e eu percebi que continuar significada seguir uma vida acadêmica, criar a minha própria vida acadêmica. Eu entrei sem saber no que estava entrando, e continuo até hoje porque percebi que é o que eu amo fazer e não saberia o que fazer se não isso.

  • Como surgiu o interesse por paleontologia?

Eu adoraria dizer que fui uma criança apaixonada por dinossauros ou que assisti a todos os filmes de Jurassic Park e que entrar para a paleontologia foi só natural ou um desejo antigo, mas a verdade é que sempre me interessei por assuntos que orbitavam em torno da paleontologia, e nunca pela paleontologia em si. Na verdade, eu não sabia muito sobre paleontologia. Eu gostava de coisas “antigas”.

Como meus pais sempre me levavam a museus, especialmente o Museu Nacional, eu adorava tudo que envolvia essa atmosfera, mas nunca vi como algo que eu seguiria ou faria. A criança com milhares de dinossauros, livros sobre múmias e o sonho de ser arqueólogo da família era meu primo, que hoje faz engenharia. Com o tempo, e influência de séries, eu passei a querer estudar antropologia ou ciências forenses, mas não sabia muito bem como fazer ou onde. Por fim, me apaixonei por estudar a vida e escolhi a biologia.

O meu interesse pela paleontologia foi uma surpresa até para mim. Eu queria estudar a vida e quando apareceu a oportunidade de trabalhar com paleonto, eu percebi o quanto a ideia dos estudos paleontológicos sempre tinham orbitado a minha vida, eu só não sabia. Não sei se era interesse ou deslumbre agora, mas existia. Lembro que no meu e-mail de interesse na vaga de estágio eu falei justamente que me interessava porque a paleontologia permitia entender sobre a vida.

O meu interesse pela pesquisa paleontológica em si me ganhou de vez com a descoberta de algumas centenas de escamas que não conseguíamos descobrir o que eram. A curiosidade que veio com essa descoberta foi algo que eu nunca tinha experimentado antes e até hoje é o que move a minha pesquisa.

  • No que você está trabalhando agora?

No momento eu estou trabalhando com paleoecologia de peixes fósseis. O meu projeto consiste em uma abordagem multiproxy para inferir a autoecologia e a sinecologia dos táxons de peixes que identificamos para a Formação Açu durante o meu IC.

O objetivo é caracterizar esses grupos, individualmente e em conjunto, no contexto da unidade que estamos estudando, ver como essa fauna se compara com outras de idades semelhantes e o que ela pode nos dizer sobre como era a vida nessa localidade. Esperamos conseguir entender um pouco melhor sobre os grupos em si e sobre a relação da Formação Açu com outras unidades do Cretáceo da África e do Brasil, além de ter uma ideia melhor da idade e do ambiente.

Eu também faço parte, desde 2020, do Instituto Virtual de Paleontologia, um projeto de extensão da UERJ. Nós fazemos divulgação científica a partir de diferentes postagens em redes sociais, palestras, mesas redondas e organização de eventos.

  • O que você gostaria que todos soubessem?

Acho que o que eu mais gostaria que fosse um conhecimento geral é que todo mundo pode trabalhar com paleontologia. Essa informação ainda é muito inacessível, até para quem tem acesso a informações gerais sobre faculdade e vida acadêmica.

A paleontologia acaba sempre soando como algo que é feito lá fora ou por um grupo de pessoas muito específico, mas a verdade é que qualquer pessoa pode trabalhar na área. Não é fácil, como todas as áreas acadêmicas, mas é possível. Existem laboratórios de paleontologia espalhados pelo país. Existem muitos fósseis em vários estados diferentes. Existe paleontologia no Brasil!

  • Como seria um dia perfeito para você?

Essa pergunta bate diferente depois de tanto tempo de pandemia, mas em situações normais, um dia perfeito provavelmente envolveria museu, cinema, café e praia. Provavelmente um passeio a pé pelo centro do Rio, visitando todos os museus e centros culturais possíveis, seguido de algum filme de suspense em um cinema não muito cheio, um café da tarde em uma cafeteria simples e finalizar o dia na praia, até a hora que ficasse tarde demais para estar na praia. As companhias certas e lugares vazios, sem muito barulho, sempre são a minha pedida preferida para qualquer coisa.